quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lula para presidente do (Vi o) Mundo

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Moore: O sonho americano mudou de endereço

Tradução do texto publicado pela revista Time, que colocou o presidente brasileiro no topo da lista das pessoas mais influentes na política mundial: Luiz Inácio Lula da Silva

Michael Moore Thursday, Apr. 29, 2010
da revista Time

Quando os brasileiros primeiro elegeram Luiz Inácio Lula da Silva presidente, em 2002, os barões do país [robber barons] checaram o tanque de combustível de seus jatos privados. Eles haviam tornado o Brasil um dos países mais desiguais da terra e então parecia ter chegado a hora da “vingança”. Lula, 64, era um filho genuíno da classe trabalhadora da América Latina — na verdade, um membro fundador do Partido dos Trabalhadores — que tinha sido preso por liderar uma greve.

Quando Lula finalmente conquistou a presidência, depois de três tentativas fracassadas, ele era uma figura familiar na vida nacional. Mas o que levou à política? Foi seu conhecimento pessoal do quanto é duro para muitos brasileiros trabalhar para sobreviver? Ser forçado a deixar a escola na quinta série para ajudar a família? Trabalhar como engraxate? Ter perdido um dedo em um acidente de trabalho?

Não, foi quando aos 25 anos de idade ele viu a esposa Maria morrer durante o oitavo mês de gravidez, junto com o filho, por não poderem pagar um tratamento médico decente.

Há uma lição aqui para os bilionários do mundo: deixem as pessoas terem bom atendimento médico e elas vão causar muito menos problemas para vocês.

E aqui há uma lição para o resto de nós: a grande ironia da presidência de Lula — ele foi eleito para um segundo mandato em 2006 e vai servir até o fim do ano — é de que quando ele tenta colocar o Brasil no Primeiro Mundo com programas sociais como o Fome Zero, desenhado para acabar com a fome, e com planos para melhorar a educação disponível para os trabalhadores do Brasil, faz os Estados Unidos parecerem cada vez mais um país do velho Terceiro Mundo.

O que Lula quer para o Brasil é o que um dia chamamos de Sonho Americano. Nós, nos Estados Unidos, onde o 1% no topo da escala tem mais riqueza financeira que os 95% da base combinados, estamos vivendo em uma sociedade que está ficando rapidamente cada vez mais parecida com a do Brasil.

Confira também:

Time elege Bill Clinton o herói do ano

A publicação, que apresenta personalidades de diversas áreas de atuação, apresenta outros 24 políticos mundiais, como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama – em quarto lugar na lista de líderes -; a ex-candidata à vice-Presidência Sarah Palim; entre outros. Além dos cem mais influentes, a Time apresenta ainda as pessoas com mais destaque nas redes sociais, como o ator Ashton Kutcher e o estilista Marc Jacobs.

Veja a lista completa da Time

Líderes

1. Luiz Inácio Lula da Silva
2. J.T. Wang
3. Admiral Mike Mullen
4. Barack Obama
5. Ron Bloom
6. Yukio Hatoyama
7. Dominique Strauss-Kahn
8. Nancy Pelosi
9. Sarah Palin
10. Salam Fayyad
11. Jon Kyl
12. Glenn Beck
13. Annise Parker
14. Tidjane Thiam
15. Jenny Beth Martin
16. Christine Lagarde
17. Recep Tayyip Erdogan
18. General Stanley McChrystal
19. Manmohan Singh
20. Bo Xilai
21. Mark Carney
22. Sister Carol Keehan
23. Sheik Khalifa bin Zayed al-Nahyan
24. Robin Li
25. Scott Brown

Heróis

1. Bill Clinton
2. Kim Yu-Na
3. Mir-Hossein Mousavi
4. Ben Stiller
5. Temple Grandin
6. P. Namperumalsamy
7. Nay Phone Latt
8. Chen Shu-chu
9. Phil Mickelson
10. Didier Drogba
11. Graça Machel
12. Reem Al Numery
13. Sachin Tendulkar
14. Tristan Lecomte
15. Liya Kebede
16. Kiran Mazumdar-Shaw
17. Zahra Rahnavard
18. Jet Li
19. Serena Williams
20. Chief Master Sergeant Tony Travis
21. Karls Paul-Noel
22. Rahul Singh
23. Valentin Abe
24. Malalai Joya
25. Will Allen

Artistas

1. Lady Gaga
2. Conan O'Brien
3. Kathryn Bigelow
4. Oprah Winfrey
5. Valery Gergiev
6. Robert Pattinson
7. Ashton Kutcher
8. Suzanne Collins
9. Taylor Swift
10. Neil Patrick Harris
11. Carlton Cuse and Damon Lindelof
12. Prince
13. Lea Michele
14. Jerry Holkins and Mike Krahulik
15. Simon Cowell
16. Neill Blomkamp
17. Elton John
18. Marc Jacobs
19. David Chang
20. Banksy
21. Chetan Bhagat
22. Sandra Bullock
23. Ricky Gervais
24. Han Han
25. James Cameron

Pensadores

1. Zaha Hadid
2. Elizabeth Warren
3. Douglas Schwartzentruber and Larry Kwak
4. Michael Pollan
5. Atul Gawande
6. Jaron Lanier
7. Victor Pinchuk
8. Lee Kuan Yew
9. Deborah Gist
10. Kathleen Merrigan
11. Steve Jobs
12. Tim White
13. Lisa Jackson
14. Elon Musk
15. Edna Foa
16. Jaime Lerner
17. Paul Volcker
18. Amy Smith
19. Matt Berg
20. Amartya Sen
21. Michael Sherraden
22. Sanjit 'Bunker' Roy
23. Tim Westergren
24. David Boies and Theodore Olson
25. Sonia Sotomayor.


http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/moore-o-sonho-americano-mudou-de-endereco.html

http://www.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,1984685_1984864,00.html


Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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Deslealdade na blogosfera política

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A covardia da Folha contra Norma Bengell

Miguel do Rosário

A quarta-feira amanheceu alegremente ansiosa no Rio. Só se fala no clássico Flamengo e Corinthians. O aspecto positivo de trabalhar em Lan House é que a gente ouve as piadas ao redor. Ouço que a torcida do Flamengou contratou dez travestis para assistir ao jogo no Maracanã e atazanar Ronaldo. "Como ele vai perder o jogo, ao menos tem garantido uma noite de amor", diz um dos gerentes da Lan.

Deixemos o futebol, porém, para mais tarde, e nos concentremos na agenda política. O Tijolaço levantou o escândalo do dia. Aquele que Nassif chama, sarcasticamente, de ex-Eduardo Graeff, um tucano da alta cúpula do PSDB, tesoureiro do partido, estrategista da campanha de Serra, foi pego em flagrante.

Brizola Neto, autor do Tijolaço, apurou que o mencionado bicudo não apenas "comanda os brucutus", mas que "é o próprio Brucutu". A figura aparece como responsável por sites cujo próprio endereço físico é uma baixaria, como o "petralha.com.br".

O post de Brizola caiu na rede e foi reproduzido em toda a parte, gerando uma enorme onda de indignação. Lembremos que Serra afirmou que não patrocinaria "baixarias" em campanha.

Ontem à noite, o deputado havia descoberto outra baixaria do PSDB. No próprio site do partido, em destaque, figura o link para o blog Gente que Mente, dedicado a denegrir a imagem de quadros do PT e da esquerda em geral.

Como o próprio Brizola, como todo mundo aliás, eu também me pergunto qual seria a reação da grande mídia, incluindo sua miríada de colunistas eternamente indignados por qualquer ninharia da campanha dilmista (vide o escarcéu que fizeram por causa da foto da Norma Bengell), se descobrissem que o site oficial do PT dá link, em destaque, a um blog semelhante, ou se um petista graduado fosse responsável por blogs de baixaria.

Tudo que eu disse até agora não é novidade. Repeti aqui apenas para enfiar o prego mais fundo na consciência das pessoas. José Serra patrocina o baixo nível na campanha presidencial. E a mídia não só lhe dá guarida, como rivaliza com ele em baixaria.

Não quero deixar de citar, como parte da mesma estratégia de baixaria, a decisão do deputado José Carlos Aleluia, de publicar um texto apócrifo, falsamente atribuído à apresentadora Marília Gabriela, denegrindo Dilma Rousseff. A jornalista já avisou que vai mesmo processar Aleluia. Bem feito.

E agora eu tiro da manga uma carta que a blogosfera ainda não tinha visto. Antes, uma breve lembrança das circunstâncias do caso.

O blog oficial da Dilma publicou foto da passeata dos Cem Mil de 1968. Trata-se de uma foto imensamente conhecida, em que Normal Bengell, de minissaia, aparece em destaque. Os detratores de Dilma criaram um escândalo em torno disso, acusando o site de pretender passar à impressão de que Norma Bengell era Dilma Rousseff.

