quinta-feira, 6 de junho de 2013

Irã News, redecastorphoto e Vila Vudu num só pacote contra a monomania

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É no mínimo estranho o fato de alguns partidos brasileiros que a todo instante se proclamam legítimos representantes da esquerda apoiem uma chamada “revolução síria”. E isso em um momento em que no país árabe está clara a participação dos países europeus e Estados Unidos com combatentes mercenários e armas em luta contra o Presidente Bashar al Assad.


Está claro também que o país árabe se transformou em laboratório de forças imperialistas desejosas de traçar um novo mapa no Oriente Médio em favor de seus interesses econômicos. Não é por acaso o apoio ostensivo aos “rebeldes”.

No último dia 31 de maio, o PSTU promoveu uma jornada de apoio à revolução síria, esquecendo-se da prioridade em denunciar a presença do vice-presidente norte-americano Joe Biden em território brasileiro. Ou seja, enquanto Biden veio dar o recado do império, o PSTU se voltava para a Síria, na prática fazendo o jogo de quem os Estados Unidos apoiam.

Da mesma forma que o PSTU, setores do PSOL também levantam a bandeira da suposta “revolução síria”, quando a questão principal naquele país é exatamente denunciar a presença de forças mercenárias com o apoio do Ocidente, numa estranha aliança com a participação da Al Qaeda. Se é que é estranha, porque alguns analistas consideram a Al Qaeda, que a soldo da CIA iniciou seus trabalhos no Afeganistão para combater os soviéticos, um braço do imperialismo.

Mesmo que se faça restrições ao Presidente Bachar al Assad, na prática se posicionar ao lado de grupos com o respaldo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) pode ser considerado não só meio estranho como basicamente contraditório. E afirmar que ao apoiar a revolução, que denominam de popular, estão contra os dois lados, não passa de sofisma, porque neste momento a estratégia do império é exatamente convencer a opinião pública mundial que o povo está com os “rebeldes” e contra Bashar al Assad.

Aliás, não é de hoje que sobretudo a “dialética” do PSTU tem lançado a divisão na esquerda. Foi assim quando os ideólogos do referido partido denunciavam o que chamavam de “bonapartismo” de Hugo Chávez, na prática também se alinhando com os opositores da revolução bolivariana. E demonstrando também o equivoco na assimilação de ideias levantadas por Leon Trotsky. Em outros termos, fizeram a leitura e a transplantaram mecanicamente para realidades distintas das vividas pelo líder soviético. Trotsky naturalmente rejeitaria tal equívoco.

Questionar o posicionamento do PSTU e de setores do PSOL em relação aos acontecimentos na Síria, é uma necessidade, para evitar que setores da esquerda na prática se alinhem com a direita. Para evitar também a proliferação e o fortalecimento, como dizia Darcy Ribeiro, de uma esquerda que a direita gosta.

Irã News

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Recebido por e-mail da redecastorphoto


5/6/2013, Pepe EscobarAsia Times Online  - The Roving Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Pepe Escobar

Políticos ocidentais têm derramado barris de lágrimas de crocodilo por conta do “povo sírio” e congratulam-se, eles com eles mesmos, no que chamam de “os Amigos da Síria”, reunidos para salvar das garras da “tirania” o povo sírio.

OK, OK. Agora, o povo sírio falou: cerca de 70% do povo sírio apóia o governo de Bashar al-Assad; 20% são neutros; e só 10% alinham-se com os “rebeldes” apoiados pelo ocidente e entre os quais estão os que sequestram, devoram o fígado (talvez o pulmão) e degolam, do ramo jihadi.

Os dados foram organizados e distribuídos por organização de socorro humanitário que está trabalhando na Síria. A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) recebeu relatório detalhado, no final de maio; e não manifestou qualquer pressa para divulgar dado algum.

Como nosso Asia Times Online vem repetindo há meses, empresários e comerciantes sunitas em Damasco e Aleppo são ou neutros ou pró-Assad. E para muitos sunitas as gangues de mercenários estrangeiros armados pelo Qatar e pela Casa de Saud parecem muito mais repelentes que Assad.

Simultaneamente, na Grã-Bretanha – onde não há o que tire da cabeça de David “das Arábias” Cameron a ideia de impor uma zona aérea de exclusão para proteger “o povo sírio” – só 24% dos britânicos apóiam a ideia de armar ainda mais os “rebeldes” (embora 58% sejam favoráveis ao envio de ajuda humanitária).

Sheikh Yusuf al-Qaradawi

E num comício em Doha, Sheikh Yusuf al-Qaradawi – ícone da Fraternidade Muçulmana e estrela da rede al-Jazeera – que atualmente está pregando na mesquita Al-Azhar no Cairo, ordenou a todos os muçulmanos sunitas umajihad contra Damasco. Para ele, o Hezbollah é “o partido de Satã”. E condenou o Irã por “enviar armas e homens para apoiar o regime sírio”. Ordenou, de fato, uma jihad de muçulmanos contra muçulmanos (embora tenha insistido que combater o Hezbollah não é “combater todos os xiitas”).

Mas fato é que al-Qaradawi disse que: “Como 100 milhões de xiitas derrotariam 1,7 bilhão de sunitas? Só derrotarão, se os sunitas forem fracos”. Disse, pois, bem claramente, que “os xiitas são o inimigo”.

