terça-feira, 29 de junho de 2010

Erik Prince, o homem da Blackwater

.



Empresário, soldado, espião

Adam Ciralsky, Vanity Fair

Erik Prince, indiciado como membro ativo de um programa de ‘assassinatos seletivos’ da CIA, ganhou notoriedade como presidente da empresa-gigante de segurança privada Blackwater, empresa que é hoje objeto de investigação federal acusada de suborno, julgamento privado e tortura de cinco ex-empregados, com julgamento marcado para o mês de julho. Em movimento que visa responder aos que o criticam, o milionário ex-fuzileiro de grupo de elite da Marinha dos EUA convida o jornalista para acompanhá-lo até o coração de sua empresa, nos EUA e no Afeganistão, para mostrar o papel que tem na guerra dos EUA contra o terror.

“Minha empresa e eu nos pomos a serviço da CIA, em algumas missões muito perigosas” – diz Erik Prince, enquanto corre os olhos pela fortaleza onde vive, cercado por 7 mil acres, numa propriedade na área rural de Moyock, North Carolina. “Mas, quando parece politicamente conveniente a uns ou outros, sou sempre o primeiro que empurram para baixo do ônibus”. Prince – fundador da Blackwater, a mais conhecida empresa mundial de prestação de serviços militares privados está soltando fogo pelas ventas milionárias. Quer desabafar. E quer que todos ouçam o desabafo.

Erik Prince enfrenta hoje um problema de imagem – desses que não há publicidade comprada na Avenida Madison[1] que resolva. Aos 40 anos, herdeiro de fortuna construída em Michigan com rede de lojas de revenda de peças para automóveis e ex-fuzileiro do corpo de elite da Marinha dos EUA, conseguiu a façanha de ser crucificado no plano real e, também, no plano simbólico.

Em Washington, Prince tornou-se bode expiatório para todos os erros e tragédias do governo Bush no Iraque – embora alguns dos feitos da Blackwater tenham sido citados para neutralizar as críticas. Deputados, senadores, advogados, grupos de direitos humanos e noticiários descreveram Prince como aproveitador, beneficiário da guerra, que reuniu uma quadrilha de bandidos e milicianos capaz de derrubar governos.

Seus empregados têm sido repetidamente acusados de uso excessivo, eventualmente mortal, de força, no Iraque. De fato, vários iraquianos morreram em confrontos com o ‘exército’ da Blackwater.

Em novembro [2009], ao mesmo tempo em que um Grande Júri na Carolina do Norte analisava longa lista de acusações contra a empresa, meia dúzia de processos civis fermentavam no estado da Virginia; e, enquanto cinco ex-gerentes da Blackwater preparavam-se para enfrentar julgamento, acusados da morte de 17 iraquianos, o New York Times publicou, em matéria de primeira página, que a empresa de Prince, no dia seguinte à tragédia, tentara subornar funcionários do governo do Iraque para que mudassem seus depoimentos. São acusações que, para Prince, não passam de “mentiras (...) sem provas, sem substância, sem documentos [e] anônimas”. (A marca Blackwater está de tal forma associada a crimes em geral, qualquer tipo de crime, que até os Talibã fizeram circular teorias conspiratórias, segundo as quais a empresa de Prince estaria operando infiltrada também em ações com suicidas-bomba no Paquistão.)

Simultaneamente, em Hollywood, cidade que ama acima de tudo no mundo um vilão boa-pinta, Prince, louro, com físico e ares de Daniel Craig, tornou-se obsessão de batalhões de roteiristas. No filme State of Play, uma empresa-clone da Blackwater (PointCorp.) usa sua rede de mercenários para vigilância ilegal e assassinatos de encomenda. Na série 24 horas, Jon Voight encarnou Jonas Hodges, versão apenas muito superficialmente diferente de Prince, cuja empresa (Starkwood) ajuda um senhor-da-guerra africano a contrabandear gás venenoso a ser empregado contra alvos norte-americanos.

Mas a verdade sobre Prince talvez alcance magnitudes mais estranhas que qualquer ficção. Nos últimos seis anos, parece ter vivido vida aterrorizantemente dupla. Publicamente, trabalhou como presidente e diretor da Blackwater. Nos planos privado e secreto, opera como superagente da CIA, ajudando a planejar, financiar e executar operações que vão desde infiltrar seus funcionários em áreas de “acesso negado” – locais nos quais a inteligência oficial dos EUA não consegue entrar –, até reunir equipes cujos alvos são membros da al-Qaeda e seus aliados. Prince, segundo fontes que conhecem suas atividades, trabalha como ativo da CIA: numa palavra, como espião.

Enquanto sua empresa se ocupa com fazer jus aos mais de 1,5 bilhão de dólares em contratos assinados com o governo entre 2001 e 2009 – atuando, dentre outras funções, como uma espécie de guarda pretoriana da segurança do pessoal da CIA e do Departamento de Estado além-mar – Prince tornou-se uma espécie de “Faz-Tudo” na guerra ao terror. Seu acesso a forças paramilitares, armas e aviões, e uma infatigável ambição – atributos contra os quais se mobilizam seus críticos –, tornam Prince extremamente valioso, para a inteligência dos EUA. (...)

Mas Prince, com novo governo no poder e os inimigos fechando o cerco, parece estar finalmente saindo do frio. No outono passado, por mais que raramente conceda entrevistas, Prince decidiu que era chegada a hora de contar sua versão da história – para responder à chuva de acusações, para revelar exatamente o que fizera à sombra do governo dos EUA e para apresentar seus argumentos. Também espera poder dizer por que, agora, está afastando-se de todo aquele passado.

Com isso em mente, convidou Vanity Fair para visitar seu campo de treinamento na Carolina do Norte, os escritórios em Virginia e os postos avançados no Afeganistão. Parece boa ocasião para saber o que planeja e oportunidade que não se desperdiça.

Personalidade Dividida

Erik Prince pode ser homem difícil de avaliar – como amálgama de caricaturas contraditórias. Foi dito “Cristão suprematista”, favorável ao assassinato de civis iraquianos, mas financiou a construção de mesquitas no Oriente Médio e mantém um orfanato muçulmano no Afeganistão. Ele e sua família há muito tempo apóiam causas dos conservadores, financiam candidatos de direita e relacionam-se com evangélicos, mas o próprio Prince diz-se libertário e é católico romano praticante. Muitas vezes dito arrogante e recluso – um Howard Hughes, sem o TOC [Transtorno Obsessivo-Compulsivo] – participa de competições em que se combinam montanhismo-de-bicicleta, corrida, caiaquismo oceânico e rapel.

O denominador comum, aí, é a intensidade incansável, como se jamais desligasse. Sentado no fundo de um Boeing 777 a caminho do Afeganistão, passa os olhos num exemplar de Defense News, enquanto o filme Busca Implacável (2008, Taken) brilha no sistema de televisão de bordo. No filme, Liam Neeson faz o papel de um agente aposentado da CIA, que organiza ação agressiva de resgate, quando a filha é raptada em Paris. O personagem de Neeson alerta os sequestradores de sua filha: “Se estão querendo resgate, aviso que não tenho dinheiro. O que tenho é um conjunto de habilidades (...), do tipo que fazem de mim o pesadelo de gente como vocês. Devolvam minha filha. Se não devolverem, eu procuro vocês, acho vocês e mato todos.”

Prince comenta: “Usei esse filme para ensinar minhas filhas.” (Pai de sete, Prince casou-se novamente depois de a primeira esposa morrer de câncer, em 2003.) “Queria que elas entendessem os perigos que há à nossa volta. E queria que soubessem como eu responderia.”

Impossível evitar a impressão de que Prince vê-se como predestinado. Aparece até nas histórias mais pessoais. Durante o voo, conta que estava em Cabul em setembro de 2008, e recebeu telefonema, às 2h da manhã, da esposa, Joanna. Charlie, filho de Prince, então com um ano, caíra na piscina. O irmão, Christian, então com 12 anos, tirou-o da água, roxo e sem respirar; aplicou-lhe técnicas de ressuscitação e salvou o irmão. Christian e três irmãos haviam feito o curso de primeiros socorros, certificado pela Cruz Vermelha, no campo de treinamento da Blackwater.

Mas a história continua, porque havia poderes superiores em ação, aquela noite. Ansioso para chegar logo à casa, Prince descartou o itinerário regular, que implicava passar uma noite no hotel Marriott em Islamabad, e encontrou um voo direto. Naquela noite em que Prince dormiria no hotel, o local foi alvo de ataque terrorista à bomba, que matou mais de 50 pessoas. Prince diz, como se fosse simples: “Christian salvou a vida de Charlie e Charlie salvou a minha.” Às vezes, a convicção de que a história reserva-lhe lugar especial é quase evangélica. Pressionado a falar sobre os que o acusam de ser mercenário – palavra que detesta –, desfia uma lista de militares não regularmente alistados, dentre os quais, Lafayette, aliado dos colonos durante a Guerra da Independência.

O estado padrão, em Prince, é a prontidão. Vive de dentes cerrados e músculos tensos. Não relaxa e não descansa. À espera na fila de revista no aeroporto Dulles, algumas horas antes, Prince recita uma homilia: “Cada vez que um norte-americano passa pela segurança, gostaria que parasse e pensasse ‘O que o governo dos EUA faz que tanto perturba os terroristas? Equipes de desarme, drones Predator, esquadrões da morte. Tudo é a mesma luta.”

Não é só empáfia. E o próprio Prince é familiarizado com vários desses recursos. Como outros mercenários, conhece as dificuldades de comandar uma empresa que para muitos não passa de ‘agência de aliciamento de bandidos e empregos temporários’. Muitos de seus contratados deixaram postos militares ou nos serviços de inteligência, atraídos pelos salários muitas vezes superiores para trabalho semelhante. ‘Trabalho’, aí, é proteger vidas, defender vidas e, sendo preciso, matar. Para encontrar os quadros de que precisa, Prince teve de reunir inúmeros veteranos condecorados, tanto quanto tipos mais sinistros, quadrilheiros, assaltantes e espiões, dentre outros.

