segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A FOLHA ENSANDECEU DE VEZ


Sem controle, abusou da liberdade de imprensa, envergonhou o país interna e externamente com um artigo libertino, cuja leitura provoca vômitos intermitentes

A “Folha de S. Paulo”, que comeu o pão que o diabo amassou para sobreviver, crescer e dizer a que veio, tem história bastante controvertida. Vende cerca de 350 mil exemplares diariamente e cerca de 450mil aos domingos e, inexplicavelmente, como um carro desgovernado, abriu um de seus mais nobres espaços para que, num artigo de página inteira, seu colunista César Benjamin, narrasse o passado de militante contra a ditadura e, finalmente, pudesse contar um suposto fato duvidoso da vida do atual presidente.

Segundo ele, durante a campanha presidencial de 1994 (na qual César trabalhou como petista e assessor), Lula, em reunião descontraída, teria afirmado que, quando preso no distante 1980, teria assediado um outro prisioneiro. Sua investida foi infrutífera porque a possível vítima resistiu. A curiosa situação foi negada por todos os participantes do mencionado encontro.

Irresponsavelmente, talvez com intenção ao que parece dolosa (destruir a imagem de outrem), a “Folha de S. Paulo” ofereceu uma página inteira para que o colunista, cuja existência é ignorada por 99,99% dos brasileiros, pudesse ressuscitar uma confidência-brincalhona feita por amigo, em conversa sem compromisso e assim, quem sabe, mostrar ao mundo, que o presidente Lula, que está sendo festejado e bem recebido em muitos países, não merece toda essa reverência, respeito e homenagem. Isso porque teria assediado um companheiro de prisão em momento de descontrole emocional ou de quase delírio há TRINTA ANOS.

Por essa razão, o articulista aproveitou para dizer que não pretendia assistir ao filme “O filho do Brasil”, que tenta reviver a trajetória seguida pelo atual presidente, desde seu nascimento até sua chegada à Presidência da República. Ele assegurou que quando preso, no Rio de Janeiro, não sofreu ameaças por parte de nenhum dos mais famosos e temidos criminosos e com os quais chegou a ter relacionamento cordial. Estaria insinuando que sua sorte poderia ter sido diferente, se tivesse sido preso também em 1980, no DOPS de São Paulo?

Sem dúvida, este foi o MAIS INDECENTE “FURO JORNALÍSTICO” dos últimos tempos, que diminui a imprensa, a grandeza do Estado Democrático de Direito e que, desgraçadamente, põe novamente em discussão os limites do direito de os veículos de imprensa informarem, de destruírem honras alheias, famílias inteiras, atentarem contra a dignidade alheia e a auto-estima de um povo, que se imagina governado por gente honesta, equilibrada.

A desastrada e encomendada matéria, com espaço tão farto e privilegiado, exala um mau cheiro insuportável, forçando a mudança do slogan da “Folha de S. Paulo”, de “UM JORNAL A SERVIÇO DO BRASIL” para “UM JORNAL QUE NÃO RESPEITA O LEITOR”.

Votei no Lula em 2002 e logo depois passei a criticá-lo por discordar de caminhos que adotou, traindo seu passado de lutas e o próprio programa de governo que prometeu e nem chegou a montar. Meu jornal, Tribuna da Imprensa, com 60 anos, foi uma das maiores vítimas dos truculentos governantes revolucionários e por não transigir, foi também “castigado” pelos governantes ditos democratas, inclusive o Lula, que proibiram as estatais de nele anunciar, assim, afastando também os anunciantes privados.

A “Folha de S. Paulo”, diferentemente, foi “um jornal a serviço da ditadura” e que cresceu à sua sombra. Sua covardia e colaboracionismo com os mandantes militares eram tão acentuados que as edições do jornal saíram vários anos sem editorial. O jornal nem tinha opinião.

Economicamente deficitário, sobreviveu, entre meados de 1960 e início de 1980, graças à utilização irregular de um valorizadíssimo espaço público no bairro de Campos Elíseos, em São Paulo, onde montou a sua Rodoviária e para onde todos os ônibus que chegavam a São Paulo tinham que se dirigir. Essa centralização provocou durante décadas prejuízos incomensuráveis à cidade de São Paulo, que tinha seu trânsito totalmente congestionado, e à população, que tinha sua saúde afetada pelo excesso de poluição despejada no entorno da Rodoviária, uma gigantesca armação de ferro empastilhada e de um mau gosto ímpar.


No governo de Abreu Sodré, o coronel Fontenelle, diretor de trânsito de São Paulo, ameaçou deslocar a Rodoviária, descentralizando-a. A “Folha” ameaçou não dar sossego às autoridades de então se isto fosse efetivado. Nada aconteceu a não ser a morte do desautorizado coronel. Isto, sem falar na famosa história das “ASSINATURAS PERPÉTUAS”. (O senhor Otávio Frias exigiu a saída de Fontenelle. Demitido, no mesmo dia quando dava entrevista, morreu em frente às câmeras de televisão).

Como mostram alguns informes inseridos em diversos sites, se os inimigos da combativa “Folha de S. Paulo” dispusessem de uma página inteira para contar pormenores de seu surgimento, crescimento e consolidação como empresa jornalística, certamente, muitos casos inconvenientes poderiam surgir e que não deveriam assim mesmo ser publicados porque nada acrescentam ao dia-a-dia do leitor, como a absurda história, inescrupulosamente, publicada com a assinatura do colunista Benjamin, com o pleno conhecimento dos editores da mesma “Folha”.

Não dá para acreditar que a “Folha de S. Paulo”, que, competentemente, produz artigos e comentários fundamentados sobre os mais variados temas (jornal de maior circulação), tenha permitido que tamanho e tão comprometedor disparate tenha sido inserido em suas páginas.

Somente uma mente doentia e abominável poderia concordar com tal maldade, pois, goste-se ou não de Lula, a criminosa e intempestiva história atinge um cidadão que preside a República Federativa do Brasil há 7 anos e com aprovação de 70% de sua população, sem falar no prestígio que vem desfrutando no Exterior.

A matéria não é jornalística, não se justifica e foi mal montada. Seus escusos objetivos não foram bem dissimulados, o que só agrava a responsabilidade de quem autorizou sua edição e veiculação. Por muito menos, o conceituado jornal “O Estado de S. Paulo” vem sofrendo inaceitável censura prévia. O irresponsável artigo só faz crescer a convicção dos inimigos da liberdade de imprensa e que clamam por censura prévia mais ampla, indistintamente.

O comando editorial da “Folha de S. Paulo” tem a obrigação de, em primeira página, desculpar-se junto aos seus leitores, aos brasileiros em geral e aos eleitores de Lula e aos seus familiares por terem prestado tão sórdido desserviço ao país. Isso não é e nunca foi exercício democrático e nem uso responsável da liberdade de imprensa.

Otávio Frias, o pai de tudo, deve estar decepcionado com a falta de critério e de rumo de seus descendentes no comando do jornal “Folha de S. Paulo”.

A mente que produz e a que acolhe tão medonha “criação” não pode estar à frente de uma empresa de comunicação, que se quer responsável, criteriosa e comprometida com os interesses dos cidadãos brasileiros e do País. Basta. Meu estômago não é de ferro. Nem o dos 300 mil leitores que a própria Folha apregoa.

No mais, é pacífica a responsabilidade civil da empresa jornalística quando o autor da publicação tenha desejado ou assumido o risco de produzir o resultado lesivo, ou ainda, embora não o desejando, TENHA LHE DADO CAUSA POR IMPRUDÊNCIA, NEGLIGÊNCIA OU IMPERÍCIA. O fato de a “Folha” estar amparada pelo direito de liberdade de expressão não a isenta da responsabilidade pela prática de ato ilícito e, no caso, repugnante contra a figura de um Chefe de Estado e de Governo.

Assim, o direito da liberdade de informar não deve ser tolhido, mas exercido com responsabilidade sem lesionar os direitos individuais dos cidadãos. Em síntese, sem tirar nem por, com a extemporânea “revelação”, a “Folha de S. Paulo” abusou de seu direito de liberdade de expressão, o que resultou na violação da honra objetiva do cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República Federativa do Brasil, em âmbito nacional e internacional.



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PS- Essa Folha de hoje que agride a si mesma e a seus leitores, tentando agredir o presidente da República de forma repugnante, é a mesma que servia de forma subserviente à ditadura. E que usava os carros (kombis) de transporte do jornal, e levava prisioneiros para as sessões amaldiçoadas nos porões da OBAN. (O correspondente ao Doi-Codi no Rio).

Além do mais, não há nem comprovação do fato noticiado e que teria SUPOSTAMENTE ocorrido em 1980, portanto há 29 anos. Lula realmente esteve preso, e nesse período sua mãe morreu, permitiram que ele fosse ao enterro. Era o mínimo que poderiam conceder.

PS2- A Folha nunca se mostrou o melhor exemplo da LIBERDADE DE IMPRENSA. Mas agora, vergonhosa e traumaticamente, o jornal mostra que é capaz de ser sempre e cada vez mais, saudosista da ditadura. E pode ser o jornal-arauto do regime que já identificam em alguns “paísecos” da América Central, (e não apenas aí) como DEMOCRACIA AUTORITÁRIA.

http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=5001

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domingo, 29 de novembro de 2009

Consolo a um Velho

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CONSOLO A UM VELHO

Raul Longo

Fiquei com muita pena do velho desse PPS anexo.

Fico pensando se realmente existirá o autor infelizmente desconhecido ou que não quis assumir a autoria de seu lamento. De toda forma, peço que repassem essa tentativa de consolar o pobre velho.

Meu Velho:

Entendo que você se revolte com os Sem -Terra por invadirem fazendas e estradas. Entendo que você se revolte com imagens como aquela do trator derrubando pés de laranjas da Cutrale.

Só não entendo porque você não se revolta com a Cutrale. A Cutrale invadiu terras da União para plantar aquele laranjal. Ninguém lhe informou isso?

Foi informado, sim, mas, como sempre, essas informações são muito escondidas, sem nenhum destaque, sem aquela repetitiva utilização da imagem do trator derrubando os pés de laranjas que jamais alimentariam qualquer brasileiro, pois a produção da Cutrale é toda exportada.

Portanto, posso entender sua revolta, meu Velho, mas você foi enganado pela mídia que nunca defende o direito dos leitores, dos que a assistem, e sim os de seus anunciantes. Por mais velho que seja, você certamente ainda é capaz de deduzir que as negociatas, os anúncios, as manipulações de informações e influências, interessam muito mais aos donos das TVs, rádios, revistas e jornais, do que o minguado preço de capa da publicação que você compra. Saiba, meu Velho, que a rádio que você ouve e a TV que você vê , achando que é de graça, não é não. Você paga um alto custo sendo enganado e ainda é usado para enganar outros.

Se você também for capaz de se revoltar com os ricos que invadem terras que não lhes pertencem, e não apenas contra brasileiros pobres, em sua sabedoria de velho acabará concluindo que aquele Sem-Terra que avança com o trator sobre a usurpação da Cutrale, é um desses filhos que não fogem à luta, pois estava defendendo o que é nosso.

