quinta-feira, 30 de julho de 2009

Extra! Revelado ménage à trois: Clinton, Condoleezza e Monica Levisky (Hillary era só voyeur)

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"Diz a TV Pública da Argentina que num agendado encontro entre Manuel Zelaya e Hillary Clinton (a Condoleezza Rice branca) será decidido o futuro da América Latina" - Raul Longo

COMPANHEIROS:

No link: http://sambaquinarede2.blogspot.com/2009/07/nao-chore-por-mim-america-latina-por.html. encontrarão abaixo de meu texto sobre Honduras, charge Tegucigolpe, chamada para entrevista do Moniz Bandeira: ilustração do site da Rádio Globo de Honduras e link para ouvir a transmissão ao vivo da Rádio Globo de Honduras que já está com a ordem de corte de energia elétrica ordenada, mas não cumprida por rebeldia dos funcionários da companhia de Energia.

O sangue está correndo em todo o país. Há poucos momentos uma bala atravessou o cérebro de um professor. Muitos estão sendo massacrados próximos à fronteira com a Venezuela.

A Rádio Globo está lançando um S.O.S internacional. Divulguem!



















Raul Longo
pousopoesia@ig.com.br
pousopoesia@gmail.com
www.sambaqui.com.br/pousodapoesia
Ponta do Sambaqui, 2886
88.051-001 - Floripa/SC
Tel: (48) 3206-0047

Raul Longo é jornalista, escritor e, nas raras horas vagas, colaborador da AAA- PressAA


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terça-feira, 28 de julho de 2009

Falha de S. Paulo detona Serrassuga

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Conselho de Economia-SP:

Serrassuga, cadê o diploma?

Será que o registro dele é na Transilvânia ? O Papo Amolado reproduz troca de e-mails entre seu Editor-Assaz-Atroz-Chefe e Marcia Godoy, do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo).

A PressAA vai perguntar agora ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo como permite um candidato dizer que é “economista” sem ser.

Prezado Sr. Alberto Ramos.

Não consta neste CORECON/SP registro em nome do Sr. Serrassuga e/ou Sr. José Serra Chirico.

Agradecemos pelo contato e permanecemos à disposição.

Atenciosamente,


___Marcia Gomes Godoy Sá
Depto. Registro

Tel: (11) 3291-8715
Rua Libero Badaró, 425 – 14º andar – Centro – São Paulo – SP
Cep: 01009-905

Veja a ficha do “economista” José Serra no Tribunal Regional Eleitoral:

Não parece, mas é o Serrassuga

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=14959

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PressAA

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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Governo Yeda Crusius: Mais blindado que baú de solteirona

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HONDURAS É AQUI. E AGORA!

Raul Longo

Não se fala mais do Haiti, o penúltimo golpe patrocinado pelos E.U.A. que as Forças Armadas brasileiras assumiram a reorganização para evitar merda maior.

Ao lado, quando o golpe vencedor na República Dominicana aconteceu nos tempos das ditadura do Brasil, fomos representar os interesses norte-americanos na mesma ilha.

O sistema proposto pelos E.U.A. (que em nada difere do antigo sistema capilista europeu) não sobrevive sem a espoliação de uns, para a espetacular sobrevivência de outros.

As casas, ilhas e fazendas de "Caras" não existiriam sem a catarse de seus leitores que sonham nos infernos do cotidiano pelos paraísos das putarias Globais ou de Editora Abril (também foi assim no Império Romano onde os escravos sonhavam em participar das bacanais se vencessem os tigres e leões das arenas - depois PFL e hoje DEMO/TUCANOS).

Afinal, somos ou não somos todos cristãos? Talvez continuemos a ser todos milinarmente idiotas. Mas o que importa?

"A vida não pára, não!" - canta Lenine. E o mesmo E.U.A., nos tempos, consumam o golpe de Honduras até invadir a sua, minha casa.

O que o resto do mundo tem a ver com Honduras? O que minha casa tem a ver com Honduras?

Nada a não ser olhos lacrimejados à cegueira. Nada a não ser escrotos estrangulados à castração. Nada a não ser seios amassados à extirpação. Nada a não ser a morte no Afeganistão, e do seu vizinho.

Nada a não ser jovens enviados a imposição dos sistemas de espoliação dos E.U.A. Ou das organizações de um país escravizado por corporações privadas, tão quanto a Chiquita Brands, antiga Unidet Fruit, hoje da dinastia imperial nazista do petrodólar: a Bush.

"A vida não pára, não!" - canta Lenine. E o presidente negro dos E.U.A. vem condenar a ignorância do policial branco que aprisiona o professor negro por querer entrar em sua própria casa.

Não há casas. Não existe nem nunca existiu propiedades na grande nação branca da democracia que exterminou as gerações de Touro Sentado.

O presidente negro não sorri para acusar a discriminação no império nazi-fascista. E também não sorri seu mundialmente famoso sorriso largo, para se retratar da acusação. Mas o negro acusou e é o que importa.

"A vida é tão rara." - canta Lenine, mas mesmo "-...quando o povo pede um pouco mais de calma" a vida não pára. Não pára, não.

Quantas acusações se retrataram no acicate do látego? Quantos lamentos, até descobrirmos que nada preside mais do que nós. Quanto teremos de suportar o látego até aprendermos que as Honduras são aqui, e agora.

O presidente negro não preside, diz o mundo.

Estamos numa guerra muda. Calada. Até que o verdadeiro exército contenha o poder dos poucos, dos mínimos, dos merdas que transformaram o mundo em tão grande cloaca que nem a sobrevivência dos troços será possível.

Ou seremos os troços? Nós somos os merdas? Mas que merda é essa!

Estamos diante de um tempo em que as multidões decidem a democracia. Aqui e em Honduras. Aqui e em Tegucigalpa. Aqui e em Porto Alegre, como na história do amigo abaixo. Talvez gaúcho, quem sabe? Talvez não, pois ainda segundo Lenine, em outra música: "Todo mundo tem direito a vida, tudo mundo tem direito igual."

Pode ser difícil entender isso, mas lá no Rio Grande do Sul já se decidiu que o enterro segue.

E quem somos nesse enterro em Honduras?

Canta Lenine: "- Olho na pressão, tá fervendo! Olho na panela!"

MORTE AO MORTO! Com as próprias forças do já morto!

Ou morremos todos. Segue o enterrro:

Ao lado do caixão da Yeda tem vários brigadianos.
Nisso aparece uma velhinha com uma sacola, e começa a por dentro do
caixão umas cenouras, tomates, alfaces enquanto os brigadianos olham
para ela surpresos.
Enquanto a velha continua a colocar alimentos no caixão, um dos
soldados pergunta para ela:
- Senhora, por favor, o que está...fazendo?
A velha, enquanto continua a colocar a comida, responde:
- O que você quer, meu filho, que os coitados dos vermes comam somente merda?

IMPORTANTE:

TODO AQUELE QUE RECEBER ESTA PIADA, TEM A OBRIGAÇÃO MORAL DE, EM
DEFESA DA ÉTICA E DA DEMOCRACIA, RETRANSMITÍ-LA A PELO MENOS 10
PESSOAS.

SE VOCÊ ROMPER A CADEIA, A YEDA PODE SE REELEGER...
ODEIO CORRENTES, MAS ESSA É POR UMA BOA CAUSA.

Raul Longo é jornalista, escritor e colabora para a AAA - PressAA

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PressAA
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quinta-feira, 23 de julho de 2009

Há muito tempo nas águas da Guanabara / O dragão do mar reapareceu (João Bosco e Aldir Blanc, nas teclas de Elis Regina)

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Leia aqui ou no site do jornal russso PRAVDA

http://port.pravda.ru/cplp/brasil/27569-0/

O NEGUINHO E OS AMIGOS DE 68

Urariano Mota

Recife (PE) - Na imprensa ele ganhou, nos últimos dias, muitos e vários codinomes. Em todos os canais de tevê, em mais de um jornal do Brasil e do exterior, ele apareceu como o Último Exilado da Ditadura que volta ao Brasil, ou Último Exilado que volta depois de 40 anos, ou mesmo “Vuelve el último clandestino”. E disseram, em mais de uma língua e veículo:

"Após 40 anos de exílio na Suécia, chegou ao Rio nesta terça (21), recebido por amigos e familiares com faixas e cartazes, o ex-marinheiro Antonio Geraldo da Costa , de 75 anos, último exilado da ditadura militar. 'Neguinho-tigre', como era conhecido, é ex-integrante da Associação de Marinheiros em 1964, realizou ações da Aliança Libertadora Nacional (ALN), grupo armado de Carlos Marighella, e fugiu para a Suécia na década de 70. Só pediu anistia em 2005, mas temia voltar ao Brasil, porque não acreditava na democracia brasileira... " "Neguinho vivió seis años en la clandestinidad, después del golpe militar, cuando participó de asaltos a bancos en Rio y en San Pablo para financiar la lucha armada, y huyó de Brasil en 1970.. "

Mas o que a grande imprensa não sabe é que o Neguinho, o senhor Antonio Geraldo da Costa, é um personagem de tão extraordinárias aventuras que poderia aparecer em uma continuação, em um possível volume dois do Lazarilho de Tormes. Pois ele é, segundo o intelectual Léo, amigo seu de velhos tempos:

“O Neguinho estava em um navio no Recife quando houve o golpe de 64. Foi preso no navio. Alguns dias depois, estava sendo levado de um lugar do navio para outro, passando pelo convés, quando começou a ser hasteada a bandeira. Todos os marinheiros se perfilaram em posição de sentido. Neguinho aproveitou para descer a rampa e se embrenhou nas ruas do Recife.