Erik Prince voa sempre em aviões de carreira. Não só por ser mais barato (“Por que eu teria de pagar para trabalhar? Voo normalmente, e chega-se à mesma hora”), mas, também, porque atrai menos atenção. Considera-se homem marcado. Classifica os diplomatas e dignitários que a Blackwater protege como “padrão Al-Jazeera de valor”, o que significa, segundo ele, que “bin Laden e seus bandidos adorariam matá-los em ação espetacular e mostrar pela televisão, em todo o mundo.”

Saindo do avião no aeroporto internacional em Cabul, Prince recebe tratamento, ele também, pelo “padrão Al-Jazeera de valor”. É imediatamente metido num carro que o esperava e que o leva até um segundo carro, algumas centenas de metros adiante, uma minivan surrada, absolutamente local, com bichinhos e cartões com orações pendurados ao espelho retrovisor. A equipe de projetos especiais da Blackwater no Afeganistão é responsável pela segurança de Prince quando está no país. Exceto pelo idioma, os homens são absolutamente idênticos a todos os afegãos que se veem pela rua. Têm longas barbas e turbantes e usam a roupa tradicional, de camisa até a canela, sobre calças bufantes. Removem os óculos escuros de Prince, vestem-lhe colete à prova de balas e dão-lhe trajes afegãos para que se troque. Entregam-lhe também um aparelho de rastreamento que envia sinais sobre sua localização e um telefone celular programado para chamar o centro de operações táticas da Blackwater.

Já na van, a equipe faz-lhe um briefing de segurança. Com fotos de satélite da área, revisam toda a rota até a sede da Blackwater e mostram a ele onde há armas e munição dentro da van. Os homens o previnem de que, caso sejam incapacitados ou mortos em emboscada no caminho, Prince deve assumir o controle das armas e apertar o botão vermelho junto ao freio de emergência: assim enviará um sinal eletrônico silencioso de alarme, pedindo reforços.

Falcões Negros e Zepelins

A Blackwater tem origem humilde, quase simplória. A empresa tomou forma nas turfeiras de Moyock, Carolina do Norte – nada que se assemelhe a ninho de empresas que interessem à Defesa como prestadoras de serviços secretos.

O pai de Prince morreu em 1995, de ataque cardíaco (o pastor evangélico James C. Dobson, fundador da igreja conservadora “Focus on the Family”, fez a oração de encomendação do corpo). Edgar Prince deixou de herança importante negócio de fabricação de peças para automóveis em Holland, Michigan, com 4.500 empregados e ampla linha de produtos, de visor antirreflexo a abridor programável de portas de garagens. Erik, 25 anos, servia como fuzileiro em corpo especial da Marinha (serviu no Haiti, no Oriente Médio e na Bósnia), e nem ele nem as irmãs tinham condições de assumir a empresa. Venderam a Prince Automotive por US$1,35 bilhão.

Já há algum tempo Erik Prince e amigos fuzileiros, de fato, conversavam sobre a ideia de criarem uma empresa de treinamento integral de fuzileiros, que substituísse a colcha de retalhos de instituições de treinamento existentes. Em 1996, Prince foi dispensado com honras do seu corpo de fuzileiros e começou a comprar terras na Carolina do Norte. “A ideia não era só vender serviços para a Defesa, em si”, diz Prince, completando a imagem do que pareceria uma espécie de Disneyland para machos-alfa. “Eu pensava num campo de treinamento obrigatório para militares e, sobretudo, para a comunidade de operações especiais.”

O negócio andou devagar. Os fuzileiros da Marinha logo apareceram – em janeiro de 1998 – mas eram poucos e, quando o Centro Blackwater de Alojamento e Treinamento foi oficialmente inaugurado, em maio daquele ano, amigos e conselheiros de Prince acreditavam que ele estivesse enterrando bom dinheiro em terreno ruim. “Muita gente dizia ‘Não passa de acampamento para meninos ricos’”, diz Prince. “Não entenderam o que eu estava fazendo.”

Hoje, o local é centro de uma rede de instalações onde são treinadas cerca de 30 mil pessoas por ano. Prince, proprietário de um avião-robô de dimensões zepelinescas e que gastou 45 milhões para construir uma frota de veículos de transporte blindados e à prova de bomba para conduzir seu pessoal, viaja seguidamente para o campo pilotando ele mesmo seu Cessna Caravan, que decola de sua casa na Virginia. O campo de treinamento tem pista privada de pouso. Os hangares abrigam um verdadeiro zoológico de aviões de guerra: helicópteros Bell 412 (usados para seguir ou conduzir diplomatas no Iraque), helicópteros Black Hawk (atualmente passando por processo de adaptação para atender às exigências de segurança de um cliente de um dos estados do Golfo), um avião Dash 8 (que transporta soldados e veículos no Afeganistão). No campo de treinamento, com mais de 52 cenários, há vilas virtuais desenhadas para mostrar todos os tipos imagináveis de ameaça real: pequenas praças cobertas de carros explodidos, situadas junto a cruzamentos de rodovias e portos. Num desses cruzamentos, equipes vestidas como a SWAT atiram com metralhadoras, rifles e pistolas; noutro, oficiais de polícia deslocam-se ao longo da mais longa estrada artificial do mundo, ao longo da qual e em cujos acostamentos explodem, para efeito de treinamento, todos os tipos de minas terrestres e bombas.

Em consonância com o nome original da empresa, o prédio central, de pedra, vidro, concreto e toras de madeira, parece de fato o centro de um acampamento, ou um supermercado de aluguel de material para camping com atenção especial ao setor de esteróides. Aqui e ali há detalhes especialmente projetados, como maçanetas em forma de cano de espingarda. Nas mesas do salão de entrada, onde, noutras empresas, encontrar-se-iam exemplares de Us Weekly, a Blackwater oferece revistas especializadas em contraguerrilha, com matérias de capa como “Como Destruir a Al-Qaeda.”

A verdade é que sem al-Qaeda não existiria Blackwater. A Al-Qaeda pôs a Blackwater no mapa. Nos dias imediatamente seguintes ao bombardeamento do navio USS Cole, dos EUA, em outubro de 2000, no Iêmen, a Marinha procurou Prince, dentre outras empresas, em busca de retreinamento para seus marinheiros, para o caso de ataques corpo a corpo, ou de curta distância. (Até hoje, diz a empresa, cerca de 125 mil membros do corpo da Marinha já passaram por seus programas.) Além de engordar o caixa, o contrato com a Marinha ajudou a Blackwater a construir um banco de dados de militares aposentados – muitos dos quais veteranos das forças especiais – que poderiam ser recrutados como instrutores.

Quando a al-Qaeda atacou no território dos EUA dia 11/9, diz Prince, sentiu que tinha obrigação ou de realistar-se ou de oferecer-se para trabalhar para a CIA. Diz que se apresentou. “Fui rejeitado”, admite, com uma careta ante a ironia de se ter apresentado como recruta à agência que, mais tarde, dependeria dele. “Disseram que minhas qualificações ‘duras’ em campo não eram suficientes”. Indomável, decidiu orientar o cursor de ofertas de emprego na direção de uma convocação para o que, em seguida, seria convertido, essencialmente, em exército privado.

Depois dos ataques terroristas em New York, a empresa de Prince passou a trabalhar para o Departamento de Defesa, oficialmente, não clandestinamente, embora sempre em relativa obscuridade, em ações no Afeganistão e, depois da invasão pelos EUA, também no Iraque. Então aconteceu o 31/3/2004. Nesse dia, os guerrilheiros emboscaram quatro de seus empregados na cidade iraquiana de Fallujah. Os homens foram mortos a tiros, os corpos incendiados. Os cadáveres destroçados de dois deles foram pendurados em uma ponte sobre o rio Eufrates.

“Foi horrível de ver” – Prince relembra. – “Estive na Marinha, em guerra, e jamais perdi homem que estivesse sob meu comando. Na Blackwater, jamais tivemos mortes, nem por acidente em treinamento com arma de fogo. E então, de repente, quatro dos meus rapazes haviam sido mortos e, pior, os cadáveres foram violados.” Três meses depois, regulação editada pelas autoridades da coalizão em Bagdá declararam imunes à lei iraquiana as empresas privadas operantes em Bagdá.

Consequência das mortes em serviço, as famílias dos mortos processaram a Blackwater, alegando que a empresa não oferecera proteção adequada aos seus entes queridos. Como resposta, a Blackwater processou as famílias por quebra de contrato que proibia seus empregados e respectivos inventariantes de processar a empresa em caso de morte em ação; a empresa também alegou que, dado que operava como extensão do corpo militar, não poderia ser responsabilizada por mortes em zona de guerra. (Passados cinco anos, o processo ainda não foi concluído.) Em 2007, investigação pelo Congresso dos EUA sobre o mesmo incidente concluiu que os empregados haviam sido enviados para área dominada pelos guerrilheiros “sem preparação, sem recursos e sem apoio suficientes.” Para a Blackwater, o relatório do Congresso não passou de “versão de u m só lado, sobre um trágico incidente”.