Colunistas sérios como Jânio de Freitas, Elio Gaspari e Ruy Castro entraram na onda. Fez-se um ataque de ordem moral. Ampliou-se o caso como se tratasse de um escândalo ético de proporções bíblicas.

Qualquer um que encare a questão com um mínimo de bom senso veria que não houve intenção maliciosa. Norma não tem nada a ver com Dilma. Foi um erro bobo, do tipo que é impossível evitar, dos diagramadores do site. Querer desviar a campanha para discussões pueris como essa é outra baixaria, que pelo visto é encampada por muitos jornalistas que se acham o suprassumo da seriedade e da ética.

Daí que foram entrevistar a atriz Normal Bengell, a qual, surpreendentemente, afirmou que "não via nada demais no caso" e passou a fazer elogios a Dilma, culminando com uma enfática declaração de voto: "tomara que ela ganhe".

Mais uma vez, bem feito. Caso encerrado, certo? Não.

Os jornais de hoje continuam insistindo no caso. José Nêumanne Pinto, colunista do Estadão e comentarista do SBT, publica um artigo fortemente ofensivo à Dilma. O próprio título é mal educado, chamando a ministra e candidata à Presidência da República, de "dona Dilma". Mas Neumanne é um tolo. Lembro que por ocasião do estardalhaço oportunista e reacionário com o lançamento do último programa de direitos humanos, Nêumanne foi para a TV pregar um golpe: "E os militares, onde estão os militares?", vociferava o conservador que, de súbito, mostrou-se um carbonário radical da ultradireita.

O mais absurdo, o mais nojento, o mais assustador, no entanto, partiu, como de praxe, da Folha de São Paulo. O pasquim serrista publicou, na sua edição impressa desta quarta-feira 28 de abril, uma cartinha de um leitor do Canadá contendo uma séria acusação à Norma Bengell.

Com isso, o jornal cumpre vários objetivos: vinga-se de Bengell, que ousou defender Dilma e torcer por sua vitória; desmerece a sua opinião e a possível influência que esta pode ter eleitoralmente entre os leitores da Folha; e manda um recadinho terrorista bem claro: defendeu Dilma ou PT, leva tiro.

A covardia é explícita. Ataca uma atriz já idosa, sem recursos financeiros ou psicológicos para se defender à altura. Bota a acusação na boca de um leitor, e ainda mais do Canadá. Pratica um verdadeiro homicído de reputação. Ataca a honra de uma artista que muito contribuiu para a cultura brasileira.

As peles de cordeiro, pelo jeito, não estão mais cabendo nos lobos.

http://oleododiabo.blogspot.com/2010/04/folha-se-vinga-de-norma-bengell.html


Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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terça-feira, 27 de abril de 2010

Dilma e Norma Bengell, a cara de uma é o voto da outra

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Folha entrevista Norma Bengell para repercutir erro no site de Dilma (uma foto trocada)

A atriz Norma Bengell, 74, disse, em entrevista à Folha publicada hoje, que a pré-candidata Dilma Rousseff não precisa pedir desculpas pelo uso de uma foto sua no blog da campanha. O blog oficial da petista - Dilmanaweb.com.br - usou imagem da atriz em passeata contra a ditadura militar em sequência de fotos pessoais da Dilma, e teria permitido a interpretação de que se tratava da própria ministra em passeata - "Eu não vi, não" - disse Norma ao jornal - "Uma amiga viu e me contou. Acho normal. Não tem nada que pedir desculpas. Fiz parte das passeatas contra a ditadura". E declarou voto - "Aliás, eu gosto da Dilma. Acho que ela é maravilhosa, uma mulher que sofreu muito. Tomara que ganhe".

http://www.bluebus.com.br/show/1/96165/folha_entrevista_norma_bengell_para_repercutir_erro_no_site_de_dilma_uma_foto_trocada




www.dilmanaweb.com.br/





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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Não existe racismo em Santa Catarina

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Urda Alice Klueger

A América estava cheinha de escravos africanos lá por volta de 1850, quando a Inglaterra, que era os Estados Unidos da época, disse: “Basta! Vamos tratar de acabar com a escravidão!”

Nos meus tempos de escola ensinaram-me que tais coisas se deviam ao bom coração dos ingleses, que não podiam ver gente sofrendo, escravizada – hoje sei muito melhor o que estava acontecendo: em plena Revolução Industrial, a Inglaterra tentava implantar o Capitalismo no resto do mundo, o que significava que teria que fazer o mundo inteiro comprar os muitos produtos que estava produzindo, e escravo não tinha salário e, portanto, não podia comprar. Se a pessoa fosse livre acabaria tendo algum tipo de salário, e então poderia fazer compras e ajudar os ingleses a tornar o Capitalismo maior. Essa coisa de bom coração era pura bobagem.

Aqui no Brasil demorou até 1888 para a Princesa Isabel considerar extinta a escravidão. Mas será que ela o foi mesmo? Só de pensar nisto já estou querendo enveredar para outra crônica, quando penso na quantidade de escravos negros e brancos que hoje existem no nosso país. Mas o assunto desta é outro, é sobre o racismo militante que existe bem aqui ao nosso redor e no resto do país, contra os nossos irmãos cujos antepassados foram trazidos à força de uma África que até hoje não se recuperou da perda dos seus filhos. Daí você vai me dizer: “Racismo, aqui? Tu estás louca! Gilberto Freire, em ‘Casa Grande e Senzala’, já deixou muito claro que vivemos numa democracia racial.” (eu diria étnica, forma que acho mais correta.) Meu amigo, meu amigo, em pleno século XXI, acabamos descobrindo que Gilberto Freire não tinha razão! Vamos ver como a coisa acontece. Vou começar pela alemoa Blumenau (outra bobagem – quão pouco Blumenau tem de alemão!). Aqui a coisa fez-se devagarinho. Um dia foi construída uma moderna igreja, no centro de Blumenau, que hoje é catedral, e sabe como é, entra padre, sai padre, os gostos mudam, e nos jardins modernos passou a morar uma série de imagens de santos e Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil, que como todo o mundo sabe, é negra. Então, lá por outubro de 2003, alguém lá responsável por tal coisa, mandou pintar de branco todos os santos dos jardins, inclusive a Nossa Senhora Aparecida. O povo daqui é meio tímido para certos assuntos, até falou, mas falou pouco – só que a notícia repercutiu, resultou em manifestações em São Paulo, em Salvador... Bem, então, escondeu-se na sacristia a N.Sra.Aparecida pintada de branco, para acabar com a polêmica. Mais um pouquinho e, sorrateiramente, os responsáveis pelo assunto botaram lá no lugar dela uma Nossa Sra. de Lourdes, branquinha da Silva, achando que o caso estava resolvido. Estava nada. Há coisa de um mês atrás fomos lá [isso foi em 2004], o Movimento Negro mais o Fórum dos Movimentos Sociais de Blumenau, e botamos de volta na igreja, na missa de domingo à tarde, a N.Sra. Aparecida que havia sido expulsa. Silêncio total. Até hoje não vi uma linhazinha em qualquer lugar da imprensa! Claro, se o preconceito ficar escondido, parece menor.

Mas não é só aqui. Conto mais um caso, para que fique bem evidente que ele existe. A UNEGRO (União dos Negros pela Igualdade), lá em Florianópolis, resolveu comemorar seus 10 anos de existência [Tal também foi em 2004]. Os responsáveis foram lá no Conselho Comunitário da Fazenda do Rio Tavares com um mês de antecedência, combinaram que fariam a festa, estava tudo resolvido. Fariam a festa e cobrariam uma entradazinha, coisa pouca, para terem algum fundo em caixa. Nada lhes foi exigido. A coisa correu até faltar dois dias para a festa, e nesse meio-tempo alguém lá se deu conta: “Mas são os negros que estarão festejando em chãos legitimamente açorianos! Como pode! Corram, arranjem meios legais, não deixem tal gente adentrar ao Rio Tavares!”

Deve ter sido bem assim. Então vieram as exigências, folha e meia delas, assinadas pelo presidente do CCFRT, num documento que tenho cópia aqui, até com assinatura registrada no Cartório Alves, daí de Florianópolis. Vocês acham que a festa saiu? É claro que não. O racismo, meus amigos, é coisa para muitos caminhões de conversa! E está aí bem do seu lado, se não estiver aí bem dentro do seu coração. O que é que a gente faz para se livrar dele?

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*Urda Alice Klueger é escritora e historiadora. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pedofilia e extorsão

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Extorsão ou Pedofilia? Ouça gravações da negociação entre ex-coroinhas e advogado de Monsenhor

Cada Minuto

Uma gravação que nem a CPI da Pedofilia ouviu confirma as acusações do advogado Daniel Fernandes de que os ex-coroinhas Flavio e Fabiano tentaram pedir dinheiro aos padres para não apresentarem o vídeo onde Fabiano é mostrado fazendo sexo oral com o Monsenhor Luiz Barbosa.