É um desses heróicos brasileiros que, ao invés de ficar lamentando, estão fazendo o Brasil progredir como nunca em toda a história.

Durante quantos anos de sua vida, meu caro Velho, você se preocupou com a certeza de que seus netos já nasceriam herdando a segunda maior dívida externa do mundo? Quanto tempo você viveu na incerteza do amanhã? Com medo de que o preço da gasolina, a desvalorização da moeda, ou a crise em algum país do outro lado do planeta, aumentassem a inflação crônica, o desemprego sempre em alta? Só o que diminuía era a viabilidade de seus sonhos, está lembrado?
Como você não se lembra, querido Velho? Isso tudo foi há apenas 7 anos, quando seu salário ficou congelado por 8 anos, o país ficou parado e para comprar qualquer coisa era um sacrifício, está lembrado? Pois hoje o Brasil é um dos países onde mais se produz, porque é um dos maiores mercados de consumo entre todas as nações.

Velho, meu Velho. Desperte! Não é hora de se prostrar só porque você ficou velho! Pense nos moços que hoje podem sonhar e desejar e realizar. Perceba que a Ford, por exemplo, que tem fechado fábricas em todo o mundo, em razão da crise internacional, está iniciando seu maior investimento internacional aqui em nosso país, exatamente porque hoje somos o mercado mais ativo que há. Justo agora que, enfim, começamos a fazer desse país o berço esplêndido que sempre sonhamos, você resolve reviver velhos pesadelos do passado!

Além de que, você não está tão velho assim quanto diz. Mesmo não o conhecendo, posso perceber isso quando argumenta que nesse país negros e índios têm iguais oportunidades e a política de cotas estudantis é que é racista.

Uma qualidade comum a todos os velhos é a sinceridade, a franqueza. Acusam os velhos de ranzinzas, mas é que o verdadeiro velho não tem porque disfarçar seus sentimentos e suas próprias opiniões, não tem porque fazer de conta. Por isso não caem no ridículo das hipocrisias que buscam esconder o evidente só para parecer politicamente correto, pregando uma democracia racial que nesse país jamais existiu.

Você me faz lembrar de um amigo, realmente velho, quando a ele dirigiram algum comentário demagógico sobre 3ª idade: " Terceira idade o cacete! Eu sou é velho mesmo!"

Era cafuzo e não escondia essa realidade, tampouco seu racismo: "Lugar de índio é no mato e de negro no eito!", dizia reclamando da política de cotas de ensino, lamentando por seu neto um dia ter de dividir o mesmo professor com um negro ou índio.

Para alguém jovem e de um país racista como o nosso, difícil assumir essa franqueza. Nos Estados Unidos, por exemplo, John Kennedy teve de começar impondo, por lei, a aceitação do ingresso de negros nas universidades. Hoje, têm um presidente negro.

Quando foi lançado o programa de cotas, o Ministro da Educação explicou que se trata de um programa para corrigir erros históricos e que a medida que negros, índios e pobres forem se formando para instruir a outros de suas comunidades, onde brancos nunca querem ir, esse programa findará por, então, se tornar desnecessário. Mas isso de programa de educação é coisa de resultados de longo prazo, embora as primeiras turmas, formadas no final do ano passado, tenham apresentado excelente aproveitamento com mais de 60% de formandos com distinção, entre os inscritos no ProUni.

Claro que ao longo da história deste 2º país do mundo em população negra (só superado pela Nigéria), alguns negros se sobressaíram mesmo sem a ajuda de programas de acesso às oportunidades negadas por preconceitos étnicos ou sociais, mas cite um que não seja o Pelé (que não precisou estudar para se tornar um cidadão realizado). Consegue lembrar? Vou te ajudar: 3 dos mais importantes escritores do país, renomados na Europa ainda enquanto viveram, foram negros: Machado de Assis, que morreu pobre e cheio de dívidas. Lima Barreto, que faleceu com 41 anos de idade e marginalizado. E Cruz e Souza que teve seu corpo transportado em um vagão de transporte de cavalos, dentro de um caixão improvisado com tábuas de cerca e andaimes, sendo enterrado como indigente.

Evidente que existiram outros negros, e mesmo índios ou de quaisquer outras etnias que, nascidos pobres, conseguiram superar as enormes dificuldades dos preconceitos sociais, destacando-se por seus próprios méritos. Atualmente, em todo o mundo, pela imprensa e nas mais destacadas instituições internacionais, uma das personalidades mais admiradas é a de um brasileiro retirante em pau-de-arara e que foi operário, mas daí a dizer que, porque esse homem conseguiu superar o enorme preconceito de que foi e continua sendo vítima, todos os operários brasileiros tem idêntica condição de trocar o macacão de fábrica por outras funções nas quais demonstrem talento, é conversa mole pra enganar os muito jovens. Para ser mais exato: as criancinhas.

Não dá para negar realidade tão gritante que se comprova inclusive no fato de que, apesar deste nordestino operário ter construído 12 universidades públicas em 7 anos de governo, enquanto nenhuma foi construída ao longo de muitas décadas de seus antecessores, ainda o julgam por não ter tido oportunidade de cursar universidade. Não cursou, mas está oferecendo oportunidades para quem nunca pode sequer sonhar com uma universidade. E por certo você ainda é jovem o bastante para, quem sabe, um dia poder reclamar de um índio ou negro na presidência do Brasil: " Tá vendo?! Bem que falei que esse negócio de botar essa gente na escola, ia acabar dando nisso!"

Portanto, meu Velho, deixe-se de tanta choradeira e lamento. Há ainda muito a ser feito, e o Brasil espera sua participação. Temos ainda muitos problemas sérios! Seriíssimos! Herdados de tantos governos que somente privilegiaram os interesses estrangeiros e uma elite vagabunda, viciada em ganhar dinheiro fácil à custa dos que mais se esforçam por este país. Aqueles que realmente amam esse Brasil e não o demonstram com pieguismos e patriotadas, mas trabalhando diariamente para alimentar e construir o respeito internacional que finalmente usufruímos.

Os maus políticos que nos governaram durante tantos anos entoando falsos juramentos de bem querer à pátria, em verdade nos entregaram aos especuladores internacionais, nos envergonhando perante todo o mundo que nos apontava com uma das mais injustas e desumanas concentração de renda. E assim chegamos a esse descalabro e violência que tão justamente o indigna. Mas evidente, meu caro Velho, que em lugar nenhum do mundo se poderia resolver a miséria social produzida ao longo de séculos, em apenas uma década.

No entanto, Velho, estamos andando. Sem dúvida estamos andando e não mais parados, apenas vendo crescer os ajuntamentos, as favelas, os moquiços e mocambos, os cortiços e a marginalização da grande maioria da população. Tanto estamos andando que não só nossos programas são admirados pela eficiência e bons resultados em distribuição de renda, como são copiados pelas maiores economias mundiais. A dos Estados Unidos é um exemplo.

Quem diria, hein, Velho?! Você que a cada visita dos agentes do FMI já sabia que teria de enfrentar as cruezas de mais uma recessão que aumentaria a miséria social brasileira e, consequentemente, a fome e a violência nas grandes cidades, agora é o cidadão de um dos países com direito a veto nas ações do FMI!

Tem idéia do que isso significa, meu bom Velho? Hoje, não apenas nos livramos das imposições do FMI que até 7 anos atrás tanto nos premia e nos empurrava à bancarrota, como podemos impedir que o mesmo FMI faça com outras nações o que fez conosco, ou o que fez com a Argentina, falindo aquele país, outrora o mais rico do continente.

Pois é, Velho! Não é mais o FMI que vem aqui dizer o que temos de fazer. Agora nós é que vamos lá dizer ao FMI como as coisas têm de ser feitas, para que o Fundo seja de investimento no desenvolvimento humano das nações, e não um Fundo de financiamento de especuladores inaptos, corruptos e prepotentes com o próprio povo, enquanto subservientes ao capital multinacional. Agora podemos dizer ao FMI que o investimento tem de ser nas pessoas, tem de reverter a todos os cidadãos de todas as classes sociais e não apenas para alguns privilegiados. Pois a verdade, Velho, é que ninguém se privilegia numa sociedade que alguns têm mais direito que outros. Nem mesmo aqueles incapazes de reconhecer os direitos de seus semelhantes.

Engana-se esse que se acredita privilegiado, porque um dia será vítima do fruto de seu próprio egoísmo atrás de uma arma, atrás da droga com que o traficante seduz seu filho, atrás do estupro de sua filha, do sequestro de um seu familiar ou de si mesmo.

Você tem razão, Velho! Não merecemos mais ouvir essas notícias. Temos de mudar essa realidade e, para isso, ainda temos muito a fazer, muito a participar. E não importa a idade, todos podemos ajudar, inclusive nós, os velhos. Poderemos ajudar muito se não ficarmos perdendo tempo com lamentações.

Agora, permita-me que o corrija, meu Velho, quando diz que o comunismo deixou de existir. Isso não é verdade. O verdadeiro comunismo, aquele em que acredita o gênio e a sabedoria de Oscar Niemeyer, sempre existirá. Principalmente depois dessa profunda crise internacional provocada pelo neoliberalismo. Mesmo os mais destacados economistas do capitalismo estão recorrendo e citando os ensinamentos de Karl Marx. Ensinamentos, caro Velho, que foram esquecidos por Stálin e seus seguidores de governos que se disseram comunistas, mas em verdade agiram como fascistas impondo um controle estatal totalitário.

Ainda hoje esses pretensos comunistas, incapazes de se adequar a evolução das sociedades, não entenderam a real proposta socialista, apegando-se a conceitos necessários e atinentes à época de Marx. Mas perdem o principal do velho mestre: seu método de análise e percepção das sociedades humanas, para, através das sociedades, estruturar soluções aos problemas econômicos.

Não se estrutura uma economia forte, meu Velho, apenas para um setor de investimento. Ou os investidores são capazes de enxergar que o retorno ao investido deve vir de todos os segmentos sociais e, consequentemente, retornar a todos os segmentos sociais, ou irão falir, como faliram, com a crise econômica que o mundo ainda está atravessando. E o maior exemplo internacional dessa realidade, mais uma vez, é este país que você inadequadamente lamenta.

Que é isso, meu Velho? O mundo inteiro apontado o Brasil como o que melhor reagiu e superou a crise, e você lamentando o quê? Veja que nos demos melhor até do que aqueles países há décadas considerados os mais bem-sucedidos em situação socioeconômica, como os estados socialistas de economia capitalista da Suécia, Dinamarca e Noruega.