Depois de Fallujah, a Blackwater tornou-se ‘de casa’. Sua missão primária no Iraque havia sido proteger dignitários norte-americanos, o que a empresa fez ao mesmo tempo em que construía uma imagem de invencibilidade, com homens pesadamente armados, em trajes de combate, correndo em veículos blindados pelas ruas de Bagdá com sirenes ligadas. O show e a demonstração ostensiva de grande poder de fogo, que chamou atenção para a empresa e a separou, tanto dos cidadãos locais quanto dos militares norte-americanos, reforçaram as acusações de emprego de força excessiva. À medida que a guerra avançava, avançavam também as acusações contra a empresa. Num dos processos, um dos empregados matou a tiros um iraquiano pai de seis filhos que estava parado à margem da estrada em Hillah. ( Prince disse mais tarde ao Congresso que o empregado foi demitido por ter tentado encobrir o incidente.) Em outro, um técnico especialista em armas de fogo da Blackwater foi acusado de ter-se embriagado numa festa na Zona Verde e assassinado um dos guarda-costas do vice-presidente do Iraque. O técnico foi demitido mas não foi processado e, adiante, obteve acordo com a família da vítima, embora ilegal, que encerrou o processo.

Mas tudo isso empalidece, comparado aos eventos de 16/9/2007, quando uma falange de empregados da Blackwater saltou de um comboio de quatro carros numa esquina de Bagdá chamada Praça Nisour e abriu fogo contra a multidão. Quando a fumaça dissipou-se, havia 17 iraquianos civis mortos. Depois de 15 meses de investigações, o Departamento de Justiça acusou seis por massacre premeditado e outros crimes, concluindo que o uso da força fora, além de injustificado, também não provocado. Um dos acusados reconheceu-se culpado e espera-se que testemunhe contra os outros, no julgamento marcado para fevereiro; até agora, todos os demais se declararam inocentes. O New York Times noticiou recentemente que, imediatamente depois do tiroteio, os altos executivos da empresa autorizaram pagamentos secretos de 1 milhão de dólares a autoridades iraquianas, para comprar seu silêncio – acusação que, para Prince, é “falsa”, insistindo em que “[nunca houve] nem planos nem qualquer discussão sobre subornar autoridades.”

A Praça Nisour gerou repercussões catastróficas para a Blackwater. As funções que desempenhava no Iraque foram reduzidas, os ganhos caíram 40%. Hoje, diz Prince, desembolsa $2 milhões por mês em despesas com taxas e advogados para responder aos processos civis e está sendo submetido a auditoria que, para ele, “é um exame proctológico gigante” por quase uma dúzia de agências federais. “Antes, investíamos em Pesquisa & Desenvolvimento, para construir melhores capacidades para servir ao governo dos EUA” – diz Prince. “Hoje, pagamos advogados.”

Nisso, não mente. Na Carolina do Norte, um Tribunal Federal investiga diversas acusações, inclusive de transporte ilegal de armas de assalto e silenciadores para o Iraque, escondidos em sacos de ração para cachorro (Blackwater negou essas acusações, mas confirmou que ocultava armas em contêineres de ração para cachorro, para evitar que fossem roubadas “por agentes de alfândega corruptos em países estrangeiros.”) Na Virginia, dois ex-empregados assinaram declarações judiciais nas quais dizem que Prince e a empresa Blackwater podem ter assassinado ou mandado assassinar pessoas suspeitas de colaborar com as autoridades dos EUA que investigavam a empresa – acusação que a Blackwater considerou “escandalosa e sem qualquer base.” Um dos empregados disse também, ante autoridade judicial, que empregados da empresa mantinham um arranjo de troca de esposas, para finalidades sexuais, acusações que, para a Blackwater, seriam “anônimas, sem provas e caluniosas”.

Enquanto isso, em fevereiro último, Prince montou uma cara campanha de reposicionamento de sua marca. Em 1996, depois da falência fraudulenta da empresa ValuJet, desapareceu a marca ValuJet, absorvida em fusão com a AirTran, que começou feliz vida nova. Seguindo a mesma fórmula, Prince decidiu fazer sumir a marca Blackwater, substituindo-a por “Xe”, abreviatura de “xenônio”, gás inerte, não combustível que, seguindo nisso a inclinação política de Prince, localiza-se na extrema direita da tabela periódica de elementos. Prince e outros altos executivos da empresa, entre eles, continuaram a usar o nome Blackwater. E, como os fatos não demorariam a comprovar, a reputação da empresa continuaria combustível como sempre.

Espiões e Cochichos

Em junho passado, Leon Panetta, diretor da CIA, foi ouvido em sessão secreta da Comissão Conjunta de Inteligência da Câmara de Deputados e do Senado, para informar sobre um programa de ação secreta que a Agência manteve, sem conhecimento do Congresso. Panetta explicou que só na véspera soubera daquela operação e que a mandara cancelar imediatamente. A razão da suspensão, aparece agora, explicada por Paul Gimigliano, porta-voz da CIA: “A operação foi suspensa porque não tirou das ruas nenhum terrorista.” Durante a sessão secreta, segundo dois participantes, Panetta citou Erik Prince e a Blackwater como participantes chave do programa. (Solicitado a confirmar essa avaliação, Gimigliano disse que “o diretor Panetta considera confidenciais declarações feitas ao Congresso, em reunião com portas fechadas.”) Imediatamente depois, diz Prince, começou a receber telefonemas com perguntas impertinentes, de pessoas que ele descreve como muito distanciadas do círculo daqueles nos quais se deve confiar.

Passaram-se três semanas, antes que começassem a aflorar os primeiros, embora ainda muito esquemáticos, detalhes. Em julho, o Wall Street Journal descreveu o programa como “esforço para executar uma autorização presidencial, de 2001, para capturar ou matar agentes da al-Qaeda.” A CIA, declaradamente, planejava dar conta dessa tarefa despachando pequenas equipes para além-mar. Deputados e senadores, que ainda não entendem perfeitamente o objetivo da missão, ficaram furiosos por terem sido postos à margem. (Ex-funcionários da CIA, como se sabe, veem as coisas de outro modo; para eles, o programa seria “mais aspiracional, que operacional”; e jamais gerou qualquer resultado que justificasse prestar informações ao Senado.)

Dia 20/8, o tempo fechou. O New York Times publicou matéria cuja manchete dizia “CIA pediu socorro à Blackwater para matar jihadistas”. O Washington Post ajudou: “CIA contrata empresa para programa de assassinatos”. Prince confessa que se sentiu enganado. “Não entendo como um programa tão sensível pode ter vazado”, diz. “E para me porem à frente de tudo?” Dia seguinte, o Times foi ainda além, e revelou o papel da Blackwater no emprego de aviões-robôs para matar os cabeças da al-Qaeda e de outros líderes Talibã: “Em bases clandestinas no Paquistão e no Afeganistão (...), empresas contratadas montam e carregam mísseis Hellfire e bo mbas gigantes guiadas a laser ou aviões-robôs Predator pilotados por controle remoto, trabalho que, antes, sempre foi executado por agentes da CIA.”

Erik Prince, quase do dia para a noite, passou por violento reposicionamento do destino, dessa vez, não planejado por ele. De mercenário que lucra com a guerra, tornou-se mercador da morte, com licença para matar em terra e no ar. “Sou alvo fácil”, diz ele. “Minha família é Republicana e, sim, a empresa é minha. Nossos concorrentes não têm cara nem nome.”

Prince culpa os Democratas no Congresso pelo vazamento e insiste em que há aí dois pesos e duas medidas. “A esquerda reclamou tanto de a identidade de [agente da CIA] Valerie Plame ter sido exposta por razões políticas. Indicaram até um Procurador especial [para investigar]. Ora essa! Comigo, fizeram muito pior! Por razões políticas, há gente aí que não apenas fez vazar informes sobre uma operação altamente sensível e secreta, como, além do mais, expôs o meu nome como associado àquela operação!” Exatamente como no caso Plame, contudo, os vazamentos levaram os advogados da CIA a também exigir que o Departamento de Justiça inicie investigação criminal para identificar os responsáveis pelo vazamento, que distribuíram para a imprensa informação classificada altamente secreta que envolvia a Blackwater.

Intensamente focados contra a griffe Blackwater, o Congresso e a mídia não viram o elefante na sala. Prince não era apenas empresa contratada, dizem os mais próximos da questão; era também agente pleno. Três fontes com conhecimento direto do relacionamento, dizem que a Divisão de Recursos Nacionais da CIA recrutou Prince em 2004 para integrar uma rede secreta de cidadãos norte-americanos com habilidades especiais ou acesso não normal a alvos que interessavam à Agência. Em matéria de agente qualificado, Prince seria, mesmo, um tesouro raro. Tinha mais dinheiro, meios de transporte, equipamento e material humano à sua disposição que qualquer outro recruta potencial com que a Agência jamais sonhou, em seus 62 anos de história.

A CIA não se pronuncia sobre essas questões, mas o próprio Prince está bastante mais loquaz. “Eu estava trabalhando para criar uma força restrita e focada”, diz ele, “exatamente como Donovan fez há anos” – referindo-se a William “Wild Bill” [Bill, o Selvagem] Donovan, agente que, na II Guerra Mundial, comandou o Escritório de Serviços Estratégicos, precursor da moderna CIA (o filho mais novo de Prince, Charles – o mesmo que caiu na piscina e foi salvo pelo irmão – recebeu nome em homenagem ao agente Bill, o Selvagem.) Duas fontes, que conhecem bem aquele arranjo, dizem que os agentes que recrutaram Prince tinham autorização, dada pelo alto comando da CIA, para recrutá-lo e em seguida abriram um “arquivo 201”, segundo o qual Prince apareceria, nos registros da Agência, como recruta vetado. Não se sabe com clareza quem mandava em quem, porque Prince diz que, diferente dos demais recrutados, trabalhava praticamente por conta própria, usando, segundo diz, dinheiro seu, para testar a viabilidade de algumas operações. “Fui criado bem próximo da indústria de autopeças,” Prince explica. “Os clientes diziam ao meu pai: ‘Precisamos disso, assim, assim’. Meu pai tinha de investir seu próprio dinheiro para criar protótipos que atendessem cada demanda. A minha abordagem sempre foi a mesma: se você cria a peça, os clientes aparecem.”