O Cadaminuto está com os quase 40 minutos de conversa entre o advogado Daniel Fernandes e os dois ex-coroinhas. E agora estamos veiculando a gravação na qual textualmente os dois pedem R$ 500 mil para não mostrar o vídeo.

Gravação

Na conversa Daniel Fernandes pergunta o que os coroinhas querem, e eles dizem que querem uma ajuda, pois foram abusados pelo padre.

"Estamos aqui para saber o que vocês têm a dizer né, fomos abusados, mas se vocês não quiserem resolver a situação entraremos na Justiça e tema Mídia também que pode estar do nosso lado né" explicou os coroinhas na gravação.

Flavio e Fabiano dizem ainda que além da primeira gravação existe uma outra que ainda não foi mostrada.

"Eu lhe pergunto quanto é que vale um escândalo deste" explicou os ex- coroinhas. Ao serem alertados pelo advogado das implicações legais da proposta eles dizem que estão muito bem informados sobre isto.

Ainda na gravação os coroinhas explicam como fizeram a gravação, eles dizem que os vizinhos sabiam de tudo. Flávio disse ainda que o Fabiano estava farto de ser abusado e tinha avisado a família.

"O Fabiano chegou a correr depois de um dia em que foi abusado e avisar a uma pessoa que era vizinha do Monsenhor Luiz Marques, esta pessoa disse que era para ele deixar para lá" explicou Flávio.

Os coroinhas explicam que foram obrigados a fazer sexo com o padre. Flávio diz que entrou pela porta da frente e que não combinou com Fabiano a gravação.As revelações são fortes e os coroinhas dizem que um ex-coroinha se afastou da Diocese por estar com Aids e que a Diocese deu as costas para ele. "A casa do Monsenhor Luiz Barbosa está servindo como motel e todos em Arapiraca sabem disto".

O advogado pede que os ex-coroinhas tenham cuidado com o que for fazer. Daniel Fernandes disse ainda na conversa que dois tios de Fabiano ameaçaram os padres.

Daniel Fernnades pergunta quanto é necessário para que o vídeo não fosse mostrado e eles enfim falam em dinheiro. Flávio disse ainda que sete pessoas sabiam da gravação e que com este dinheiro eles resolveriam sua vida. Neste momento Fabiano fala do interesse de uma Emissora (O SBT) na reportagem.

Os ex-coroinhas dizem ainda na gravação que os padres não são homosexuais e sim pedófilos. Eles dizem ainda que uma mulher estava rezando dia e noite para que isto seja resolvido,mas que ela estaria disposta a ir a mídia caso isto não se resolvesse.

Ainda na gravação três advogados e ex-coroinhas falam diretamente em valores, Flávio diz que a gravação vai ter um efeito dominó e que todos os escândalos da Diocese virão a tona.

A proposta inicial que era de R$ 5 milhões baixa para R$ 1 milhão e chega a R$ 500 mil. É neste momento que o advogado Daniel Fernandes explica que eles deveriam formalizar esta denúncia para o próprio Bispo.

Na conversa eles revelam que o advogado entrou no caso após o Cônego Everaldo de Maceió ter sabido do vídeo e comunicado a Diocese.

O ex-coroinhas voltam a falar sobre o caso do ex-coroinha que pegou Aids. O advogado pergunta se o garoto pegou Aids na Diocese e eles dizem que não. O advogado tenta dizer ainda que não existe menor envolvido, e que houve uma tentativa de extorsão e tenta diferenciar a pessoa do Monsenhor Luiz Barbosa do padre.

"Se a idéia de vocês é detonar,ninguém vai poder detonar...Agora eu pergunto, uma pessoa de 14 ou 15 anos não sabem se livrar de um certo assédio... O que vocês querem mesmo é dinheiro" disse o advogado.

É neste momento que os ex-coroinhas falam do patrimônio do padre e mostram conhecimento do valor de cada imóvel. "Se vocês acham que o monsenhor é uma pessoa realmente má, não é este dinheiro que vai reparar vocês" explicou o advogado.

Os ex-coroinhas dizem que pararam a vida deles após os abusos, enquanto o advogado tenta argumentar para diminuir o valor pedido, que era então de R$ 1 milhão.

No final da gravação começa a falar em dinheiro especificamente, e o advogado pede para eles fazerem uma contra-proposta. "Eu posso falar em nome de todos, estou autorizado para isto, que R$ 500 mil, nunca mais isto aqui (o vídeo) não virá à tona" explicou o Flávio.

Daniel Fernandes perguntou se este valor repararia todo o dano, e eles dizem que sim.

É nesta parte que os ex-coroinhas dizem que existe uma cópia da gravação com o Bispo Dom Valério Breda. Eles falam ainda das garantias do acordo.

No final da conversa o ex-coroinhas fazem um ultimato, "É R$ 500 mil digam se é sim ou não", então o advogado finaliza. "Em minha opinião a resposta é não"

Ouça aqui a gravação na íntegra

http://www.cadaminuto.com.br/index.php/cmtv/exibir/id/178/v/ouca-a-negociacao-entre-os-advogados-dos-padres-e-os-excoroinhas-sobre-o-video-de-sexo

Alagoas na Net: http://www.alagoasnanet.com.br/site/?p=noticias_ver&id=1134

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Os sem-vergonha de ser militante do PSDB

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Tropa de elite. Como enfrentar isto?

Diante da popularidade do governo que combate há oito anos, a imprensa conservadora se organiza como nunca para tentar evitar nova indigestão eleitoral

Por Anselmo Massad, Rede Brasil Atual

Roberto Civita, presidente do Grupo Abril, foi um dos participantes do fórum do Instituto Millenium em defesa da liberdade de expressão.

Durante 12 horas de uma segunda-feira, 1º de março, colunistas e comentaristas de alguns dos veículos de comunicação comercial de maior tiragem e audiência no país estiveram reunidos em São Paulo para um tipo de discussão inédito, em um hotel num bairro nobre da cidade. O 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão tinha, como cerne, debater “constantes ameaças” exercidas especialmente por governos sul-americanos – incluindo o brasileiro.

Dois altos comandantes de empresas de comunicação participaram – Roberto Civita, do Grupo Abril, e Otavio Frias Filho, da Folha de S.Paulo. As exposições mais proeminentes, porém, couberam a quem é contratado para emitir opiniões. O geógrafo Demétrio Magnoli (revista Época e Folha), o cineasta Arnaldo Jabor (Jornal da Globo e Rádio CBN), o jornalista Reinaldo Azevedo (Veja Online), o filósofo Denis Rosenfield e outros articulistas protagonizaram as duras acusações ao governo federal, à esquerda e ao PT, no que diz respeito a “atentar contra a liberdade de expressão, de imprensa e a democracia”.

Junto de representantes de empresas de comunicação sul-americanas e de jornalistas como William Waack (Jornal da Globo e Globonews), Carlos Alberto Di Franco (Estadão) e Carlos Alberto Sardenberg (CBN e Globonews) ofereceram um receituário informal para a cobertura do pleito. O conjunto de recomendações funcionaria como um guia sobre como se posicionar, política e partidariamente, durante as eleições presidenciais deste ano.

“Parece-me que, pela primeira vez de uma forma pública, houve um evento com espaço para articular uma pauta”, avalia Cristina Charão, membro do Coletivo Intervozes e editora do Observatório Direito à Comunicação. “Não é só eleitoral, é uma pauta programática”, completa. Ela pondera que, antes, apenas em encontros de entidades patronais, como a Associação Nacional de Jornais (ANJ), empresários do setor se reuniam, mas sem delimitar tão claramente uma plataforma. Desta vez, até os vídeos das palestras estão no YouTube.

"A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo" Arnaldo Jabor

"A imprensa tem que acabar com o isentismo e o outroladismo, essa história de dar o mesmo espaço a todos" Reinaldo Azevedo

"Se o Serra ganhasse, faríamos uma festa em termos das liberdades. Mas a perspectiva é de que a Dilma vença" Demétrio Magnoli

"Observamos no Brasil tendências cada vez maiores de cerceamento da liberdade de expressão. O projeto é claro" Denis Rosenfield

"Eu sou socialdemocrata, tenho simpatia pelo PSDB. Não tenho nenhuma vergonha de dizer isso. Sou oposição hoje. Totalmente" Marcelo Madureira

Questão de projeto

O organizador do evento foi o Instituto Millenium, associação constituída em 2006 e hoje com status de Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). Orgulha-se de não receber dinheiro público e lista, entre os colaboradores financeiros, João Roberto Marinho, Jorge Gerdau Johannpeter e Roberto Civita. A ONG assume posições claras de defesa de livre mercado, propriedade privada, democracia representativa, “sem caráter partidário”.

