SONSOS, MAS NEM TANTO
Laerte Braga
Os senadores Marco Maciel e Eduardo Azeredo querem a censura na internet. É compreensível. Com o silêncio da grande mídia em torno da corrupção tucana e DEMOcrata a rede mundial de computadores passou a ser o principal instrumento de comunicação e denúncias da verdadeira natureza de tucanos e DEMocratas. Não são propriamente imorais, mas amorais. Seguem o padrão Fernando Henrique Cardoso.
Marco Maciel é de família tradicional de Pernambuco. Um barão qualquer, tipo de “nobre” freqüente na política brasileira. Como presidente de uma entidade estudantil em seu estado recebeu largos financiamentos de grupos de extrema-direita para se opor à UNE – União Nacional dos Estudantes – no período imediatamente anterior à ditadura militar, ao golpe de 1964.
Daí a virar deputado estadual e ganhar acesso aos quartéis para cortejar, bajular e mostrar-se ávido por prestar serviços, quaisquer que fossem, foi um pulo. Adotou o estilo sonso, mas nem tanto. Governou Pernambuco, foi vice-presidente de FHC, exerce um mandato de senador e de quebra foi eleito para a Academia Brasileira de Letras na vaga de Roberto Marinho. Pode acreditar, é fato.
Se alguém mergulhar fundo na trajetória de Marco Maciel, vai perceber que toda ela foi construída na incrível capacidade de aceitar qualquer trabalho sujo e executá-lo com ares de seriedade. Importa o que parece ser e não o que é. É do tipo que fala pouco, pois sabe que se fizer o contrário desnuda-se e cai o mito do sujeito competente.
Eduardo Azeredo, como Marco Maciel, é oriundo de família tradicional de Minas Gerais. Seu pai Renato Azeredo foi um dos mais próximos amigos de JK. Era um político sério, não tem culpa do filho. Protagonizou, o pai, episódios marcantes na luta contra a ditadura militar. Tinha seu estilo, seu jeito, bem pessedista, conciliador, mas tinha atitudes firmes e caráter. Foi um dos poucos que não abandonou JK depois da cassação do ex-presidente.
Vale aqui até lembrar um fato interessante, um dos últimos, ocorridos com ele, falo de Renato Azeredo. Em 1982 três candidatos se apresentavam para o governo de Minas. Tancredo Neves, que havia saído do MDB, fundado o PPP (que era chamado só de PP para simplificar), Itamar Franco, do MDB já PMDB e Elizeu Resende pelo PDS. Com a decisão do ditador Figueiredo, através do ministro Leitão de Abreu, de vincular o voto de cima abaixo, ou seja, escolheu um candidato de determinado partido, todo o resto tem que ser daquele partido, Tancredo e Ulisses foram ao STF para fundir PPP e PMDB e assim evitar que a manobra causasse maiores estragos à oposição, já de olho nas indiretas para presidente, em 1984.
Com isso a candidatura Itamar virou um problema, e Tancredo conseguiu um acordo com aval de Ulisses que seria ele o candidato a governador. Itamar disputaria a reeleição para o Senado. O ex-presidente fez duas exigências para abrir mão de sua candidatura ao governo. A primeira que fosse candidato único ao Senado e, como não teve jeito, o nome de Simão da Cunha também estava colocado, digamos assim, exigiu que a primeira sub-legenda fosse a dele, Itamar. Coisas da cabeça de Itamar que ninguém entende, acho que nem ele mesmo.
Tancredo concordou e a convenção foi marcada. Terminada a apuração dos votos dos delegados/convencionais, Renato Azeredo, já doente, mas ativo, chamou Tancredo, era o seu mais próximo companheiro, e disse-lhe que Simão da Cunha fora mais votado que Itamar. E perguntou – “o que vamos fazer?”. Tancredo foi rápido e rasteiro: “deixe o Simão por minha conta, coloque na ata os votos do Itamar para o Simão e os do Simão para o Itamar e pronto”.
E assim foi feito.