Por aí você vê, querido Velho, que não é a toa que Niemeyer foi incluído entre as 100 mais destacadas manifestações da inteligência humana do século XX. E também não é à toa que nosso presidente foi distinguido com os mais importantes prêmios concedidos a chefes de governo em Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, além de outras significativas distinções internacionais entregues pela UNESCO na França e outra na ONU. É verdade que não nos transformou num estado socialista, mas seguindo os modelos das mais respeitáveis nações do mundo pela socialização de suas riquezas produzidas por uma economia capitalista, o Presidente do Brasil não só impediu que a crise se transformasse no tsunami que continua castigando grandes economias internacionais, como está nos tornando uma respeitável economia mundial e, ainda mais, resgatando dezenas de milhões de brasileiros da miséria e da pobreza.

Então, meu Velho, temos de lamentar é os Estados Unidos onde ainda esta semana se bateu recorde mundial de desabrigados, albergados, sem-teto. Temos de lamentar é o capitalismo neoliberal que provocou essa crise que está vitimando tanta gente. Mas também temos de continuar festejando a derrota dos falsos comunistas, aqueles que justificaram totalitarismos empregando o nome de um ideal que ainda está para ser implantado em sua forma real e correta, como o sonha Oscar Niemeyer, que sabe que o verdadeiro comunismo não será imposto, mas construído pela sociedade humana, tal qual ensinava o mestre Marx ao se referir ao socialismo, que não tem absolutamente nada a ver com esses que o culpam por não ser pobre.

Muito pelo contrário! Verdadeiros socialistas são aqueles que combatem a pobreza como os estados socialistas da Escandinávia, ou esse nosso estado brasileiro que aos poucos vai transformando o país em verdadeira mãe gentil e não mais aquela que era amável com uns poucos, mas uma megera com a maioria.

No entanto, caro Velho, se, justo quando este país vai se tornando, enfim, o daquele futuro anunciado por Stefan Zweig, hoje comemorado pelas páginas e telas de toda a imprensa internacional, você se diz incapaz de acreditar em alguma coisa e considera sua própria emoção um erro, desculpe a franqueza deste outro velho, mas fraco e cansado não é seu corpo, não são suas condições físicas e nem mesmo as psicológicas. Fraca é sua alma.

Esforce-se, Velho! Reaja! Veja aí essa menina de Joinville da redação que você mesmo admirou! Já havia ouvido falar dessa redação, pois vivo próximo, aqui mesmo neste estado de Santa Catarina e, por isso, posso bem entender a dor dessa jovem que a mim também dói muito profundo porque temos um governador calhorda que realmente está destruindo nossas matas.

Esse péssimo político já recebeu o Prêmio Motosserra de Ouro e responde a processos de corrupção e crime ambiental levantados pela Operação Moeda Verde da Polícia Federal. Através de sua gang na Assembleia deste estado, arbitrou criminosamente, afrontando a Constituição Brasileira ao criar uma lei ambiental exclusiva, para permitir que os latifundiários deste estado devastem as áreas hídricas de Santa Catarina. E isso logo após o enorme desastre ocorrido às margens do maior rio do estado, no final do ano passado.

Pois esse governador indigno que apóia o ex-presidente que quebrou o país 3 vezes e elevou a carga tributária e os juros à exorbitância de 40% a.a. (juros que continuam altos, mas já desceram aos mais baixos níveis da história) não só afronta a Constituição como a própria pátria ao usar a P.M. do estado para atacar agentes federais no cumprimento de ordens de assentamento em terras desapropriadas por devastação florestal não autorizada.

Portanto, meu caro Velho, veja que contradição: acusar os sem-terra apoiando aqueles que roubam o verde da flâmula do belo texto da estudante.

Evidente e muito justa a indignação dessa moça, pois ela vive muito próximo das cidades onde tantas pessoas morreram e perderam tudo o que tinham, em conseqüência da irresponsabilidade desse governador e os prefeitos de partidos a ele aliados, como o de Blumenau, do DEM. Uma corja que por qualquer propina permite desmatamentos, construções em encostas, em áreas de risco. Empreendimentos sobre áreas de preservação permanente, costeiras, dunas, praias, lagoas e mangues.

Portanto, meu bom Velho, ao invés de ficar aí chorando, levante seus braços fortes! Essa menina não é a última patriota, não! Tão pouco é minoria. O presidente dos Estados Unidos e o Primeiro-Ministro da Austrália podem ter dito que nosso Presidente é o mais popular do mundo, mas aqui ele também é muito querido. As pesquisas de todos os institutos nacionais indicam 80% de aprovação ao seu governo pela população brasileira.

80%, caro Velho, é mais do que a maioria! E você vai ficar aí sozinho, só lamentando sua velhice sem fazer nada? Há muito a ser feito pelo Brasil e, finalmente, fazer alguma coisa em benefício do país agora dá resultado.

Você, com sua experiência, poderia alertar aqueles que são muito jovens para lembrar as tão tristes e vergonhosas experiências que vivemos entre 1964 e 2002, ajudando a evitar que esse país volte a ser o que foi, destruindo o sonho da garota de que algum dia possamos resgatar o que nos roubaram ao longo de tantos governos.

Ânimo e coragem, meu Velho! Aprenda com um velho índio norte-americano que dizia que o homem que tem medo de morrer morre muitas vezes antes de morrer de verdade. A vez, agora, é dos que não fogem à luta!

Vamos!

Raul Longo
www.sambaqui.com.br/pousodapoesia
Ponta do Sambaqui, 2886
Floripa/SC
Tel: (48) 3206-0047

Raul Longo, jornalista, escritor e pousadeiro, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

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domingo, 22 de novembro de 2009

Pinguim: branco de fraque ou negro de jardineira?!

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Vejam o texto assinalado em amarelo. Gilmar Mendes, presidente do STF e, por isso, guardião de seu regimento Interno, desacata o próprio regimento que deveria defender. Mas acho que, embora chocante e ilógica, Gilmar apenas fez o que poderíamos esperar dele, não surpreende a ninguém.....

Raul
[Vinhas Ribeiro]

Matéria da Editoria:
Política

20/11/2009

Decisão do STF foi chocante e ilógica, diz Celso Bandeira de Mello

O voto do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, desempatando a votação no caso Battisti a favor da extradição e defendendo que o presidente da República deveria se curvar a ela abriu uma polêmica no meio jurídico. Em entrevista à Carta Maior, o professor Celso Antônio Bandeira de Mello classifica a postura do presidente do STF, Gilmar Mendes, de chocante e ilógica. "O princípio que está por trás do habeas corpus e da extradição, ou no caso da prisão perpétua, é o mesmo: favorecer a liberdade quando o tribunal está dividido. Neste sentido, a decisão do STF é chocante e fere a lógica mais comezinha", diz o jurista.

Marco Aurélio Weissheimer

O voto do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, desempatando a votação no caso Battisti a favor da extradição e defendendo que o presidente da República deveria se curvar a ela abriu uma polêmica no meio jurídico. Na avaliação de Pedro Estevam Serrano, professor de Direitos Constitucional da PUC-SP, caso o STF tivesse decidido pela não extradição de Cesare Battisti, essa decisão sim seria vinculativa, uma vez que, neste caso, não estariam cumpridos os requisitos legais para o ato. “Ao decidir pela extradição, além da decisão judicial, coloca-se a necessidade de uma decisão política sobre o assunto por parte do chefe do Executivo. Se a proposta de obrigar o presidente da República a cumprir a decisão do STF fosse aprovada (acabou derrotada por 5 votos a 4), o Judiciário estaria ingressando indevidamente na esfera do poder Executivo”.

Serrano respeita a decisão da maioria do Supremo que optou pela extradição, mas diverge dela. “A definição do que vem a ser um crime político tem uma dimensão de discricionariedade, que cabe ao ministro da Justiça decidir. Há um espaço intangível aí. Neste sentido concordo com o parecer do professor Celso Antonio Bandeira de Mello, para quem o Judiciário foi além de seu papel, ingressando na esfera própria da discricionariedade”. Celso Bandeira de Mello divulgou um parecer sobre o caso Battisti após seu nome ter sido citado pelo relator do caso, o ministro Cezar Peluso. Em seu voto, Peluso citou o trecho de um livro do jurista na tentativa de fundamentar a tese de que o ato de concessão de refúgio pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, poderia ser modificado pelo STF. Neste parecer, ele defende o contrário do que disse Peluso, ou seja que o ato de concessão de refúgio não poderia ser avaliado pelo Supremo.

Em entrevista à Carta Maior, o professor Celso Antonio Bandeira de Mello avalia a decisão do STF e defende a correção da decisão do ministro da Justiça, Tarso Genro, que concedeu refúgio a Cesare Battisti. O jurista classificou como “chocante e ilógico” o voto proferido pelo presidente do Supremo, Gilmar Mendes.

Carta Maior: Qual a sua avaliação sobre a decisão final do Supremo Tribunal Federal no caso Battisti?

Celso Antônio Bandeira de Mello: Considero que a solução foi surpreendente, do ponto de vista técnico-jurídico. E creio que isso é perceptível mesmo para quem não tenha conhecimentos jurídicos. O regimento interno do STF estabelece que, em caso de empate, em uma questão que envolve privação de liberdade, o presidente não se declara. Há um princípio em favor da liberdade que considera que, houve uma tal divisão de votos, que o presidente não deve votar.

O habeas corpus é um instrumento protetor da liberdade, do direito de ir e vir. Se consideramos que a liberdade deve prevalecer quando o tribunal está dividido, o que dizer quando a ameaça à liberdade é muito maior? No direito brasileiro, nenhuma pena pode ultrapassar 30 anos. Já a Itália tem a prisão perpétua, que é a privação de liberdade mais radical. Se em casos menos radicais do que esse, a nossa norma jurídica é em favor da liberdade, como fazer no caso da prisão perpétua? O princípio que está por trás do habeas corpus e da extradição, ou no caso da prisão perpétua, é o mesmo: favorecer a liberdade quando o tribunal está dividido. Neste sentido, a decisão do STF é chocante e fere a lógica mais comezinha. É chocante e ilógica, ofendendo um princípio jurídico elementar.

Carta Maior: E sobre a decisão quanto à natureza da decisão do presidente da República sobre o caso, frente à decisão do STF, qual sua opinião?

Celso Antônio Bandeira de Mello: Não vou me pronunciar sobre essa questão, pois não a estudei nem nunca me manifestei sobre ela, apesar de alguns jornais terem me atribuído, de forma leviana, uma posição a respeito. Chegaram a dizer eu fui contratado para falar a respeito. Não fui contratado e não recebi nenhum centavo para elaborar o parecer que fiz. Fiz em apreço à liberdade. Respeito o ponto de vista contrário, afinal o direito não é nenhuma matemática. E é exatamente isso que justifica a existência do princípio da discricionariedade, que contempla o fato de que, dentro das regras do direito, alguns possam pensar de uma forma ou de outra.

Foi por isso que, em meu parecer, manifestei a posição de que não cabia ao STF rever o ato do ministro da Justiça. A intelecção do ministro no caso foi bastante razoável.