Alguns pontos dessa agenda são: nada de democracia participativa, de políticas de ações afirmativas (como cotas), de presença do Estado na economia ou de constituição de algum mecanismo de controle da sociedade sobre o que se produz em termos de comunicação social, sobretudo aquela veiculada por meio de concessões públicas, como emissoras de rádio e TV. Ou, como definiu Rosenfield, articulista do Estadão e da Folha: “Observamos no Brasil tendências cada vez maiores de cerceamento da liberdade de expressão (...). O projeto é claro. Só não vê coerência quem não quer”, afirma.

Aliás, mesmo o compromisso das empresas de comunicação comercial com os valores tão caros aos participantes do fórum chegou a ser questionados. Reinaldo Azevedo, blogueiro da Veja, alertou os colegas que a “guerra da democracia do lado de cá” está sendo perdida. Para mudar? “Na hora em que a imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem a quer solapar, começaremos a mudar uma certa cultura”, previu.

Demétrio Magnoli contribuiu para apontar a direção almejada. “Se o Serra ganhasse, faríamos uma festa em termos das liberdades. Seria ruim para os fumantes, mas mudaria muito em relação à liberdade de expressão. Mas a perspectiva é de que a Dilma vença”, lamentou.

O humorista Marcelo Madureira assinalou em seu depoimento que “como cidadão se sente ameaçado” naquilo que lhe é mais caro, por ter representado “a luta da minha vida por viver num país democrático”. O casseta não poupou críticas a Lula – “o presidente da República faz da mentira prática política” – e admitiu sua preferência partidária: “Eu sou socialdemocrata, tenho simpatia pelo PSDB. Não tenho nenhuma vergonha de dizer isso. Eu sou oposição hoje. Totalmente”.


Longe dali, o jornalista e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) Bernardo Kucinski, colaborador da Revista do Brasil, acredita que se trata de uma tentativa artificial de os empresários da comunicação dizerem que há censura no Brasil por parte do Estado. “Os setores conservadores querem se antecipar a um debate que deve ser feito, que é inevitável, que é o debate do oligopólio dos meios de comunicação”, resume, em entrevista à revista Fórum. “Então eles exacerbam o discurso, que se torna cada vez mais agressivo, raivoso.” Para Kucinski, a afirmação de que há censura no Brasil ou ameaças às liberdades de imprensa não procedem. Segundo ele, houve casos em que o Judiciário manifestou-se em relação a alguns veículos. “Liberdade de quem? É só discurso pela liberdade empresarial”, alfineta.

Partidarismo?

A partir de 2005, quando alguns dos principais expoentes do governo Lula sofriam um bombardeio de acusações, defensores do governo foram progressivamente se inclinando a um discurso de enfrentamento à mídia. Refutavam denúncias atribuindo-lhes caráter de golpismo e defesa de interesses da elite brasileira. A expressão mais famosa foi cunhada pelo deputado federal Fernando Ferro (PT-PE), e tornada famosa na blogosfera após adoção pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, em seu Conversa Afiada: Partido da Imprensa Golpista, o PIG.

Agora, passado o encontro de 1º de março, ganharam novo ímpeto as acusações de conspiração por parte da mídia. Um dos relatos mais detalhados, que poderia até soar como teoria da conspiração se não tivesse tantas aplicações práticas no dia a dia da imprensa, é assinado pelo jornalista Mauro Carrara, que nomeia como “Tempestade no Cerrado” uma nova operação de bombardeio midiático sobre o governo Lula. A paródia de “Tempestade no Deserto”, ação militar dos Estados Unidos na primeira Guerra do Golfo, em 1990, envolveria ataques por frentes variadas e com intensidade – como resgatar o “mensalão”, vincular Lula ao Irã e a Cuba, destacar notícias econômicas negativas, e por aí afora.

O professor Venício Lima, do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília (UnB), pondera: “Como no Brasil não há restrições à propriedade cruzada de tipos de canais, os conglomerados são multimídia – donos de jornais, rádios, TVs e grandes portais –, o que reduz o número de empresas a poucos grupos em todo o país”, lembra. O professor organizou um livro sobre o papel dos principais veículos na campanha de 2006, incluindo três estudos quantitativos – do Observatório Brasileiro de Mídia, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP) – a respeito da cobertura. Todos indicaram predisposição para favorecer o então candidato da oposição, Geraldo Alckmin (PSDB).

Para Venício, seria uma conduta de lealdade, honestidade e correção ética se a mídia assumisse a preferência por seus candidatos, prática de exceção no Brasil, adotada apenas por O Estado de S. Paulo, entre a mídia convencional. Ou por Carta Capital, entre as revistas comerciais, e esta RdB, em 2006 – a exemplo do que fazem veículos importantes nos Estados Unidos.

“É uma situação mais ou menos invertida em relação ao Brasil: lá (nos EUA), ao assumir o apoio, há um esforço para que essa posição não contamine a cobertura jornalística”, aponta Venício. “Aqui, os grupos de mídia, embora não declarem abertamente o apoio a um candidato, essa posição fica cada vez mais explícita por contaminar a cobertura. Mesmo assim há uma certa subestimação da capacidade crítica do público, de que adotam conduta imparcial”, compara.

Em outros momentos da história política recente do país, as grandes coberturas da imprensa não davam indicações de haver uma articulação orquestrada. O chamado “pensamento único” em relação a temas como privatizações, flexibilização de direitos trabalhistas, liberdade para o próprio mercado ditar os rumos da economia etc. parecia fluir de um entendimento tácito. Agora, o fórum do Instituto Millenium expõe uma conduta organizada e inédita. Os desdobramentos dessa articulação poderão ser acompanhados com a chegada da temporada eleitoral. E qual será o peso dessa unidade frente ao potencial da internet de multiplicar o acesso à informação – em ascensão inclusive nas classes C e D? A conferir, nos próximos capítulos.

Cartilha ou coincidência?

O 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão explicitou posições políticas da mídia conservadora. Há quem diga que o receituário sempre esteve presente no noticiário. Outros apostam num recrudescimento do chamado “pensamento único” a partir dessa articulação inédita em torno de pautas como:

* 
“Novo comando do PT ataca mídia na 1ª reunião” (O Globo, 6/3/2010: “A cúpula do PT está disposta a intensificar o debate ideológico sobre o papel da mídia na cobertura da campanha presidencial”).

* 
“Liberdade em risco” (Zero Hora, 6/3/2010, em editorial: “As constantes tentativas de interferência na atuação da imprensa têm mais defensores entre integrantes do Partido dos Trabalhadores do que no governo”).

Críticas à política externa

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“Presidente é cúmplice da tirania, afirma grevista” (Folha, 10/3/2010, sobre comportamento de Lula em visita a Cuba).
* 
“Defesa do Teerã reforça isolamento brasileiro” (Folha, 4/3/2010, análise aponta “soberba” da política externa por defender diálogo com o Irã mesmo frente a Hillary Clinton, secretária de Estado norte-americana).

Desqualificar Dilma Rousseff

* “A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo” (fala de Arnaldo Jabor, no fórum).

* “Novata, Dilma obedece aos veteranos do PT” (Folha, 21/3/2010. Direta como a reportagem, uma charge mostrava Dilma como uma marionete controlada pelos tais “veteranos”).

Assumir posição eleitoral

* “A imprensa tem que acabar com o isentismo (sic) e o outroladismo (sic), essa história de dar o mesmo espaço a todos” (fala de Reinaldo Azevedo no fórum).

* “Serra vai se lançar candidato defendendo ‘Estado ativo’” (Estadão, 13/3/2010, manchete da edição que inaugurava o novo projeto visual. “Sinceridade, serenidade, crítica sem agressão, propostas no lugar de promessas são as linhas gerais da campanha presidencial do governador de São Paulo, José Serra”).

* “Enfim, candidato! Serra admite na TV que concorrerá à Presidência” (Veja, 22/3/2010).

* “Serra comemora aniversário em meio à agenda intensa” (Folha Online, 19/3/2010. “Nem mesmo em seu aniversário o governador deixará sua agenda pública de lado, que nos últimos dias anda cheia por conta das obras e realizações que pretende inaugurar antes do prazo máximo para a desincompatibilização do cargo para a disputa eleitoral, no início de abril”).