Tudo isso considerado, quem estaria interessado, remotamente que fosse, em conhecer o que pensa o “povo sírio”? Os “Amigos da Síria” ocidentais jamais encontrariam coalizão de vontades mais desejantes que as deles mesmos para fazer o de sempre, Gambito do Dividir para Governar: promover a divisão e a guerra entre sunitas e xiitas. É sempre útil ter à mão as petromonarquias disfuncionais do Conselho de Cooperação do Golfo, para apresentá-las como “libertadoras”.– E assim o ocidente pode outra vez fazer mais uma guerra por procuração e “liderar pela retaguarda”.

FURO!

Em outras palavras de noticiário... Onde está Evelyn Waugh  quando se precisa dele? É seu romance Furo![1] de cabo a rabo, tudo outra vez: a Síria entrou no lugar daquela “promissora” guerra na República Africana de Ishmaelia. E todas as redações do mundo ocidental já são versão remix da redação de A besta diária [2] e vivem de proclamar que Assad cairá imediatamente, porque... Ora, por quê?! Porque estamos do lado dos “rebeldes”, nós decidimos que a taça é deles e ninguém tasca.

Malditos mísseis infiéis

No pé em que estão as coisas, as negociações chamadas “Genebra 2” já estão é bem enterradas sob sete palmos (embora Washington e Moscou estejam reunidas hoje para definir a agenda e o quadro das conversações).

A União Europeia levantou o embargo de armas para a Síria – movimento que, na essência, nunca passou de delírio franco-britânico, que subiu às cabeças de membros relutantes da União Europeia. E seria delírio de quem, se não de França e Grã-Bretanha, é claro, as duas ex-potências imperiais que há quase um século riscaram uma linha na areia para partilhar entre elas o Levante; e que, agora, querem um redesenho.

Na prática, tudo isso significa que a União Europeia declarou guerra a Damasco. Isso, ou mais ou menos isso. Nos termos do acordo da União Europeia, nada de armar rebelde algum antes do outono. E o duo beligerante franco-britânico tem de assegurar que as armas sejam usadas exclusivamente para proteger civis. E quem supervisionará a coisa toda? Um punhado de burocratas de Bruxelas metidos em uniformes camuflados? OK. Sendo preciso, podem reverter à operação padrão e pedir ajuda aos norte-americanos. Todos os grãos de areia no Levante sabem que a CIA está “ajudando” Qatar e Arábia Saudita no serviço de armar os “rebeldes”.

E há também a nítida probabilidade de que a Grã-Bretanha esteja atuando, mais uma vez, como 5ª Coluna norte-americana dentro da União Europeia, pavimentando a estrada para uma possível intervenção do governo Obama, à moda “todas as opções estão sobre a mesa”.

O presidente russo Vladimir Putin não perdeu um segundo para empurrar EUA e União Europeia num cheque-mate. Sim, aqueles famosos sistemas de mísseis S-300 chegarão a Damasco, e sem demora. O vice-ministro russo de Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, disse que os mísseis são fator de estabilização na Síria, para dissuadir esquemas inventados por “cabeças quentes”. Disse também – acertadamente – que a União Europeia talvez já tenha bombardeado as planejadas conversações de Genebra.

Anatoli Kornukov

O ex-general da Força Aérea russa, Anatoli Kornukov disse a rede Interfax-AVN Online que Damasco precisará de, pelo menos, 10 baterias de sistemas de mísseis S-300 de defesa aérea para proteger todo o território nacional em caso de ataque pela OTAN. [3]Nesse caso, nenhum tipo de zona aérea de exclusão – sonho molhado franco-britânico – será implantada por ali.

Cada sistema de mísseis S-300 terra-ar é constituído de um posto de comando equipado com radar e até seis mísseis 5Zh15. Basta um mês para treinar soldados e oficiais sírios para operar os sistemas. Kornukov observou também que “nossos sistemas podem ser deslocados em cinco minutos”. É quase impossível localizá-los.Vídeo a seguir:

[Para ver vídeos desta postagem, clique no título e assista-os no blog da redecastorphoto]

E agora? O que os “Amigos da Síria” pensam fazer sobre isso? Convocar outra reunião? É hora de al-Qaradawi correr até a al-Jazeera, dar um upgrade na jihad dele e incluir nela os mísseis russos (afinal... São mísseis infiéis!). Por que não dá o exemplo, ele mesmo, e se oferece como voluntário para a linha de frente?




Notas dos tradutores

[1] Scoop [Furo!] é romance de Evelyn Waught, de 1938, afamado como “a obra-prima da literatura de sátira do mundo das redações de jornal nos EUA”. Há edição brasileira, da Cia das Letras (esgotada na editora, mas pode ser encontrada – usada- no Mercado Livre ) e há boa matéria de Thomas Jones sobre o livro no New York Times em: The Great Fleet Street Novel

[2]
 Orig. Daily Beast: título do jornal londrino que envia um correspondente para New York, no romance “Furo!”, de Waught.

[3] Observação: Os vídeos (em inglês) sobre armamentos russos vendidos à Síria foram extraídos do Blog Informed Commentde  Juan Cole, e inseridos nesta postagem pelo editor da redecastorphoto.

[A rede castorphoto é uma rede independente tem perto de 41.000 correspondentes no Brasil e no exterior. Estão  divididos em 28 operadores/repetidores e 232 distribuidores; não está vinculada a nenhum portal nem a nenhum blog ou sítio. Os operadores recolhem ou recebem material de diversos blogs, sítios, agências, jornais e revistas eletrônicos, articulistas e outras fontes no Brasil e no exterior para distribuição na rede]

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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