Clandestino, ele participou da operação que deu fuga aos marinheiros que cumpriam pena na Lemos de Brito e de diversos ‘levantamentos’ de fundos bancários para financiar a atividade revolucionária. Eu conto algumas histórias dele no livro cuja publicação estamos preparando. A viagem dele e do Elio para a Suécia é um capítulo à parte - dois nordestinos perdidos na Europa”.

Guilem, um antigo combatente, que muitos chamam de Conde Cuxá, mas hoje é juiz na Suécia e poeta, conta:

“Menos de dois meses depois, recebi um telefonema da Polícia Dinamarquesa, perguntando se eu me responsabilizava por três ciganos, que juravam conhecer-me. Entendi que se tratava do trio que vinha do Chile e respondi que partiria em seguida para Copenhague para buscar os três. Lá chegando, dirigi-me à polícia aduaneira que imediatamente levou-me aos ‘três ciganos’.

Vi-os e procurei explicar à polícia, com fartura de detalhes, que se tratava de dois brasileiros e uma chilena e que apenas estavam com as roupas um pouco amarfanhadas e cansados da viagem de navio, desde o Chile até a Itália e de trem até Copenhague, que o Neguinho e companhia não eram ciganos. Assinei um documento atestando minha responsabilidade sobre a alimentação e guarida dos três e partimos para a minha casa em Lund. Dias depois consegui bicicleta para os meus amigos e descobri que o Neguinho não sabia andar de bicicleta. Mas essas aventuras de como ensinei o Neguinho a andar de bicicleta depois eu conto”.

E por fim, este é o Neguinho segundo o ex-marinheiro e escritor Pedro Viegas:

“Eu não estava em casa (Vila Valqueire), quando uma menininha bateu à porta. Leda, minha mulher, atendeu. Ela disse que na pracinha (a uma quadra) tinha uma moça querendo falar com um de nós. Leda ficou intrigada, pensando: ‘se alguém, tão perto, quer falar com a gente, por que manda recado, em vez de vir até aqui’?

Mas, um tanto já escolada, suspeitou que alguma coisa muito especial estaria ocorrendo. Agradeceu à menininha e depois que a criança sumiu (era início de noite) foi até o local indicado. Quem era a ‘moça’? O Neguinho!”

Esse é o homem, o brasileiro que volta ao Brasil depois de 40 anos. Dele tive a sorte de saber porque participo do coletivo virtual chamado Os Amigos de 68. Virtual? Emendo: é um coletivo real, de gente capaz de ações de solidariedade que os tempos bárbaros não deixam ver. Como nessa recuperação da pátria brasileira para um exilado. Eliete, uma das mais ativas do grupo, foi à Suécia e convenceu o amigo dos tempos de exílio a voltar, pois o Brasil era democrata, que novos tempos haviam chegado. A partir daí todo o coletivo se moveu para falar ao Ministro da Justiça, para avisar à imprensa, fazendo contatos mil.

O resultado está aqui, http://www.youtube.com/watch?v=0B4GFEkYIrI

Fazia tempo que eu não via um filme tão bom. Ele bem podia receber o título de A Libertação de um Homem Livre. Ou este, mais simples: A Volta do Neguinho.


Urariano Mota é jornalista, escritor e colaborador da AAA - PressAA

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terça-feira, 21 de julho de 2009

Saudades do Apocalipse

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Da Matrix ao Self: o desafio evolucionário da mídia e das organizações

Por Rosa Alegria*

“Queremos ver exclusivamente o mundo que está desmoronando ou colocar nossas luzes no novo mundo que está nascendo? Este é o poder da mídia, que pode colocar os refletores no que lhe interessa”

Judy Rodgers, fundadora do movimento Imagens e Vozes de Esperança

Submersos pelos naufrágios noticiados da crise, estamos vivendo a dialética de uma era extraordinária, com potencial para a evolução da consciência e abrir as portas para novos estilos de vida. Mas ao mesmo tempo, a nossa capacidade de imaginar um futuro desejado tem sido cada vez mais precária. Nesse momento de incertezas e descrença, é fundamental que a mídia mude os filtros com que normalmente se propõe a traduzir a realidade, dramaticamente revelada de forma distorcida e negativa. Esse artigo se propõe, através de uma pequena coleção de pensamentos, a despertar as organizações em seu potencial criativo para o seu papel transformador como pólos de uma nova consciência que conduza a coletividade ao desenvolvimento sustentável. Do universo das realidades distorcidas e do faz-de-conta que aqui denomino de Matrix a convocação é ingressar na travessia transformadora que leve ao paraíso reunificador do Self, a referência original da nossa essência criativa e regeneradora.

Introdução

Chegamos a um novo estágio da evolução social, espiritual e cultural. Diferente dos estágios anteriores, porque as mudanças vinham de vilarejos, de tribos nômades, de cavernas. Estamos saindo de sociedades industriais indo para um processo de interconexão, com base em sistemas de informação sociais, econômicos e culturais que permeiam o planeta.

O caminho dessa evolução não é suave: dói como um parto. [1] Como diz Barbara Max Hubbard, estamos parindo um novo mundo ou até podemos nos sentir vivendo num mundo novo em gestação, referindo-se à visão de Rose Marie Muraro[2]. A era da globalização está trazendo grandes transformações, como a que Ervin Laszlo chama de macro transição [3], resultado de uma nova consciência dos membros do sistema. A era contemporânea está chegando ao fim, olhando pelos injustos arredores, respirando o impoluto ar carbônico, tentando sobreviver ao caos e às vias transitadas das grandes metrópoles, assistindo ao frenesi fabricado para aliciar consumidores vorazes, podemos evidenciar que essa era não é mais sustentável.

A ética e a era da mídia

Para concretizarmos a possibilidade de um mundo mais sustentável e humano, temos que rever os valores éticos que a mídia, em seu reinado absoluto na era da informação, tem propagado, e repensar sobre as escolhas dos meios de comunicação, na difusão de hábitos, pensamentos e culturas. Para curar essa cultura repleta de doenças que transcendem a esfera social e afetam o estado físico, como a anorexia nervosa e a bulimia (provocadas pela ditadura da magreza estampada nas capas de revista), a neofilia ( manifestação compulsiva e patológica pelos novos produtos lançados pelo marketing) pelos índices crescentes de obesidade infantil, que só nos últimos 20 anos aumentou 240%, e sem falar do déficit da atenção e infostress provocados pelo excesso de carga informativa.

O momento é de grande potencial e infinitos recursos. O acesso à mídia de massa tem aumentado mais do que nunca na história. Essa expansão envolve rádios, TVs, computadores e telefones móveis, todos cada vez mais baratos, e a nova mídia broadcast, como satélites e Internet, que aumentam o acesso e a possibilidade de escolha.

Mais e mais pessoas participam ativamente daquilo que a futurista Hazel Henderson chama de " midiocracia"[4], um poder fortalecido pelo acesso aos meios de informação e ao mesmo tempo ameaçado pelo excesso de poder concentrado pelos grandes grupos. A nova ordem é abrir espaço para múltiplas vozes, promover participação em conversas públicas e desenvolver uma cidadania informada. A conversação passa a imperar nas relações comerciais. A Internet, até então voltada para resultados financeiros, passa a estar mais focada na qualidade das conversações com os mercados na micromídia. Alguns sinais dessas mudanças são a crise da mídia impressa, o advento da Web 2.0, a expansão da propaganda on-line, a revolução do You Tube, 27 milhões de blogs, os podcasts e videocasts, os wikis e o poder do boca-a-boca pela busca da transparência e da confiança.

Manifestações da sociedade já podem ser observadas como resistência a essa concentração de poder sobre a informação. Numa pesquisa realizada em 2006 com jovens pela Bloomberg em parceria com o jornal norte-americano Los Angeles Times, 28% dos adolescentes e 38% dos jovens adultos ouvidos disseram preferir se informar a partir dos canais de TV locais, que foram a fonte de notícias mais procurada por eles depois das conversas com amigos e família.

A crise da confiança

A economia atual está na berlinda, e em seu colo, estão as organizações. Depois dos grandes escândalos corporativos como os da Enron, WorldCom e Parmalat, as empresas têm se esforçado para incorporar a ética e a transparência em seu dia-a-dia. No entanto existe uma grande crise de confiança. O público confia cada vez menos nas organizações. Os clientes têm menos confiança e até mesmo os funcionários não confiam na empresa em que trabalham. Recente pesquisa realizada pela consultoria inglesa Edelmann (Barômetro da Confiança) realizarem 2006 em 11 países indica que a comunicação de igual para igual - com alguém no mesmo nível hierárquico ou companheiro de trabalho tem muito mais credibilidade do que a que vem oficialmente da empresa. De 22% em 2003 a 68% em 2006 a proporção daqueles que dizem que acreditam muito mais no seu colega do que na comunicação que vem da empresa. Será o mundo real aquele que os murais de avisos e publicações institucionais estão querendo mostrar? Sair da Matrix dos números manipulados, das notícias maquiadas, das pílulas douradas pode representar uma ação corretiva imediata para o resgate da reputação institucional. Entrar no Self da consciência ambiental, da responsabilidade social, da valorização da vida, é o chamado para as organizações que se propõem a ser sustentáveis e a trabalhar para a sustentabilidade do Planeta.

O espelho embaçado

Um dos mais importantes físicos modernos, Oppenheimer, já revelou que não vivemos num mundo real; vivemos num mundo que nós criamos. A mídia cria realidades que nos afetam o tempo todo e até confina a realidade em si mesma

Nessa macro transição planetária, há uma pergunta que habita no inconsciente coletivo que não quer se calar: estamos vivendo num mundo virtual ou num mundo real? Entrando no roteiro futurista da trilogia do cinema, mergulhamos na Matrix midiática da qual não conseguimos sair. É como se estivéssemos nos olhando num espelho embaçado, nos alimentando pelo reverso de uma cultura destrutiva, através de imagens distorcidas.