Trinta anos depois, juízes e autoridades italianas ainda manifestam muito ódio em torno do caso. Ofenderam o ministro da Justiça brasileiro (“ele disse umas cretinices”) e o presidente chamando-o de “cato-comunista”. Isso é de uma grosseria impensável. Falaram em boicotar produtos brasileiros e o turismo no Brasil, caso a decisão no caso Battisti fosse contrária aos seus interesses. Isso é inaceitável. Disseram ainda que o Brasil é um “país de bailarinas”, uma descortesia monumental, grosseria inominável. Afirmações melodramáticas e ridículas que só depõem contra seus autores e a favor da decisão do ministro da Justiça brasileiro. Se, trinta anos depois, esse é o clima, imagine o que era quando Battisti foi julgado e que risco ele corre hoje se for extraditado. Por isso, a decisão do ministro da Justiça foi correta quanto ao refúgio.

Cabe agora ao presidente da República decidir. Se eu estivesse na pele dele, depois de tanta pressão e insultos por parte de autoridades italianas, eu não cederia. Ninguém disse aqui, por exemplo, que o parlamento italiano é mais conhecido pela Cicciolina. Ninguém disse também que o sr. Berlusconi é mais conhecido por seu apreço por jovenzinhas do que por sua intuição política. Nenhum parlamentar ou autoridade brasileira disse isso. Se dissesse, estaria tomado por uma fúria total. Seria uma grande grosseria. O que dizer, então, de um prisioneiro que é objeto de tamanha sanha?


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“Ser cidadão não é viver em sociedade, e sim transformá-la” (Augusto Boal).

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Texto enviado a esta nossa Agência Assaz Atroz por Sidartha Sória, sociólogo.

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PressAA

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sábado, 21 de novembro de 2009

Suplicy lança eficiente tática contrarrevolucionária, atualizada pelo Novo Acordo Ortográfico

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LANÇAMENTO DO LIVRO DA MERCENÁRIA - A BURGUESIA REUNIDA E A PRESENÇA PATÉTICA DO SENADOR SUPLICY

Publicamos aqui o Relato dos Solidários paulistas, que estiveram presentes ao lançamento do livro da mercenária Yoani Sánchez, em São Paulo.

MOVIMENTO PAULISTA DE SOLIDARIEDADE A CUBA
contato@solidariedadeacuba.org.br

No dia 06 de novembro, o Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba compareceu ao lançamento do livro de Yoani Sanchéz, em São Paulo, na Livraria Cultura que fica no Conjunto Nacional, na Av Paulista. A expectativa do movimento era obter mais informações sobre a autora e sua obra, bem como garantir o debate de idéias.

Abaixo um relato que tenta expressar o que foi o evento.

A MESA

Havia uma mesa de trabalhos, composta pelo jornalista Eugênio Bucci e pelo senador Eduardo Suplicy, mediada pelo editor da Contexto, o historiador e professor da USP, o senhor Jaime Pinsky.

O PÚBLICO

O público presente parecia bastante homogêneo, característico dos freqüentadores do espaço mercadológico-cultural da avenida Paulista. O evento começou com cerca de 30 pessoas e, em seu momento "alto" por assim dizer, contava com cerca de 70 pessoas, incluindo, aproximadamente, 15 pessoas ligadas a solidariedade a Cuba em São Paulo.

A aparência geral era de um público majoritariamente de pessoas com média entre 35 e 50 anos, com meia dúzia de jovens e nenhuma pessoa negra. Evidentemente tratava-se da pseudo-intelectualizada classe média paulistana, confortavelmente ambientada em um de seus redutos culturais.

ABERTURA E A POSIÇÃO DA CONTEXTO

O evento começou com um vídeo focado na pessoa de Yoani, com claros traços de um marketing que produz a imagem de uma personagem digna, autônoma e de mártir, que estaria subjugada ao regime “ditatorial” de Cuba. O vídeo simplesmente reforça a imagem construída pela mídia burguesa sobre a blogueira, absolutamente desprovido de crítica.

Após o vídeo, veio a fala introdutória Jaime Pinski, editor da Contexto.

A fala de Pisky foi marcada pela superficialidade de conteúdo e pelo tom jocoso de sua expressão. Fez uma apresentação bastante coerente com a tônica do livro, que buscou transparecer um pretenso distanciamento do discurso político, se apoiando no descaracterizado conceito de “cotidiano” da vida em Cuba.

Não obstante a pretendida sublimação da política, não faltaram as referências insinuadas ao ambiente de “repressão” e de “ditadura” reinantes na Ilha. Em vários momentos a fala de Pinski acercou-se do ridículo, principalmente quando tentou pintar a imagem de uma Yoani casta e pura, que se apresentou como uma moça “de família” temente aos males que feririam a honra ao ter que se hospedar em “hotéis” no Brasil, caso viesse ao lançamento do livro.

Tentando disfarçar o posicionamento nitidamente reacionário, o “intelectual” fez coro à centena de premiações da autora, elevando o panfleto jornalístico da blogueira (fluido, envolvente e bem formatado, diga-se) ao status de “história do cotidiano”, o que nos parece um abuso destituído do rigor que se esperaria de um historiador.

O tom cínico e arrogante de Pisky chegou a ser irritante. Pelo posto acadêmico que ocupa, esperaríamos uma postura mais crítica e um discurso mais substancial, que tentasse, ao menos, inserir o suposto “cotidiano” de Cuba em seu rico e complexo contexto histórico. Mais uma vez se tenta "reescrever" a história cubana, sob a ótica burguesa, é claro.

FALA DO SENADOR EDUARDO SUPLICY

O discurso do senador Suplicy não ficou muito atrás, pecando pela falta de consistência, pela incapacidade de crítica e pelo tom rasteiro e jocoso (ainda que sem graça) de sua linguagem.

Entretanto, bastante coerente com a postura patética que tem marcado suas últimas aparições na mídia.

Em lugar do olhar crítico sobre as enormes dificuldades que enfrenta a revolução cubana, ao contrário, Suplicy expõe e ridiculariza Cuba, suas representações diplomáticas e o próprio partido dos trabalhadores, chegando ao desplante da falta de ética. Suplicy cumpriu papel muito melhor do que qualquer representante conservador e reacionário faria.

O senador dedicou praticamente todo o tempo da sua fala relatando detalhes de sua tentativa de trazer Yoani para o Brasil, sem sequer se preocupar em esclarecer sobre os normais trâmites burocráticos adotados por Cuba, em qualquer circunstância. O senador sequer se questionou se, realmente, a senhora Yoani teria interesse em se ausentar de Cuba, ou teria optado por mais uma peça do seu marketing pessoal. Aspectos da diplomacia e de política internacional estão ao alcance do discernimento do senador Suplicy. Talvez ele esteja mais capacitado para explicar a posição do Estado estadunidense que proíbe os cidadãos norteamericanos de pisarem em solo cubano (a menos que seja através das conhecidas botas manchadas de sangue nos costumeiros casos de invasão militar imperialista).

Com uma fala "sonsa", como que despretensiosa, cita encontro com o secretário geral do Ministério de Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, quem teria sugerido que ele, Suplicy, não fizesse o convite para a vinda de Yoani ao Brasil para não prejudicar as relações entre os dois países. Referiu-se também a conversa que manteve com o secretário de relações internacionais do PT, Valter Pomar, que o teria orientado a evitar o convite, pois isso poderia gerar problemas para o partido e para ele próprio. Acrescentou sobre conversa com Frei Betto e Eugênio Bucci e, ainda assim, julgou que tinha o "dever" de fazer o pronunciamento no senado e levar o convite para a Embaixada.

Chegou ao nível de afirmar que, para a homenagem aos 50 anos da revolução cubana, a ser realizada no dia 1º de dezembro, sugerirá a vinda de Yoani, em clara postura leviana de desrespeito diplomático, para se dizer o mínimo.

O senador tenta legitimar a sua fala dizendo que já esteve com Fidel, que já foi diversas vezes a Cuba, que já viu "coisas interessantes" mas que sempre se "preocupou com esta questão de liberdade para todos, liberdade de imprensa, de organização, de expressão” etc.

Em um momento Suplicy fez uma concessão a Cuba dizendo que lá há "coisas positivas" citando os estudantes brasileiros que fazem medicina na Ilha, mas ainda assim, neste contexto, ele respalda a posição tosca do Demétrio Magnoli que afirma serem bons os índices sociais cubanos desde antes da revolução cubana, durante a ditadura de Fulgêncio Batista, e que considera "muito significativo" o que Yoani escreve sobre o cotidiano da ilha. Em nenhum momento o senador pondera, ou pelo menos contextualiza Cuba dentro dos relatos da blogueira, ora limitados, ora mentirosos. Sequer o senador se preocupa em saber quem está sustentando a enorme campanha internacional midiática de Yoani.

Segundo Suplicy, o presidente estadual do PT, Edinho Silva, teria sugerido a ele uma visita ao Cônsul de Cuba, pois este estaria “bravíssimo” com o senador (o que provocou risos jocosos no público). Suplicy disse que tentou ligar insistentemente no consulado, mas que é "tão difícil ligar lá" (o que fez Pinsky se divertir, cheio de ironia). Disse, ainda, que hoje [dia 06] resolveu ir até o Consulado em SP, mas que o Cônsul estava muito ocupado recebendo uma representante do Partido Comunista Cubano e não pode atendê-lo, o que levou Pinsky a se deliciar em ironia, com a complacência do “seleto” e inteligente público. Ali o senador Suplicy parecia entre os seus pares revelando a sua mais legítima herança dos Matarazzo que é.

NOSSA SAÍDA DO EVENTO

Finda a fala do senador, o próximo debatedor, Eugênio Bucci, começa a sua exposição agradecendo ao Suplicy por sua “coragem e bom coração". Neste momento Suplicy, lisonjeado pela fala de seus "pares" no palco daquela tragicômica comédia bufa, em um contexto de "rasgação de seda", resolve fazer uma piada sobre seu "bom coração" e uma situação com a apresentadora de programa de TV, Sabrina Sato, o que tornou aquele ambiente, definitivamente, insustentável, com a ridicularização completa do tema. Foi então que um dos companheiros que estava conosco levantou-se no meio do público e bradou algo parecido com "Sr. Senador, o senhor vir até aqui pra cumprir este papel ridículo, é demais. Vamos nos retirar dessa palhaçada". Sem alternativa, tendo em vista que a dinâmica do evento não previa debates, decidimos nos retirar, devido ao seu baixíssimo nível intelectual. Talvez, bem condizente com a publicação lançada.

Seguimos na luta. VENCEREMOS!

http://convencao2009.blogspot.com/2009/11/lancamento-do-livro-da-mercenaria.html

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PressAA

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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A cabeça de Batistti

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FUNDADO TEMOR

(E CERTEZA)

DE PERSEGUIÇÃO

Carlos Alberto Lungarzo

Anistia Internacional (USA)

MI 2152711

A Lei 9474 de 1997, conhecida como Lei de Refugiados, estabelece no Artigo 1º quais são as pessoas qualificáveis para obter refúgio no Brasil. No primeiro item se menciona a os que, devido a fundados temores de perseguição, não queiram ou não possam voltar ao seu país.