Combater intervenções do Estado

* “Banda larga é eleitoral” (Estadão, 13/3/2010. Ethevaldo Siqueira, articulista de tecnologia, critica a proposta de uso de redes públicas de fibra óptica para fornecer acesso à internet em alta velocidade a todo o país).

www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1468

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ahmadinejad: “O Irã é a única chance de sucesso que Obama ainda pode tentar”

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Al-ManarTV, Beirute

O presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad disse ontem que o Irã é a única chance de sucesso que restou ao presidente Barack Obama dos EUA, depois dos revezes que Washington sofreu nos vizinhos Iraque e Afeganistão. Ahmadinejad informou que enviou carta a Obama, cujo conteúdo será divulgado em futuro próximo.

“O Irã”, disse o presidente Ahmadinejad, “foi a última chance” que restou, para que Obama tente cumprir sua promessa-slogan de “mudança”. “Que fórmula o presidente dos EUA poderia propor, para obter algum progresso real na Palestina, que pudesse ser apresentada como vitória para ele e fortalecesse sua posição dentro dos EUA?” perguntou o presidente Ahmadinejad.

“Os EUA não podem fazer coisa alguma no Iraque ou no Afeganistão, porque a situação está tão difícil e tão complicada que o presidente não consegue criar qualquer possibilidade tangível de mudança que possa ser apresentada como uma vitória” – nos termos divulgados pela Agência iraniana de notícias, citando o presidente.

Ahmadinejad observou que Obama não conseguirá fazer melhorar a economia dos EUA por milagre. “Só restou um modo pelo qual Obama ainda pode dizer ao mundo que provocou mudança: é o Irã” – disse o presidente.

Ahmadinejad repetiu que é hora de o presidente Obama desistir de ameaçar o Irã: “Acabou o tempo em que os EUA ainda podiam acreditar que podiam prejudicar o Irã. Graças a Deus, já ninguém tem poder para prejudicar o Irã” – disse o presidente. Ahmadinejad acrescentou que o Irã não deseja confrontação e busca exclusivamente o direito de cooperar e negociar com outros países.

O presidente informou também que enviara carta ao secretário-geral da ONU Ban ki-Moon com pedido de que “se instale comissão independente de investigação sobre os ataques de 11/9 contra os EUA”. “Os ataques jamais foram devidamente investigados, tudo foi encoberto. Por isso, ninguém conhece a verdade. Mas os ataques foram usados como pretexto para que os EUA atacassem, até agora, dois países” [o Iraque e o Afeganistão].

Ahmadinejad insistiu que a ONU deve criar aquela comissão de investigação, atitude que os países da Região aprovariam, para investigar o que aconteceu, quais os responsáveis pelos ataques, para que sejam expostos. “Todas as nações Regionais cuidariam de pegá-los pelo pescoço e dar-lhes o castigo que merecem.”

O artigo original, em inglês, pode ser lido em:

http://www.almanar.com.lb/NewsSite/NewsDetails.aspx?id=133510&language=en

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domingo, 11 de abril de 2010

“Luta, Substantivo Feminino”

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“No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei”

Recebo, com certa frequência, os artigos e crônicas da Agência Assaz Atroz. Pois bem, dessa vez minha indignação, provocada pelo conteúdo de um artigo, foi maior do que de algumas outras vezes. Como sei que, nos dias atuais, não basta se indignar, resolvi partilhar o assunto com os nossos 14 quiproconianos, no intuito de promover o debate e, por que não, provocar a indignação de cada um. Até porque, pasmem, amanhã, se comemora o aniversário do golpe militar de 1964.

Na verdade o artigo escrito pelo professor José Ribamar Bessa Freire, colaborador da Assaz Atroz, se refere ao livro “Luta, Substantivo Feminino”, lançado quinta-feira passada na PUC de São Paulo. O livro conta as histórias de 45 mulheres que foram presas, torturadas, violentadas, mortas ou desaparecidas. Quase todas militantes, inconformadas com a ditadura estabelecida pelo golpe militar de 1964. O livro contém ainda o testemunho de 27 sobreviventes. Destes, José Ribamar destaca 9 em seu artigo.

A partir de hoje trarei em doses homeopáticas, de três em três, trechos dos depoimentos dessas mulheres e alguns detalhes sobre o livro. Faço-o em pequenas doses, pois, todos de uma só vez (como fez José Ribamar em seu artigo), poderão causar náuseas e, como ele bem escreveu; “nos deixam envergonhados, indignados, estarrecidos, duvidando da natureza humana, especialmente porque sabemos que não foi uma aberração, um desvio de conduta de alguns indivíduos criminosos, mas uma política de Estado, que estimulou a tortura, a ponto de garantir a não punição a seus autores, com a concordância e a conivência de muita gente boa “em nome da conciliação nacional”.”

Rose Nogueira - jornalista, presa em 1969, em São Paulo, onde vive hoje. “Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os ‘40 dias’ do parto. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Segurei os seios, o leite escorreu. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele (delegado Fleury) ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’”.

Izabel Fávero – professora, presa em 1970, em Nova Aurora (PR). Hoje, vive no Recife, onde é docente universitária: “Eu, meu companheiro e os pais dele fomos torturados a noite toda ali, um na frente do outro. Era muito choque elétrico. Fomos literalmente saqueados. Levaram tudo o que tínhamos: as economias do meu sogro, a roupa de cama e até o meu enxoval. No dia seguinte, eu e meu companheiro fomos torturados pelo capitão Júlio Cerdá Mendes e pelo tenente Mário Expedito Ostrovski. Foi pau de arara, choques elétricos, jogo de empurrar e ameaças de estupro. Eu estava grávida de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei. Quando melhorei, voltaram a me torturar”.

Hecilda Fontelles Veiga - estudante de Ciências Sociais, presa em 1971, em Brasília. Hoje, vive em Belém, onde é professora da Universidade Federal do Pará. “Quando fui presa, minha barriga de cinco meses de gravidez já estava bem visível. Fui levada à delegacia da Polícia Federal, onde, diante da minha recusa em dar informações a respeito de meu marido, Paulo Fontelles, comecei a ouvir, sob socos e pontapés: ‘Filho dessa raça não deve nascer’. (...) me colocaram na cadeira do dragão, bateram em meu rosto, pescoço, pernas, e fui submetida à ‘tortura cientifica’. Da cadeira em que sentávamos saíam uns fios, que subiam pelas pernas e eram amarrados nos seios. As sensações que aquilo provocava eram indescritíveis: calor, frio, asfixia. Aí, levaram-me ao hospital da Guarnição de Brasília, onde fiquei até o nascimento do Paulo. Nesse dia, para apressar as coisas, o médico, irritadíssimo, induziu o parto e fez o corte sem anestesia”.


No Dia Mundial da Juventude, educação!!!! No +, MÚSICAEMSUAVIDA!!!

http://www.macleim.com.br/

sábado, 10 de abril de 2010

Contraponto 1870 - "Dilma e o Terrorismo"

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Airton de Farias

Fábio Campos, colunista de O Povo [jornal cearense], entrou na cantilena dos jornaizões do sudeste contra Dilma, ressaltando o passado “terrorista” da candidata de Lula. É um jogo perigoso, pois Fábio faz analises históricas totalmente descontextualizadas. Jornalista não é Historiador. Trabalhar com história requer conhecimentos sobre teorias e metodologias da área, coisas que certamente não se ensina na faculdade de jornalismo. E nem se aprende lendo a Veja. Um dos erros maiores dos historiadores é o anacronismo, ou seja, levar valores de uma época para outra. Esse é o erro recorrente de Fábio e do resto da imprensa brasileira quando fala do passado.

Fabio Campo ressalta na coluna de O Povo o discurso de que Dilma era uma “terrorista, antidemocrática e que pretendia implantar uma ditadura comunista no Brasil”. Caro Fábio, nos anos 1960 e 70, ninguém estava muito preocupado com democracia, nem as esquerdas, nem as direitas, e nem a sociedade, em virtude da radicalização do jogo político e da Guerra Fria (tanto que os Estados Unidos e a União Soviética apoiaram regimes os mais nefastos). O que movia o sonho das pessoas naquele contexto era o da revolução e de como resolver os graves problemas sociais do mundo – uma prova é que no Brasil os militares chamaram o Golpe de 64 de “revolução”. Na conjuntura política dos anos 60 (marcada pela lutas antiimperialistas na África e Ásia, a exemplo da Guerra do Vietnã e da Independência da Argélia, processos violentíssimos e pelo impacto da Revolução da Revolução Cubana de 1959), a luta armada fazia parte das opções políticas existentes. Exemplo disso é Nélson Mandela, que defendia a luta armada e realizou até treinamento militar de guerrilha, episódio que a mídia hoje curiosamente esquece, pois interessa ressaltar o líder negro pacifista. Ora, Mandela mudou de posição. Muitas das pessoas (de esquerda), que pegaram em armas mudaram de posição, sobretudo no final dos anos 1970, quando em nova conjuntura, passou-se a valorizar a democracia como conhecemos hoje.