A cobertura das notícias é também distorcida. Uma pesquisa realizada em 1998 pelo ILANUD, órgão da ONU que estuda a prevenção dos delitos e o tratamento da delinquência, intitulada “Crime e TV”, acompanhou durante uma semana a programação de 27 telejornais exibidos pelas emissoras de canal aberto existentes no país. “Percebeu-se uma distorção gritante entre a ocorrência na realidade e a freqüência na divulgação pela mídia”, afirmou Karyna Sposato, responsável na época, pela organização no Brasil. Por exemplo, enquanto os crimes de homicídio ocuparam 59% das notícias veiculadas, sua real incidência no mesmo período foi de 1,7%. Podemos constatar que esta distorção tem sido o padrão da mídia brasileira

O filme Matrix em sua trilogia premiada, propõe que o mundo em que vivemos e que chamamos de realidade é na verdade um pesadelo coletivo, um mundo ilusório criado e mantido por computadores. E assim estamos: sendo tragados pela Matrix da mídia e vivendo um pesadelo coletivo, desprovidos de sonhos, utopias, sem a imaginação, essa que se perdeu. Para reencantar nossas realidades e restaurar o mundo em que vivemos, é urgente que enriqueçamos nossa linguagem deficitária[5], que se produzam conteúdos construtivos e que se oxigenem o imaginário coletivo para que a sociedade desembace o seu espelho, caminhe na direção da luz e floresça.[6]

A escolha de optar pelas luzes, pelas soluções e pelas possibilidades futuras poderá transformar a mídia em seu propósito de criar uma nova civilização e despertar cada ser humano para o sentido maior de sua existência: entrar em contato com a própria vida.

O que se vê e se lê na mídia não é o que dá vida. Uma vez que a vida se reinstale nos meios de comunicação em seu poder de criar e regenerar nossa fé e capacidade de sonhar, as sociedades passarão a idealizar um futuro melhor e serão capazes de projetar o amanhã para superar crises (que são muitas e sempre existirão), guerras, epidemias e revoluções. A mídia poderá adotar um olhar prospectivo em vez de retrospectivo. Poderá acender o farol de milha, com cenários alternativos, caminhos múltiplos, tendências e projeções que alertam e mobilizam, em vez de só olhar pelo retrovisor, com perspectivas informativas que se restringem ao cristalizado fato, a tudo o que já foi e não pode mais mudar o rumo da história.

Podemos aprender com a biologia, que revela pela ciência o comportamento das culturas. Diz o princípio heliotrópico que as plantas crescem em direção da luz do sol. Assim como as culturas florescem na direção da esperança. É urgente que a sociedade entre em contato com as possibilidades e veja refletidas no espelho imagens vívidas de seu próprio potencial criativo.

O deficit do discurso

As relações humanas sustentam a vida nas organizações e as fazem florescer. Nesse contexto relacional, a linguagem estabelece os padrões da cultura organizacional. Nessa perspectiva que traz a soberania da linguagem construtiva é preciso observar o que prevalece no vocabulário: se são palavras e conceitos que constroem ou destroem o potencial criativo. Em seu livro Appreciative Inquiry: An Emerging Direction for Organization Development, o consultor norteamericano David Cooperrider, autor do método apreciativo, que privilegia as possibilidades em lugar da solução de problemas, propõe que sejam criados vocabulários portadores de esperança, teorias, evidências e ilustrações que traga às organizações novas imagens orientadoras de possibilidades. A visão de Cooperrider é a de que um discurso de esperança é ingrediente essencial na transformação organizacional porque ele leva à ação criativa. O desenvolvimento sustentável só será possível através da consciência cósmica coletiva de uma civilização mobilizada pela esperança e pelo imaginário construtivo. Colocar desenvolvimento sustentável na pauta das estratégias é conceber a capacidade de um superávit de possibilidades.

Entrando em contato com a mídia interior

Nessa jornada em busca do contato com a mídia interior, faz-se necessária a passagem da Matrix, fragmentada e pulverizada por realidades confinadas e distorcidas, para o Self, o principal arquétipo estudado por Jung, que é a nossa essência, o centro de nossa personalidade. Dele emana todo o potencial energético de que a psique dispõe. É o ordenador dos processos psíquicos. Integra e equilibra todos os aspectos do inconsciente, devendo proporcionar, em situações normais, unidade e estabilidade à personalidade humana.

Para a regeneração vital dos sistemas midiáticos e dos conteúdos, é preciso que os comunicadores e gestores entrem em contato com a sua mídia interior, prática amplamente difundida pela rede de transformação social Imagens e Vozes de Esperança, criada pela Organização Brahma Kumaris, dedicada à cultura de paz por todos os continentes.[7] Refletir sobre o seu propósito no mundo e localizar-se com clareza em seu momento histórico poderá trazer um novo significado aos profissionais de comunicação que hoje vivem dias de inquietante incerteza com relação ao real propósito do que fazem e às supostas ameaças das novas tecnologias que estão desconstruindo os velhos paradigmas na relação agente-receptor de informação.

No âmbito das organizações, criar usinas criativas e espaços de aprendizagem que favoreçam o livre pensar e fertilizem a imaginação para que indivíduos se reúnam em torno de idéias e compartilhem visões de futuro. Promover o contato com a mídia interior e a espiritualidade coletiva fará oxigenar os sistemas de aprendizagem e gerar insights reveladores. Conectar as pessoas criativamente com as vidas de outras pessoas, colocando-as a serviço do mundo poderá lhes trazer mais significado e entusiasmo ao que fazem no dia-a-dia.

Fiquemos a ver navios

Uma história incrível, que acredito ser verdadeira, conta que quando os índios americanos nas ilhas caribenhas viram as naus de Colombo se aproximarem, na verdade eles não conseguiam ver nada, pois não eram parecidas com nada que tivessem visto antes. Quando Colombo chegou no Caribe, nenhum nativo conseguia enxergar os navios, mesmo estando eles no horizonte. A razão de não verem os navios era porque não tinham conhecimento daquela realidade em seu universo cognitivo. Seus cérebros não tinham experiência de que os navios existiam.

O shamã começa a notar ondulações no Oceano. Mesmo não vendo os navios, imagina o que está causando aquilo. Então ele começa a olhar todos os dias e depois de um certo tempo, ele consegue ver os navios. E quando ele enxerga os navios, conta para todos que existem navios lá. Como todos confiavam e acreditavam nele, também conseguem enxergar.

Precisamos reaprender a ver navios e para isso valorizar o que acontece dentro de nós. Fomos condicionados a crer que o mundo externo é mais real que o interno. Na ciência moderna é justamente o contrário. Ela diz que o que acontece dentro de nós é que vai criar o que acontece fora. E é o que vai fazer ver coisas que a gente nunca viu.

Para resgatarmos os valores éticos e incorporá-los aos sistemas da mídia, precisamos urgentemente ver navios e entrar em contato com a nossa mídia interior. O que acontece dentro de nós é o que vai acontecer lá fora, na mídia exterior.

O neo-renascentismo da mídia

Somos e seremos cada vez mais co-criadores de uma nova mídia. A criatividade coletiva, livre e solta está por toda a parte. Nunca foi tão fácil criar.

Segundo estudo realizado pela IBM em 2006, perto de 70% do universo digital será gerado por indivíduos em 2010.

Em meio ao fenômeno do ‘jornalismo cidadão’ na internet, os veículos tradicionais de mídia em diversas partes do mundo estão descobrindo que os leitores podem ser muito mais que espectadores das notícias.
BBC, CNN, Estadão, O Globo e Lance! são alguns dos veículos que abriram canais virtuais para receber fotos ou textos noticiosos dos cidadãos. As agências de notícia Reuters e Associated Press se associaram a sites de ‘jornalismo cidadão’ para distribuir fotos amadoras à imprensa do mundo todo. Até o jornal The New York Times, considerado o mais influente do planeta, passou a publicar em seu site vídeos enviados por leitores.

O advento de iniciativas como a plataforma multimídia Mercado Ético [8] da qual fiz parte como conteudista e diretora até o ano passado e que se propõe a inspirar a sociedade a adotar práticas sustentáveis de vida, só amplia o universo de possibilidades de uma acelerada mudança positiva.

A coerência como indicador do futuro

A ruptura entre o que se diz e o que se faz permeia a sociedade, a família, a escola, a organização. A passagem da Matrix para o Self pode representar ao ambiente de trabalho uma jornada de impressionante valor um ajuste de realidades e a resgate da confiança. Em nosso confinamento de possibilidades, somos normalmente tragados pela matrix do faz-de-conta: fazemos de conta que queremos, fazemos de conta que aprendemos, fazemos de conta que acreditamos. Quando esse ciclo de ilusões se romper, certamente a irracionalidade virá à tona e dará lugar a um novo padrão de relacionamentos, em que o Self passe a ser a morada peremptória da geração de valores humanos, sociais e ambientais. Será preciso adotar nos sistemas de avaliação de comportamento e desempenho, além de demonstrar nos relatórios de sustentabilidade, índices de coerência que servirão de certificação para a legitimidade do discurso.

Considerações Finais

As escolhas que fizemos no passado nos conduziram a esse mundo em desconstrução, que hoje pede ação coletiva e criativa para que se restaurem os sistemas básicos de sobrevivência e se resgatem os valores universais.

Ainda temos algum tempo de fazer novas escolhas, desde que os sistemas midiáticos extra ou intra organizações possam ajudar na criação de um universo imaginário que reúna um conjunto de possibilidades e caminhos. Campanhas publicitárias, programação de TV, reportagens em jornais e revistas,

A ética soberana de uma nova mídia que desperte para uma nova consciência que promova o desenvolvimento sustentável poderá criar a cultura da esperança, combustível que aciona o motor do futuro e que nos fará resgatar aquilo que o frenesi do sistema tecno-produtivo nos roubou: nossa capacidade de sonhar e imaginar um mundo habitável e acolhedor a toda a civilização planetária.