Se os fundadores temores de perseguição dão um forte motivo para garantir o refúgio, com maior razão, esses temores devem proibir a extradição. Com efeito, se não damos refúgio a uma pessoa perseguida, estamos sendo omissos face ao risco de outro ser humano. Agora, extraditar significa enviar diretamente ao perigo. Muitas vezes, não podemos proteger alguém, mas muito mais grave é ajudar a que alguém seja prejudicado.

Veja a íntegra desta lei em:

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9474.htm

Algumas pessoas podem achar que a Lei de Refugiados não merece ser cumprida, já que, de fato, foi “pisada” pelo relator do Caso Battisti, e por os que acompanharam seu voto. Então, vejamos o que diz o Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a República Italiana (Roma, 17/10/1989; Brasília, 14/07/1993; DOU, 12/07/1993). Não pode duvidar-se do valor deste tratado, já que foi assinado também por Itália.

No Artigo 3, inciso (f), afirma-se que a extradição não será concedida, se a parte requerida tiver razões ponderáveis para supor que a pessoa reclamada será submetida a atos de perseguição e discriminação.

Ainda, no Artigo 5 (b) afirma-se que a extradição tampouco será concedida houver fundado motivo para supor que a pessoa reclamada será submetida a pena ou tratamento que de qualquer forma configure uma violação dos seus direitos fundamentais.

Veja a íntegra do tratado em:

www.mj.gov.br/data/Pages/MJB53EDE30ITEMID09581BA8F888491EB6B01761356533E8PTBRIE.htm
==> Cooperação Internacional > Acordos Internacionais > Extradição > alinha 12

No caso de Cesare Battisti, existe um temor fundado de perseguição, porém tem algo mais: a certeza da perseguição. Vou mencionar várias informações que mostram que, se Cesare Battisti pisar território italiano, sua vida e sua integridade física e psíquica estarão condenadas.

Prisão Perpétua

Em março de 2009, vários italianos condenados a prisão perpétua enviaram uma carta aberta ao Presidente Lula, agradecendo pelo fato de que, ao recusar a extradição de Battisti, estava mostrando sua preocupação por uma pena que não é outra coisa que a morte lenta. Na mesma carta, relatam as novas aberrações introduzidas pelo governo italiano, entre as quais se encontra a prisão de jornalistas, e citaam a frase de Benjamin Constant: [a prisão perpétua é] “uma consagração da escravidão e uma degradação da condição humana”.

Veja esta carta neste site:

http://apesardevc19641985.blogspot.com/2009/09/carta-aberta-ao-presidente-lula-de.html?zx=fa3231451fe57055

É por isso que a Constituição Federal Brasileira (artigo 5º, XLVII) proíbe a prisão perpétua e, nos casos em que o STF se pronuncia favoravelmente à extradição passiva, o tribunal inclui uma cláusula vedando o cumprimento de prisão maior de 30 anos.

Em geral, este tipo de restrição se considera atendida quando o país requerente assina um compromisso formal de cumprir com ela. Normalmente, não há motivos para duvidar sobre o cumprimento desta promessa. Entretanto, a coisa é diferente no caso de Battisti. Vejamos:

No dia 7 de maio de 2007, o então Guardasigilli (Ministro de Justiça da Itália) Clemente Mastella teria feito uma revelação ao Alberto Torregiani, segundo o jornal La Repubblica, um dos mais sérios da península. Reproduzo literalmente o começo do §3:

Nella conversazione con Alberto Torregiani, il ministro avrebbe spiegato che quel riferimento al fatto che Battisti non rischierà il carcere a vita, era dettato dalla volontà di evitare eventuali problemi con l'autorità giudiziaria del Brasile, paese nel quale l'ergastolo non è previsto.

Na conversa com Alberto Torregiani, o ministro teria explicado que aquela referência ao fato de que Battisti não corre risco de passar a vida no cárcere, foi ditado pela vontade de evitar qualquer problema com a autoridade judiciário do Brasil, país no qual não está prevista a cadeia perpétua.

www.repubblica.it/2007/03/sezioni/cronaca/battisti-arresto/mastella/mastella.html

O antigo jornal conservador Corriere della Sera publicou, na mesma época, uma notícia que afirmava que Mastella tinha prometido ao Brasil que a pena de prisão perpétua não é real, e que o preso tem direito a descontos, liberdade antecipada, saídas periódicas e outras vantagens, o qual enfureceu aos parentes de Torregiani e Sabbadin.

http://archiviostorico.corriere.it/2007/maggio/07/Battisti_parenti_delle_vittime_contro_co_9_070507015.shtml

Condições Prisionais

O problema de se realmente Battisti seria realmente obrigado a cumprir prisão perpétua ou não pode parecer sem sentido, quando se pensa que as condições de vida nas prisões italianas conduzem muitas pessoas ao suicídio. A ONG de Direitos Humanos, Antígone, que se especializa na crítica ao sistema prisional italiano, publicou uma informação sobre os suicídios nas cadeias. Desde 2000 até começos desse ano, há uma média aproximada de 60 casos por ano. (Os valores variam um pouco segundo a fonte, entre 501 e 518 em nove anos.)

Veja o resumo do relatório de Associazione Antígone sobre as prisões italianas:

www.osservatorioantigone.it/upload/images/6914oltre%20il%20tollerabile%20stampa.pdf síntese VI rapporto.


O tratamento cruel e degradante nas prisões italianas também é frequente. Esse tratamento está inclusive legalizado pelo Ato Administrativo Prisional de 1975, cujo artigo 41-bis institui um regime, que é único em Ocidente (o sistema de isolamento das prisões americanas é considerado menos extremo). A pessoa colocada neste regime está totalmente isolada do resto de mundo e não tem direito a lazer, esporte, trabalho, cartas, telefonemas, etc., nem qualquer outro contato, salvo uma visita por mês de um parente direto, feita através de interfones. Estas visitas são autorizadas para evitar que os familiares dos detentos façam denúncias sobre desaparição e morte dos internos.

É falso o que habitualmente se diz de que o 41-bis foi criado para punir os mafiosos. (Mesmo se fosse assim, isto não o justificaria.) De fato, foi especialmente criado para presos políticos, sindicais e estudantes, e só se estendeu às sociedades criminosas em 1992, depois do assassinato de Falcone. Atualmente, é verdade que ele se aplica especialmente a mafiosos, porque os presos políticos sobreviventes têm diminuído. Veja a matéria escrita em inglês por especialistas em sistemas prisionais italianos.

www.senzacensura.org/public/rivista/sc02_0911en.htm

Nesta matéria também se informa que o sistema é aplicado com freqüência a imigrantes clandestinos. Sugiro a seguinte reflexão: se existe um tratamento assim contra pessoas que não têm antecedentes políticos nem criminais, que apenas entram em Itália para arrumar emprego, que pode esperar um ex-militante de esquerda? Especialmente, num caso como o de Battisti, que tem sido ameaçado por todos os meios de comunicação, pelos parentes das vítimas, por políticos e até por membros do governo.

Itália é, além disso, o único país de Europa, salvo eventualmente Grécia (não tenho os dados exatos sobre Grécia neste momento), onde a tortura não está prevista no código penal. Este fato encoraja, mais que em qualquer outro país da região, a aplicação de tormentos aos prisioneiros, já que se o detento não morrer ou ficar fortemente ferido, não há nenhuma figura jurídica para processar o torturador.

Além de Antígone, e outras organizações menos conhecidas de Direitos Humanos, também Anistia Internacional afirma em seu relatório de 2009, que até essa data a tortura não era considera crime na Itália. Veja o relatório de Anistia em português, inglês ou espanhol, em:

http://thereport.amnesty.org/pt-br/regions/europe-central-asia/italy



Ameaças Diversas

Os jornais italianos difundem, desde a época em que Battisti foi detido no Brasil, notícias dos familiares de pessoas que foram vítimas de atos terroristas (sejam de “esquerda” ou de direita). Para a associação destes familiares, AIVITER, todos os crimes são atribuídos à esquerda.

Veja o site desta associação, na parte referida a Battisti:

www.vittimeterrorismo.it/iniziative/battisti/battisti09.htm

Inclusive, a vezes se menciona a Battisti na Itália como se tivesse sido membro das Brigadas Vermelhas, uma organização onde ele nunca esteve. Em La Repubblica, muitos familiares de vítimas manifestam desconfiança sobre a colocação de Battisti na prisão. Alguns dizem: "Quell'uomo presto uscirà dal carcere" (Aquele homem fugirá da cárcere logo.) Isto faz pensar que algumas pessoas cogitam sobre a possibilidade de que ele seja morto.

www.repubblica.it/2007/03/sezioni/cronaca/battisti-arresto/mastella/mastella.html

Itália não pode executar oficialmente ninguém porque a pena de morte está proibida em toda a UE. Nos últimos tempos, porém, Federico Aldrovandi e Aldo Bianzino, dois homens detidos apenas com base em averiguação de antecedentes, morreram nas mãos da polícia, sem que houvesse nenhuma condenação. O caso de Aldrovandi não foi investigado, e o de Bianzino tem produzido perícias contraditórias. (Veja o texto já citado de Anistia Internacional).

Outra ameaça potencial é a representada pelos métodos parapoliciais e paramilitares que os governos italianos usam desde há muito tempo. Há menos de 4 anos, o Serviço de Inteligência do Exército, SISMI contratou o Dipartimento Studi Strategici Antiterrorismo, um grupo privado dirigido por um ex-policial e ativo militante fascista. O SISMI tinha oferecido E$ 2 milhões para capturar Battisti e outros dois refugiados italianos, um deles morando na Suíça e outro na Nicarágua. O operativo não foi realizado por razões desconhecidas. Não obstante, os diretores do grupo foram liberados.

www.privateforces.com/index.php?option=com_content&task=view&id=694

Este tipo de problema, que acontece com freqüência nos serviços secretos italianos, têm conduzido a muitas mudanças de nome e estrutura desses serviços. Aparentemente, os grupos parapoliciais privados que eles contratam também mudam de nome. Se Battisti fosse devolvido às prisões italianas, é claro que eles não precisariam seqüestrar-lo, mas este tipo de grupos também se especializa em assassinatos.

Há um fato suspeito na pressa e ansiedade com que o estado italiano e grande parte da opinião pública exigem a devolução de Battisti desde 2007. Se o que eles querem é justiça (na hipótese de que Battisti realmente fosse culpável) poderiam considerar suficiente que ele esteja preso no Brasil. De fato, em Brasil há alguns presos estrangeiros que seus países não reclamam porque consideram que a punição imposta aqui é suficiente. Entretanto, na Itália há grande “agitação” pelo retorno de Battisti. O sindicato de carcereiros quer que ele volte o mais rápido possível, o Ministro de Defesa diz que vai “falar” com Battisti, quanto “tiver ele aqui”.

A procura de justiça não se coaduna com todo esse açodamento.