Segundo duas fontes que conhecem seu trabalho, Prince desenvolvia nessa época meios não convencionais para entrar em países considerados “impenetráveis” – nos quais a CIA não conseguia trabalhar, fosse porque não tinha bases a partir das quais operar, ou porque os serviços locais de inteligência tinham meios para frustrar todas as iniciativas da Agência. “Não ganhei dinheiro algum com esse trabalho”, Prince contra-argumenta. Está pronto para especificar a exata natureza e origem do que ganha. “Estou sendo pintado pelo Congresso como mercenário que enriquece nessa guerra. Mas sou eu quem paga, do meu bolso, para manter várias atividades de inteligência necessárias para apoiar a segurança nacional dos EUA. Do meu bolso.” (E é bolso fundo: segundo o Wall Street Journal, a Blackwater obteve lucros de mais de $600 milhões, em 2008.)

No Afeganistão

A paisagem afegã, vista em panorâmica a 200 nós, é uma neblina marrom-alaranjada. A imagem é ainda menos definida, pelo fato de que Erik Prince voa sobre ela, à altura de 200 pés. A parte traseira do avião – um pequeno C-212 de fabricação espanhola – está aberta, e vê-se a silhueta de Prince contra o azul do céu. Veste botinas Oakleys, calças caqui de combate e uma camiseta branca; parece espantosamente jovem, adolescente.

A tripulação inicia uma contagem regressiva, Prince ajusta a cinta que o prende ao avião e toma posição. Ao ouvir o comando “agora!”, um jovem GI ao seu lado corta uma tira, e Prince empurra um contêiner para fora do avião. Vê-se o paraquedas preto que se abre e o avião salta para a frente, empurrado pela diferença de peso. A carga – alimentos e munição – cai dentro do perímetro demarcado de uma FOB [ing. Forward Operating Base], Base de Operação Avançada] de um esquadrão de elite das Forças Especiais dos EUA.

Cinco vezes por semana, o braço de aviação da Blackwater – uma empresa que leva o espantoso nome de Presidential Airways – voa nessas perigosas baixas altitudes até os mais remotos postos norte-americanos no Afeganistão. Desde 2006, a empresa de Prince está encarregada de prestar esse “serviço chave” aos soldados norte-americanos, que implica milhares de viagens de entrega. A Blackwater também fornece serviços de segurança ao embaixador Karl Eikenberry, dos EUA, e sua equipe; e dá treinamento a unidades especiais da polícia antinarcóticos do Afeganistão.

De volta a terra firme, Prince, com um BlackBerry à cintura e uma 9 mm do outro lado, faz rápida visita de inspeção a uma das bases da Blackwater no nordeste do Afeganistão, mostrando alguns prédios recentemente atingidos por fogo de morteiros. Um avião-robô circula no céu, as câmeras vasculhando os arredores. Prince escala uma torre de observação e examina um ponto, abaixo, onde dois de seus empregados quase foram mortos em julho, por uma bomba de fabricação caseira. “Sem contar os postos de controle de passagem de civis, essa é a base mais próxima da fronteira [do Paquistão].” A voz ganha solenidade melodramática. “Quem mais construiu posto tão avançado de observação ao longo da principal via de infiltração para os Talibã, tão próximo da última localização conhecida de Osama bin Laden?” Não chega a ter o entusiasmo do “Para Aqaba!” de Lawrence da Arábia, mas o quadro é o mesmo.


[Prince chegou a pensar em criar uma brigada de rápido deslocamento, a ser alugada, sob pagamento, a governos estrangeiros.]

Sair “dos holofotes”

A Blackwater está no Afeganistão desde 2002. Naquele momento, o diretor executivo da CIA A. B. “Buzzy” Krongard, respondendo às queixas de seus agentes, que estavam “muitíssimo preocupados porque os afegãos estão chegando à cerca ou abrindo as portas”, alistou a empresa para dar proteção à base da Agência em Cabul. “Baixar o perfil”, ou “sair dos holofotes” valeu a pena: enquanto a Blackwater trabalhou ali, nenhum agente da CIA morreu no Afeganistão, segundo fontes próximas da empresa. (Mas isso pode ser conversa de compadres. Krongard, depois, serviria como conselheiro não remunerado da direção da Blackwater, até 2007. E seu irmão Howard “Cookie” Krongard – inspetor geral do Departamento de Estado – teve muito trabalho para comprovar absoluta separação dos negócios com a Blackwater no Afeganistão, depois que se revelou o envolvimento do irmão com aquela empresa. Buzzy, depois, se demitiu.)

À medida que crescia a confiança da CIA na Blackwater, aumentavam as responsabilidades da empresa, que passaram da proteção estática à segurança móvel – cobertura ao pessoal da Agência, sempre temerosos de suicidas-bombas, emboscadas e bombas de fabricação caseira semeadas ao longo e às margens das estradas, em suas andanças pelo país. Mas em 2005 a Blackwater, adaptada para fazer a guarda pessoal dos agentes da CIA, começava a parecer-se demais com a própria CIA. Enrique “Ric” Prado tornou-se empregado da Blackwater depois de trabalhar como chefe de operações do Centro de Contraterrorismo (CTC) da Agência. Pouco depois, o chefe de Prado, J. Cofer Black, diretor geral do CTC também se mudou para a Blackwater. Foi seguido, depois, pelo superior dos dois, Rob Richer, segundo em comando de todas as operações clandestinas da CIA. Dos três, Cofer Black sempre foi o mais afamado. Como Bob Woodward contou em seu livro Bush at War, dia 13/9/2001 Black prometeu ao presidente Bush que, quando a CIA tivesse “dado cabo” da al-Qaeda, “eles estariam com ninhos de moscas nas córneas”. Segundo Woodward, “Black ficou conhecido, no círculo dos íntimos de Bush, como ‘o cara das moscas nas córneas’”. Richer e Black rapidamente ajudaram a criar nova empresa, a Total Intelligence Solutions (que coleta dados para avaliação de risco, vitais para empresas interessadas em investir além-mar). Mas em 2008 ambos deixaram a Blackwater. Em 2010, o presidente da Blackwater, Gary Jackson, seguiu o mesmo rumo.

Durante todo esse tempo, Black e Ric Prado, ex-parceiro de Richer, primeiro como funcionários da CIA, depois como empregados da Blackwater, trabalharam em silêncio com Prince como vice-presidentes de “programas especiais”, para prover a agência de com um serviço de que todos os serviços de inteligência precisam muito: a possibilidade de negar tudo. Pouco depois do 11/9, o presidente Bush lançou uma ordem de “localizar e matar” que deu à CIA salvo conduto para matar ou capturar membros da al-Qaeda. (Por efeito de ordem presidencial do presidente Gerald Ford, desde 1976 os agentes da inteligência dos EUA eram proibidos, por lei, de organizar e executar assassinatos.) Experimentado funcionário e agente, Prado ajudou a viabilizar o cumprimento da autorização presidencial, reunindo seleta equipe de “faixas azuis” [ing. blue-badgers], como os agentes do governo são conhecidos. Faziam serviço de três etapas: encontrar, acertar e limpar. “Encontrar” um alvo determinado, “acertar” a rotina do alvo [no sentido de descobrir e fixar um roteiro] e “limpar” no sentido de, sendo necessário, matá-lo. Quando chegou a hora de treinar essa equipe, a Agência, dizem fontes internas, a Agência procurou Prince. Preocupados com não atrair excessiva atenção, a equipe não foi treinada no centro da treinamento da empresa na Carolina do Norte, mas em uma propriedade particular de Prince, a uma hora de Washington, DC. A propriedade é semelhante a outras mansões dos grandes proprietários rurais, com pastagens e criação de cavalos, além de outras instalações menos ortodoxas, como um stand de treinamento de tiro, coberto. Mais uma vez, Prince inspirava-se no agente “Bill, o Selvagem”: “os primeiros agentes do Office of Strategic Services (OSS) da II Guerra Mundial também foram treinados numa propriedade rural privada, no interior do país.”

Um dos alvos dessa equipe, segundo fonte que conhece bem o programa, foi Mamoun Darkazanli, financiador da al-Qaeda que vivia em Hamburgo e estava há anos no radar da Agência por suas ligações com três dos seqüestradores de 11/9 e com elementos condenados pelos atentados a bomba, em 1998, contra embaixadas dos EUA na África Oriental. A equipe da CIA supostamente trabalhou “no escuro”, no sentido de que a presença da equipe na Alemanha não foi informada nem aos próprios superiores – muito menos ao governo alemão. – Darkazanli foi seguido durante semanas, obedecendo ao padrão de procedimento, até decidir-se onde e quando seria abatido. Outro alvo, diz a mesma fonte, foi A. Q. Khan, o cientista paquistanês que partilhou know-how nuclear com Irã, Líbia e Coréia do Norte. Supõe-se que a equipe da CIA o tenha localizado em Dubai. Nos dois casos, insiste a mesma fonte, as autoridades em Washington escolheram suspender a caçada e não autorizaram o assassinato. Mas a inclusão de Khan na lista de alvos selecionados, contudo, sugere que o projeto de assassinatos seria mais amplo do que se suspeitava. (Para Gimigliano, porta-voz da Agência, “A CIA não discutiu – ao contrário do que a mídia divulgou – o conteúdo e substância desses projetos, ou de projetos anteriores”.)

A mesma fonte que conhece as missões Darkazanli e Khan não aceita o que têm dito agentes atuais e passados da CIA: “Eles têm dito que o programa [de assassinatos seletivos] não avançou porque [os agentes] não tinham capacitação ou porque houve falha de cobertura. Não é verdade. A operação esteve ativa por muito tempo, em vários lugares, sem jamais ser descoberta. O programa morreu por falta de vontade política.”