Peter Drucker chamava esta nova era de economia imagética da sociedade pós-capitalista, na qual o centro de gravidade da cultura não é mais o capital ou o trabalho mas o conhecimento, as idéias e a inovação.

O grande teste para a nossa civilização é saber se vamos ser capazes de mudar o rumo da história através de um novo imaginário coletivo. Para mudar o que temos que mudar, teremos que reinventar repertório de anseios e expectativas como seres espirituais e imagéticos que somos, nos relacionando com novas realidades, além do tempo e espaço.

Diante desse decisivo desafio evolucionário, conseguiremos sair da Matrix e nos reencontrar no Self de uma nova unidade cósmica para criar um futuro sustentável?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HENDERSON, Hazel. 1998 - Construindo um mundo onde todos ganhem. Editora Pensamento-Cultrix

HENDERSON, Hazel. São Paulo_1997 - Transcendendo a Economia. Editora Pensamento-Cultrix, São Paulo

ABURDENE, Patricia. 2006 - Megatrends 2010 - O poder do capitalismo responsável. Editora Campus, São Paulo

DAVIS, Melinda. 2002 - A nova cultura do desejo - 5 estratégias novas e radicais para mudar seus negócios e sua vida. Editora Record, São Paulo

SHIFT MAGAZINE - At the frontiers of conciousness -Special Issue: Conciousness and the Media, March-May 2004 - IONS Institute of Noetic Sciences, EUA

COOPERRIDER, David. 2006 - Investigação Apreciativa. Editora Quality Mark, São Paulo

NOTAS

[1] Essa é uma imagem criada pela futurista Barbara Max Hubbard em seu livro “Conscious Evolution”, ainda não publicado no Brasil

[2] Em seu livro Mundo novo em Gestação, Rose Marie Muraro nos alerta que estamos num raro momento histórico, num novo ponto de mutação da nossa espécie

[3] A visão de futuro de Ervin Laszlo traz na macro transição a urgência de uma mudança de rota através da evolução da consciência. Vide livro Macrotransição: o desafio para o terceiro milênio

[4] Hazel Henderson, conhecida pela sua visão evolutiva da economia, cunhou o termo “midiocracia” em sua vasta obra, em destaque nos livros “Trascendendo a Economia” e “Construindo um mundo onde todos ganhem”, ambos publicados no Brasil pela Editora Cultrix.

[5] David Cooperrider, um dos mais reconhecidos pensadores do mundo organizacional da atualidade criou o método apreciativo que contempla o que é positivo no lugar do que é deficitário; valoriza a importância da linguagem regeneradora e seu potencial de construir o futuro, propondo a revisão da linguagem deficitária que norteia os sistemas da mídia e das empresas

[6] Fred Polak ao publicar sua obra reveladora A Imagem do Futuro em 1952 descreve a sociedade pós-guerra envolvida pelo medo e faz uma leitura da história da humanidade que teve seus pontos de ascendência e decadência através das imagens de futuro

[7] O IVE Imagens e Vozes de Esperança www.ive.org.br nasceu nos EUA em 1999 e foi resultado de uma idéia lançada pela jornalista norte-americana Judy Rodgers, com o propósito de alertar e inspirar os comunicadores para o seu papel de agentes de transformação com o poder que têm na construção e disseminação de imagens e mensagens. Nasceu como iniciativa da organização de educação para a paz Brahma Kumaris

[8] Mercado Ético é uma plataforma multimídia que integra Internet, WEBTV, rádio, mídia impressa e TV por assinatura, versão brasileira de Ethical Markets, série de TV criada por Hazel Henderson, presente em vários países. O portal http://www.mercadoetico.com.br/ integra todas as mídias e dissemina o conceito da sustentabilidade.

Rosa Alegria é futurista, pesquisadora de tendências, comunicóloga e ativista de midia. É diretora de Conteúdo do Mercado Ético.

http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1178



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PressAA (para os homens e mulheres de bem (ou não)
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domingo, 19 de julho de 2009

Raul Longo e Luis Fernando Sarango: entre paralelos e meridianos (ou vice-versa)

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Raul Longo

Espiei e já me registrei, além de repassar pruns quantos correspondentes que, creio, também se interessarão.

A maravilha da internet é que podemos formar uma rede de informações por todo o continente. Tenho conversado com velhos e novos companheiros e percebemos que estamos todos muito dispersos, geograficamente. Processo que se iniciou lá na ditadura e teve continuidade nos governos subsequentes, mas em comum sentimos que agora, mais estabilizados nos tantos lugares por onde nos espalhamos, é momento de retomarmos do ponto onde paramos, em todas essas questões de conhecimentos e culturas populares.

A dificuldade maior são as dispersões naturais dos grandes centros, mas muito reconhecem a necessidade de objetivar dois pontos específicos e por si já bastante complexos: conscientização coletivista com formação de lideranças embasadas na realidade política e sócio-cultural brasileira e a construção de identidade continental, ou identidades continentais. Não como padrão de comportamento, claro! Isso seria impossível e contrário aos nossos ideais. Não queremos identificações supérfluas que contraponham brios e vaidades chauvinistas. As identificações que desejamos é dentro das riquezas de nossas diversidades históricas e culturais.

Para tudo isso precisamos reaprender e iniciamos com pesquisa e informação para nossa própria formação.

Aparentemente o primeiro ponto é mais simples, mas além da considerável extensão territorial, o Brasil talvez tenha sido o país de maior ruptura com o processo evolutivo de sua cultura e suas relações comunitárias. Na Argentina, por exemplo, é mais fácil se resgatar estas relações e cultura do que aqui, na medida que as rupturas ocorreram incisivamente em Buenos Aires e alguns outros centros maiores, enquanto no Brasil atingiram praticamente todos os meios urbanos dos mais diversos portes e em todos os segmentos sociais.

Já a identidade e o comprometimento continental terá de ser construído mesmo, pois a identificação do brasileiro, ainda que se estenda à África, tem grande dificuldade, quase indisposição, ao reconhecer-se igualmente indígena. E daí uma resistência à desconstrução do europeísmo e ao assumir de uma integração continental americana.

Mas não se trata de resistência intelectual. É mero preconceito, e construído. Não por motivos conscientes. Nem mesmo chega a ser exatamente uma resistência, mas sim uma ausência imposta e que se denota quando tiramos do brasileiro os referenciais europeus. Ele se perde, torna-se inseguro, é como se o deixasse nu.

Aqui mesmo sinto isso quando argumento que não existe isso de cultura açoriana, o que há é uma cultura portuguesa oriunda dos celtas que algum momento emigrou para os Açores, diferindo-se da de Portugal apenas pela interrupção de um processo que lá teve prosseguimento. Através dessas conversas de internet com demais companheiros, percebo que esse meu procedimento não é correto, pois essa desconstrução de mito precisa ser preenchida com a realidade, do contrário só terei um resultado esvaziado e fragilizado.

Tenho usado o Manezinho em contraposição ao Açoriano e na composição do Manezinho está a cultura indígena. Claro que não posso ser romântico e negar a miscigenação de ambas as culturas nessa composição, mas repasso que açoriano era o miserável expulso de Portugal pelas elites de lá, e mais tarde trazidos pra cá quando nos Açores se dava um genocídio pela fome. E aqui se reencontraram como seres humanos e se reconstruíram como comunidades, inclusive através do aprendizado das especialidades indígenas com a natureza local.

Provoco escândalo, perplexidade, dúvidas e desconfianças. E é aí que preciso ter as informações para demonstrar que aqueles exilados nos Açores não lhes foi repassado, pelos Portugueses, sequer os conhecimentos da pesca, pois as elites da época só se interessavam pelas grandes navegações predadoras de terras transoceânicas. Os colonos açorianos só vieram a utilizar a pesca como meio de subsistência adquirindo, aqui, os conhecimentos indígenas de canoagem. É um choque para os Manezinhos descobrirem que eles, como Manés, são superiores aos seus ancestrais em conhecimentos da atividade que desenvolvem cotidianamente.

Daí a importância de todas essas fontes, como essa da Universidade Intercultural, para que venhamos a algum dia, por mais distante, formar uma identificação como continentais e herdeiros da cultura desse continente. E não mero adendo de uma cultura decadente e igualmente esvaziada pelo mercantilismo e a industrialização cultural.

Estou repassando essa nossa conversa também para companheiros com os quais nunca discuti o assunto, na possibilidade de que se interessem e venham a participar colaborando com essa conversa. Pois o que se pretende no futuro é o planejamento de ações pelas quais perpassa, intrinsecamente, a defesa política dos governos populares de nossa América, mas com objetivo maior de promover nossa integração comunitária como brasileiros e latino-americanos. Por isso gostaria de, mais uma vez, lembrar que a história de sermos um continente de processo cultural ou social recente, em relação à chamada cultura ocidental de Europa, é pura balela. Como tal se comprova se lembrarmos que a chamada cultura latina não existe e sequer provém de uma etnia, como comenta o Jorge Lescano em análise que recentemente divulguei. Demonstra-se ali que diversas etnias desenvolveram os idiomas latinos a partir de uma imposição do Império Romano, assim como se desenvolveu o lunfardo e diversas outras variações dialetológicas em cidades portuárias como Buenos Aires.