História é conjuntura. Fazer análises das pessoas sem levar em conta o contexto em que elas viveram é desonestidade intelectual ou tremenda falta de conhecimentos. As pessoas que chamam Dilma de “terroristas” esquecem, por exemplo, que boa parte do empresariado brasileiro, e cearense, contribuíram com a Operação Bandeirante, que formou um grupo paramilitar o qual surrava, prendia e eliminava os opositores, fossem guerrilheiros ou não. È esquecer que a imprensa apoiava, justificava e se auto-censurava pelo que estava acontecendo no Brasil. Foi o caso do jornal O Povo, que apresentava grandes relações com o ex-coronel e governador Cearense Virgilio Távora e com a Ditadura Militar, como se pode ver no anexo, um editorial do jornal de 11 de novembro de 1970 e uma propaganda de 4 de novembro do mesmo ano, em que se pede votos para a Arena, partido de sustentação do regime (atual Dem e que apóia o candidato José Serra). O Povo e Dilma defendiam regimes autoritários, caro Fábio – e agora, você vai condenar a empresa em que trabalha e seus patrões pelo passado “autoritário”?


Há ainda, caro Fábio, uma separação entre guerrilha, terrorismo e terror, termos que o senhor e o resto da imprensa confundem ou usam de forma inapropriada. Ao mencionar guerrilha, referimo-nos à forma de luta armada revolucionária cujo objetivo é a conquista do poder, destruindo as instituições existentes e emancipando socialmente as populações – como desejavam os grupos armados brasileiros dos anos 1960 e 1970 –, e não a uma simples tática militar. Conforme Noberto Bobbio, essa nova acepção de guerrilha vincula-se diretamente à experiência vitoriosa da revolução Cubana de 1959. A expressão não deve ser usada da maneira pela qual faziam a Ditadura Militar, a imprensa e seus aliados, como sinônimo de terrorismo, entendendo-se por este, conforme ainda aquele pensador, a prática política que recorre sistematicamente à violência contras as pessoas ou às coisas provocando o terror, isso de forma indiscriminada, ou seja, atingindo não somente o inimigo de classe, mas quaisquer pessoas próximas. O terrorismo, assim, não pode ser considerado uma forma de luta de classe, embora os grupos guerrilheiros eventualmente também recorram a ações terroristas contra pessoas ou grupos diretamente ligados à classe que se mantém no poder – não com freqüência, pois poderiam provocar vítimas inocentes e uma reação contrária da população, daí sua condenação por líderes como Lênin e Ernesto Che Guevara. Por fim, ainda seguindo o pensamento de Bobbio, compete distinguir terrorismo de terror, compreendido no sentido do instrumento de força e violência usado por parte de quem já detém o poder dentro do Estado para combater seus questionadores – é novamente o caso da Ditadura Militar brasileira, que sistematicamente recorria ao terror para reprimir as oposições de esquerdas, fossem armadas ou não. BOBBIO, Noberto. Dicionário de Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial de São Paulo, 2000. p. 152, 577, 578, 1242 e 1243.

O fato de a esquerda desejar o socialismo e ter pegue em armas não diminui seu papel na resistência à Ditadura e sua contribuição para a democratização do Brasil – durante a II Guerra Mundial, por exemplo, vários comunistas, a exemplo dos italianos, que defendiam o sistema soviético, foram fundamentais na luta armadas contra o regime fascista de Mussolini. A questão de o projeto político das esquerdas ter fracassado ou não ter condições de materializar-se de forma nenhuma inviabiliza ou desmerece quem ousou lutar contra o que estava acontecendo no País.

E mais, caro Fábio, esse jogo dos serristas e Ciristas de lembrarem do passado “terrorista” de Dilma pode ser um tiro no pé. Explico. Um dos poucos atos de fato terrorista, atingindo civis inocentes, praticados pela esquerda brasileira foi realizada pela Ação Popular, grupo no qual militava José Serra!! Foi o desastroso atentado à bomba contra o então candidato a presidência Costa e Silva, no aeroporto Guararapes de Recife, a 25 de julho de 1966, no qual morreram duas pessoas e saíram feridas outras 14. Não vejo a imprensa em nenhum momento responsabilizando Serra ou o chamando de “terrorista” por esse episódio...

Quanto a Ciro Gomes, não há muitas polêmicas. Ciro pertence a uma oligarquia que governa Sobral há décadas. Ciro apoiava a Ditadura e tem uma vida caracterizada pelo oportunismo e incoerência. Foi cesista, depois apoiou Virgílio, depois Tasso, depois foi tucano, depois freirista, depois lulista e agora socialista!!! Que político! É cômico ver como Ciro é tratado no Ceará – poucos têm coragem de apontar o absurdo que é a trajetória política desse sujeito!

É muito fácil ficar falando sozinho numa coluna de um jornal, caro Fábio. Democracia pressupõe debate. Abra o debate e vamos discutir democraticamente.

http://contrapontopig.blogspot.com/2010/04/contraponto-1870-dilma-e-o-terrorismo.html

*Airton de Farias - Professor e Historiador (Mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará), autor de HISTÓRIA DO CEARÁ, DA PRÉ-HISTÓRIA AO GOVERNO CID GOMES e ALÉM DAS ARMAS, GUERRILHEIROS DE ESQUERDA NO CEARÁ DURANTE A DITADURA MILITAR (1968-72).

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PITACO DO ContrapontoPIG

Artigo do Professor Airton de Farias dirigido ao colunista Fábio Campos do Jornal O Povo (CE)

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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sexta-feira, 2 de abril de 2010

Argentina: Testemunhas contra genocidas são assassinadas

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(O Caso de Silvia Suppo, 29 de março de 2010)

Carlos Alberto Lungarzo
Anistia Internacional (USA)

A ditadura militar argentina de 1976, cujo 34º aniversário foi completado a semana passada, continua fazendo vítimas. Desde 1976, essa ditadura foi a sétima num país que só conheceu isso que chamam “democracia” por curtíssimos períodos e nunca de forma perfeita, e que apenas teve governos moderadamente enquadrados na lei desde 1983. Este começo de uma relativa democracia moderna (no estilo de outros países da região, como o Brasil), não foi um triunfo da classe política, que sempre foi conivente com o terrorismo de estado, mas por causa do fracasso dos militares na guerra de 1982, o que deixou seu governo em situação insustentável no cenário nacional e internacional.

É fácil demonstrar que essa ditadura foi o mais cruel e sanguinário processo autoritário em Ocidente (limitado a um país só; estou excluindo a Segunda Guerra Mundial), depois da ditadura espanhola, e acima de regimes como o de Pinochet e as ditaduras da América Central. Peço às organizações de Direitos Humanos que leiam este comunicado, que façam conhecer a notícia tanto como seja possível.

O Contexto Geral

Vejamos brevemente o histórico do problema. Segundo cálculos das organizações de DH, durante a ditadura argentina (e seu antecessor, o governo de Maria Estela Perón, viúva de Juan Perón) foram capturadas, seqüestradas e tornadas “desaparecidas” 30 mil pessoas, num país cuja população média no período 75-81 era de 30 milhões, configurando a taxa nunca atingida antes em Ocidente de 1% da população. Esse cálculo, tido como padrão, pode ser conservador, em minha opinião. Documentos chilenos recentemente desclassificados mostram que os militares argentinos tinham informado ao Chile em agosto de 1978, que os desaparecidos eram por volta de 22 mil. Observe-se que a ditadura durou até 1983, e que até 1981 continuaram praticando-se sequestros. Essa data está aquém do ponto médio do período agudo das capturas (1976-1980), o que faria pensar que pode ter existido uma quantidade similar no período seguinte.

Em 1983, Raul Alfonsín, membro de um velho partido de centro da Argentina (UCR), que representa sobretudo a classe média, e foi famoso ao longo da história por sua colaboração com golpes de estado e conspirações, ganhou as eleições para presidente. Alfonsín, o primeiro dirigente da UCR que não cultuava o típico estilo de caudilho urbano, pretendeu, com muito esforço, vender uma imagem de governo moderno e democrático.

Pressionado por vários governos (na Argentina foram assassinados cidadãos de 32 países, alguns realmente concernidos com os DH como Suécia) e por parentes e amigos de assassinados ou exilados (quase 10% da população), o governo se viu obrigado, a contragosto, a abrir uma investigação, onde o número de denúncias espontâneas de parentes das vítimas atingiu quase um 3º do número real de desaparecidos (Por volta de 9 mil em 1984). Isto é um número alto, se pensamos no clima de terror que assombra a sociedade desde pelo menos 1975, e a enorme quantidade de crimes políticos contra defensores de DH ou amigos das vítimas.

