domingo, 8 de novembro de 2009

Coronelismo no Sertão de Alagoas é o mesmo dos tempos de Lampião


Uma administração coronelista, como nos velhos tempos

O que mudou em Santana nos últimos 70 anos?

Santana do Ipanema (AL) vive um dos piores momentos da história de sua administração. Instalou-se neste município uma das mais nefastas ditaduras coronelistas, como nos velhos tempos. Membros de uma única família, usando o poder da compra de consciências, apossaram-se da administração municipal e fizeram o município retroceder nos âmbitos político e social, revelando, hoje, características só identificadas nos mais atrasados núcleos interioranos de séculos passados.

No âmbito político, conseguiram acabar com qualquer arremedo de oposição, obrigando os cordeiros a se desfazer até mesmo da fantasia de lobo que às vezes usavam.

Em relação ao atendimento social às camadas da população mais necessitadas, pode-se dizer que, em Santana do Ipanema, ocorre um dos mais cruéis massacres e desprezo pelo povo. Para comprovar isso, basta que se faça uma visita ao hospital público ou a uma das escolas municipais, ou mesmo à única creche mantida pela administração do município.

Contando com elementos subservientes, dispostos e executar os trabalhos mais sujos a troco de privilégios menores, a tal família exerce influências até mesmo no seio de muitas famílias, ao ponto de desagregá-las, criando desavenças entre irmãos, pais e filhos, parentes e amigos.

Se um membro de uma família santanense se dispuser a militar na política fazendo oposição aos coronelistas aboletados no poder municipal, ou aos seus tentáculos na Assembléia Legislativa, logo algum membro daquela família será cooptado através de nomeação a insignificantes cargos públicos, transformando-se em um de seus cabos eleitorais e bajulador, condição obrigatória para que assuma o tal cargo.

No caso de irregularidades administrativas ou desvio de conduta dos titulares do poder, a família conta com aquilo que se pode chamar de boi de piranha, que são elementos jogados na arena para serem devorados pelas feras sedentas de “justiça”. E não faltam indivíduos dispostos a se sacrificar por qualquer trocado que garanta a sua subsistência.

Seria até risível falar em “imprensa santanense”. O que se pratica aqui é o aluguel dos meios de comunicação ao poder público municipal. Não se ouve uma só voz que deles discorde, menos ainda que trate das denúncias que por acaso cheguem ao Poder Judiciário, tratando de supostos atos ilegais praticados pela atual administração do nosso município. Pelo contrário! Quando tratam de assuntos dessa natureza, o fazem defendendo-a, colocando em dúvida as acusações e tentando desqualificar o denunciante.

A rádio comunitária Boa Nova, que funcionou no bairro Lajedo Grande há poucos anos, tentou fazer um trabalho de verdadeiras denúncias contra os desmandos dessa gente que se sente hoje dona do município. Mas não demorou muito para que, agindo na surdina, o coronelismo dos novos tempos usasse seu poder, como nos velhos tempos, para fechar a emissora. E não precisaram aparecer como mandantes da arbitrariedade, pois, como já foi dito, eles contam com uma jagunçada a seu serviço.

Naquela oportunidade usaram um radialista para denunciar as atividades da rádio. Logo apareceu um juiz que ordenou que policiais fechassem e confiscassem todo o equipamento da emissora, alegando que ali não se poderia tratar de assuntos políticos. O próprio juiz também nos disse que certo radialista teria denunciado a rádio, informando que ela estaria funcionando ilegalmente. Isso mesmo, não estou exagerando, foi exatamente isso que moveu a ação judicial: abordagem de temas políticos nos programas da emissora e instalação clandestina. Evidentemente que esta segunda parte da acusação foi apenas complementar, o que motivou mesmo o fechamento da emissora foi a atividade política, como se esta caracterizasse transgressão às leis.

Na última eleição para prefeito, dois vereadores foram vitimas da fúria da família ditatorial de Santana: Adenilso Oliveira, por se negar a participar de aliança com eles, viu sua reeleição ir por água abaixo, depois que um pau-mandado deu entrada na Justiça Eleitoral pedindo a anulação de sua candidatura, alegando atraso na documentação. O outro foi Afonso Gaia, desafeto declarado dessa poderosa família. Afonso passou os quatro anos de seu mandato denunciando os desmandos dessa administração, tais como: emissão de cheque sem-fundo, nepotismo, perseguição, contratações ilegais, entre outros. Mas a esperada vingança não tardou. Manobraram a politicagem a partir da capital e o vereador Afonso Gaia foi “obrigado” a fazer parte de um “chapão”, conhecido como “chapão da morte”, ficando impedido de apoiar publicamente outro candidato. A Câmara perdeu Adenilso e Afonso, as raras forças de oposição a tal família aquartelada no poder municipal.

Tivemos casos de sindicalistas que aparentemente os perdemos para esse poder coronelista. Digo aparentemente porque na verdade não perdemos nada, pois se tratava de elementos que, quando faziam arremedos de luta contra os poderosos e pareciam engajados na luta por melhores salários e condições de trabalho, estavam apenas chantageando, colocando à venda suas consciências, ou melhor, inconsciências. Foram aliciados por algumas moedas e cargos menores. Mas eles não sofreram apenas o nosso desprezo, pois aquele próprio que se tornou senhor de suas vontades, expressou toda sua arrogância afirmando que eles teriam lhe custado “muito barato”. Ora, qualquer que tenha sido o preço, custaram muito caro, pois sujeitos dessa espécie não valem um centavo furado. Além disso, foram pagos com dinheiro público, com o nosso dinheiro.

O atual vice-prefeito já foi também um suposto adversário que incomodava a família poderosa. Porém esse teve “melhor” sorte. Depois de fazer graves denúncias, que, se levadas a sério, causariam até a perda do mandato da prefeita, transformou-se, da noite para o dia, e o “adversário político” tornou-se um servil aliado. São coisas que fazem a gente ficar especulando sobre os verdadeiros motivos que levaram o camarada a se juntar com aqueles a quem ele havia denunciado, chegando mesmo a esbravejar contra eles.

Esse mesmo vice-prefeito, quando do seu mandato de vereador, foi autor da Lei de Gestão Democrática, lei que determina que os diretores de escolas municipais sejam escolhidos por voto direto dos funcionários das escolas, alunos e pais de alunos. Até hoje a dita lei nunca foi cumprida, como também nunca foi cobrado ao Ministério Público sua execução.

Outra lei que também foi descumprida até a semana passada, quando o MP acatou uma denúncia e afastou a filha da prefeita de um cargo público, foi a lei municipal contra do nepotismo, uma regulamentação baseada na lei federal e criada pelo vereador Afonso Gaia há pelo menos três anos. Mesmo com este afastamento, ainda se encontram exercendo assessorias: um irmão da prefeita; uma cunhada; dois genros e um cunhado.

Alguns dirão: “Sérgio escreveu magoado, despeitado, com inveja. Isso é o choro de um derrotado!”.

A esses respondo: Quem me conhece sabe que desde muito jovem luto em favor da dignidade no trato com a coisa pública. O tom com que estou tratando esses assuntos aqui é o mesmo que uso desde minha adolescência, quando tive meus primeiros lampejos de consciência político-ideológica. E tudo se fundamenta na educação familiar que recebi.

Sérgio Campos é funcionário público estadual (AL), vice-presidente do Diretório Regional do PCB em Santana do Ipanema

BLOG DO SÉRGIO CAMPOS

http://sergioscampos.blogspot.com/2009/11/uma-administracao-coronelista-como-nos.html

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