quinta-feira, 13 de maio de 2010

AS FORTES E INEXPUGNÁVEIS RAZÕES DO ELEITORADO TUCANO

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(SERRAMORFOSE - Atroz - 2010)

Raul Longo*

Muitas vezes me pego pensando quais seriam as razões para José Serra ou outro candidato demotucano, com o histórico de seus partidos, aliados e correligionários, ainda despontarem nas pesquisas de opinião pública com alguma possibilidade de serem eleitos.

A primeira razão que se me apresenta sempre é o condicionamento provocado pela espetacularização das acusações de Roberto Jefferson e a ampla especulação da mídia sobre o caso do mensalão. Mas aí fico pensando sobre como pôde se cristalizar tamanha falácia na consciência dessas pessoas, a ponto de não serem capazes de avaliar os fatos e não considerarem as evidências.

Ora! Por lógica universal e humana, aquele que viabiliza e colabora com investigações sobre si mesmo ou o que representa, por tal atitude já demonstra inequívocos indícios de inocência do que seja que for acusado.

Também é evidente que qualquer acusado faça o que lhe for possível para evitar que tais investigações sejam destorcidas e manipuladas, principalmente em política. No caso do governo Lula, essa previdência sempre é logo alardeada por parlamentares e pela imprensa como tentativa de impedimento de instauração das CPIs, mas o fato é que nunca se montou tantas Comissões Parlamentares de Inquérito nem se as divulgou com mais minúcias. Houve até CPIs que investigaram de tudo, menos o tema pelo qual foram requeridas. E os parlamentares demo/tucanos tiveram direito até de ameaçar o Presidente de tapas e socos, chamando-o pra briga de rua.

As conclusões a que chegaram aquelas CPIs e as tantas investigações policiais, do Ministério Público, das Corregedorias, através das análises dos processos apresentados ao poder judiciário que, diga-se de passagem, sempre foi francamente opositor ao executivo, foram que:

1 – Não houve qualquer esquema de mesada ou retribuição regular, pois as datas de recebimento de importâncias destinadas aos partidos para pagamento de dívidas de campanha eleitoral não coincidiram, em nenhuma ocasião, com aprovações ou apresentações de projetos do governo à câmara. Deduziu o judiciário que em não havendo esquema de mesada, não houve mensalão nem formação de quadrilha. Não havendo formação de quadrilha, o acusado como chefe não chefiou coisa alguma, embora tenha tido seu mandato de deputado indevidamente cassado.

2 – Houve, sim, um esquema de caixa 2 em tudo similar com o mesmo esquema utilizado no pleito anterior pelo PSDB. O mesmo intermediário: Marcos Valério, os mesmos agentes financeiros e praticamente a mesma importância movimentada. Com apenas duas diferenças: a) o caixa 2 do tesoureiro do PT destinava-se a pagamento de campanhas de diversos municípios brasileiros; e o caixa 2 do presidente do PSDB à campanha ao governo do estado de Minas Gerais. b) o PT vinha honrando o pagamento dos empréstimos regularmente e com recursos próprios; e o PSDB deu o calote.

Comprovados tais fatos, no mínimo se haveria de considerar um partido tão indigno de voto quanto o outro, mas os eleitores demotucanos insistem em clamar por uma ética da qual eles mesmos se comprovam despossuídos.

3 – Roberto Jefferson confessou o crime de roubo de dinheiro do próprio partido.

4 – Todas as requisições de Roberto Jefferson para que o Presidente Lula fosse arrolado como ciente e integrante do esquema de caixa 2, foram indeferidas por unanimidade de votos no Supremo, inclusive dos ministros tradicional e declaradamente opositores ao governo Lula e apoiadores do governo anterior. O Supremo decidiu por uma representação junto à OAB, solicitando da entidade uma advertência ao advogado de Jefferson pelas constantes tentativas de tumultuar os processos, na evidente tentativa de protelar a própria condenação, o que também afeta a obtenção de novas conclusões sobre aquelas acusações através das quais a mídia e a oposição pretendiam promover o impeachment do governo Lula.

Não funcionou porque afora essas conclusões, os escândalos paralelos montados e especulados pela mídia a partir da rigorosidade das investigações determinadas pelo governo, também foram desqualificados pelo levantamento de provas e conclusões das próprias investigações, como no caso do exaustivamente explorado dinheiro na cueca do assessor do irmão do Genoíno. Provou-se e comprovou-se que, além do exercício da função de assessor do irmão do político do PT no Ceará, o sujeito é, de fato, proprietário de uma revenda de automóveis no estado de Sergipe, negócio para o qual, de fato, destinava-se a importância com que foi interceptado pela Polícia Federal. Teve o azar de cair na malha fina das investigações demandadas pelo próprio governo.