O processo de denúncias se tornou massivo e fugiu do marco puramente simbólico em que o governo e quase toda a classe política queria manter-lo. O assunto acabou na justiça, onde 9 comandantes (acusados de centenas de assassinatos comprovados, aplicação de tortura, sequestro, estupro, etc.) foram condenados a penas que iam desde prisão perpétua (Videla) até menos de 10 anos.

A própria dinâmica do processo conduziu às pessoas a continuar apresentando denúncias. Os poucos sobreviventes denunciaram a seus algozes, torturadores, carcereiros, etc. Em 1986, a lista de policiais e militares acusados de crimes que, se fossem punidos de acordo com a lei, teria prisão perpétua (uma pena que existe na Argentina).

Assustados pelo rumo que tomavam os acontecimentos, os políticos argentinos (salvo uma minoria de esquerda que constituía menos de 1% do parlamento) decidiram fechar o caso. Pode confundir o fato de que vários partidos de direita (como Justicialista, fundado por Perón) se opunham a anistiar os militares, mas isso era uma manobra para se opor ao governo e deixar este isolado, visando as próximas eleições. O peronismo e os partidos conservadores foram, salvo naquele momento, os que mais defenderam os militares.

Mas, o governo conseguiu passar duas leis nos meses seguintes: a Lei do Ponto Final, que fechava a recepção de novas denúncias, a partir de certa data, e a infame Lei de Obediência Devida, que justificava quase todo tipo de crime (salvo estupro e registro de crianças seqüestradas, mas não assassinato e tortura), desde que o autor pudesse justificar que cumpriu ordens. Salvo o ditador maior em cada momento, qualquer outro poderia aduzir que cumpriu ordens.

Em 2005, depois de 20 anos perdidos, a justiça argentina considerou esta lei anti-constitucional e, por estímulo do governo Kirchner, começaram a ser retomados, lentamente, os julgamentos contra os militares, muitos deles na beira do túmulo depois de ter vivido 80 ou mais infernizando a sociedade. Não saberia dizer exatamente sem consultar alguma fonte, mas acredito que, nesse período, mais de uma dúzia de culpados, alguns de alta patente, foram condenados a penas maiores de 20 anos.

Há alguns anos, um senhor que tinha sido torturado pelos militares, e que declarou num processo em 2006, desapareceu bruscamente depois de depor contra um militar, que foi condenado. O governo Kirchner fez um grande esforço para encontrar o seqüestrado, identificar e punir os culpados, mas foi inútil. O tecido social argentino está envenenado por décadas de delação, medo de militares e policiais, e viciamento com o terrorismo de estado. A tarefa de normalizar a sociedade será difícil.

A Causa Brusa

A repressão na Argentina teve muitas peculiaridades que não são encontradas nem mesmo nos piores momentos do nazismo. Uma delas é relevante aqui: a tendência do judiciário a tornar-se cúmplice de torturas praticadas por militares e policiais. A ditadura não precisou fazer uma substituição grande dos quadros judiciais, como na Alemanha, onde junto à justiça tradicional foi sendo introduzida, aos poucos, um estilo de justiça nacional-socialista. Na Argentina, o mesmos juízes convencionais tomaram depoimento e conduziram ou legitimaram inquéritos cometidos sob tortura.

Não foram raros os juízes torturadores em sentido estrito. Como os juízes têm uma extração social mais alta que policiais ou suboficiais militares, eles não queriam (nem precisavam) “sujar as mãos” utilizando máquinas de choque, canivetes, metais esquentados, etc., ou praticando estupros, mas assistiam aos tormentos, durante os quais ameaçavam às vítimas com suplícios ainda maiores. Também praticaram todo tipo de intimidação e tortura psicológica.

Um dos piores casos foi o de juiz federal VICTOR HERMES BRUSA, procurado pelo juiz espanhol Balthazar Garzón, um dos maiores heróis da defesa dos DH em Ocidente. Brusa operava em Santa Fé, no estado do mesmo nome, a uns 600 km de Buenos Aires, onde tomava declarações a torturados, mutilados, mulheres estupradas, depois de ter passado pelo sadismo da polícia, incluindo mulheres policiais. Brusa era membro permanente das equipes de tortura em dois centros de extermínio clandestinos naquela cidade e, embora não se tenha dito que aplicasse tortura física com sua própria mão, submetia as vítimas a tormentos psicológicos e ameaças, até obrigar-las a assinar depoimentos cujo conteúdo não podiam ler.

Para quem conhece a insanidade e barbárie superlativa do processo militar argentino, o caso Brusa não é dos piores. Nos locais onde ele colaborou na tortura desapareceram “apenas” algumas centenas de pessoas (não se sabe ao certo, mas são mais da metade das vítimas produzidas pela ditadura brasileira). Aliás, houve 18 que foram poupados e, embora muito torturados, foram mantidos vivos. Todos eles afirmaram que o juiz Brusa monitorava as torturas, “torcia” pelos torturadores e ameaçava às vítimas.

Argentina não podia extraditar a Brusa, que era requerido pela Espanha, por causa de uma lei infame e chauvinista que proíbe extraditar os nacionais (esta lei existe em muitos países), mesmo em caso de crimes contra a Humanidade. Entendo que o governo Kirchner propôs a anulação desta lei, mas não sabemos se teve sucesso.

No final de dezembro de 2009, o teratológico magistrado foi julgado na própria cidade de Santa Fé e condenado a 21 anos de prisão, uma pena não muito maior a que se aplica na Argentina a um crime comum como latrocínio. De qualquer maneira, foi um grande triunfo que o poder judicial condenasse a um de seus membros, algo que nunca tinha acontecido no país.

http://www.desaparecidos.org/arg/tort/jueces/brusa/veredictobrusa.pdf

A Testemunha Silvia Suppo

Em 1977, Silvia Suppo, então com 17 anos foi seqüestrada por uma gangue policial. A ditadura tinha lançado, em certas cidades, a palavra de ordem de deter e torturar os estudantes de certa faixa de idade (geralmente, entre 15 e 20 anos) que podiam ser suspeitos. Quando as pessoas não respondiam a uma tortura dura, porém reversível, a polícia deduzia que esse não era o que procuravam e podiam, em alguns poucos casos, deixá-la livre depois de algumas semanas de tormento, que foi o aconteceu com Silvia. Entretanto, isto não era o mais comum. A maioria era alvo de queima de arquivo.

Silvia foi sequestrada junto com seu irmão e um amigo, mas já antes desse fato, seu namorado tinha sido também vítima de sequestro policial/militar, e nunca reapareceu.

Silvia foi estuprada por seus captores e posteriormente submetida a um aborto. Em 2009, ela declarou este fato ao tribunal, o que foi um dos argumentos-chave para a condenação da eminência togada.

O Esfaqueamento de Silvia

Ontem, segunda-feira, 29 de março, Silvia foi atacada por pessoas não identificadas numa loja que possuía no centro da cidade da Rafaela, na Província (Estado) de Santa Fé. Eram as 10 da manhã, hora de máxima circulação na maior parte das cidades do país. Rafaela tem 84 mil habitantes e forte movimento comercial, além de um patrulhamento policial intenso. Assaltar uma loja no centro sem que a polícia o perceba, no horário comercial, é muito difícil.

Ainda, SILVIA FOI ALVO DE 12 FACADAS QUE LHE PRODUZIRAM A MORTE.

Os atacantes roubaram também 10 mil pesos e objetos de ouro e prata, um fato que deu pretexto à polícia para considerar a hipótese e assalto com morte. É necessário ter em conta:

1. Rafaela não é uma cidade violenta, e assaltos com morte são quase desconhecidos na região.

2. Um assaltante usualmente usa arma de fogo curta para intimidar. Como em qualquer outro país do mundo, aquele que procura dinheiro não tem especial interesse em executar alguém. Aliás, a polícia não se preocupa em perseguir autores de assaltos pequenos; portanto, não faz sentido pensar que foi morta porque viu o rosto do assaltante.

3. Matar por facadas é uma forma extremamente cruel, usada por grupos parapoliciais e paramilitares para que sua vítima sofra o máximo. Em geral, estes grupos preferem seqüestrar a pessoa e submetê-las a torturas que produzam uma morte lenta durante vários dias. Neste caso, isso teria sido mais difícil pela grande movimentação que existe na cidade. Ou, talvez, simplesmente, os executores decidiram entre as duas alternativas a que parecia mais fácil.

4. Finalmente, o argumento do dinheiro roubado é ridículo. Os grupos parapoliciais que cometem crimes contra pessoas vinculadas a DH costumam roubar qualquer coisa de valor que encontrem no local. Isso aconteceu muito durante a ditadura. Membros da polícia fizeram verdadeiras fortunas roubando os pertences de suas vítimas.

5. Não é uma maneira de camuflar o crime. Pelo contrário, os executores preferem que a sociedade suspeite que foi um “acerto de contas” para que outras testemunhas sintam medo.

