domingo, 18 de outubro de 2009

Brizola enxerga o perigo e roga ao Criador que proteja o Rio

Atualização desta postagem em 22 de outubro de 2009.


Comentários do embaixador Arnaldo Carrilho sobre este artigo.

Recebido por e-mail:


Meu caro Fernando, mas que puta artigo, sô! É quase glaubereano, sem a genialidade espasmódica do autor de "Terra em transe", mas de uma lucidez rimbombante. Li-o atentamente, num só jato (intro)ejectivo, e jamais concordei tanto com um patrício, nos úlimos 39 anos (para mim, o processo de decadência mental nosso, por força da corrupção de idéias e adesões às forças estamentárias, teve início em 1970, gradativamente sucumbindo aos horrores dos anos-80). É uma aula que nenhum desses acadêmicos não-platônicos e não-nada, com canudinhos de graduação nos States, jamais teriam um mínimo de brio e coragem para dissecar em aula.

Eu já gostava do Laerte Braga, desde que você teve a excelente idéia de introduzi-lo em minha tela, assazatrozmente, e fico-lhe gratíssimo pela iniciativa, mas neste domingo de ontem - aí já se iniciou a madrugada de hoje -, o mineiro se viu açoitado por um golpe de acuidade que transportou suas meninges ao trato digestivo da sociedade que temos. Seu grau de consciência vale um "Prêmio da Multidão Brasileira", que um dia aprenderá a recusar os que mal conduzem nossas instituições e, logo em seguinda, contra eles rebelar-se, afastando-os das lides públicas sempiternamente. Nossa herança ibérica, responsável por um 1/3 da boleia do País, não soube como cultivar nem uma forma acovardada de igualitarismo formal, à maneira anglo-saxônica, atendo-se a uma República de mentirinha, que até 1967 se chamava EUdoBr.

Regressei a Pionguiangue, mas, em janeiro e inícios de fevereiro vindouro, estarei aí, um pouco em Brasília (catarata do olho esquerdo, que não pude fazer porque tive de partir logo para o novo Posto, em meio às descargas do vaso sanitário da "grande" imprensa marrom) e Rio (ajeitamento de uma vultosa alça de hérnia, do baixo-ventre ao flanco abdominal direito). Nas convalescenças, porém, quero conhecer pessoalmente o Laerte, se possível para combinar (em francês, "combinar" implica safadeza: cf. la combine de bandits) coisas de estilo, visando à derrota desses dragões da maldade que mamam as tetas de uma nação aboletada em 500 anos de periferia, como o colega e amigo Samuel indicou-nos seminalmente, faz nove anos, quando aquela porqueira de pseudo-caravela quase soçobrou.

Um abraço bem satisfeito do
Arnaldo Carrilho
(*)

“O TAMBOR QUE BATE AQUI ECOA NO BRASIL INTEIRO”

Laerte Braga

A frase que serve de título é de Leonel Brizola e foi dita logo em seguida à sua eleição para o governo do Rio, em 1982. O governador se referia à repercussão dada pela mídia a todo e qualquer passo que viesse a tomar e isso levando em conta o temor das elites brasileiras de uma eventual eleição de Brizola, um pouco mais à frente, para a Presidência da República.

O fim das ditaduras militares na América Latina foi só uma constatação do governo dos EUA que o modelo repressivo e autoritário deixava, naquele momento, de cumprir o seu papel em função de interesses norte-americanos.

Começava o processo neoliberal, e arremedos de democracia poderiam se constituir em instrumentos corretos àquela etapa do processo de criação da verdade única, o neoliberalismo, o Brasil não era exceção. A morte de Tancredo, a ascensão de um político venal e medíocre como José Sarney abriam espaços para a construção de um boneco capaz de implementar a nova verdade, na verdade a velha, travestida agora de democracia.

E ao mesmo tempo, lógico, deter os avanços de forças populares. Eram reais e por isso mesmo deveriam ser neutralizados. O capitalismo dispõe hoje de duas grandes forças. Uma, o monopólio do poder militar de destruição absoluta e outra a mídia, formadora de consumidores e zumbis prontos a acreditar que quem plantar uma bananeira de hora em hora ganhará uma viagem à Disneyworld, ou o direito de participar do Big Brother.

São os dois grandes desafios das forças populares.

Por aqui construíram Collor de Mello. Um político sem qualquer escrúpulo, oriundo de elites udenistas do Nordeste brasileiro e pronto a executar o que quer que lhe fosse determinado em troca de alguns bilhões de dólares amealhados ao longo de um ou dois mandatos presidenciais. Quem tiver boa memória há de se lembrar de declarações de Collor falando em vinte anos de “um novo Brasil”. Era a reeleição, que acabou vindo com sua segunda edição, Fernando Henrique Cardoso e a mudança do regime de governo com o parlamentarismo. O pai da pátria continuaria a governar como primeiro-ministro.

A falta de estatura política, a visão estreita, medíocre, e o deslumbramento de Collor acabaram por custar-lhe o mandato na avidez de todas essas características de sua personalidade doentia. O breve espaço Itamar Franco foi o suficiente para construir FHC e retomar o processo neoliberal. Quem tiver memória, vale repetir, vai se lembrar que Collor, no desespero de manter o cargo, orientado por seus controladores, chegou a convidar FHC para uma espécie de superministério, e FHC respondeu que sim. Impediu-o a reação de Mário Covas e setores de seu partido para além de São Paulo (condado do grupo FIESP/DASLU).