Além desta, todas as demais especulações, como a dos dólares e o uísque de Cuba, foram minuciosamente desmontadas, revelando a maior armação política já estruturada no país por políticos e jornalistas tradicionalmente conhecidos como chantagistas e golpistas. Muitos deles com amplo histórico de utilização desses recursos, até mesmo para coação e extorsão de favores sexuais.

Não são apenas informações que me chegam por confidências de antigos colegas da imprensa, daquelas que sempre os profissionais da área detêm, mas não podem divulgar por falta de comprovação ou para evitar processos que não teriam como arcar com as custas de defesa. E até mesmo por manutenção da integridade física.

Além dessas informações, que também não são poucas, me refiro a fatos já divulgados pela grande imprensa, como as matérias publicada pela Veja sobre as chantagens de Antonio Carlos Magalhães contra uma ex-secretária e amante.

ACM morreu impune desse crime e de outros muito piores, mas o eleitor demotucano ainda continua repetindo a acusação berrada em plenário de que o caixa 2 do PT tenha sido o maior esquema de corrupção da história política do país, como se o coronel baiano fosse o modelo utilizado para as pinturas e esculturas de anjos e mártires nas barrocas igrejas soteropolitanas.

Será por enorme e impressionante ingenuidade que os eleitores demotucanos ainda acreditam nos candidatos de seus partidos?

Às vezes, ainda que incrível, parece ser essa a razão, pois apesar de todas as evidências contrárias, piamente acreditam em qualquer acusação de que o atual governo exerça censura aos meios de comunicação. Nunca jornalistas trataram com tamanha irresponsabilidade pessoas de vida pública, como reiterada e impunemente agem os pistoleiros da mídia, chegando a publicar grosseiras montagens em programas gráficos como fez a Barbara Gancia que acabou se vendo obrigada a desculpar-se, dedurando um colega da Isto É pela publicação de uma foto do Zé Dirceu sobre uma Halley Davidson.

E o pobre do eleitor tucano não consegue sequer raciocinar sobre a possibilidade de qualquer pessoa de razoável poder aquisitivo adquirir a mesma motocicleta. Não consegue nem ao menos se revoltar contra os jornalistas que especulam com a certeza de sua incapacidade de raciocínio. Ainda quando a própria Gancia reconhece sua irresponsabilidade sob a ameaça de ser processada perante o fato incontestável de que Dirceu jamais pilotou motocicleta alguma por não ser habilitado para tal, o demotucano não se revolta contra quem o enganou, mas, sim, contra aquele que impede que prossigam enganando-o.

Terão os profissionais da imprensa brasileira tal capacidade de desabilitar o exercício do raciocínio e desenvolver uma masoquista atração pela enganação? Sabe aquilo de mulheres que só se apaixonavam por homens canalhas? Ou a chamada mulher de malandro? E eu que sempre achei que esse negócio de mulher que gosta de apanhar fosse folclore! Vai ver existiram mesmo. Foram as precursoras do eleitorado demotucano.

Boris Casoy, por exemplo, apesar de noticiar frente às câmeras a comprovação da absoluta falta de relação de Genoíno e do irmão com o dinheiro encontrado na cueca do assessor, continuou referindo-se ao episódio como que esquecido da notícia que ele próprio divulgou. E só veio a parar de falar no assunto depois que assessores e aliados do DEM foram filmados enfiando dinheiro na cueca e das meias no gabinete do governo do Distrito Federal. No entanto, mesmo depois de Casoy declarar sua decisão de se demitir da Record por discordâncias com a diretoria da empresa sobre reformulações da programação, o doentio imaginário do eleitor demotucano criou a lenda de que teria sido afastado pela censura do governo, culpando pessoalmente ao presidente Lula! O que fez Casoy? Aderiu e mais tarde disse que, pensando melhor, seus espectadores é que tinham razão. Foi demitido por Lula.

Surreal?



Sei apenas que, atônito, me pergunto como pode ser possível que, aqui, brasileiros ignorem o que jornalistas lá da Inglaterra comentam como escandaloso atentado contra a democracia, recordando o arquivamento de 600 denúncias contra o governo FHC; e ao mesmo tempo acreditem na veracidade de um relatório ultrassecreto do Pentágono ou da CIA sobre investigações de eminente instauração de ditadura por Lula. Acreditaram(?) e distribuíram para todos os endereços eletrônicos que possuiam, pedindo aos seus correspondentes para avisarem ao mundo sobre a descoberta top secret do governo Estados Unidos.