Quando Pimenta da Veiga candidatou-se a prefeito de Belo Horizonte – e venceu as eleições - era necessário um nome que não atrapalhasse. Um nome de alguém que passasse desapercebido. Surgiu aí Eduardo Azeredo, não como tal, mas que “tal o filho do Renato, aquele que mexe com computadores?”. E olha que Pimenta já era, ele, filho de um cacique do ex-PSD, João Pimenta da Veiga.
Um ano e meio depois Pimenta da Veiga renunciou ao seu mandato de prefeito para candidatar-se ao governo do Estado (perdeu) e Eduardo Azeredo virou prefeito. Numa sucessão de golpes de sorte, acabou governador. Disputou a eleição com Hélio Costa, em 1994. O atual ministro das Comunicações deixou de ser eleito no primeiro turno por zero vírgula qualquer coisa e perdeu o segundo turno numa impressionante virada que, no duro mesmo, foi um dilema do menos pior, onde não havia menos pior. Quem optou por votar num ou noutro o fez de olhos fechados cravando o nome onde a caneta caísse. Ou cara e coroa. Não foi o meu caso.
Como governador, Azeredo mostrou o porquê de não existir menos pior. Incapaz de andar e falar ao mesmo tempo, tropeça, cai e não levanta mais, Minas foi governada, nos seus quatro anos (perdeu a reeleição para Itamar Franco) pelo deputado Roberto Brant (renunciou por ter sido pego no pulo do gato em meio a maracutaias), sua mulher – dele Azeredo – e o vice Valfrido Maresguia, tubarão do ensino privado em Minas.
Se Marco Maciel é um sonso, mas nem tanto, absolutamente sem vergonha, com pose de sério e intelectual, Azeredo é o sonso, mas nem tanto, que não hesita em mergulhar de corpo e alma em qualquer “negócio” que lhe garanta uma sobrevida política (dificilmente volta ao Senado, não tem cacife eleitoral para isso, esgotaram-se as mágicas).
Não é a primeira vez que tarefas sujas como a tentativa de censura na internet caem em suas mãos e na de Marco Maciel. Azeredo atendeu no governo FHC a um pedido de Nelson Jobim, então ministro do STF DANTAS INCORPORATION LTD (à época era STF PRIVATIZAÇÕES LTD) para anular a tentativa de alguns senadores de criar o voto impresso para a urna eletrônica. Um argumento simples. No modelo atual, só o voto impresso seria capaz de permitir, seria e será, uma eventual recontagem limpa.
Teotônio Vilela Filho, governador de Alagoas, foi eleito numa manobra do coloca os votos do João Lira para o Teotônio e os do Teotônio para o João Lira. Está no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até hoje à espera de julgamento. Com o voto impresso essa questão já estaria solucionada.
O que se pretende com a censura na internet é simples. Evitar, por exemplo, que a compra de figuras do PSDB e DEMOcratas pela empresa suíça ALSTOM, venha a público. Existem propinas pagas a Geraldo Alckimin, a José Serra, a campanhas de FHC e outros tucanos mais ou menos votados e a GLOBO, lógico, nem toca no assunto.
Faz parte do esquema.
Ou evitar que toda a corrupção do governo Aécio Neves venha a tona. Tancredo, tal e qual Renato Azeredo não tem culpa de Eduardo, não tem culpa do neto.
E o mais importante. Retomar o modelo neoliberal puro, ortodoxo, vale dizer, acabar de vender o País, passar a escritura.
Tucanos e DEMOcratas perceberam o poder da internet. A campanha de Barack Obama é um exemplo recente e definitivo. E perceberam antes disso. Quando partiram, agora, para cima do “coronel” José Sarney, no meio do caminho, tiveram que tirar o time de campo por conta dos “coronéis” Tasso Jereissati e Arthur Virgílio. Ou Paulo Guerra (de menor calibre, mas com função significativa na quadrilha).