Quando Prado deixou a CIA, em 2004, ele de fato carregou o programa com ele, depois de um curto hiato. Àquela altura, segundo fontes que conhecem o plano, Prince já estava ligado à Agência e os dois começaram a trabalhar na privatização do programa, mudando a composição da equipe, de faixas azuis, para uma combinação de “faixas verdes” (empresas contratadas pela CIA) e empresas nacionais de países do Terceiro Mundo (que não sabiam da conexão com a CIA). Funcionários da Blackwater insistem que os recursos da empresa e a força-de-trabalho jamais foram diretamente utilizadas; essas iniciativas seriam de responsabilidade pessoal direta de Prince; a empresa, depois, reembolsava os gastos que houvesse. E que, apesar dos laços íntimos que os ligavam à CIA, nem Cofer Black nem Rob Richer participaram. Nas palavras de Prince: "Estávamos construindo capacidade unilateral e intransferível. Se desse errado, não esperávamos que o chefe de polícia, o embaixador ou fosse quem fosse nos tirasse da cadeia.” Prince insiste que, se essa equipe tivesse realmente funcionado, a Agência teria ganho pleno controle. Mas não funcionou, devido ao que Prince chama de “osteoporose institucional”; e a parte conclusiva do programa de assassinatos seletivos não decolou.

Em algum momento depois de 2006, a CIA tentaria reativar o programa, segundo fonte interna, que conhece o plano em detalhes. “Cada um achou alguma razão para não participar”, diz a fonte. ‘Afinaram’. As pessoas diziam aos coordenadores ‘Tenho família, tenho outros compromissos’. Assim é a fucking CIA. Deveriam liderar a luta contra a al-Qaeda, mas não tinham quem fizesse.” Outras fontes, que também conhecem o programa, são mais generosos; para esses, “por que um funcionário de pensamento direitista assinaria um programa de assassinatos, quando via seus colegas – que pensaram que receberiam cobertura legal para outro esforço sensível, como o programa secreto de “interrogatórios reforçados” em bases secretas da CIA em países estrangeiros – enrolados em problemas com a justiça?”

Os EUA e Erik Prince, ao que parece, demoraram demais para separarem-se do negócio de assassinatos. Sob os aviões-robôs que voam com auxílio da Blackwater por cima da fronteira Afeganistão-Paquistão (o presidente Obama autorizou mais de três dúzias desses ataques), Prince diz que ele e uma equipe de cidadãos estrangeiros ajudaram a encontrar e acertar um alvo em outubro de 2008, e depois deixaram a etapa de “limpar” para outros. “Na Síria”, diz Prince, “demos todos os sinais de inteligência para a geolocalização dos bandidos em área em que ninguém entrava.” Subsequentemente, uma equipe das Forças Especiais dos EUA lançaram ataque de helicóptero para matar um agente intermediário da al-Qaeda, Abu Ghadiyah. Ghadiyah, cujo nome real é Badran Turki Hishan Al-Mazidih, foi dado por morto, com seis outros – embora h aja dúvidas sobre a presença de Ghadiyah no dia do ataque, como se leu em reportagem recente assinada por Reese Ehrlich e Peter Coyote, em Vanity Fair.

E até há dois meses – quando, diz Prince, o governo Obama tirou o fio da tomada –, Prince continuava profundamente envolvido em artes ocultas. Segundo fontes internas, continuava a trabalhar em operações para reunir informações de inteligência, de um local secreto, nos EUA, coordenando remotamente o movimento de espiões que trabalham infiltrados num dos países do chamado “Eixo do Mal”. Missão deles: informação classificada.

Estratégia de retirada

Voando de volta a Cabul, Prince volta ao tópico de o quanto se sente exposto desde que a mídia revelou seu papel no programa de assassinatos. A tempestade que começou em agosto continuou a crescer e pode estar levando muitos a já não saber com certeza se o próprio Prince não seria hoje mais risco que patrimônio. Ele diz que não entende por que se cancelariam alguns esforços e programas de alto risco e alto ganho contra alguns dos mais implacáveis inimigos dos EUA, por medo de que se envolver implique riscos inadmissíveis, dado o clima político.

Parece não acreditar que funcionários do governo dos EUA dêem sinais claros de que cortarão a mangueira de ar daqueles programas. “Trabalho, às claras e clandestinamente, sempre servindo aos EUA, desde que me alistei pela primeira vez nas Forças Armadas”, Prince observa. Depois de 12 anos de trabalho para construir sua empresa, diz que quer entregá-la aos empregados e a um comitê de administração, e deixar, de vez, de prestar serviços à Defesa. Há quem diga que está em curso uma luta interna pelo poder, entre os que querem redefinir o rumo do que possa ser uma Blackwater pós-Prince. Prince repete, simplesmente, “Estou farto.”

No passado, Prince alimentou a ideia de construir um navio – completo, com pessoal de segurança, médicos, helicópteros, remédios, alimentos e combustível – e estacioná-lo no litoral da África, para oferecer “ajuda e dentes” nos pontos mais difíceis do continente ou enfrentar os piratas da Somália. Chegou a pensar em criar uma brigada de rápido deslocamento, a ser alugada, sob pagamento, a governos estrangeiros.

Por hora, contudo, Prince diz que tem planos muito mais modestos. “Vou ser professor de ginásio”, diz, sem piscar. “Posso ensinar história e economia. E sou treinador de luta livre. Por que não? Indiana Jones também foi professor.”

__________________________

Tradução: Coletivo Vila Vudu de Tradutores

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

.

PressAA

.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

JS - A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR

.



Celso Lungaretti

Candidato José Serra, no final de outubro de 2008, eu lhe pedi, por meio de carta aberta, que tomasse as providências cabíveis, como governador de São Paulo e como cidadão que foi perseguido pela ditadura militar, para que a página virtual do 1º Batalhão de Polícia de Choque da PM, mais conhecido como Rota, não continuasse exibindo elogios rasgados à ditadura de 1964/85 e ao papel que ele próprio desempenhou na repressão aos que resistiam à tirania.

Depois, diversas vezes voltei ao assunto. Idem, o portal "Brasil de Fato", que chegou a receber uma falsa promessa da Polícia Militar de que o site seria revisado, para adequar-se aos valores da democracia e da civilização.

Até hoje continua no ar, por exemplo, o seguinte:

"Marcando, desde a sua criação, a história desta nação, este Batalhão teve seu efetivo presente em inúmeras operações militares, sempre com participação decisiva e influente, demonstrando a galhardia e lealdade de seus homens, podendo ser citadas, dentre outras, as seguintes campanhas de Guerra: (...) Revolução de 1964, quando participou da derrubada do então Presidente da República João Goulart, apoiando a sociedade e as Forças Armadas, dando início ao regime militar com o Presidente Castelo Branco".

Então, pergunto:

O Sr. concorda com a afirmação de que os golpistas de 1964 estavam apoiando a sociedade?

Se não concorda, por que permitiu que ela permanecesse no ar, inalterada, durante todo seu governo?

Celso Lungaretti (jornalista, escritor e ex-preso político anistiado pelo Ministério da Justiça)


* * *

Compareci nesta 2ª feira (21) à sabatina da Folha de S. Paulo/UOL com o presidenciável José Serra unicamente para entregar a uma funcionária a pergunta acima, já que o envio prévio de questões só era admitido na forma de vídeo e eu não sou atração gratuita do circo da mídia.

Seria ela pertinente, numa campanha eleitoral?

Nada seria mais pertinente, na verdade. Pois, a campanha inteira tem ignorado os grandes temas políticos e se travado em torno de ninharias como dossiês fantasmas, com um acusando "você fez!" e outra retrucando "eu não fiz!".

Então, o eleitorado ganharia subsídios mais ricos para sua escolha se pudesse avaliar o caráter de José Serra.

Ou a falta dele, caso assumisse, de viva voz, já não dar a mínima se e quando uma corporação sob sua autoridade mantém no ar a mais repulsiva retórica ditatorial.

Mas, o mediador Fernando Rodrigues poupou o entrevistado de constrangimentos, ao omitir que eu havia interpelado Serra em carta aberta – enviada, como manda o figurino, primeiramente para o destinatário.

Também não citou o nome do "internauta" que fez a indagação, o que já é de praxe na Folha: meu nome deve ser, tanto quanto possível, omitido; e minha atuação, minimizada.

Pelos critérios jornalísticos, seria mais do que relevante ele esclarecer que a cobrança era feita por uma vítima da ditadura, que tinha todos os motivos para indignar-se com tal descaso em relação aos valores democráticos.

Noblesse oblige, Serra negou rapidamente que estivesse certo quem apoiou o golpe.

Que mais poderia fazer um ex-presidente da UNE? Evitou, entretanto, qualquer afirmação mais contundente, que pudesse indispô-lo com seus aliados atuais.

Disse não ter tomado conhecimento da existência de tais afirmações na página virtual da Rota – e ninguém lhe perguntou se era normal que uma carta aberta a ele encaminhada por um ex-preso político, expondo uma questão que envolve a fidelidade aos princípios democráticos, não chegasse às suas mãos.

Comparou a omissão de sua administração em resolver tal problema à do Governo Lula quanto ao viés totalitário dos manuais de História dos colégios militares.

E já ia mudar de assunto quando a jornalista Renata Lo Prete lhe indagou se não caberia, afinal, a tomada de alguma providência para sanar tal aberração.

Serra respondeu que não via isso como algo prioritário, mas aquiesceu.

Para que não fique o dito por não dito, encaminharei em seguida uma mensagem ao governador em exercício, fazendo-lhe a mesma cobrança.

De resto, não fiquei para assistir à sabatina. Entreguei o papel e fui tratar de assuntos mais relevantes. Afinal, avaliei, quem se atrasa 42 minutos para um debate não deve ter mesmo nada de importante para dizer.

E a versão integral disponibilizada pelo UOL (que vi depois) confirmou isso. O que ele falou foi mais do mesmo... de novo. Nada que valesse manchete.