A cultura romana não foi mais do que uma adaptação, quase colagem, da grega. A evolução de uma pra outra foi mínima, se é que houve. E se houve, decaiu-se em si mesma a ponto de ter de adaptar preceitos culturais religiosamente coercitivos de um de seus povos dominados, como estratégia para se manter através do Império Católico. Se manter na própria Europa e através de um longo período obscuro onde se retrocedeu a níveis culturais inferiores ao da Grécia Clássica. Uma involução da qual a Europa apenas se resgatou pelos 8 séculos de permanência moura na Península Ibérica.

Afora as galés greco-romanas e dos bárbaros vikings, os europeus só conheceram a navegação através dos Árabes. Colombo chega às Américas em 1484 e os últimos árabes foram expulsos em 1492. Os europeus encontraram entre Maias, Astecas e Incas implementos de urbanismos que desconheciam.

Todo os posteriores processos tão decantados como evolução cultural européia e imposto como padrão ao mundo, ou partiram da cultura grega clássica, ou do arabismo ibérico, quando não do aproveitamento de linguagens desenvolvidas por asiáticos e africanos. Após o direcionismo patrocinado pela catequização católica, o desenvolvimento cultural europeu apenas se dá pelo mecenato, igualmente dirigido, e após a Revolução Industrial por direcionismos de ideais classistas ou políticos, até a industrialização do século XX ao estágio no qual estamos, com consequentes deturpações nas comunidades humanas em todo o mundo e obliteração das populações transformadas em massas que divinizam e satanizam Michael Jacksons de acordo com os interesses das rédeas e cabrestos que degradaram a cultura a processo de manipulação de massas.

O futuro de toda nação depende antes do processo civilizatório de seus povos, do que de seus governantes, embora sejam estes que sempre impedem a evolução desse processo. Hoje, pela primeira vez na história do continente, temos na maioria de suas nações, governantes voltados para os interesses desses povos e, consequentemente, condições que jamais antes existiram para darmos início a esse processo que futuramente permita aos nossos filhos constituírem uma civilização, sobre os escombros dessa que vemos decair vertiginosamente entre todas as classes sociais em todas as concentrações urbanas.

O recente golpe político em Honduras é uma demonstração de que estamos atrasados no aproveitamento deste momento único da história do continente, e urge o início de movimentos que possibilitem o desenvolvimento de conscientização de nossos povos sobre seus destinos, com identidades nacionais e continentais. Por outro lado, é evidente que se trata de um processo cultural a ser vivenciado por mais de uma geração. Daí o que se pretende é formar grupos capazes de não se dispersar por inócuas discussões e questões ideológicas ou acadêmicas, ainda que se utilize dos conhecimentos e experiências adquiridas através das diversas linhas ideológicas européias, mas com objetivo único de desconstruir o mito da sub-raça primitiva e promover a valorização da diversidade cultural de todo o continente, para que em algum futuro possamos nos reconhecer como centro e sul-americanos com melhor compreensão do significado dessa realidade, do que o orgulho estadunidense em ser norte-americano, mesmo sendo apenas uma variação ou versão européia na América.

A Amawtay Wasi trabalha nesse mesmo sentido, a Universidade Florestan Fernandes do MST trabalha neste mesmo sentido, e certamente muitas outras entidades e grupo de pessoas trabalham neste mesmo sentido por todo o continente. Nosso pequeno grupo, por enquanto, apenas pretende reunir informações e detectar fontes, discutindo aspectos e propostas de ação que integrem novos interessados, além de procurar detectar e conectar essas tantas entidades e pessoas que, exatamente por terem sido dispersas, não só no Brasil, como por outros países do continente, hoje formam uma rede muito ampla de relações sociais que, sem necessariamente se conhecerem entre si, possam ir construindo um caminho para uma nova descoberta da América por aqueles que nela nasceram e não se contentam em ser meros sub-europeus.

Você é uma dessas pessoas que sabe que nossos avós destruíram as civilizações que aqui havia e, tampouco, conseguiram manter a própria civilização, mas que somente enriquecendo o que restou de útil da cultura de nossos avós com o que tenha restado da destruição da cultura real e continentalmente americana, poderemos algum dia substituir a degradação urbana de grandes, média e pequenas cidades em início de uma nova civilização.

Essa é a nossa utopia e, embora convictos de que esteja cronologicamente muito além de nós, assim como você através de seus livros, palestras e por suas relações e divulgação via internet, bem como tantos outros, creio formarmos um grupo que busca de alguma forma colaborar com a realização dessa utopia para a qual ainda tanto necessitamos estudar e discutir possibilidades de sistematização de condutas, procurando evitar dispersões desnecessárias e improducentes. Não se faz necessário relações diretas entre cada integrante desse grupo, mas agradece-se toda e qualquer informação, proposta e análise repassada, sendo o que nos ajuda a formarmos nossos argumentos para divulgação desses ideais.

E assim vamos nos construindo.

Beijo grande!

Raul Longo - Colaborador da AAA - PressAA



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Luis Fernando Sarango

Estimados compañeros y hermanos:


Este decreto me recuerda las fraces que se usaron en las primeras constituciones del estado nación llamado Ecuador. Constitución de 1830.

Artículo 68.- Este Congreso constituyente nombra a los venerables curas párrocos por
tutores y padres naturales de los indígenas, excitando su ministerio de caridad en favor de esta clase inocente, abyecta y miserable.

Cual es la diferencia que encuentran con este literal a), de la cláusula primera del Art. 1 de este Decreto 1780?.

a) A trabajar con todo el afan en pro del desarrollo, fortalecimiento de las culturas, evangelización e incorporación a la vida socio-económica del país, de todos los grupos humanos que habitan o habitaren dentro de la jurisdicción territorial encomendada a su cuidado, exaltando los valores de la nacionalidad ecuatoriana;

En un estado Plurinacional como es el Ecuador, a qué llaman desarrollo?. Pero aquí va lo más triste de este decreto, "...evangelización e incorporación a la vida socio-económica del país, ...". Acaso no es suficiente los 517 años de evangelización?. En un estado Plurinacional "evangelizar" es instaurar una determinada religión, imponer a los pueblos indígenas y negros como religión oficial del estado. Y la constitución en su Art. 1, no dice acaso que el Ecuador es una estado ... laico?.

"...incorporación a la vida socio-económica del país". Ya no estamos incorporados?. Supuestamente somos parte del estado nación Ecuador, hoy Plurinacional. A que nos quieren incorporar?.
El "integracionismo" como arma letal para acabar con lo diverso, con los pueblos indígenas a pretexto de civilización, creiamos ya superado. Este era y seguirá siendo el objetivo de los gobiernos de la larga noche neoliberal y o sorpresa retorna con fuerza en un Socialismo del siglo XXI?.

Claro está, hay que acabar con la diferencia incorporando a los bárbaros al mercado, haciéndolos ciudadanos al clásico estilo de la revolución francesa.

Gracias Revolución ciudadana.

Atentamente,

Luis Fernando Sarango - RECTOR DE LA UNIVERSIDAD INTERCULTURAL "AMAWTAY WASI"

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PressAA (tentando um palíndromo pós-moderno)

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sábado, 11 de julho de 2009

Teste Vocacional: você tem inclinação para agente secreto ou investigador de polícia?

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Teste Vocacional Online

Estamos disponibilizando teste vocacional online para pessoas interessadas na área de Investigação Policial Científica.

Com um simples clique no mouse, nossos computadores revelarão ao usuário do programa desenvolvido pela equipe de parapsicólogos da PressAA se ele tem inclinação para agente secreto ou mesmo simples investigador de polícia.

Faça o Teste

Qual desses personagens você acredita que seja TICOBUTICO?

Observe atentamente o quadro com os 20 elementos suspeitos de fraudar licitação para a compra de merenda escolar. Escolha um deles e mentalize o número do meliante escolhido. Em seguida clique no link que vem logo abaixo deste cartaz de marginais procurados pelo DOPS, KGB e Gestapo, e os nossos computadores revelarão se você tem inclinação e, assim, daria para ser agente secreto ou investigador de polícia.

Boa sorte!


http://diariogauche.blogspot.com/2009/07/delegado-da-pf-nao-disse-quem-e.html

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PressAA
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quarta-feira, 8 de julho de 2009

Urariano Mota: "Para quem anda triste ou chateado da vida, recomendo a leitura da página de Ciência e Saúde da BBC"

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A CIÊNCIA DA BBC


Urariano Mota

Recife (PE) - Para quem anda triste ou chateado da vida, recomendo a leitura da página de Ciência e Saúde da BBC. Entendam. Não é bem que nesse cantinho da web o leitor encontre algo substancioso, do ponto de vista intelectual ou da esperança. Mas encontrará sempre o que a BBC entende de ciência e por ciência. Delicious. Superficial, muitas vezes enganosa, mas sempre good. Jamais alguém poderia encontrar ali – santa ignorância – a notícia da Teoria da Relatividade. Mas uma bomba, ou a bomba, sim. No mínimo, a foto de um cogumelo maravilhoso, com a legenda E = MC2.

Há sempre um critério genial na escolha, na edição e, gênio dos gênios, nos títulos e tratamento da ciência. Os jornalistas ingleses – fonte original das várias BBCs no mundo – são muito rigorosos e competentes. Não erram uma. Se é pra avacalhar, we are os caras. Dá pra perceber que na alta direção do site há uma pesquisa de casos bizarros ou clamorosos. Shit, isto é notícia. Para quem pensa que minto, acesse por favor http://www.bbc.co.uk/portuguese/ . Na edição desta quarta-feira, encontrará informações impagáveis – ou, a depender do humor, aterrorizantes. Aos fatos.

Cientistas afirmam ter criado espermatozóides em laboratório

Uma equipe de cientistas de Newcastle, na Inglaterra, anunciou ter criado espermatozóides em laboratório pela primeira vez no mundo. Os pesquisadores acreditam que seu trabalho poderia ajudar homens com problemas de fertilidade
”.