Finalmente, quero referir-me de maneira genérica ao grande número de expressões injuriosas, ameaças e expressões violentas de políticos e magistrados italianos, mas também jornalistas e, sobretudo, familiares de vítimas de atentados. A forma aparentemente incontrolada em que estas expressões foram dirigidas contra os que deram refúgio a Battisti têm chamado muito a atenção. Tanto o Ministro da Justiça, Tarso Genro, como o advogado de Battisti, Luís Barroso, e o juiz Marco Aurélio de Mello, entre outros, têm observado com perplexidade o caráter ameaçador e totalmente inusitado desse comportamento. É um fato evidente que não há casos comparáveis dessa forma de conduta nas relações internacionais do mundo moderno.

Não é possível avaliar exatamente a probabilidade, mas há quase certeza absoluta de que Battisti não sobreviveria na Itália muito tempo, depois que a publicidade sobre sua extradição fosse esquecida.

A extradição de Battisti é uma condena quase certa à tortura e à morte. O Brasil não pode destruir para sempre sua fama de país hospitaleiro e generoso que possui desde a época do Império, e que o tem transformado no paradigma internacional de cordialidade. Já a anulação que fez o STF do refúgio dado pelo MJ é um fato gravíssimo, ilegal e exorbitante, que pode colocar em risco a vida dos mais de 4.000 refugiados que o país possui.

Sabemos que a proteção dada a Battisti atrairá sobre o Presidente Lula o veneno da mídia, das elites e da Itália. Mas, esse é um preço que deve pagar-se se desejamos preservar o que mais importa: a vida humana e o prestígio do povo brasileiro.

Artigo enviado pelo próprio autor a esta nossa Agência Assaz Atroz (livre publicação)

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PressAA

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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Gilmar Mendes, a imagem de um Wyatt Earp caboclo

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Exmo. Sr. Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

Na qualidade de filha de Olga Benário Prestes, extraditada pelo Governo Vargas para a Alemanha nazista, para ser sacrificada numa câmera de gás, sinto-me no dever de subscrever a carta escrita pelo Sr. Carlos Lungarzo da Anistia Internacional (em anexo), na certeza de que seu compromisso com a defesa dos direitos humanos não permitirá que seja cometido pelo Brasil o crime de entregar Cesare Battisti a um destino semelhante ao vivido por minha mãe e minha família.

Atenciosamente,

Anita Leocádia Prestes



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(Este artigo não tem relação direta com a carta em anexo a que a Sra. Anita Leocádia Prestes se refere na sua carta ao presidente Lula)


Battisti: A Escalação do Santo Ofício

Carlos Alberto Lungarzo

Anistia Internacional (USA)

MI 2152711

Todo mundo ouviu falar do Presidente do STF, mas poucos conhecem algo dos outros juízes que formam o grupo de novos sábios da Sacra Inquisição. Sabemos que não reconhecem a lei 9474/97, debocham do ministro Genro, tratam com empáfia o brilhante advogado Barroso, e entendem que o Presidente eleito por milhões de votos é um Office boy que deve levar recados do STF à Itália.

Mas, há detalhes sobre estes mestres que merecem ser lembrados, pelo menos hoje, quando suas tochas estarão ateando as ramas secas que um pequeno grupo de subservientes (mídia, políticos, celebridades, etc.) tem empilhado em torno da estaca onde Cesare Battisti foi amarrado. Em quanto isso, milhares de bocas sopram para apagar o fogo.

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Gilmar Ferreira Mendes - Foi nomeado para o STF, pelo presidente FHC, para o qual deveu ser mobilizado o partido do governo, porque até o PSDB (!!) tinha ressalvas. Na sabatina, teve 15 votos de rejeição, o maior na história do STF, e três vezes maior que o número do segundo mais rejeitado.

11/07/2008 - Quarenta e dois (42) procuradores da República publicaram Carta Aberta à Sociedade Brasileira (clique no link) protestando contra um habeas corpus cuja legitimidade contestaram. ª Horas após: manifesto de juízes federais contra Mendes.

14/07/2008 -O manifesto dos juízes atinge as 400 assinaturas.

Depois, a Associação de Magistrados Brasileiros (AMB) com uns 13 mil sócios, deu apoio ao juiz De Sancstis, confrontado como Mendes.

Um grupo de procuradores pediu o impeachment de Mendes. Este foi defendido calorosamente pela Revista Veja, a bancada ruralista, e toda a ultra-direita do Congresso e magistratura.

18/07/2008 - A CUT protocola um pedido de impedimento no Senado. O pedido não progrediu.

20/11/2008 - A Revista Capital publica uma matéria de importância crucial sobre um fato acontecido 8 anos antes. Resumo: Em 14 de setembro de 2000, na reta final da campanha eleitoral, a estudante Andréa Paula Pedroso Wonsoski, 19 anos, teria visto o irmão de Mendes, candidato a prefeito, comprando votos. Por ter sido testemunha deste fato foi ameaçada, e ela, por natural temor fez uma denúncia na polícia. Depois de 32 dias deste fato, desapareceu definitivamente. Seu cadáver foi encontrado 3 anos depois. Apesar das pressões da família, o exame de DNA durou 2 anos. O caso está praticamente congelado. (Veja a excelente matéria em http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=2689)

22/04/2009 - O Ministro Joaquim Barbosa teve uma discussão duríssima com Mendes, que passou pela TV Justiça, onde acusava Mendes de ser utilizar de “capangas” e estar destruindo o prestígio do Tribunal.

Mendes foi denunciado como um perigo para a justiça brasileira pelo eminente Dalmo Dallari, considerado um dos melhores juristas do continente. Na 2ª. fase do julgamento de Battisti, Marco Aurélio de Mello, sem mencioná-lo pelo nome, pareceu referir-se a ele e seus aliados no STF ao advertir com a ditadura do judiciário.

Mendes fez muitas declarações políticas em 2008 e 2009, com claro intuito de desestabilizar o governo. Acusou implicitamente a este a aos movimentos sociais de ações “criminosas”, e deu a entender que os ruralistas tinham direto de “defender-se”, o que significava justificar as chacinas de camponeses.

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Antonio Cézar Peluso -Foi orientando de Especialização de um dos fundadores do integralismo, Miguel Reale, que fora consultor jurídico da ditadura, e hóspede de honra de Mussolini, depois do fracassado putsch fascista contra Vargas.

Desembargador do Estado de SP - Em 1986, foi nomeado desembargador do TJ de SP. Não mantemos controle das votações no Tribunal, mas Anistia Internacional se tem posicionado várias vezes contra as tendências do tribunal em seu conjunto (não deste ministro em particular).

É o organismo jurídico Latino-Americano, depois da Corte Suprema de Honduras e de Salvador, que mais protege (proporcionalmente ao número de habitantes) crimes contra a humanidade: tortura policial, genocídio, crimes comuns cometidos por membros das elites. Ao mesmo tempo, ataca os pobres com crueldade exacerbada, como no caso de menina com problemas mentais que o TJSP manteve presa mais de um ano pelo roubo de um xampu. Foi torturada sistematicamente na prisão e perdeu um olho.

Voltando ao Ministro...

Favorecendo Genocidas -Peluso deu HC ao Coronel Pantoja, arquiassassino que com um enorme contingente de soldados e policiais massacrou 19 camponeses no Eldorado de Carajás.

Células Tronco - Em 28/05 fez parte dos 5 juízes que queriam impor “regulamentações” ás pesquisas de células tronco, numa patética lembrança das discussões “científicas” dos mestres dominicanos do século 16.

Criança sem Cérebro - Em 2004, o ilustre ministro Marco Aurélio concedeu a uma moça grávida que esperava um filho sem cérebro uma liminar para abortar. Mais ainda, o juiz se propunha que qualquer mulher nessa situação pudesse abordar sem passar pelo trauma judiciário. Para vergonha deste nosso país que acredita merecer uma vaga permanente no Conselho de Segurança, houve 7 votos contra a liminar de Marco Aurélio.

Mas, o de Peluso foi o único radical; ele se opunha totalmente a todas as conseqüências da mesma, e propunha de imediato a interrupção do processo. (Imagino que, no caso que a menina estivesse abortando, a proposta de Peluso significava parar a cirurgia de aborto e fechar tudo, o que teria produzido a morte da mulher. Parece descabido, mas não há outra interpretação.)

O mais impressionante foram as respostas que deu aos jornalistas:

Uma criança anencéfala vai ter uma morte imediata:

-Todos nascemos para morrer.

E o sofrimento horrível dessa mãe? Ela vai ter uma gravidez de alto risco, para ter uma criança à qual vai se apegar com carinho, só para vê-la morrer dias depois:

-O sofrimento não degrada a dignidade humana. É, ao contrário, essencial. (Grifo meu).

Frase mais Paradigmática de Peluso [segundo minha opinião] - “Os romanos diziam que, quando há muitas leis, a República não é boa.” (Refere-se aos romanos da época de Cícero, não de Mussolini).

Sobre a Discriminação Religiosa - Diálogo com o blog do Consultor Jurídico:

Conjur — A existência de um crucifixo sobre o plenário do Supremo aponta para uma preferência religiosa?

Cezar Peluso — É uma tradição cultural. Isso já foi objeto de discussão aqui dentro do Supremo há muitos anos, e se chegou à conclusão de que isso não representa tomada de posição religiosa.

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Ellen Gracie Northfleet- Conhece-se pouco das suas opiniões sobre Direitos Humanos. No caso Battisti apenas acompanhou a algumas afirmações do relator, no estilo “eco”. No famoso caso de anencefalia, votou contra e disse, que no caso de votar a favor, “o tribunal atuaria como legislador positivo, criando uma nova hipótese de excludente de ilicitude da prática de aborto”.

Traduzindo do juridiquês: a coitada mãe não deve pedir liminar, mas juntar alguns milhares de assinaturas, entregar ao Congresso e pedir uma nova lei. Se tiver outros filhos, talvez eles possam acompanhar o processo desse pedido durante algumas décadas.

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Ricardo Lewandowski - Discreto e silencioso, entrou na carreira de juiz em 1990 graças ao 5º Constitucional. É 2º tenente de reserva de Cavalaria, e também foi desembargador do TJSP. Suas tendências parecem muito coerentes: contra o aborto, contra uso de de embriões, e a favor da flexibilização da CLT. O voto contra Battisti também, como no caso de Mrs. Gracie, não está fundamentado em nada que possa merecer reflexão (generalidades pinçadas das partes parcialmente decifráveis do relatório).

Como Gracie e Lewandowski são de estilo menos retórico, e sua aparição política é muito pequena, é impossível saber exatamente suas motivações. Quando não há nenhuma causa racional para uma decisão radical (como enviar alguém à morte) em pessoas que não parecem cognitivamente deficitárias, é natural que se teçam conjeturas diversas. Neste caso, por causa da aberração destes votos (contra os Direitos Humanos, contra a constituição, contra o governo, contra a história do direito de asilo, contra a necessidade de provas), as causas devem ser muitas: desde ódio natural pela esquerda, sentido de obediência, necessidade de apoio para futuras promoções, e assim em diante.