Devido ao grande movimento da hora, algumas pessoas perceberam que um homem entrou na loja e fechou a porta. Entretanto, ninguém diz ter detalhes para o retratado falado do executor.

É quase absolutamente certo que o crime foi uma vingança pelo depoimento de dezembro, e uma ameaça contra possíveis testemunhas futuras.

Chamado às ONGs Brasileiras de DH

Sendo que, no Brasil, os defensores de DH sofrem ataques (embora não nas áreas urbanas, como no caso de irmã Dorothy), e tendo em conta que as vítimas da ditadura fazem enormes esforços para vencer a criminosa impunidade que se pratica no Brasil, peço a todos os ativistas e organizações que se pronunciem solidariamente sobre este caso.

Peço que cobrem uma manifestação do governo e de outros organismos públicos, e que façam chegar sua preocupação ao governo argentino. Enfatizem o fato de que solidariedade e os direitos humanos são prevalências de nossa constituição e ultrapassar as fronteiras.

Silvia tem parentes no Brasil, que chegaram, como muitos outros, na época da repressão, mas não quero dar publicamente dados sobre eles, pelo menos, se não for autorizado por eles próprios.

Uma denúncia circunstanciada será enviada ainda hoje a nossa Secretaria Geral em Londres, e outra ao juiz Balthazar Garzón, um campeão internacional de DH ao qual se devem os processos contra os grandes criminosos de estado, incluindo Pinochet.

São Paulo, 30 de março de 2010.
Carlos Alberto Lungarzo


Carlos Alberto Lungarzo (RNE V033174-J 11-9939-1501) foi professor titular da UNICAMP até aposentadoria e milita em Anistia Internacional (AI) desde há muitos anos. Fez parte de AI do México, da Argentina e do Brasil, até que esta seção foi desativada. Atualmente é membro da seção dos Estados Unidos (AIUSA). Sua nova matrícula na Organização é de número 2152711.

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PressAA

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Retificação Importante

Há três dias eu enviei a todas minhas redes sociais, uma matéria em que se denuncia o assassinato de SILVIA SUPPO DE DISTEFANIS, uma ex-detida-desaparecida política Argentina.

Na minha matéria, eu procurei colocar uma foto. Para tanto, percorri os sites de jornais argentinos onde se fala do fato, e encontrei uma fotografia que anexei a minha matéria e distribui com a mesma.

A FOTO ESTAVA ERRADA

Peço desculpas, mas, só no dia seguinte tive informação da família de Silvia sobre sua verdadeira foto, que estou anexando agora.

Meu erro também induziu a erro a outros sites e outros companheiros de Direitos Humanos, que confiaram em minha informação.

Lamentavelmente, esqueci que em alguns jornais argentinos se pratica a desinformação inclusive no material gráfico, já que grande parte da imprensa esteve sempre do lado do terrorismo de Estado.

Só hoje tomei conhecimento de que a foto que encabeça a matéria nesses jornais é a de uma mulher que foi TORTURADORA da vítima.

De fato, é frequente na mídia argentina de direita (que é a enorme maioria) fazer brincadeiras macabras. Já outras vezes aconteceu de encabeçar uma matéria com a imagem do algoz e não da vítima. É uma forma de denegrir a imagem da pessoa atingida.
Obviamente, eu deveria ter estado mais atento a esta mórbida prática, e por tanto reitero a minha AUTOCRITICA, e peço a todos os que possam que façam a retificação.

São Paulo, 4/4/2010, 02:15
Carlos A. Lungarzo
Anistia Internacional USA 2142711

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quinta-feira, 1 de abril de 2010

IVANOVITCH, 1964

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Urariano Mota

Ivanovitch era um dos seis filhos de seu Joaquim-da-carne-de-porco. Seu Joaquim, simpatizante do velho Partidão, havia posto nos filhos nomes russos, porque na época a Rússia era a pátria da revolução. Lembro que da sua casa feia, sem janelas, com fachada de pobre ponto comercial, vinha um cheiro de torresmo. Lembro do cheiro abusivo, enjoado, repugnante que dava aquela coisa gorda e farta, só ela e mais nada.

Naqueles anos, um rapaz de futuro, naquele cheiro ativo de toucinho torrado, era um rapaz que gostava de ler, de perguntar, de argumentar. De futuro também era Ivanovitch. Dos seis filhos de seu Joaquim ele era o mais brilhante: gostava de matemática, de química, de física, de política, de filosofia, de romance, lia como um animal que tem fome de letras. E sempre a sorrir.

Por que as pessoas que levam a vida a gargalhar tendem a terminá-la com amargura ou violência? Por que os indivíduos sombrios não são os que enfiam o cano na boca e estouram os próprios miolos? Não, o trágico quer os plenos, cheios de coração. Pois assim como o câncer, que dizem se alimentar da saúde vigorosa, o golpe militar comeu o cérebro do meu amigo. E ele que era diurno, solar, tornou-se febril e noturno, naquele fim de tarde.

Cadê Ivan? – eu perguntei, quando voltei da padaria, no primeiro de abril de 64. – Cadê Ivan? – perguntei, porque eu queria conversar com ele sobre os últimos acontecimentos. Eu queria que ele me explicasse os tanques na rua, se Arraes ainda era governo, se os comunistas haviam perdido a batalha. – Cadê Ivan?

- Vem ver o teu amigo, a sua mãe me disse. Veja como ele está.

E sua mãe me conduziu até o quarto, que era uma divisória de tabique sem porta, como um quarto de estúdio de cinema. Então ela se pôs a chamá-lo, a lhe dizer que eu estava ali, como se eu tivesse o dom de fazê-lo voltar à realidade, a realidade que ela não sabia ser o pesadelo que começava. Chamava-o “Ivan”, para torná-lo ao Ivanovitch de 31 de março, ao rapaz que era a esperança daquela família de seu Joaquim-da-carne-de-porco. Ao que ele respondia:

- As cobrinhas estão subindo em mim. Mãe, me tira essas cobrinhas.

Não era mais Ivanovitch. O de antes era um jovem que passava o dia todo a estudar, todos os dias. Entre uma fórmula e outra me recebia na única mesa da casa. E passava a contar anedotas, a contar casos de meninos suburbanos, espertos, anárquicos, galhofeiros. E sorria, e ria, e gargalhava, porque ao contar ele era público e personagem, e de tanto narrar histórias de meninos moleques deixava na gente a impressão de ser um deles. E contava a rir, a soltar altíssimas gargalhadas o caso que depois foi a sua perdição:

- Na greve dos estudantes de Direito, eu fui lá para prestar solidariedade aos colegas. Eu estava só no meio da massa, assistindo à manifestação. Aí chegou o fotógrafo da revista O Cruzeiro. Quando ele apontou o flash, eu me joguei na frente dos estudantes. Olha aqui a foto.

E mostrava uma página em que ele aparecia de braços abertos, destacado, em queda, como um jogador de futebol em uma brilhante jogada, em voo sobre as palavras de ordem viva Cuba, yankees go home, reforma agrária na lei ou na marra. Sorrindo em queda livre o meu amigo, na página da revista O Cruzeiro.

Por isso ele gargalhava, por sair em edição nacional, por força do seu espírito moleque. Por isso ele me diz agora em 1º. de abril de 1964:

- Tem umas cobrinhas... Eles vêm me pegar!

Sei agora que naquele delírio ele não perdera de todo a lógica. Será que enlouquecemos assim, num diálogo entre a desrazão e a razão? Ivanovitch diminuía o tamanho das cobras para ter milhares delas subindo-lhe pelas costas. Meu amigo delirava e, para ele, para mim, como um último consolo, perdia a razão, mas não perdia a inteligência.

Muitos anos depois eu revi Ivanovitch. Ele estava mais largo, obeso, imenso, com os gestos lentos de um drogado. No rosto, sem acusar reação, havia só olhos apagados, distantes, que não me reconheceram. Ele passou ao largo de mim como um hipopótamo sem sombra, como um elefante sem orelhas, sem tromba, sem presas passaria, só a grande massa de carne. Então eu soube que para ele a barbárie havia vencido.

Parabéns, gorilas, parabéns, golpistas. A família de Ivan até hoje conta que ele enlouqueceu em 31 de março. Esquecem que foi em um 1º. de abril. Não sei se isso faria o meu amigo dar uma gargalhada ampla, grande, do tamanho do futuro e do seu coração de antes.


Urariano Mota, escritor e jornalista, autor de “Soledad no Recife” (Boitempo – 2009) seu último romance, indicado como um possível livro do ano pelo conceituado site Nova Cultura, elaborado e administrado na Alemanha, com os destaques literários da CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa. É colunista do site Direto da Redação, edita o blog SAPOTI DE JAPARANDUBA http://urarianoms.blog.uol.com.br/

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