Ora, aquilo que os adolescentes de todo o mundo produziam escondidos agora vem em laboratório. Na versão espanhola do site, o título foi ainda mais cru e direto, Crean ‘esperma de laboratorio’. E perguntam, em pesquisa: Homens obsoletos? As respostas a tal ciência são um primor, de ciência:

“- Seria o cúmulo que isso se convertesse em outro tipo de exclusão (das mulheres para os homens).

- Me parece que com este tipo de investigação se abrem portas muito perigosas. Quanto tempo passará até que alguém fecunde um óvulo com estes espermatozóides de laboratório e nasça um ser semi-humano? E depois?”

E depois? Antes dos monstros inimagináveis a pular dos tubos de laboratório, terríveis, da imaginação dos jovens, lemos mais uma:

“Atletas deveriam beber cerveja todo dia, diz estudo

Além de matar a sede e relaxar, a cerveja ajuda na recuperação após a prática esportiva. A afirmação é do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) da Espanha, que apresentou um estudo defendendo o consumo moderado da cerveja para os atletas como fonte de hidratação diária.

Segundo o documento, os componentes da cerveja ajudam na recuperação do metabolismo hormonal e imunológico depois da prática desportiva de alto rendimento e também favorece a prevenção de dores musculares
.”

Ronaldo, Adriano e Romário sabiam disso bem antes. Não com a frequência de Garrincha, que traduzia “todo dia” para “o dia todo”. Mas podíamos ser poupados da descdoberta que a cerveja previne dores musculares. De quase sã experiência sabemos que ela pode anestesiar todas as dores. Basta entorná-la como Fausto Wolff.

Mas onde a BBC se supera é nas notícias sobre chimpanzés. Eles, quero dizer, os humanos da redação, destacam coisas como:

Chimpanzés reconhecem membros do grupo pelo traseiro” Ou “Chimpanzés fêmeas copulam em silêncio 'para evitar competição'” Ou “Chimpanzé consegue planejar futuro” (porque juntam pedras para atirar em nossas cabeças, segundo um estudo)

E mais esta pérola, que correu todo o mundo:

“Chimpanzés superam universitários em teste de memória

Uma nova pesquisa da Universidade de Kyoto, no Japão, demonstrou que chimpanzés têm uma memória fotográfica superior à dos humanos. Chimpanzés mais jovens foram melhores em testes de memória do que estudantes universitários, segundo o estudo publicado na revista Current Biology.

‘Chimpanzés jovens têm memória melhor do que humanos adultos. Ainda estamos subestimando a capacidade intelectual dos chimpanzés, nossos vizinhos de evolução’, disse o professor Matsuzawa à BBC
.”

É claro, os editores da BBC nem desconfiam que a memória humana venha a ser um pouco mais complexa que o recordar uma sucessão numérica em uma tela. Que ela, a memória, alcança a história, não exatamente a historinha que jornalistas contam todos os dias, mas uma História que vai além e aquém de um teste em Tóquio.

E chega de falar sério, porque a manchete de hoje no Ciência aponta:

Cafeína reverte perda de memória em ratos com Alzheimer Ratos criados em laboratório e programados para desenvolver sintomas do Mal de Alzheimer na velhice tiveram problemas de memória revertidos depois de ingerir 500 mg de cafeína por dia, segundo um estudo do Alzheimer's Disease Research Center da University of South Florida, nos Estados Unidos”.

Leio então nas notícias relacionadas a tal ciência: “Provador de café faz seguro da língua por R$ 34 milhões”.

Então acho melhor parar aqui. O colunista tem que segurar a própria língua. Pelo silêncio.

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Urariano Mota, jornalista, escritor, autor de Os Corações Futuristas (http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=657) e Soledad no Recife, a ser lançado em julho, pela Boitempo Editorial (http://urarianoms.blog.uol.com.br/), colabora com este blog e afiliados.

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PressAA
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terça-feira, 7 de julho de 2009

Raul Longo: O DESMONTE DE UM IMPÉRIO

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Desmontando impérios - de Constantinopla a Honduras

Raul Longo

Desmontar um império não é tão simples quanto construí-lo. Se os constrói pela força, associada à espoliação dos imperializados para financiamento dos exércitos e a desumanização tanto do próprio povo do estado imperalizante quanto dos imperializados.

A força é coisa relativamente simples. Convocada com o condicionamento das massas ou contratada entre mercenários, se as treina militarmente sempre promovendo a obtusidade de cada integrante, se transforma homens em máquinas de matar e de conquistas beligerantes. Já os processos de desconscientização e desumanização das massas requerem um pouco mais de táticas condicionantes. O "pão e circo" do ImpérioRomano, o "lumpemproletariado" do Império Napoleônico, a "supremacia racial" do nazismo, o ópio aos chineses no Império Britânico, o "american way life" do Império Norte-Americano.

Um elemento muito importante em tudo isso é o maniqueísmo: Deus está conosco. Nós somos o mundo livre. Somos a democracia ou O povo escolhido. A crença em uma superioridade racial ou nacional, provida de exclusiva inteligência e conhecimentos e, consequentemente, a que tem o direito de determinar o que seja bom ou mal para os demais povos que, sem tal tutela e controle, não se sustentariam.

Não é tão difícil se desenvolver tais conceitos: além da estupidificação planejada, aproveita-se oportunamente as situações eventuais ou criadas, aliciando os sempre disponíveis políticos e militares corruptos entre as nações imperializadas, impondo períodos de regimes totalitários ainda que paradoxalmente em nome das liberdades divinas e igualitárias. Falácias, é verdade, mas quando as massas se deixaram controlar se não por falácias?

A força não controla. A força impõe. Se assim se pode dizer, o Império Britânico foi o último império autenticamente mantido apenas pela força de seus exércitos, assim como o Romano provavelmente tenha sido o primeiro a utilizar a falácia da Igreja Católica para evitar seu completo desmonte, ainda que não o único a recorrer aos consórcio dos manipuladores de crenças dos povos. Mas tentar o processo inverso, pode acelerar a ruptura, o desmantelamento do Império. E ainda que muito difícil, preferível ao processo civilizatório o desmonte do que o desmantelamento que nunca se sabe pelo que pode ser sucedido.

Daí a substituição do Império Romano pelo Católico, apesar de todo o obscurantismo da Idade Média, talvez ainda tenha sido menos pior (e aqui cabe bem a licenciosidade) do que um muito provável retorno ao barbarismo, ainda que à custa de cruéis processos inquisitórios de condicionamento. No entanto, convém notar que a despeito das fortunas arrecadadas ao longo de todo seu histórico, o Império Católico encontra-se política e financeiramente ameaçado dentro de sua própria fonte de recursos de poder: a crença em seus cânones que, se ainda garantem alguma arrecadação em diversas comunidades espalhadas pelo mundo, sobretudo no hemisfério sul, há muito não seria suficiente sequer aos seus custos de manutenção, não houvesse desenvolvido organizações empresariais e outras formas mundanas de arrecadação de capital.

O desmonte, em curso, do Império Católico é sintomático e exemplar. Não caiu a estrutura da Igreja, nem caíram as igrejas. Nem mesmo Deus morreu, como anunciou Nietzsche. Mas o próprio Nietzsche alertou que o veneno que nos peja não está no conceito do divino, e sim na natureza bigúmea das falas clericais. Os papas guerreiros, soldados e generais a assassinarem mulheres e crianças em nome de Deus, fossem muçulmanos ou indígenas, não foram tão nocivos aos fundamentos do cristianismo quanto o eterno apóio a espoliação dos servos, dos pobres, dos oprimidos pelo poder das elites, em toda a história da instituição.

Em verdade os fundamentos do cristianismo, bigumeamente utilizados pelo Império Católico, sobreviveram a esses clérigos e se mantiveram como antídoto ao veneno por eles destilado, mas o mais forte cavalo não resiste indefinidamente as periódicas dosagens que, algum dia, haverá de, previsivelmente, lhe ser fatal.

Tão previsível que João XXIII tentou evitar o desmonte do Império Católico, resgatando seu poder espiritual através dos fundamentos verdadeiramente cristãos, incentivando e promovendo a Teoria da Libertação que sofreu a reação dos sucessores do episódico João Paulo I, pois sempre o mais difícil de ser desmontado em uma estrutura imperial é a consciência imperialista de seus integrantes. Para compensar, João Paulo II lançou mão da estratégia do marketing, tornando-se o papa pop. Mas, ainda que pop e com total apoio os meios de divulgação de todo o mundo, inclusive nos países de maiorias não católicas, não evitou o vertiginoso declínio da crença nos cânones da instituição.

Até quando se reafirmará a falaciloquência de Goebels sobre mentiras a se tornarem verdades? Afora o ópio, utilizado como estratégia de facilitação ao emprego das forças de seu exército, os ingleses nunca foram muito confiantes em tais estratégias, mas os Estados Unidos assumiram os métodos do Império Católico e o risco de empregá-los através da evolução tecnológica.

O Vaticano bem previra estes riscos advindos das tecnologias, tentando evitar o mais possível o advento da invenção de Gutenberg, até ter de aceitar sua irreversibilidade aderindo-o como meio de propagação de suas condicionantes. Já a tecnologia de comunicações e entretenimento nos Estados Unidos e dele para o mundo, se tornou não apenas um eficiente método de condicionamento de massas como também uma rentável indústria. Aparentemente superaram Goebels, pois os meios de comunicação, ou a mídia, não só transforma mentiras em verdades, como faz com que as massas paguem por essas mentiras a lhes ser transmitidas imperceptivelmente.

Aí está o grande segredo. Claro! A partir da percepção da mentira, impossível a manutenção da falácia. Essa foi a razão da ameaça de Gutenberg ao Império Católico, pois presumível os riscos do conhecimento aos conceitos míticos, mas ainda assim não foram Darwin ou Freud que deram início à irreversibilidade da decadência do Império Católico.