Há outro fator do qual se tem falado muito, mas só os jornalistas conseguem esse tipo de furos. Lamentavelmente, não podemos esperar uma revelação da mídia, porque ela também está na jogada do Quirinal.

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Carlos Ayres Britto - Eu não sei por que ele está no Santo Ofício, mas não faz o perfil exato. É informal, humilde e simpático. Gosta de Chico Buarque, e lê poesia em público. Não sabemos por que votou contra Battisti. Não é uma pessoa cruel, nem um linchador. Medo? Falta de Informação? Preguiça?

Comigo foi muito amigável. Quando nos apresentaram, elogiou meu português. talvez porque pensou que eu era americano. Quando lhe disseram que era de Anistia Internacional, me perguntou se era o presidente. Claro que o entendi como um elogio, mas percebi que ele pensava que Anistia era uma pequena ONG com 50 membros, cujo presidente pode mobilizar-se sem problema.

Realmente, lamento que ele não tenha aprofundado sua atividade literária. Possui real capacidade para isso.

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Reflexão Final

Só faltava, para ter o quadro perfeito, o Carlos Alberto Menezes Direito. Mas ele era um homem santo demais para julgar alguém como Battisti. Por isso Deus o chamou para sentar à sua Destra.


Artigo enviado pelo próprio autor a esta nossa Agência Assaz Atroz
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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Operação Gladio: Rede da CIA dos “deixados-atrás” do exército e serviços de informação secretos


A liberdade de uma democracia não é segura se o povo tolera o crescimento de poder privado ao ponto de tornar-se mais forte que o próprio Estado democrático. Isto, em essência, é fascismo – o apossamento do governo por uma pessoa, por um grupo, ou qualquer poder privado de controle. (Franklin Delano Roosevelt)

Texto recebido por e-mail da Rede Castorphoto

Caros

Depois de ter iniciado o desenvolvimento de um artigo que viesse a esclarecer a todos a importancia do pano de fundo do Caso Battisti, que foi a Operação Gladio no ocidente a partir da Segunda Guerra Mundial, encontrei o trabalho já feito, o que apenas me deu o trabalho de traduzi-lo à noite até ha pouco. Poderia adicionar alguns outros detalhes importantes mas o tempo nos é exíguo para que chegue às mãos dos Ministros do Supremo e às suas para que repassem de imediato a fim de fazermos uso dessa matéria importantissima.

Infelizmente os e-mails dos Ministros Gilmar Mendes (o principal) Ayres Britto, Cesar Peluso e Ricardo Lewandowski me foram passados errado. Se puderem chegar às suas mãos ficariamos muito gratos.

Abraços

Marcos Rebello
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Excelentíssimos Ministros

Já há algum tempo venho participando de debates sobre esse tema, particularmente depois que o pedido de extradição de Cesare battisti pela Itália foi submetido ao Supremo Tribunal de Justiça da nação brasileira.

Acabo de traduzir esse ensaio fartamente documentado (não só por jornais) que trata o mais suscintamente sobre a base daquilo que viemos a conhecer na realidade como a guerra fria no ocidente perpetrada por agentes do próprio estabelecimento politico e de inteligencia ocidentais contra as nossas sociedades.

Este é, portanto, o pano de fundo contra o qual V. Exs. estão julgando o Caso Battisti.

Conclui-se que pela extradição de Cesare Battisti a Itália em vez de darmos início à resolução das atrocidades cometidas pelos serviços de inteligencia ocidentais operando particularmente na Itália e no Brasil durante a decada de 70 em seu auge, estaremos falhando inequivocamente em darmos um claro sinal a esses agentes de que essas práticas não mais serão toleradas em nossos paises por serem hediondas e monstruosas transgresões aos Direitos Humanos.

É por mantermos a dignidade humana e a soberania nacional, no que concerne os nossos Direitos Humanos, que Vossas Excelências têm a obrigação de impor e preservá-los pela simples e clara interpretação do espírito das leis no julgamento desse pedido de extradição que não procede. Porque não é um homem que está sendo julgado, mas todo um sistema de terror a que todo o mundo ocidental tem sido vítima como pretexto de, por controle estatal repressivo e violento, submeter centenas de milhões de seres humanos.

Como sabemos, por já termos conhecimento de causa, não há como Cesare Battisti ser julgado imparcialmente na Itália. Ele seria mais um bode expiatório no processo de encobrir aqueles que mantém o mesmo esquema politico-institucional.

Atenciosamente

Marcos Rebello


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Operação Gladio: Rede da CIA dos “deixados-atrás” do exército e serviços de informação secretos

O “sacrifício” de Aldo Moro

por Andrew G. Marshall

Pela OTAN, trabalhando com várias agências de inteligência européias, a CIA construiu uma rede dos que foram deixados atrás “dos serviços secretos” responsáveis por dúzias de atrocidades terroristas através de Europa ocidental por décadas. Este relatório estará focado no exército deixado atrás na Italia, porque é o mais documentado. O nome de código era Operação Gladio, a “espada”.

Uma vista geral

A finalidade das tropas “deixadas atrás”


No inicio dos anos 50, os Estados Unidos começaram a treinar redes dos “deixados atrás” dos voluntários na Europa ocidental, de modo que no caso de uma invasão soviética, “recolhessem a inteligência, abrissem vias de fuga e formassem movimentos de resistência.” A CIA financiou e educou estes grupos, trabalhando mais tarde com unidades de inteligência militar européias ocidentais sob a coordenação de um comitê da OTAN. Em 1990, os investigadores italianos e belgas começaram pesquisar as ligações entre estes “deixados atrás dos exércitos” e a ocorrência do terrorismo na Europa ocidental por um período de 20 anos. [1]

“Exércitos secretos” ou grupos terroristas?

Estes que “permaneceram atrás” dos exércitos conspiraram, financiaram e frequentemente dirigiram organizações terroristas durante toda a Europa no que foi denominado uma “estratégia de tensão” com o alvo de impedir uma ascensão da esquerda na política européia ocidental. Os “exércitos secretos” da OTAN conduziram atividades subversivas e criminais em diversos países. Na Turquia em 1960, o deixados-atrás do exército, trabalhando com o exército turco, encenou golpes de estado e matou o primeiro ministro Adnan Menderes; na Argélia em 1961, o deixados-atrás do exército francês encenou um golpe com a CIA contra o governo francês de Argel, que eventualmente malogrou; em 1967, o exército grego deixado-atrás encenou um golpe e impôs uma ditadura militar; em 1971 na Turquia, após um golpe militar, o deixados-atrás do exército organizou “o terror doméstico” e matou centenas; em 1977 na Espanha, o deixados-atrás do exército realizou um massacre em Madrid; em 1980 na Turquia, o lider do deixados-atrás do exército encenou um golpe e tomou o poder; em 1985 em Bélgica, o deixados-atrás assassinou aleatoriamente pessoas nos supermercados, matando 28; na Suiça em 1990, o anterior líder do deixados-atrás escreveu ao departamento de defesa dos E.U. que revelaria “toda a verdade” e foi encontrado morto no dia seguinte com sua própria baioneta; e em 1995, a Inglaterra revelou que o MI6 e o SAS ajudaram na instalação dos deixados-atrás dos exércitos através de toda a Europa ocidental. [2]

O nascimento da operação Gladio

Uma “estratégia de tensão”

Em 1990, o primeiro ministro italiano confirmou que os “deixados-atrás” do exército, denominado “Gladio” (espada), existiu desde 1958, com a aprovação do governo italiano. No princípio dos anos 70, o apoio comunista na Italia começou a crescer, de maneira que o governo mudou para uma “estratégia da tensão” usando a rede do Gladio. Em 1972 durante uma reunião extremamente secreta do Gladio, um oficial sugeriu que se fizesse “um ataque preventivo” nos comunistas. Como o jornal britanico The Guardian reportou, as ligações entre o Gladio na Italia, todos os três serviços secretos italianos e a ala italiana da Loja Maçonica P2 eram muito bem documentados, porque o chefe de cada unidade da inteligência eram membros da Loja P2. [3]

Preparando a rede

Em 1949, a CIA ajudou a instalação da unidade de inteligência secreta italiana das forças armadas, nomeada SIFAR, provida com parte do pessoal de antigos membros da polícia secreta de Mussolini. Mais tarde o nome mudou para SID. Na final da Segunda Guerra Mundial , um antigo colaborador nazista, Licio Gelli, estava prestes a ser executado por suas atividades durante a guerra, mas negociou pela vida juntando-se ao corpo de contra-informação do exército dos EUA. Nos anos 50, Gelli foi recrutado pela SIFAR. Gelli era tambem um dos líderes da Loja Maçonica P2 na Italia e, em 1969, desenvolveu laços intimos com o general Alexander Haig, que era então assistente do Conselheiro de Segurança Nacional Henry Kissinger. Através desta rede, Gelli transformou-se no principal intermediário entre a CIA e o Geral De Lorenzo, chefe da SID. [4]

Gladio cria a “tensão”

A Gladio foi envolvida nos silenciosos golpes de estado da Italia, quando o general Giovanni de Lorenzo forçou os ministros socialistas italianos a deixar o governo. [5] Em 12 de dezembro de 1969, uma bomba explode no banco agrário nacional, matando 17 pessoas e ferindo outras 88. Nessa mesma tarde, mais três bombas explodem em Roma e em Milão. A inteligência dos E.U. era informada com antecedencia sobre os atentados, mas não informava as autoridades italianas. [6] Em 2000, um antigo General do Serviço Secreto Italiano afirmou que a CIA “deu sua tácita aprovação a uma série de atentados à bomba na Italia nos anos 60 e nos anos 70.” [7] Estabeleceu-se que os atentados tinham ligações a dois neo-fascistas e a um agente do SID. [8]

Em depoimento em tribunal durante julgamento de quatro homens acusados da participação em atentados à bomba em bancos durante 1969 em Milão, o general Gianadelio Maletti, anterior líder da contra-informação militar de 1971 a 1975, indicou que sua unidade descobriu evidência de que os explosivos foram fornecidos pela Alemanha a um grupo terrorista italiano de direita, e que a inteligência dos E.U. pode ter ajudado na transferência dos explosivos. Foi dito que ele declarou que a CIA, “seguindo as diretrizes orientadoras de seu governo, quis criar um nacionalismo italiano capaz de sustar o que foi considerado como uma guinada à esquerda e, com esta finalidade, pode ter sido empregado terrorismo de direita,” e que, “eu acredito isso foi o que tambem aconteceu em outros países. ” [9]

O Relatório

O governo italiano liberou um relatório de 300 páginas em operações da Gladio na Italia em 2000, documentando conexões com os Estados Unidos. Declararam que os E.U. eram responsáveis por inspirar uma “estratégia da tensão.” No examinar o porque aqueles que cometeram os atentados à bomba na Italia foram raramente apreendidos, o relatório disse, “aqueles massacres, aquelas bombas, aquelas ações militares tinham sido organizadas ou promovidas ou apoiadas por homens dentro das instituições italianas do estado e, como foi descoberto, pelos homens ligados às estruturas da inteligência dos Estados Unidos. ” [10]

As Brigadas Vermelhas

As Brigadas Vermelhas eram uma organização italiana de esquerda terrorista formada em 1970. Em 1974, os fundadores das Brigadas Vermelhas Renato Curcio e Alberto Franceschini foram apreendidos. Alberto Franceschini acusou mais tarde um membro superior das Brigadas Vermelhas, Mario Moretti, de delatá-los, e que ambos Moretti e um outro membro principal das Brigadas Vermelas, Giovanni Senzani, eram espiões para os serviços secretos italiano e dos E.U. [11] Moretti subiu no poder das Brigadas Vermelhas em conseqüência da apreensão dos dois fundadores.