Mas, houve algo marcante, sim. A entrada de Serra, assim descrita pelo colunista Fernando de Barros e Silva:

"Eram 11h42 quando o candidato tucano à Presidência entrou no palco da sabatina Folha/UOL, evento com transmissão ao vivo marcado para as 11h.

"Esperavam-no sentados na primeira fila, à frente da plateia que lotava o teatro, Gilberto Kassab, Geraldo Alckmin, Orestes Quércia, Aloysio Nunes Ferreira, entre tantos outros. Não é fácil descrever a cena, mas todos ali pareciam seus empregados. Serra chegou sério, sem dizer bom dia nem pedir desculpas pelos 42 minutos de atraso".

Como cinéfilo inveterado que sou, logo me ocorreu um paralelo com a sétima arte.

O atrasadíssimo Serra surgiu sem aviso no fundo do palco, por trás dos entrevistadores sentados, caminhando lentamente. Magro, careca, envelhecido, carrancudo e meio encurvado, deu a impressão de ter... encolhido.

Os espectadores foram surpreendidos por essa irrupção em cena que deveria ser jovial e esfuziante (política é a arte da representação...), mas foi, isto sim, sinistra. Houve um átimo em que todos ficaram estupefatos e não se ouviu ruído nenhum. Silêncio ensurdecedor.

Depois soaram as palmas, mas sem convicção. Foram aplausos pra lá de constrangidos.

Sempre achei de mau gosto as comparações que fazem na internet, mas – juro! – Serra lembrou mesmo o Nosferatu, de Murnau e Herzog.

Quase cheguei a temer que desse um bote para cravar os caninos na jugular da Lo Prete...

______________________

Celso Lungaretti, jornalista, escritor e ex-preso político anistiado pelo MJ. Mantém o blog Náufragos da Utopia e
colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.




Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons

.

PressAA

.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

FUTEBOL E ESQUIZOFRENIA

.


Direto da Redação

É tempo de futebol, e também de esquizofrenia na área midiática quando os locutores pregam a “defesa da pátria” nas quatro linhas. E isso os galvões buenos e outros menos votados o fazem nos mesmos canais que se alinham ao que é há de mais antipatriótico no espectro político brasileiro.

Já virou rotina as tentativas da mídia em estabelecer o esquema pão e circo. Não que o futebol em si seja alienante, mas o que há em redor cumpre esse papel com a colaboração inestimável dos meios de comunicação conservadores. Exemplo mais recente nesse sentido ocorreu, para variar, na TV Globo, em uma reportagem de Nova York com argentinos lá residentes acordando cedo para assistir um jogo da seleção de Maradona.

Em determinado momento o repórter foi ouvir um indiano torcendo pela Argentina e dizendo que tinha ”ódio do Brasil”, pois “se ama a Argentina tinha que ter ódio do Brasil”. Mas o pior da história foi que o indiano não apareceu falando, sendo apenas “traduzido” pelo repórter.

Ficou claro que os “patriotas” da TV Globo aproveitaram o embalo para envenenar, ou seja, colocar o tema não como uma rivalidade normal de disputa futebolística, mas jogar um país contra o outro, como fazem ao longo dos anos. Na prática essa gente joga contra a integração latino-americana, que tem como ponto relevante a aproximação brasileiro-argentina.

A mídia conservadora preferiu ignorar que a seleção argentina ao se despedir dos torcedores numa apresentação em Buenos Aires ergueu uma faixa informando que os jogadores apoiavam a indicação das Avós da Praça de Maio para o Prêmio Nobel da Paz. Ou seja, a seleção comandada por Maradona deu toda força a um grupo de senhoras mobilizadas desde 1977 para cobrar o desaparecimento político de netos e filhos durante a ditadura. Já imaginaram uma seleção brasileira defendendo direitos humanos erguendo uma faixa o que faria a mídia conservadora?

O aprofundamento do tema futebol e tentativas de manipulação da opinião pública são necessários sobretudo agora que em 2014 o Brasil sediará a próxima Copa do Mundo. Ou seja, muita grana vai rolar e corre-se o risco de as obras necessárias para a realização da Copa e dois anos depois as Olimpíadas não serem revertidas posteriormente para o benefício da população, aliás, como aconteceu com os Jogos Pan-americanos no Rio de Janeiro, onde, por sinal, tudo ficou por isso mesmo em matéria de investigação de denúncias sobre irregularidades cometidas em construções para o evento. Quando se tentou isso, a administração municipal do Rio, então sob o comando do Prefeito Cesar Maia conseguiu abortar a iniciativa com a medíocre bancada de vereadores áulicos.

Na verdade, daqui para frente, mesmo depois da Copa do Mundo, os brasileiros vão respirar futebol e o esquema conservador de sempre vai reforçar a manipulação da informação. É só acompanhar o que acontece com uma visão minimamente crítica.

Na área da sucessão presidencial, vale o registro de dois fatos. O primeiro envolvendo o tucano Fernando Henrique Cardoso, que de tão queimado que está nem apareceu presencialmente na convenção do PSDB que oficializou a candidatura José Serra, mas só numa tela com uma mensagem ao estilo senso comum que caracteriza o ex-presidente que fez tudo para sucatear o Brasil inteiro, não apenas as estatais. O segundo, a candidata Marina Silva.

Cardoso investiu furiosamente, em uma entrevista no jornal espanhol El País contra a política externa do governo Lula, sobretudo em relação à aproximação com Cuba e a tentativa brasileira e turca para uma distensão nas relações do Irã com o Ocidente, o que foi impedido pelo governo estadunidense de Barack Obama, na voz de Hillary Clinton, a secretária de Estado vinculada ao complexo industrial militar, que não esconde, agora via governo Benyamin Netanyanhu de Israel, o desejo de bombear o Irã. Cardoso está também furioso com o fato de o governo Lula não se alinhar automaticamente com os Estados Unidos, como aconteceu nos oito anos que esteve a frente do Executivo nacional.

Marina Silva, uma verde meio desbotada, porque quer todos os setores políticos de mãos juntas administrando o Brasil, não separando o joio do trigo, deu uma grande escorregada no Roda Viva, programa de entrevistas da TV Cultura e com transmissão nacional pela TV Brasil. Em certa altura, Marina disse que “graças a Constituição de 1988 o Estado brasileiro é laico”.

Como a senadora é formada em História, a escorregada é ainda pior, pois o Estado e a Igreja são separados no Brasil desde a primeira Constituição da República, em 24 de fevereiro 1891. O mais estranho é que nenhum dos entrevistadores deu uma palavra sobre o fato. Imaginem se em algum momento o Presidente Lula falasse algo dessa natureza o que aconteceria em matéria de contestação dos colunistas amestrados?

_______________________

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

.

PressAA

.

sábado, 19 de junho de 2010

Lula reacendeu a luta de 'o petróleo é nosso'

.
Gilson Caroni Filho

Lula e Vargas na madrugada da partilha

Nascido da tradição da Filosofia da História, o tempo lento, linear e previsível não costuma dar espaço para que surjam agitações trazidas por “eventos” desconstrutores de representações sedimentadas No entanto, quando constelações específicas condensam a vida, restituindo sua dimensão dialética, estamos, sem dúvida, diante de atos ou fatos inaugurais quase sempre originados na esfera política.

Quando o Senado aprovou a capitalização da Petrobras em até US$ 60 bilhões, o que ampliará a dimensão estatal da empresa, e o regime de partilha, que garante a exploração soberana das jazidas do pré-sal, a história se tornou presente no espaço. Ignorando o intervalo de 57 anos, a madrugada fria de 10 de junho de 2010 trouxe de volta o tema do petróleo como questão de soberania. Das brumas de 3 de outubro de 1953, Vargas voltou a sancionar a Lei 2.004, recriando a Petrobras, com o restabelecimento do monopólio do Estado para exploração do nosso mais valioso recurso natural. Da névoa seca do Planalto, Lula retomou a campanha de O petróleo é nosso, reinventando Brasília como capital da consciência histórica.

A decisão do Congresso representa derrota para o projeto de Serra e das petroleiras internacionais que lutaram até o fim para adiar votação, na expectativa de uma reversão do quadro político nacional, após as eleições de outubro. O novo marco regulador garante à Petrobras o papel de operadora única de jazidas gigantescas que podem conter até 50 bilhões de barris, segundo a Agência Nacional de Petróleo. Com isso, a estatal brasileira terá, no mínimo, 30% dos novos campos, mas poderá receber do Estado 100% de novas áreas sem licitação.

O próximo passo é a criação da Petro-Sal, uma empresa que vai assegurar a hegemonia pública completa no gerenciamento dessa riqueza. É a pá de cal no sonho privatizante dos interesses aglutinados em torno da candidatura tucana. Foi aprovado, ainda, o Fundo Social formado pela capitalização de receitas e royalties vinculados a investimentos em educação, ciência, tecnologia, meio ambiente, combate à pobreza e à desigualdade.

Ao contrário do consórcio neoliberal que o antecedeu, o governo petista lega às gerações futuras um passaporte de emancipação social, em vez de dívidas, crise e alienação de patrimônio público.

É a reiteração de uma estratégia de desenvolvimento econômico e social que rompe com os padrões anteriores. Assistimos à implantação crescente de políticas industriais e tecnológicas voltadas para o parque produtivo brasileiro, respondendo aos desafios impostos pela conjuntura econômica internacional e às exigências de um sólido mercado interno. Se antes a ação econômica instrumentalizou a política, fazendo dela um meio de coerção para a maximização dos fins acumulativos, agora, após oito anos de governo democrático-popular, a institucionalidade democrática inverteu os termos da equação.

Antes mesmo que o sol nascesse, Lula, elegantemente, se despediu de Vargas. Quem assistiu à cena improvável, jura que o Angelus Novus, de Paul Klee, sorriu satisfeito. Nas suas costas não havia mais ruínas.

