sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

EM NOME DE DEUS

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Laerte Braga

Samuel L. Jackson em PULP FICTION, filme do diretor Quentin Tarantino (1994), cita versículos bíblicos, salmos, antes de matar “devedores” do seu chefe, um traficante de drogas, um gangster a moda norte-americana. Mas dos tempos atuais. Sem aquela arrogância e pretensão de Al Capone. A de ser um cidadão benquisto pela sociedade cristã, democrática e capitalista.

O Reino Unido, como ainda teimam em chamar a Grã Bretanha, ex-potência imperial onde o sol nunca se punha, tem dez mil soldados no Afeganistão. O mesmo número que Barack Obama pensa mandar para o Haiti em missão de “ajuda”.

Os soldados do Reino Unido receberão fuzis com miras telescópicas que terão referências bíblicas. O cara pega o fuzil, mira e antes de atirar lerá um salmo para reforçar sua convicção cristã, democrática e capitalista.

Segundo o Ministério da Defesa da Grã Bretanha, 400 visores com mensagens bíblicas foram encomendados à empresa norte-americana Trijicon. Quando mirar no adepto do Islã alvo da “ajuda” cristã, democrática e capitalista, o soldado ira encontrar na mira a sigla JN8:12, em referência ao capítulo 8, versículo 12, do livro de João. O versículo é o seguinte – “então Jesus lhes falou outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas e sim terá a luz da vida”.

Para a oposição ao governo de Gordon Brown isso reforçará o Talibã. Não vai deixar dúvidas que se trata de uma guerra santa. A diferença na boçalidade entre Saddam, por exemplo, ou Mubarak, ou qualquer governo de Israel, é só de estilo e lado, cada um tem o seu “deus”. O grande “deus” dos EUA começa a funcionar a hora que o sino da bolsa de Wall Street bate, é a catedral sendo aberta. Jorra “ajuda” pelo mundo inteiro.

A empresa norte-americana declarou que usa esse expediente há mais de vinte anos e os resultados têm sido satisfatórios.

A tecnologia da morte, o aperfeiçoamento da boçalidade em nome de Deus.

A “polícia” de Honduras, departamento norte-americano naquele país e que por lá chamam de forças armadas, quando derrubou o presidente constitucional Manuel Zelaya, recebendo ordens do comandante militar norte-americano na base de Tegucigalpa, entrou no palácio do governo para empossar o golpista Roberto Michelleti carregando um grande crucifixo.

No Brasil foi a mesma coisa em 1964. O comandante era um general quatro estrelas dos EUA, Vernon Walthers.

E todos receberam a comunhão das mãos do cardeal do país. Continuam matando opositores, torturando presos por crime de opinião, estuprando mulheres em aldeias, vilas e cidades pequenas, tudo em nome da democracia, do cristianismo e do capitalismo.

A propriedade privada.

João XXIII, um dos últimos papas (João Paulo II foi empregado de Washington, garoto da “propaganda santa”, cruel e vingativo com seus adversários, e Bento XVI é integrante decidido do IV Reich), numa de suas encíclicas, afirma que a luta armada pela garantia dos direitos básicos e fundamentais do homem é válida quando todos os outros recursos estiverem esgotados.

Por trás da afirmação existe o reconhecimento da condição básica do ser humano, do outro, da dignidade desse ser e do outro.

Guantánamo é um campo de concentração e o mundo, logo após a guerra e a ocupação do Iraque, viu em imagens que nem a grande mídia (venal) pode esconder, como eram tratados os prisioneiros nas prisões daquele país. Tratados pelos norte-americanos.

Um “louco” matou dez pessoas numa cidade do estado de Virgínia, terça ou quarta-feira desta semana. Isso é corriqueiro nos EUA. Alerta divino, via de regra todos por lá recebem, por isso Edir, o Macedo, conseguiu ser incorporado.

Os Estados Unidos são uma sociedade doente e exportam essa doença para o resto o mundo na ponta de suas baionetas (que nem usam mais). Agora manda miras telescópicas com salmos bíblicos.

Quando vejo jornalistas como Lúcia Hipólito ou Miriam Leitão tentando explicar porque é preciso aceitar o poderio dos EUA para que os haitianos sejam ajudados, não tenho a menor dúvida que a honra foi deixada do lado de fora. Ou como diz um amigo cínico, “coisa do tipo você me ajuda e aí pode fazer o que quiser”.

Bêbada, Lúcia Hipólito não conseguiu articular coisa alguma. Se a bebida destrava a língua de uns, trava a consciência de outros. Pode ser. Deve ser.

Sexta-feira, na cidade de São Paulo, as vacas da Cow Parade vão para as ruas homenagear os 456 anos da capital. Isso deve ser em honra ao governador José Collor Serra que em 2002 afirmou que estava vendo uma vaca pela primeira vez, ao vivo, já com mais de cinqüenta, quase sessenta.

Uma das “vacas” é de fibra de vidro e interage com celulares e as chamadas redes sociais.

Cerca de 57% da população de São Paulo, se pudesse, sairia da cidade. É o resultado de uma pesquisa divulgada no início dessa semana. E ainda querem, o esquema FIESP/DASLU, impor esse modelo ao Brasil via tucanos e DEMocratas.



Contam com as bênçãos do “deus” GLOBO e do profeta William Bonner, sua corte de Alexandres Garcias, a água é espargida pela sacerdotisa Xuxa e o culto começa à hora que se inicia o BBB.

Quem quiser pode comprar no sistema de tevê fechado e ficar o dia inteiro adorando os bezerros e bezerras confinados no “templo” em nome do cristianismo, da democracia e do capitalismo.

E durma tranqüilo, Barack Obama vela por todos nós. Se necessário for, manda “ajuda” em tempo recorde. E depois é só relaxar.

Breve nos intervalos comerciais do JORNAL NACIONAL, das novelas e do BBB, mensagens bíblicas para o gáudio e satisfação do Homer Simpson.

Pastor William Bonner, tem diferença nenhuma do outro, o Edir, falo do Macedo.

Nem do cara que matou dez em Virgínia, ou da empresa que produz miras telescópicas com mensagens bíblicas. Pode se matar de várias formas.

São doenças cristãs, ocidentais, democráticas e que garantem a propriedade privada. O resto é resto. Vieram do império. Vírus que nem o da gripe suína, mas muito pior. Deixa a turma apatetada, discando o celular para falar com o BBB ou com a vaca interativa.

Laerte Braga, jornalista, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz


Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA

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