As Brigadas Vermelhas e a CIA

As Brigadas Bermelhas trabalharam em comum acordo com escola de línguas Hyperion em Paris, fundada por Corrado Simioni, por Duccio Berio e por Mario Moretti. Corrado Simoni havia trabalhado para o CIA na Radio Free Europe, Duccio Berio havia fornecido à SID italiana informações de grupos esquerdistas, e Mario Moretti, àparte de ser acusado pelos fundadores das Brigadas Vermelhas como sendo um agente da inteligência, igualmente aconteceu ser o arquiteto e o assassino do primeiro ministro italiano anterior, Aldo Moro. Em relatório polícial italiano a escola de línguas Hyperion foi referida como “o escritório mais importante da CIA na Europa. ” [12]

O assassinato de Aldo Moro

Moro faz inimigos poderosos


Aldo Moro, que serviu como Primeiro Ministro da Italia de 1963 até 1968 e mais tarde, de 1973 até 1976, foi sequestrado e assassinado pelas Brigadas Vermelhas em 1978, quando ainda um político proeminente no partido Democrata-Cristão. Quando foi sequestrado, Moro estava em trajeto ao Parlamento para votar na inauguração de um novo governo, que ele proprio negociou, pela primeira vez desde 1947, para ser apoiado pelo Partido Comunista Italiano (PCI). A política de Moro de trabalhar de comum acordo e de trazer os comunistas ao governo foi delatada pela URSS e pelos Estados Unidos.

A ameaça de Kissinger

Moro foi mantido sequestrado por 55 dias antes de seu assassinato. O raciocínio era para que o seu plano trouxesse o partido comunista ao governo. Quatro anos antes de sua morte, em 1974, Moro estava em uma visita como Primeiro Ministro Italiano aos Estados Unidos. En sua visita encontrou-se com o Secretário de Estado dos E.U. Henry Kissinger que disse: Moro, “você deve abandonar a sua política de trazer todas as forças políticas em seu país nessa colaboração direta… ou você pagará caro por ela. ” [13]

Moro “foi sacrificado”

Steve Pieczenik, um antigo negociador de refens do Departamento de Estado e entendido gerente em crises internacionais, “afirmou que teve um papel crítico no destino de Aldo Moro.

Pieczenik disse que Moro “tinha sido sacrificado” para “a estabilidade” da Italia. Ele tinha sido enviado a Italia pelo presidente Jimmy Carter no dia do sequestro de Moro para ser parte de um comitê sobre a crise, da qual disse: “foi criada repentinamente pelo temor de que Moro revelasse segredos de estado na tentativa de se livrar.” A ação tomada pelo comitê foi a de vazar um memorando dizendo que Moro estava inoperante, e atribuir o memorando às Brigadas Vermelhas. A finalidade dessa operação era “preparar o público italiano para o pior e deixar as Brigadas Vermelhas saberem que o estado não negociaria por Moro, considerado-lhe já morto.” [14] Em um documentário no assunto, Pieczenik indica que, “A decisão foi feita na quarta semana do sequestro, quando as cartas de Moro se tornaram desesperadas e que ele estava a ponto de revelar segredos de estado,” e isso, “era uma decisão extremamente difícil, mas a pessoa que a fez no final foi o Ministro do Interior Francesco Cossiga, e, aparentemente, também o Primeiro Ministro Giulio Andreotti. ” [15]

As cartas de Moro

Entre as cartas liberadas de Moro, que as escrevia quando no cativeiro, indica que temia que uma organização secreta, com “outros serviços secretos do ocidente… pudesse estar implicada na desestabilização de nosso país.” [16] Durante sua interrogação quando no cativeiro, Moro ainda se referiu à “atividades da anti-guerrilha da OTAN.” Entretanto, as Brigadas Vermelhas não usaram esta informação, [17] talvez porque, de acordo com os fundadores das Brigadas Vermelhas, o líder da organização durante o sequestro de Moro, Mario Moretti, estava trabalhando para os serviços italiano ou de inteligência dos E.U. [18]

Jornalista independente morto pelo presidente?

Imediatamente depois da morte de Moro, o journalista italiano, Mino Pecorelli, um homem com “excelentes contatos no serviço secreto,” exprimiu sua suspeita em um artigo em 1978 no qual a morte de Moro estava ligada a Gladio, fato que não foi oficialmente reconhecido até 1990. Um ano após a morte de Moro, Pecorelli foi baleado em Roma. Disse que o sequestro de Moro foi orquestrado “por uma superpotência lúcida.” Em 2002, o sete-vezes Primeiro Ministro anterior, Giulio Andreotti, foi condenado por ter “ordenado” o assassinato de Pecorelli. [19] Pecorelli estava prestes a publicar um livro “contendo críticas prejudiciais ao [Primeiro Ministro Giulio] Andreotti pelo assassinato do líder democrata-cristão Aldo Moro. ” [20]

O atentado em Bolonha

Na manhã do 2 de agosto de 1980, a Italia experimentou seu pior ataque terrorista da historia na estação de trem de Bolonha, que matou 85 pessoas, e feriu mais de 200 outras. Foi feita uma longa e complicada investigação e, eventualmente, deu-se início a um julgamento. Em 1988, quatro terroristas de direita foram sentenciados à vida na prisão. Outros dois réus foram condenados por difamação à investigação, “Francesco Pazienza, um antigo financeiro ligado a diversos casos criminosos na Italia, e Licio Gelli, antigo grão-mestre da notória Loja Maçonica P2. ” [21] Este é o mesmo Licio Gelli que passou a ser um intermediário entre a CIA e a liderança da inteligência italiana para a rede da Gladio. Entretanto, mais tarde Gelli foi absolvido dos crimes.

Notas

[1] Bruce W. Nelan, Europe Nato's Secret Armies. Time Magazine: November 26, 1990:
http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,971772,00.html

2] PHP, Secret Warfare: Operation Gladio and NATO's Stay-Behind Armies. ISN:
http://translate.google.ca/translate?hl=en&sl=de&u=http://www.ethz.ch/&sa=X&oi=translate&resnum=1&ct=result&prev=/search%3Fq%3DETH%26hl%3Den%26sa%3DG

[3] Ed Vulliamy, Secret agents, freemasons, fascists... and a top-level campaign of political 'destabilisation'. The Guardian: December 5, 1990:
http://www.cambridgeclarion.org/press_cuttings/vinciguerra.p2.etc_graun_5dec1990.html

[4] Arthur E. Rowse, GLADIO: THE SECRET U.S. WAR TO SUBVERT ITALIAN DEMOCRACY. Covert Action Quarterly: December 1994

[5] PHP, Secret Warfare: Operation Gladio and NATO's Stay-Behind Armies. ISN:
http://translate.google.ca/translate?hl=en&sl=de&u=http://www.ethz.ch/&sa=X&oi=translate&resnum=1&ct=result&prev=/search%3Fq%3DETH%26hl%3Den%26sa%3DG

[6] Philip Willan, US 'supported anti-left terror in Italy'. The Guardian: June 24, 2000:
http://www.cambridgeclarion.org/press_cuttings/us.terrorism_graun_24jun2000.html

[7] CBC, CIA knew, but didn't stop bombings in Italy - report. CBC News: August 5, 2000:
http://www.cbc.ca/world/story/2000/08/05/cia000805.html

[8] Peter Dale Scott, The Road to 9/11: Wealth, Empire, and the Future of America. University of California Press, 2007: page 181

[9] Philip Willan, Terrorists 'helped by CIA' to stop rise of left in Italy. The Guardian: March 26, 2001:
http://www.guardian.co.uk/world/2001/mar/26/terrorism

[10] Philip Willan, US 'supported anti-left terror in Italy'. The Guardian: June 24, 2000:
http://www.cambridgeclarion.org/press_cuttings/us.terrorism_graun_24jun2000.html

[11] Philip Willan, Infiltrators blamed for murder of Italian PM. The Guardian: April 10, 1999:
http://www.guardian.co.uk/Archive/Article/0,4273,3852325,00.html

[12 - 13] Arthur E. Rowse, GLADIO: THE SECRET U.S. WAR TO SUBVERT ITALIAN DEMOCRACY. Covert Action Quarterly: December 1994

[14] Malcolm Moore, US envoy admits role in Aldo Moro killing. The Telegraph: March 16, 2008:
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/1581425/US-envoy-admits-role-in-Aldo-Moro-killing.html

[15] Saviona Mane, A murder still fresh. Haaretz: May 9, 2008:
http://www.haaretz.com/hasen/spages/981929.html

[16] Ed Vulliamy, Secret agents, freemasons, fascists... and a top-level campaign of political 'destabilisation'. The Guardian: December 5, 1990:
http://www.cambridgeclarion.org/press_cuttings/vinciguerra.p2.etc_graun_5dec1990.html

[17] Philip Willan, Moro's ghost haunts political life. The Guardian: May 9, 2003:
http://www.guardian.co.uk/print/0,,4665179-105806,00.html

[18] Philip Willan, Infiltrators blamed for murder of Italian PM. The Guardian: April 10, 1999:
http://www.guardian.co.uk/Archive/Article/0,4273,3852325,00.html

[19] Philip Willan, Moro's ghost haunts political life. The Guardian: May 9, 2003:
http://www.guardian.co.uk/print/0,,4665179-105806,00.html

[20] BBC News, Giulio Andreotti: Mr Italy. BBC: October 23, 1999:
http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/483295.stm

[21] AP, Four Get Life in Prison In Bombing in Bologna. The New York Times: July 12, 1988:
http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=940DE0D61131F931A25754C0A96E948260


Andrew G. Marshall contribuiu para romper o consenso das alterações climáticas em um celebrado artigo em 2006 intitulado “Aquecimento Global Uma Mentira Conveniente”, em que desafiou os resultados que são a base do documentário de Al Gore. De acordo com Marshall, “assim que os povos começarem indicar que “o debate acabou”, tomem cuidado, porque a base fundamental de todas as ciências é que o debate nunca termina”. Andrew Marshall igualmente escreveu sobre a militarização da África Central, sobre questões de segurança nacional e sobre o processo de integração de America do Norte. É igualmente um contribuinte para o GeopoliticalMonitor.com para Centre for Research on Globalization (CRG) em Montreal e está estudando ciência política e história na Simon Fraser University, British Columbia.

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