“No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei”
Recebo, com certa frequência, os artigos e crônicas da Agência Assaz Atroz. Pois bem, dessa vez minha indignação, provocada pelo conteúdo de um artigo, foi maior do que de algumas outras vezes. Como sei que, nos dias atuais, não basta se indignar, resolvi partilhar o assunto com os nossos 14 quiproconianos, no intuito de promover o debate e, por que não, provocar a indignação de cada um. Até porque, pasmem, amanhã, se comemora o aniversário do golpe militar de 1964.
Na verdade o artigo escrito pelo professor José Ribamar Bessa Freire, colaborador da Assaz Atroz, se refere ao livro “Luta, Substantivo Feminino”, lançado quinta-feira passada na PUC de São Paulo. O livro conta as histórias de 45 mulheres que foram presas, torturadas, violentadas, mortas ou desaparecidas. Quase todas militantes, inconformadas com a ditadura estabelecida pelo golpe militar de 1964. O livro contém ainda o testemunho de 27 sobreviventes. Destes, José Ribamar destaca 9 em seu artigo.
A partir de hoje trarei em doses homeopáticas, de três em três, trechos dos depoimentos dessas mulheres e alguns detalhes sobre o livro. Faço-o em pequenas doses, pois, todos de uma só vez (como fez José Ribamar em seu artigo), poderão causar náuseas e, como ele bem escreveu; “nos deixam envergonhados, indignados, estarrecidos, duvidando da natureza humana, especialmente porque sabemos que não foi uma aberração, um desvio de conduta de alguns indivíduos criminosos, mas uma política de Estado, que estimulou a tortura, a ponto de garantir a não punição a seus autores, com a concordância e a conivência de muita gente boa “em nome da conciliação nacional”.”
Rose Nogueira - jornalista, presa em 1969, em São Paulo, onde vive hoje. “Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os ‘40 dias’ do parto. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Segurei os seios, o leite escorreu. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele (delegado Fleury) ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’”.
Izabel Fávero – professora, presa em 1970, em Nova Aurora (PR). Hoje, vive no Recife, onde é docente universitária: “Eu, meu companheiro e os pais dele fomos torturados a noite toda ali, um na frente do outro. Era muito choque elétrico. Fomos literalmente saqueados. Levaram tudo o que tínhamos: as economias do meu sogro, a roupa de cama e até o meu enxoval. No dia seguinte, eu e meu companheiro fomos torturados pelo capitão Júlio Cerdá Mendes e pelo tenente Mário Expedito Ostrovski. Foi pau de arara, choques elétricos, jogo de empurrar e ameaças de estupro. Eu estava grávida de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei. Quando melhorei, voltaram a me torturar”.
Hecilda Fontelles Veiga - estudante de Ciências Sociais, presa em 1971, em Brasília. Hoje, vive em Belém, onde é professora da Universidade Federal do Pará. “Quando fui presa, minha barriga de cinco meses de gravidez já estava bem visível. Fui levada à delegacia da Polícia Federal, onde, diante da minha recusa em dar informações a respeito de meu marido, Paulo Fontelles, comecei a ouvir, sob socos e pontapés: ‘Filho dessa raça não deve nascer’. (...) me colocaram na cadeira do dragão, bateram em meu rosto, pescoço, pernas, e fui submetida à ‘tortura cientifica’. Da cadeira em que sentávamos saíam uns fios, que subiam pelas pernas e eram amarrados nos seios. As sensações que aquilo provocava eram indescritíveis: calor, frio, asfixia. Aí, levaram-me ao hospital da Guarnição de Brasília, onde fiquei até o nascimento do Paulo. Nesse dia, para apressar as coisas, o médico, irritadíssimo, induziu o parto e fez o corte sem anestesia”.
No Dia Mundial da Juventude, educação!!!! No +, MÚSICAEMSUAVIDA!!!
http://www.macleim.com.br/
Recebo, com certa frequência, os artigos e crônicas da Agência Assaz Atroz. Pois bem, dessa vez minha indignação, provocada pelo conteúdo de um artigo, foi maior do que de algumas outras vezes. Como sei que, nos dias atuais, não basta se indignar, resolvi partilhar o assunto com os nossos 14 quiproconianos, no intuito de promover o debate e, por que não, provocar a indignação de cada um. Até porque, pasmem, amanhã, se comemora o aniversário do golpe militar de 1964.
Na verdade o artigo escrito pelo professor José Ribamar Bessa Freire, colaborador da Assaz Atroz, se refere ao livro “Luta, Substantivo Feminino”, lançado quinta-feira passada na PUC de São Paulo. O livro conta as histórias de 45 mulheres que foram presas, torturadas, violentadas, mortas ou desaparecidas. Quase todas militantes, inconformadas com a ditadura estabelecida pelo golpe militar de 1964. O livro contém ainda o testemunho de 27 sobreviventes. Destes, José Ribamar destaca 9 em seu artigo.
A partir de hoje trarei em doses homeopáticas, de três em três, trechos dos depoimentos dessas mulheres e alguns detalhes sobre o livro. Faço-o em pequenas doses, pois, todos de uma só vez (como fez José Ribamar em seu artigo), poderão causar náuseas e, como ele bem escreveu; “nos deixam envergonhados, indignados, estarrecidos, duvidando da natureza humana, especialmente porque sabemos que não foi uma aberração, um desvio de conduta de alguns indivíduos criminosos, mas uma política de Estado, que estimulou a tortura, a ponto de garantir a não punição a seus autores, com a concordância e a conivência de muita gente boa “em nome da conciliação nacional”.”
Rose Nogueira - jornalista, presa em 1969, em São Paulo, onde vive hoje. “Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os ‘40 dias’ do parto. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Segurei os seios, o leite escorreu. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele (delegado Fleury) ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’”.
Izabel Fávero – professora, presa em 1970, em Nova Aurora (PR). Hoje, vive no Recife, onde é docente universitária: “Eu, meu companheiro e os pais dele fomos torturados a noite toda ali, um na frente do outro. Era muito choque elétrico. Fomos literalmente saqueados. Levaram tudo o que tínhamos: as economias do meu sogro, a roupa de cama e até o meu enxoval. No dia seguinte, eu e meu companheiro fomos torturados pelo capitão Júlio Cerdá Mendes e pelo tenente Mário Expedito Ostrovski. Foi pau de arara, choques elétricos, jogo de empurrar e ameaças de estupro. Eu estava grávida de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei. Quando melhorei, voltaram a me torturar”.
Hecilda Fontelles Veiga - estudante de Ciências Sociais, presa em 1971, em Brasília. Hoje, vive em Belém, onde é professora da Universidade Federal do Pará. “Quando fui presa, minha barriga de cinco meses de gravidez já estava bem visível. Fui levada à delegacia da Polícia Federal, onde, diante da minha recusa em dar informações a respeito de meu marido, Paulo Fontelles, comecei a ouvir, sob socos e pontapés: ‘Filho dessa raça não deve nascer’. (...) me colocaram na cadeira do dragão, bateram em meu rosto, pescoço, pernas, e fui submetida à ‘tortura cientifica’. Da cadeira em que sentávamos saíam uns fios, que subiam pelas pernas e eram amarrados nos seios. As sensações que aquilo provocava eram indescritíveis: calor, frio, asfixia. Aí, levaram-me ao hospital da Guarnição de Brasília, onde fiquei até o nascimento do Paulo. Nesse dia, para apressar as coisas, o médico, irritadíssimo, induziu o parto e fez o corte sem anestesia”.
No Dia Mundial da Juventude, educação!!!! No +, MÚSICAEMSUAVIDA!!!
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