Como alguém pode não só acreditar numa estupidez desse tamanho, mas orgulhosa e ansiosamente distribuir esses “achados” apócrifos, sem o menor constrangimento. Constrangimento não pelo ato, já de per si bastante vergonhoso, mas da conclusão a ser tirada por qualquer destinatário mais ou menos inteligente, atestando que o remetente de tal absurdo ou é um absoluto mentecapto ou idiota arrematado.

Com total razão o William Bonner considera esses seus espectadores tão estúpidos quanto o personagem Homer Simpson, pois superam até mesmo seus arquétipos da imprensa, como se comprovou na ocasião em que bastou o Alexandre Garcia tirar umas férias para divulgarem na internet a mentira de que o sujeito teria sido demitido da Globo pelo governo. Garcia voltou de férias com o mesmo jornalismo especulativo publicamente assumido pelo editor Ali Kamel. Descanso para o esforço de produção de mentiras do espectador, confortavelmente abastecido pelas criadas pelo ídolo que, no imaginário de seus fãs, já fora martirizado por uma censura muito mais cruenta do que a da Dona Solange, a responsável pelo setor nos tempos da ditadura e que, hoje, felizmente só existe na imaginação desses eleitores demotucanos, além dos casos de demissão de jornalistas de São Paulo, exigidas por José Serra. Esses, sim, reais, concretos e efetivos.

Tais e tantas contradições sempre me atarantaram. Eu tinha de encontrar uma lógica, uma razão para isso tudo. Não me parecia possível que pudesse alguém ser tão impossibilitado de dimensionar as extravagantes proporções da própria estupidez manifesta a todo momento, inclusive quando continuam insistindo em que Dilma Roussef tenha sido uma terrorista, apesar da própria Folha de São Paulo ter reconhecido que a tal ficha do DOPS divulgada por suas páginas, não passou de um montagem falsa, feita em qualquer computador.

Mas, e se não fosse falsa? E se fosse verdadeira? Quem ignora que a ditadura militar matou, estuprou, mutilou, torturou, exilou? Quem ignora que os métodos e moldes empregados por todas as ditaduras militares da América Latina foram, assumidamente, os mesmo empregados pelos nazistas duas décadas antes, na Europa? O próprio Jimmy Carter, quando eleito à presidência dos Estados Unidos, afirmou que não toleraria o apoio de seu país às ditaduras nazistas da América Latina. Era uma denúncia de todos os observadores, analistas e intelectuais do mundo e, em todo o mundo, os que pegaram em armas para lutar contra o nazismo nos anos 30 e 40, foram heróis que combateram um regime de terror. Na Argentina, no Uruguai, no Chile e em todos os demais países do continente, os que pegaram em armas para combater o nazismo, são lembrados como heróis contra um regime de terror. As mães da Praça de Maio são consideradas heroínas dessa luta em todo o mundo.

Só na cabeça dos demotucanos brasileiros se inverte o herói em terrorista e o carrasco em vítima! Mas o que sabem esses coitados sobre os versos de Isidora Dolores Ibárruri? Da Pasionária? Que entenderão sobre “és mejor morir de pie do que vivir de rodillas. No pasarán!” Que sabem dos partisans, dos maquis na luta contra a ocupação alemã? Tupamaros e montoneros contra as ditaduras do cone sul do continente?

Sabem nada nem de si mesmos. Ignorantes que só sabem do que se enfia pela orelha adentro, misturam tudo à Al Qaeda e são capazes de acreditar que Dilma Roussef tenha participado de todas as ações da reação armada à ditadura nazifascista instaurada no Brasil em 1964, culpando-a por ter sobrevivido às torturas da nossa Gestapo. Para afirmarem que a bomba do Rio Centro só explodiu no colo daqueles que a iriam detoná-la na multidão, por culpa da Dilma Roussef, só falta que saibam o que foi a tentativa de atentado no Rio Centro.

Duvidam? Se alguém reproduzir o Omar Kayyam nos caracteres do idioma original e distribuir pela internet como comunicado do Bin Laden à Dilma Roussef, vai ver todo o eleitorado demotucano distribuindo os Rubaiyat como prova inconteste de que Dilma foi a autora intelectual do atentado de 11 de Setembro.

O que é isso? Será apenas mera ignorância?

Nunca o país apresentou com tamanha segurança a certeza de um futuro tão promissor em todas suas atividades econômicas e sociais, mas os eleitores demotucanos insistem em regredir ao que éramos há 8 anos, e, como não têm nada de positivo a relembrar daqueles tempos, insistem na divulgação de preconceitos ridículos e medíocres, a despeito das principais instituições do planeta, que elegerem o atual governo brasileiro como um modelo mundial, enaltecendo-nos com destaques que jamais poderíamos sequer imaginar.