____________________________

Gilson Caroni Filho, sociólogo, mestre em ciências políticas, professor titular de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), é colunista da Carta Maior, colabora com o Jornal do Brasil e com esta nossa Agência Assaz Atroz.

Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons

.

PressAA

.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Quem com Serra ferra, por Serra será ferrado

.



Democrata apoia PT e deflagra crise em SP

Data: 15/06/2010
Veículo: FOLHA DE S. PAULO - SP
Editoria: BRASIL
Assunto principal: POLITICA

DE SÃO PAULO

Líder da bancada do DEM na Câmara da capital paulista, o vereador Carlos Apolinário deflagrou uma crise na cúpula de seu partido em São Paulo ao declarar, ontem, apoio à candidatura do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo do Estado.

O DEM apoia formalmente Geraldo Alckmin (PSDB) na corrida ao Bandeirantes. Por isso, a declaração preocupou o tucanato paulista.

Alegando não ter pedido permissão, mas só comunicado a decisão aos colegas de bancada, Apolinário não poupou o tucano de críticas.

"São Paulo não precisa de um gerente. Precisa de alguém com capacidade de administração e sensibilidade. Basta olhar o governo de Lula para saber como será o governo de Mercadante", disse.

Presidente do partido em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab não quis comentar a declaração. Ele delegou, porém, ao vereador Domingos Dissei (DEM) a missão de enquadrar o correligionário.

Os vereadores estudam a possibilidade de afastá-lo da liderança da bancada.

Em 2008, Kassab e Alckmin disputaram a prefeitura. Por isso, a declaração de voto de Apolinário despertou em tucanos uma desconfiança sobre a fidelidade de Kassab.

(DANIELA LIMA E CATIA SEABRA)

http://www.zemoleza.com.br/noticia/1523382-painel-do-leitor.html

Frase do dia:

"São Paulo não precisa de um gerente. Precisa de alguém com capacidade de administração e sensibilidade. Basta olhar o governo do presidente Lula para saber como será o governo de Mercadante" CARLOS APOLINÁRIO (DEM-SP), líder da bancada do partido na Câmara de São Paulo

______________________________

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

.

PressAA

.

terça-feira, 8 de junho de 2010

ELEIÇÕES 2010: A mídia e o "dossiê"

.



Por Maurício Caleiro

Graças ao trabalho de jornalistas notáveis como Luis Nassif, Saul Leblon e Leandro Fortes, pode-se agora não apenas traçar a genealogia do mal-chamado "dossiê" contra o candidato à presidente José Serra mas ter acesso ao criticismo mais apurado e contundente em relação a mais esse episódio demeritório para a política e para a mídia nacionais.

A divulgação do "dossiê" como forma de evitar ou ao menos minimizar o impacto – potencialmente nocivo para Serra e o PSDB – do livro do jornalista Amaury Ribeiro Júnior sobre as privatizações no Brasil, a ser lançado em agosto, expõe uma das razões principais para o factóide, embora, como veremos ao final deste artigo, não as esgote.

Mídia é corresponsável

Mas mesmo antes que se tornasse claro o que já era para muitos evidente quando da publicação da primeira matéria sobre o "dossiê", tornava-se, uma vez mais, motivo de grande consternação e preocupação o comportamento da "grande mídia" brasileira em relação ao caso.

Pois se a inserção de dossiês no circuito político-eleitoral é deletéria à democracia, o modo como as principais publicações e a maioria dos telejornais têm tratado o caso é ofensivo a seus leitores/telespectadores – e é isso o que, no âmbito deste artigo, nos interessa frisar.

Primeiro porque, ao dispensar tamanha atenção e espaço a um produto de atividade protocriminal, é a mídia quem, de uma maneira ou de outra, acaba por endossar essa má prática político-eleitoral.

Segundo, e mais importante, porque ao ignorar as muitas e contundentes questões que cercam a autoria de tal factóide e a identidade dos que dele se beneficiam, dando-lhe divulgação, a mídia, ao mesmo tempo em que se alia aos que o perpetuaram, constituindo-se como meio privilegiado de propaganda e difusão do "dossiê", subvaloriza a capacidade crítica de seu público.

Questões de um energúmeno

Pois só concebendo-o como um energúmeno incapaz de fazer a si mesmo perguntas óbvias, os veículos da "grande mídia" poderiam endossar a pantomima de que o dossiê fora forjado pelo grupo dilmista como forma de atacar Serra.

Ora, entre as perguntas que o leitor, ainda que tido como idiota pela mídia – quase um "Eremildo", do Elio Gaspari – faria, estaria obrigatoriamente o questionamento acerca de o porquê de uma candidatura que vinha em ascensão e acabara de ultrapassar o adversário em algumas pesquisas eleitorais lançaria mão de tal estratagema desesperado.

Ainda que reduzido aos dois neurônios que nossas empresas jornalísticas lhe atribuem, o leitor haveria de fazer um balanço, mínimo que fosse, de quem se beneficiaria com a divulgação de que o PT teria negociado um dossiê contra Serra.

Mesmo concebido pela editoria do Jornal Nacional como um Homer Simpson, o leitor/telespectador certamente se daria conta de que uma maneira esperta e dissimulada de trazer à tona informações que podem vir a ser comprometedoras no futuro – mas não se vierem com o carimbo de "obtidas ilegalmente através de dossiê" – é divulgá-las entre a mídia amiga atribuindo-as a um dossiê da oposição, a qual faria por merecer, uma vez mais, a pecha de aloprada.

Embora com capacidade crítico-reflexiva alegadamente restrita, o leitor há de ter boa memória, não só para ligar os nomes de Serra ao do deputado Marcelo Itagiba, mas para recordar-se de um modus operandi conhecido de outros carnavais, assim como o são os mesmos blogueiros corporativos cuja parcialidade só rivaliza com o antipetismo que nutrem, e que só faltam dar piruetas de felicidade em cada nota emitida sobre o "dossiê".

Perguntas urgentes

A ironia, no entanto, não oculta a urgência de nos fazermos uma série de perguntas:

** Até onde pode chegar esse conluio entre mídia e interesses político-partidários, admitido até pela presidente da ANJ, Maria Judith Brito?

** Quais os riscos efetivos para a lisura do processo eleitoral ora em estágio inicial e para o pleno exercício da democracia no momento das eleições?
** Quando a sociedade reagirá contra essa mídia transformada em partido político?
** Quais as consequências dessa partidarização da mídia para sua própria credibilidade?
** Pode tal fator minar, no médio prazo, as bases comerciais sobre as quais se assenta a atividade midiática?
** Até quando o leitor/telespectador que lhe permanece fiel aceitará ser tratado como um idiota pela mídia?

_____________________________

Publicado no Observatório da Imprensa , em 8/6/2010

_____________________________

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

.

PressAA

.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Farinha multimistura pooode!

.


O CAÇADOR QUE FOI COMIDO PELO LOBO MAU E A INDIGESTÃO DE CHAPEUZINHO VERMELHO COM A MULTIMISTURA DA VOVÓ

Raul Longo
Foto: Jasmim Losso Arranz

Na floresta da internet, Chapeuzinho Vermelho também é minha correspondente. E ela vai pela estrada afora tão contente que nunca se importou com fome, miséria, crianças subnutridas e nada disso.

Chapeuzinho Vermelho era uma tucana. Boa gente, Chapeuzinho nunca chegou a ser uma demotucana. Mas tucana, era. Talvez até seja ainda, no entanto já me confessou abertamente que, nesse “homem horrível” (palavras dela para se referir ao José Serra), não vota.

Chapeuzinho Vermelho vai votar na Marina Silva. Ela mora em apartamento de bairro chique e urbanizado de Florianópolis, mas acha bonito proteger as florestas.

Por outro lado, se ela não gosta do “falso e mentiroso” (outras de suas qualificações ao Serra), também não simpatiza com o “apedeuta”. Chapeuzinho ainda não aprendeu que a palavra é um adjetivo de dois gêneros e, como todos os demais apedeutos e apedeutas do país, continua xingando o Presidente sem a correta concordância de gênero.

Um erro elementar, mas ao menos tenho de reconhecer que ultimamente Chapeuzinho procura não os cometer nas correspondências que me endereça. Tadinha! Isso a faz ficar tão ansiosa que acaba de me enviar logo duas.

A primeira é o repasse do comentário de alguém de tão preclara desimportância que, para não fugir da história, vou tratá-lo como O Caçador. E caçador é, de fato. Daqueles que ficam caçando pelos órgãos de desinformação do PiG qualquer bobagem que entenda desqualificar o governo Lula. Foi encontrar numa afirmação da Cristina Lobo da Globo um diz-que-diz-que Lula queira ser lembrado como grande estadista como Getúlio Vargas, e o Caçador, querendo se passar por cômico, ficou no ridículo de se perguntar para quando seria o suicídio.

Como as costumeiras bobagens do PiG há muito não despertam maiores interesses, deixei, em minha resposta a Chapeuzinho, esse assunto por último. Mas a outra mensagem trata da suspensão, já antiga, do Programa Multimistura pelo Ministério da Saúde. Isso sim é algo que preocupa e interessa.

Aliás, sempre interessou desde que ouvi falar dos excelentes resultados obtidos pela dieta desenvolvida pela Dra. Clara Brandão, médica do Paraná, para as crianças subnutridas do Pará. A adoção dessa dieta como programa da Pastoral da Terra levou à indicação de Dona Zilda Arns ao Prêmio Nobel. Foram salvas as vidas de centenas de crianças e não entendo porque Gomes Temporão ordenou a suspensão da organização do programa pelo Ministério.