O projeto, nesse momento, dentre outros, cumpre um objetivo. Censurar a internet para evitar o debate livre, a troca de idéias e as denúncias sobre o risco José Serra. O maior de todos que este País já correu depois de FHC. Collor é fichinha perto dessa gente. E Sarney, com todo o seu bigode, não passa de aprendiz.
Azeredo é o fac totum da quadrilha. E curioso nisso é que aceita o papel com a maior tranqüilidade. Digo isso, pois em 1998, quando tentava a reeleição em Minas, ouviu FHC dizer de público que “Minas não é problema meu, é dos mineiros”. Estava se referindo ao candidato que preferia eleito no estado. Azeredo ou Itamar Franco. Como é hábito de escorpiões, picou no meio da travessia. Azeredo engoliu e ficou quietinho no seu canto. Ou quando se descobriu seu envolvimento com Marcos Valério através do atual prefeito de Juiz de Fora, então deputado Custódio Matos. FHC pediu sua cabeça para não atrapalhar jogo e continuou quieto. Até o primeiro “vem cá Eduardo, tome esse osso”. Chegou abanando o rabo e levou o projeto de censura na internet.
Azeredo é ainda, a soldo dessa quadrilha, um dos principais agentes do esquema para impedir a votação e aprovação do acordo que garante o ingresso da Venezuela no MERCOSUL.
Marco Maciel está pagando os dois mandatos de vice-presidente. Bem que FHC tentou substituí-lo em 1998. Acabou aceitando, sempre na lógica do se precisar de um pastel de vento, é o ideal.
Para além desses fatos, o projeto em si é o totalitarismo da “democracia neoliberal”, do modelo único.
Criar uma sociedade de zumbis, consumidores, sem capacidade crítica. O que William Bonner chama de Homer Simpson. E garantir para José Serra, por extensão a todos eles, a chave do cofre.
Marco Maciel e Eduardo Azeredo fazem aquele tipo que você acha que pode deixar tomando conta do seu filho. E quando volta, ou vai buscá-lo, se espanta com o clássico “Mas eles? Não é possível, tinham a cara tão boa!”
E a turma de cima, a deles, a tucano/DEMOcrata, sabe que estão ali para isso. Parecer azul e serem cinzas, daquele cinza opaco, sombrio, que no fundo é tanto tenebroso, quanto aparentemente sonso. Mas não rasgam notas de cem, pelo contrário guardam e muito bem guardadas.
É um tipo de sonseira diferente da do juiz de futebol que foi parar no Senado, Eduardo Suplicy. Não sabe se leva primeiro a dianteira e a traseira direitas, ou as esquerdas, ou só as dianteiras, ou não anda. Sem decifrar o enigma optou por não andar.
Azeredo e Marco Maciel sabem direitinho. Por trás desse ato institucional contra a internet estão os grupos que se reúnem no esquema FIESP/DASLU, centro do mundo tucano/DEMOcrata. Não interessa nenhum debate político a essa gente. Importante é ter a “consciência” que a vida se resume a shopping e marcas.
Ah! O senador tucano Papaléo Paes, do Amapá, mesmo estado que José Sarney representa, contratou para seu gabinete a mulher do ex-diretor da Câmara Alta (altos negócios) Agaciel Maia, o tal dos atos secretos e afastado por bandidagem da grossa. Segundo nota do gabinete de Papaléo teria sido um gesto de “humanidade”.
Por humanidade leia-se ou parte de um acordo. O que foi costurado por Aécio Neves e livrou a cara de Tasso Jereissati e Arthur Virgílio, tanto quanto a de Sarney, ou chantagem pura e simples. Do tipo ou nomeia ou Agaciel bota a boca no trombone. O fato de ser um senador desconhecido da imensa maioria dos brasileiros é manobra para dizer que os grandes não têm nada com isso. Se for o caso, Papaléo é o bode expiatório perfeito.
São bandidos e entre eles se entendem. Precisa explicar mais o medo da intenet?
Laerte Braga é jornalista, escritor, cineasta e colabora com esta Agência Assaz Atroz.
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PressAA
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