Hoje nosso país é o inverso de quando, há apenas 8 anos, nos apontavam como o mais desqualificado membro da comunidade das nações. Mesmo nosso principal representante internacional, o ministro das Relações Exteriores, era obrigado a tirar os sapatos para ser revistado como qualquer suspeito, nos aeroportos dos Estados Unidos. Hoje é a chanceler deles que vêm buscar nosso apoio a uma ação internacional e, se for contra nossos interesses ou se discordarmos do que pretendem, recusamos. Com toda a diplomacia e cavalheirismo, mas temos soberania para recusar um pedido que contrarie nossos interesses, mesmo para a mulher de um ex-presidente e ex-candidata à presidência dos Estados Unidos.

Ainda há oito anos éramos obrigados a calar a boca e fazer exatamente o que determinavam nossos credores, por mais doloroso e sofrido que estas determinações tenham sido à população brasileira. E foram doloridas inclusive a estes mesmos eleitores que hoje insistem pelo retorno àquele passado abjeto, vergonhoso e de constrangedora memória para todo cidadão brasileiro que teve suas economias sequestradas pelo Plano Collor, ou seu emprego extinto pelo plano Real.

“Qual o problema dessa gente?” – pergunto-me seguidamente, sem conseguir compreender como podem não se sentir constrangidos por eles mesmos. Morro de vergonha por eles, mas eles riem como hienas após o repasto dos próprios excrementos! Acham graça da própria ignorância e estupidez! Palhaços rindo do próprio tombo. Ou melhor, do próprio constante escorregão do qual não conseguem se levantar, chafurdando-se no próprio elemento.

O que acontece com essa gente?

Enfim, eis que um desses meus correspondentes demotucanos me envia uma explicação muito clara de por que todos os demotucanos, todos esses que distribuem velhas piadinhas racistas e sem graça sobre o Presidente Lula, sobre Dona Marisa, sobre Dilma Roussef, sobre o Brasil e sobre os brasileiros, riem da própria indigência intelectual.

Agora, enfim, posso entender porque a imprensa alemã noticia que, lá, Lula é recebido pelos populares como uma grande atração internacional, e aqui ainda haja estúpidos suficientes para chamá-lo de apedeuto. Ou melhor: “apedeuta”, dizem, ignorando que como substantivo e adjetivo de 2 gêneros, chamar um homem de apedeuta é o mesmo que dizer que tal mulher é bonito.

Graças a esse meu correspondente que sempre apoiou os governos da ditadura militar, ex-eleitor de Maluf e Collor de Melo, atualmente fiel eleitor de candidatos demotucanos, consigo, finalmente, resolver esse quebra-cabeça, essa xarada de impossível solução. Sem essa ajuda, continuaria me batendo para tentar entender como pode um dirigente brasileiro ser apontado como Estadista Global pelo Conselho de Davos, influente liderança mundial pela ONU, pelo Le Monde, o El País, o Times e tantos outros; e haver brasileiros totalmente incapazes de avaliar o significado dessas distinções, para o Brasil.

Não recomendaria que abrissem o arquivo anexo e quem tenha condições intelectuais de considerar o que ainda significam para história da humanidade a tragédia de Chernobyl na ex-URSS ou a de Three Mile Island nos EUA, além das de Hiroxima e Nagasaki, não se deixe estranhar pelo lacônico comentário, abaixo, no corpo da mensagem do eleitor demotucano. Foi essa estranheza que me provocou o impulso de abrir este anexo Mulheres de Chernobyl

Não se faz necessário. Embora não seja nada que possa chocar além do impressionante mau gosto da piada como piada. Mau gosto não pelas imagens pueris ainda que grosseiras. Grosseiras sim, mas de enfadonha estupidez até mesmo para crianças um pouco melhor dotadas de inteligência, ainda que talvez façam rir meninos reprimidos, daqueles que aos quais, apesar da idade, ainda seja recomendável o uso de babador.

O que ai verdadeiramente impressiona não é o mau gosto explicito ou a estupidez da imagem, mas sim a morbidez do mote da piada, se é que isso pode ser entendido como piada.

Realmente, é de dar dó. Mas, enfim, me fez compreender o que se passa na cabeça dessa gente, aclarando-me por quais razões pensam o que pensam. Explica-se, aqui, e de forma muito clara, porque sempre direcionam seus votos aos mais lamentáveis personagens do cenário político nacional.

Custei para entender, mas com essa demonstração tão evidente, agora reconheço perfeitamente a razão da existência de tais políticos e de seus partidos.

Oh dó!

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*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz, Ponta do Sambaqui, Floripa/SC

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA

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