Impérios beligerantes, como o de Napoleão ou o pretendido por Adolf Hitler, caem e se desmontam repentinamente pela reação às próprias forças empregadas para sua imposição. Impérios sem a concorrência de forças correlatas ou se desmontam dentro de si mesmos, como o Romano, ou pelos próprios desgastes para sua manutenção, como o Britânico. Mahtma Gandhi com seu pacifismo ou as inúmeras revoltas anti-colonialistas do século XIX e XX não seriam suficientes para reduzir o Império onde o Sol nunca se põe à Grã-Bretanha, se os recursos extorquidos em todos os continentes do mundo não fossem exauridos pela própria corte e, principalmente, na defesa contra os movimentos imperialistas de seus vizinhos europeus. Como manter um exército colonialista em todos os hemisférios e meridianos, e ao mesmo tempo custear reações à franceses, austro-húngaros, germânicos, etc.?

Nesse sentido é que se pode dizer que o Britânico foi o último mantido exclusivamente pela força, pois se o nazista adotou a falácia da supremacia racial, tanto o soviético quanto o norte-americano adotaram a mesma falácia da igualdade entre os homens, utilizada na transformação do Romano ao Católico. Para esta transformação, Constantino teve de adotar a ideologia desenvolvida entre um dos povos dominados e inverter os conceitos que embasavam seu império. O pão e circo tornou-se corpo e espírito, os prazeres da sublimação eterna em recompensa ao sofrimento e abstinência da vida passageira.

A utopia da igualdade entre os homens não é uma primazia cristã. Com mesmo sentido esotérico, metafórico e mitológico, inclui-se entre os anseios de todas as civilizações. A divisão comunal de terras, esforços e proveitos da República Guarani no cone-sul da América foi uma realização dessa utopia através dos mitos cristãos de jesuítas católicos e o da Terra Sem-Males dos indígenas. E muito bem sucedida! A ponto de incomodar o sistema colonialista e a própria Igreja Católica, que exterminaram índios e missionários. Mas deles se herdou mais uma comprovação de que a utopia é possível. Possível e realizável uma convivência comunal sem a exploração do homem pelo homem, ou do homem pelo estado ou qualquer outra instituição.

O evento das Missões Guaranis, entre outras concretizações, poderiam ser mais prejudiciais ao Império Católico do que as investigações de Galileu, os questionamentos de Giordano Bruno, os cismas e reformas protestantes ou a pedofilia dos prelados. E aqui se denota o risco da associação do emprego da força das armas aos adventos tecnológicos de divulgação como condicionantes de massa. Enquanto apenas a imprensa mantida pelos sistemas de poder e as produções imbecilizantes de Hollywood, mais fácil convencer do heroísmo de Rambo e da covardia vietcong, mas já na guerra seguinte, com toda a demonização do islamismo e apesar da convicção da tirania de Sadam Hussein, a invasão do Iraque significou para muitos admiradores do antigo Tio Sam uma decepção similar a experimentada por diversos esperançosos na justiça do regime soviético, o episódio da invasão de Praga.

Karl Marx foi o primeiro teórico da igualdade entre os homens a planejar uma estrutura materialista e científica para a formação de sociedades baseadas nesse princípio, percebendo tais possibilidades na própria evolução ao capitalismo em substituição ao sistema feudal. Previu, na Inglaterra da Revolução Industrial, o inevitável confronto entre as classes, presumindo desse conflito uma necessária regulação do estado em promoção de um sistema sócio-econômico viabilizando a progressividade da civilização.

Marx não era visionário. Se o fosse, talvez previsse que no século seguinte o capitalismo aprofundaria ainda mais a falácia do Império Católico, prometendo as delícias do céu em vida, através da livre iniciativa onde todos teriam pretensa igualdade de oportunidades, sequer requerendo maiores abstinências, pois os prazeres que a Igreja prometia para a vida eterna seriam antecipados ao seu próprio custo, através de sistemas de crédito geradores de juros que financiariam a manutenção e desenvolvimento do sistema, contornando os cálculos das relações de mais-valia.

Se fosse visionário, talvez Marx previsse que ao invés da Inglaterra seu sistema seria adotado em um dos países europeus onde o feudalismo mais se mantinha renitente e, nesse caso, muito provavelmente alertaria a seus primeiros líderes sobre os perigos da substituição do estado regulador das relações sociais, por um estado monopolizador de iniciativas tão excludente quanto as falácias da livre iniciativa privada.

Como não foi visionário, se acusa Marx pelos erros que não previu, mas tampouco propôs ou aconselhou. Embora os anarquistas o alertassem sobre esses riscos, se opondo a regulação estatal, ainda não se apresentaram melhores ou mais realistas propostas de conscientização comunal a ponto de se desenvolver uma sociedade capaz de se auto-governar. A falácia da igualdade social no Império Soviético foi apresentada como de autoria de Karl Marx, pelo formalismo temporal de seus discursos e escritos, condizentes à sua época. Como um proponente político, o discurso não poderia ser diferente por mais que seus ideais e objetivos últimos fossem a formação de uma sociedade anárquica. Talvez nenhum texto de Marx autorize essa afirmação, mas qual a consequência social há de se imaginar e esperar de um estado verdadeiramente comunista, orientado através dos métodos marxistas?

Métodos que não permitem se interpretar Marx como um visionário, como tentam fazê-lo não só à direita, mas também os que se acreditam marxistas por apenas depreender a formalidade discursiva de Marx, repetindo-a anacrônica e extemporaneamente, sem conseguir sequer perceber o quanto se distanciam dos métodos de análise que os levariam a concluir o ridículo da própria falácia. Falácia cujos riscos, talvez, Marx tenha preferido assumir, entendendo que, assim como o capitalismo era uma evolução histórica ao feudalismo, o capitalismo de estado também o seria como estágio do processo evolutivo.

Além de interrupção dos sucessivos desgastes promovidos pelos dirigentes soviéticos, muitos viram no desmonte promovido por Gorbachev não apenas uma possibilidade de resgate dos métodos marxistas como, bem mais além disso, o mais incisivo golpe da Rússia sobre os Estados Unidos, quando este já buscava contemporizar suas relações com outro estado comunista: a China.

As dificuldades dos trabalhadores chineses por si atestam a distância às propostas marxistas, mas se o armistício entre Estados Unidos e China já desmascarava os falaciosos discursos de liberdade e igualdade de ambos sistemas, o final da União Soviética significou para a mítica capitalista e, sobretudo, norte-americana, o mesmo que significaria para as Igrejas cristãs, católica ou dela dissidentes, a descrença em satã ou nos infernos.

O que seria de Deus, não havendo o Diabo? O velho refrão de que Deus ajuda a quem cedo madruga não apenas se desmentia na constância da miserabilidade de gerações de trabalhadores que matutinamente enfrentam as madrugadas para alcançar as oficinas -- em tempo de não sofrerem descontos nos já reduzidos salários, quando se dão por agradecidos em percebê-los -- ou na disponibilidade ao laissez-faire de seus patrões; como passou a se invalidar perante a extinção do diabólico comunismo e suas pretensas ameaças à liberdade.

Se não há como acusar o manifestante de comunista, do que se o acusará por lutar por seus direitos a melhores condições de vida e trabalho, de dignidade, de terra, de teto?

Deus não morreu, mas o Diabo sim. E se o viver continuou infernal, quem é o diabo afinal? A angelical face democrática do capitalismo, não pode mais despontar os chifres de impiedoso Lúcifer a justificar seguranças nacionais através de ditaduras.

A falácia das liberdades democráticas a esconder golpes militares e assassinatos de líderes populares se desmascara e a descrença no império nos transforma a todos, comunistas ou não, em mártires ou resistentes. Sem uma igreja que ainda nos convença das celestes recompensas à cruz nossa de cada dia, mais provável assumirmos a segunda alternativa. Aqui, na América Central, ou na África, como no Oriente Médio.

Rambo, enfim, se revela o bandido, a personificação do mal. Heróis são os piratas da Somália.

Cientificamente Marx previra, através de seus métodos de análise da evolução econômica do capital, que assim se comportariam os trabalhadores no centro do capitalismo em sua época: a Inglaterra. Não teria como prever a II Guerra e a transferência deste centro para os Estados Unidos. Não teria como prever a tecnologia da indústria de comunicações e entretenimento como eficientes meios condicionantes de massa, mas previu, sim, a constante identificação das massas como povos e a crescente conscientização desses povos sobre os direitos que devem assegurar a si mesmos. Direitos comunais e de responsabilidade comunal.

Previu que enquanto o processo histórico promovesse essa realidade entre os proletários de todo o mundo, outra realidade promoveria o desmonte do império capitalista, a realidade do próprio capital que jamais se satisfaz em si mesmo e, sempre desejando mais, inviabiliza-se a si próprio.

Ainda, também além das possibilidades premonitórias de Marx, há a se considerar outra realidade: a considerável população de latino-americanos dentro dos Estados Unidos e a profunda insatisfação dos desempregados pelas falimentares corporações daquele império econômico.

A ciência pode se enganar quanto a exatidão de seus cálculos e nem sempre a localização, a cronologia ou a intensidade dos efeitos de um fenômeno ocorrem conforme a dedução alcançada por sua observação, mas a ciência não erra. Não pode errar, pois é fruto da observação da realidade e da natureza, e tanto a realidade quanto a natureza são imprevisíveis: por vezes lenta e gradual, em outras abrupta e inesperada.

Mas um império não se constrói com ciência. Para se construir um império, sim, se faz necessário os visionários. Já desmontá-los, é coisa bem mais complicada.