Claro que Chapeuzinho Vermelho nunca teve a menor ideia do que venha a ser a multimistura, de quem seja a Dra. Clara ou a Dona Zilda. Tampouco alguma vez se preocupou com a subnutrição infantil. Chapeuzinho só quer ir estrada afora, muito contente no último modelo de automóvel importado, percorrendo as mais finas docerias e restaurantes da cidade. Mas como há algum tempo circula pela internet o relato de que a Dra. Clara um dia procurou o vice-presidente para pedir auxílio pela manutenção do programa e, apesar de ter feito José de Alencar chorar pelas fotos de crianças esquálidas e visivelmente recuperadas pela administração da dieta, não obteve a reintrodução no Ministério.

Foi aí que Chapeuzinho encontrou um jeito de me assustar com o tamanho da boca do Lobo Mau, embora nem tão grande que dê para melhor comer as criancinhas atendidas pelos demais programas de governo, conforme publicado pela BBC: “...de acordo com o índice (Índice Global de Fome pesquisado pela Unidade Internacional de Pesquisa em Política Alimentar) alguns países demonstraram uma grande melhora nos níveis de subnutrição desde 1990. Em primeiro lugar está o Vietnã, seguido pelo Brasil. Ao citar as medidas adotadas pelo Brasil para a melhora nos níveis de subnutrição, o relatório cita programas do governo como o Fome Zero, o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e também o aumento do salário mínimo.”

Além de repassar a Chapeuzinho Vermelho essa matéria pelo link: BBC Brasil - Notícias - Mais de um bilhão de pessoas passam… também contei a ela que tentei e continuo tentando me informar porque o Programa Multimistura foi cortado do Ministério, mas até agora não recebi nenhuma informação confiável e atualizada. Parece mesmo um segredo sobre o qual o Ministério não se pronuncia. Nem mesmo quando inquirido, em 2007, pela revista Isto É.

Apenas posso imaginar que o Gomes Temporão não tenha sido corrompido. Aliás, disso podemos ter certeza, pois, se fosse o caso, certamente a oposição já teria armado uma CPI.

Evidente! Se ao antecessor, no primeiro governo Lula, foi montada uma CPI que o acusava de pertencer à “máfia dos vampiros”, que ele próprio, Humberto Costa, investigava; imagine o Temporão!


O Humberto, apesar de ter iniciado as investigações contra o esquema montado desde 1990 e durante toda a gestão do atual candidato tucano à Presidência, se viu acusado como envolvido naquilo que ele próprio investigava e só foi inocentado agora, em fevereiro deste ano.

Por aí se percebe o poder dessa gente! E no caso do Humberto Costa não ficaram só por aí, não! Também o arrolaram no “Escândalo dos Sanguessugas”, do qual se concluiu não ter qualquer envolvimento, como declarado pelo relator Fernando Gabeira, que, como se sabe, faz parte do triunvirato dos Fefês: Collor de Melo, Henrique Cardoso, e o próprio Gabeira.

Mas lá a coisa é como aqui em Santa Catarina: o governador é investigado por ligação com o tráfico, e a polícia invade a UDESC para dar pancada em estudante que reclama contra aumento de tarifa de ônibus que o prefeito diz ser a mais baixa do Brasil, e todo mundo sabe que é a mais alta.

Absurdo? Pois é! Humberto Costa que investigou as falcatruas no Ministério da Saúde acabou acusado e não se elegeu governador por Pernambuco, mas o ministro do período investigado se elegeu à prefeitura de São Paulo e, apesar de ter pedido que não mais votassem nele se abandonasse o cargo para se candidatar a governador, acabou elegendo-se governador do estado. Aliás, como o foi Maluf, que também pediu que nele não mais se votasse, caso o Pita não prestasse.

Conclusão da teimosia paulista: Pita não prestou e morreu impune. Maluf foi eleito deputado, embora não possa sair do Brasil pelo risco de ser preso por roubar o Brasil. Quanto ao José Serra, todos sabem no que deu.

Absurdo? Vá saber lá por quais absurdos o Ministério da Saúde até hoje não deu explicação pelo fim do Programa Multimistura! Mas, pelo ministro ter-se vendido à Nestlé ou à Procter & Gamble, por certo não foi, pois do contrário teria uma CPI. Ah, isso teria sim, senhor!

E não é por ser do PMDB que o Temporão se safaria de uma CPI, não. Não é, porque em 2008 a bancada de seu próprio partido pediu sua cabeça por ter tido peito de acusar a corrupção na FUNASA, presidida pelo afilhado do líder do PMDB na Câmara.

Interessante observar, aí, é que o líder do PMDB é o Henrique Eduardo Alves, primo do Garibaldi Alves, relator da CPI do Fim do Mundo, aquela dos Bingos, que investigou tudo, menos os bingos. Além do que, ambos os Alves são sócios da Rede Globo no Rio Grande do Norte.

O que é que o PiG tem a ver com a multimistura, não sei. Só sei que a Nestlé e a Procter & Gamble são anunciantes da Globo, mas até onde vai dar esse liame de interesses nem imagino, embora pareça mesmo que o caso do Programa Multimistura da Dra. Clara Brandão acabou enroscando o Temporão.

E olha que o Ministro não é de se intimidar! Enfrentou até a própria mãe, uma senhora lusitana muito da carola, que se aliou à CNBB pra rogar praga no filho quando citou a questão do aborto como problema de saúde pública.

Afora isso o ministro tem se pautado por atitudes corajosas ao enfrentar os preconceitos no atendimento público às diversidades de orientação sexual e na eficiência ao combate de epidemias que se proliferaram ao longo da última década do século XX. Mas na questão do Programa Multimistura deixa a desejar uma explicação, e concordo que devamos cobrá-la, sempre, sob qualquer governo.

Do Serra é bobagem cobrar qualquer coisa. Todos os jornalistas lá de São Paulo que cobraram alguma explicação que não quisesse explicar, o governador mandou demitir. Se (mangalô pé-de-pato três vezes!) esse que você chama de “choque de congestão” for eleito presidente, nós é que seremos destripados como cidadãos inoportunos.

Já na mensagem do seu amigo caçador de besteiras da mídia sobre o comentário da moça da Globo capaz de ouvir todas as conversas que correm por Brasília – como se aquilo fosse uma só esquina – apesar de minhas dúvidas de que Cristina Lobo consiga passar tão despercebida pelos rebanhos dos ingênuos cordeiros do Distrito Federal; caso o Presidente Lula de fato tenha expressado vontade de ser lembrado como estadista pelo seu 2º mandato, ressalta-se aí uma imensa modéstia do nosso governante.

Veja na relação abaixo, se é preciso que termine o mandato para Lula ser considerado grande estadista. Só mesmo na cabeça dessa Lobo Bobo!

- Em 2007 o presidente Lula recebeu o Prêmio Nehru.
- Em 2008 recebeu em Paris o Prêmio Félix Houphouët, oferecido pela UNESCO; ao menos um terço dos vencedores anteriores ganhou depois o Prêmio Nobel da Paz".
- No mesmo ano foi à Espanha receber o 1º. Prêmio Internacional Dom Quixote de La Mancha.
- Em 2009, recebeu em Paris o 1º World Telecommunication and Information Society Award;
- Em 2009, em Londres, recebeu o Prêmio Chatham House 2009 por sua atuação na América Latina;
- Em 2009, em Nova York recebeu o Prêmio Woodrow Wilson for Public Service.
- Em 2009, recebeu, em solenidade na sede da Organização das Nações Unidas, o Prêmio Sucesso Internacional.
- Em Roma, durante a Cúpula Mundial da Alimentação das Nações Unidas recebeu o Prêmio Contra a Fome, da ActionAid, e um par de luvas de boxe pelo sucesso na luta contra a fome no Brasil.
- Neste 2010 recebeu o prêmio de Estadista Global, inédito no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. Justificativa: Lula foi eleito para o prêmio por ser um líder político que usou o mandato para melhorar o mundo. Detalhe: foi a primeira vez que o Fórum concedeu um prêmio, em 40 anos de existência.

Em 10 de maio deste ano, em Brasília, o diretor-geral do Programa Mundial de Alimentação da ONU entregou a Lula o prêmio de Campeão Mundial da Luta contra a Fome.

Em sua edição de 23/9/2009, a revista americana Newsweek afirmou ser Lula "o político mais popular do mundo" e que ele era nada menos que a maior estrela da 64ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. "As câmeras podem focar na personificação do americano descolado, Barack Obama, ou nos autocratas exibicionistas e despeitados como o iraniano Mahmoud Ahmadinejad e o venezuelano Hugo Chávez, mas a maior estrela disponível será o duro, barbado e ex-torneiro mecânico", diz o texto.

"É um longo caminho do faminto Nordeste do Brasil para a sala da Assembleia Geral das Nações Unidas, mas o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, conhece cada passo desse caminho", afirmou a Newsweek, completando que o presidente "é considerado agora o líder de uma potência regional e um porta-voz autodesignado para as nações emergentes de todo o mundo".

Em sua edição de 29/4/2010 a Time, revista semanal de maior circulação no mundo, elegeu Lula um dos líderes mais influentes do planeta.

Quanto ao suicídio do Vargas, todos sabem que foi provocado pela insistente perseguição dos entreguistas da mídia liderados por Carlos Lacerda, cuja ausência no cenário político brasileiro foi muito lamentada pelo Fernando Henrique Cardoso.

Mas Lula, mais ainda do que Vargas, termina o mandato com um índice de aprovação popular jamais alcançado no Brasil e no mundo, apesar de todo o esforço do PiG que, ao invés de derrubá-lo, acabou derrubado aos mais baixos índices de audiência e circulação já registrados pelo IBOPE e IVC.

De forma que se o seu amigo se deixou comer pela Cristina Lobo, por ser tão bobo tem mesmo muitos motivos para se suicidar. Bem ao contrário desse nordestino que almoçou todos os que pretendiam lanchá-lo e, pela elegância e educação de não dar sequer um arroto apesar da barriga cheia, continua querido por todo o país e muito além de nossas fronteiras.

_________________________

*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Ponta do Sambaqui, 2886
Floripa/SC. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz


Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

.

PressAA

.