Será Obama mais um visionário ao estilo dos falaciosos heróis hollywoodianos ou terá a percepção científica de um João XIII para perceber os riscos do descrédito universal à instituição que representa. Os sucessores de João XXIII não prosseguiram seus métodos e aos que acompanham a evolução do declínio da Igreja nas últimas décadas, isso se faz bastante sensível em diversos aspectos. Mas, evidentemente, as realidades de uma instituição baseada em princípios espirituais, são bem menos concretas do que as realidades de uma instituição nacional.

Essas são muito mais concretas inclusive em suas forças de oposição. Se há suspeitas de envenenamento de João Paulo I, nas questões assumidamente terrenas se considera exemplar os espetáculos como o do assassinato de Salvador Allende. Mas se refém, Obama ao mundo não importará. No momento poderá significar muito e mais que Kennedy ou Lincoln, se sacrificado. Como refém, nada! Mesmo ao seu desiludido povo, não passará de mais uma falácia a colaborar com o descrédito e decadência do Império.

Se lhe facultar alguma capacidade de percepção científica da realidade, sem dúvida passará para a história por conseguir manter a dignidade de seu país entre a comunidade das nações e só em conhecimentos e know-how tecnológico, os Estados Unidos ainda pode resgatar-se como uma das grandes colaborações à evolução da civilização humana. Mas para isso necessita urgentemente de dirigentes habilidosos no difícil desmonte do Império.

Quem diria que, ao mundo, a pequena e esquecida Honduras viria a ser tão crucial na definição de um presidente dos Estados Unidos?


Raul Longo
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Raul Longo é jornalista e escritor - colabora com o blog AAA-PressAA & Afiliados


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sexta-feira, 3 de julho de 2009

Raul Longo põe os muros na berlinda

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OS MUROS DE BERLIM

Raul Longo

São muitos. Para alguns, primeiro caiu em Budapeste no ano de 1956. Outros o viram derruir na invasão de Praga, em 68. E há quem o aponte na cisão entre trotskistas e stalinistas, lá nos anos 20.

Mas não estaria mal colocada a questão? Cisões, rompimentos, divisões, intolerâncias e imposições desta ou daquela conduta estão mais para muros que se erguem, constroem, levantam... do que propriamente para pontes, caminhos.

Faz lembrar Franz Kafka no seu magistral A Muralha da China, ironizando o sacrifício de tantas gerações ao longo de 2 milênios e várias dinastias de um império que jamais foi atacado pelo lado onde se construiu o maior monumento do planeta: uma muralha.

Daqueles lados vieram as idéias que entusiasmaram Mao Tse Tung a invadir os muros da Cidade Proibida, centro do mais antigo império da história. Como sempre na história, as coisas mudaram e no Henfil na China antes da Coca-Cola o cartunista conta como foi considerado ingênuo por temer o imperialismo ianque, pois aos chineses era impossível compreender como não se percebia o grande perigo da União Soviética.

A mesma União Soviética que inspirou Mao e erigiu o Muro de Berlim. A mesma U.R.S.S. que provocou o rompimento com os irmãos Castro, quando Raúl acusou Che de trotskista, levantando um muro entre os companheiros de Sierra Maestra.

Estava certo o Che, pois o desmonte do caminho iniciado enquanto Ministro da Indústria está sendo crucial para aquele povo criminosamente bloqueado pelos Estados Unidos. Por outro lado, também estava certo Fidel em negociar a qualquer preço a defesa de sua ilha, pois entre ficar e correr, melhor mesmo era entrar em entendimento com algum dos bichos que ameaçavam pegar e comer. O puma das pradarias já lhe arreganhara os dentes quando de sua visita ao país, tão logo deposto o tirano Batista, só restando mesmo o abraço do urso das estepes. Afinal, por mais desagradável, um amigo urso que mora longe sempre é menos assustador do que um intratável vizinho felino.

Pobre Cuba! Uma ilha cercada de muralhas por todos os lados!

Mas os receios do Henfil não eram por falta de percepção, como supunham os chineses. Sabíamos bem onde nos ardiam as torturas promovidas pelos governos impostos a golpes de militares financiados por Wall Street, a rua do grande muro capitalista que divide o mundo entre exploradores e explorados.

O Muro de Berlim não conteve a queda da União Soviética e o estado consolidado por Stálin sobre estimados quatro milhões de mortos, veio abaixo. A queda de Wall Street conterá a espoliação dos povos pelo capitalismo?

Quantos milhões morrem anualmente em África, Ásia e América Latina, por Wall Street? Um muro ainda mais extenso e vergonhoso do que o de Berlim foi construído na fronteira dos Estados Unidos e México para conter o desespero da fome e da falta de oportunidades na América Latina. Anualmente morrem mais latino-americanos, brasileiros inclusive, tentando atravessar aquele fronteira, do que o número de vítimas de toda a história do Muro de Berlim.

Em um ano os governos capitalistas aplicaram mais dinheiro nas instituições bancárias que escoram Wall Street do que em dez destinaram auxílio às populações famintas do mundo. E contabiliza-se mais de uma centena de indígenas peruanos massacrados por Alan Garcia, o aliado à ALCA do liberal Walker Bush.

Na Colômbia, outro sócio narcotraficante alimenta 3 décadas de guerrilha para a latinização de Afro-Ameríndia. Alianças para o progresso do europeísmo nos campos, alimentando desvalorização de mão de obra e marginalização urbana.

O pulo do muro... O arriscar da sorte, e a morte. A cortina da morte.

Entre as instituições financeiras que lastreiam Wall Street, as maiores são de origem hebraica, dirigidas por sionistas que constroem muros para cercar seus parentes semitas: os palestinos. Emparedam palestinos em Gaza e na Cisjordânia depois invadem o muro que eles próprios construíram. E roubam, humilham e matam.

Quando escondem a cara e choram no Muro das Lamentações, os judeus derrubam lágrimas de arrependimento?

Alguns me contam que sim. Que choram a vergonha dos crimes praticados por seus patrícios, pela covardia a um povo também patrício e outrora pacífico. Mas quanto paga Wall Street? Quanto ganha Wall Street?

O Muro de Berlim caiu em 1989. Vinte anos depois, a crise econômica do liberalismo anti-comunista abala as estruturas de Wall Street.

Apenas abalo? Os experts em capital e futuros apontam a salvação da economia mundial nos BRICs. O devedor, a fracassada, a miserável e a estagnada!

Como assim?

Ahmadinejad, do Irã, ameaça varrer Israel do mapa com explosão atômica. Israel tem condições de exterminar todos os palestinos antes de ser atingida por uma segunda explosão atômica, se houver a primeira. Com ou sem explosão atômica a única possibilidade de sobrevivência dos palestinos e solução para suas questões, está na solidariedade dos povos e na retirada de apoio internacional ao governo sionista. Aos massacres do governo sionista, sobre libaneses, sírios e palestinos.

A questão de Ahmadinejad ou de Moussavi, que apóiam um único regime teocrático, se difere nas maneiras de apoiar os xiitas na previsível disputa com os sunitas pelo Iraque a ser desocupado pelos Estados Unidos.

Derrubaram os muros milenares de Bagdá porque derrubaram as torres modernas de Nova Iorque. E caem as crianças de fome na África como caíram as crianças de napalm no Vietnã, como caem as crianças de crack no Bronx, como caíram as crianças atômicas de Hiroxima, como caem as crianças nas balas perdidas do Rio de Janeiro e caem as crianças na cidade do México ou nas periferias de São Paulo. Como caiu Jean Charles Menezes em Londres, um quase menino, uma quase criança confundida com um terrorista. Como caem crianças transformadas em terroristas antes de poderem ser crianças. Toda criança é terrorista, assim como todo terrorista foi criança. Inclusive o homem bomba que explode num mundo que se implode.

Crianças que morrem crucificadas nos muros de uma mesma estúpida intolerância, erigidos por uma mesma estúpida e ridícula prepotência.

Erguem-se os muros, definem-se e redefinem-se as tribos! Babujam-se os clãs e os ismos, os silogismos. Decoram-se novos neologismos, cacos de terminologias fingindo novidades ideológicas do já sabido, manjado, malhado, sacado! Do tanto que se discute, mas não se entende; se entende, mas não se vivencia. E se desmascara quanto mais se imita, pois quanto mais se imita mais ridícula a realidade que do vazio de si atira ofensas a esmo, ao outro lado de insólitas trincheiras de egos mal construídos. Tíbios muros sem senso e sem crítica, nenhuma autocrítica. Muros que se incapacitam à compreensão, inviabilizando pontes e propostas de caminhos. Vitimam aos que se anunciam defensores, vitaminando os algozes.

Quem é o inimigo?

À esquerda e à direita, como em Tegucigalpa.

À Tegucigalpa, enfim, respondem com ponte, caminho. Não há muros à Tegucigalpa.
Mesmo no acaso de tentativas por entulhos da United Fruit, a Chiquita Brands dos Walker Bush, em recuperar poderes sobre Honduras, El Salvador, Guatemala ou Nicarágua; na resposta continental em uníssono, desde Kirchner e Lula, passando por Correa e Chávez, até Clinton e Obama, OEA e ONU, fende-se a Rua do Muro.

O bric/a/brac! O crash do crack no muro da rua.

Em todas as diversidades e tendências a mesma intolerância ao golpe em Tegucigalpa, autenticando o anacronismo e incoerência de todos os muros.

Darwinistas deduzem que o Homo Erectus se desenvolveu em período diluviano, quando o macaco se obrigou a andar em pé. Quem sabe, enfim, aprendamos quão estúpido é dar com a cara na parede.

Quem sabe, dessa vez, possamos olhar à frente... Além dos muros.


Raul Longo é colaborador da nossa AAA - PressAA

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