FHC ganhou a Presidência da República montado num programa que falava de “modernização”, empregos, saúde, educação, o esquema dos cinco dedos (foi proposital em alusão aos quatro dedos de Lula numa das mãos) e em cima do Plano Real, o primeiro grande passo do neoliberalismo no Brasil, o ato inicial do processo de venda do patrimônio público.

FHC cumpriu o cronograma previsto para Collor. Vendeu os setores estratégicos do Brasil, comprou a reeleição (ele e Menem na Argentina, o mesmo esquema), privatizou o Estado em todos os sentidos e transformou-se no principal porta-voz do neoliberalismo por essas bandas, hoje, constrói, com o dinheiro dos que agraciou nos “negócios” da privatização uma pirâmide que chama de “Memorial FHC, tributo à sua vocação de rainha má, ávida para que o espelho lhe diga que ninguém é mais sábio e brilhante que ele. Tem um estoque de maças envenenadas para atingir os que ousem discordar de um espelho subserviente. E como nesse processo é quase ninguém, é usado para declarações aqui e acolá, assim como quem não quer nada, seja para manter-lhe o mínimo de presença e essencialmente para cumprir o papel de “general Anselmo”.

O Rio de Janeiro começou a sofrer um processo de declínio com a transferência da capital para Brasília. Esse processo acentuou-se com a fusão imposta pelo governo Geisel. A cidade/capital que virara estado – Guanabara – incorporou ou foi incorporada pelo antigo Estado do Rio. Um jeito de evitar a característica oposicionista da antiga cidade agora estado, diluir a repercussão do tambor que batia no Rio e ecoava em todo o Brasil.

E como toda grande metrópole em qualquer lugar do mundo, uma das vitimas das políticas capitalistas que resultaram em grandes processos migratórios do campo para a cidade. O entorno do Rio passou a ser ocupado por migrantes. A eles se juntaram os que deles derivavam e a massa de desempregados e trabalhadores explorados na lógica perversa da acumulação capitalista.

O Rio, como São Paulo, como a Cidade do México, como Pequim, como New York, é uma cidade sitiada por populações excluídas do processo político, econômico e, por conseqüência da ausência de políticas sociais, de toda uma gama que signifique a transformação do estado capitalista num estado socialista. Não interessa às elites que essa realidade desapareça, nem de longe, pois além de tudo virou um grande negócio.


O que as elites fizeram e fazem é construir e aperfeiçoar um aparelho repressivo boçal e corrupto com o qual mantém intocados os seus privilégios. O direito por exemplo de Boninho, diretor da GLOBO e do Big Brother, de jogar água suja da janela de seu apartamento de alguns milhões de reais em mulheres que, a seu critério, sejam “vagabundas”. Ou a jovens de condomínios fechados assaltarem uma trabalhadora alegando que se tratava de uma prostituta para com alguns míseros reais comprar a droga de cada dia, no morro mais próximo.

Um diagnóstico da violência no Rio não cabe em um ou dois parágrafos, mas é por aí.

O site do UOL – UNIVERSO ON LINE – do grupo FOLHA DE SÃO PAULO, jornal partícipe da ditadura militar e do esquema de tortura na aliança empresários/militares, narra neste domingo, 18 de outubro, o drama de Regina Lúcia de Sousa, que sai de casa às 4h30m da manhã para iniciar o seu dia de trabalho. Depende de trens e o sistema não está funcionando. Pior, a Polícia está batendo e batendo duro em quem reclama.

A matéria relata que de trem em trem e de ônibus em ônibus a moça chega ao local de trabalho, na Lagoa Rodrigo de Freitas (onde existem apartamentos de seis milhões de dólares) às sete horas da manhã. Mostra que são 716 viagens diárias de trens no Rio e cerca de um milhão de passageiros.

Desde o dia oito de outubro Regina não consegue pegar o trem no horário de sair e nem no horário de voltar – 17horas –, pois o sistema não está funcionando. O resultado é que a vida de Regina virou um inferno e multiplique isso pelo milhão de trabalhadores que se valem desse tipo de transporte para ir ganhar o pão de cada dia e retornar às suas casas.

Para os traficantes isso não afeta em nada os negócios, pois os grandes compradores de drogas são os filhos das elites. E os grandes chefões do tráfico de drogas estão nos apartamentos de seis milhões de dólares, ou na presidência da Colômbia, garantido por sete bases militares dos EUA.

Para FHC isso pouco importa, em Paris, uns dias atrás, o faraó disse que a batalha contra o tráfico estava perdida e era melhor liberar o consumo de drogas.

Na terça-feira, dia 13 de outubro, a juíza Maria Isabel Gonçalves, da 6ª Vara Empresarial (já existe isso para garantia da livre empresa), determinou que a empresa crie condições seguras, a responsável pelo sistema de transporte ferroviário no Rio e Grande Rio, sob pena de multa de 100 mil reais, caso a ordem seja descumprida. O promotor Carlos Andresano, da Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa do Consumidor do Contribuinte da Capital, chamou a atenção para os péssimos serviços prestados pela empresa e que esse é o fator gerador de revolta popular.

O promotor quer que a empresa se responsabilize por todos os tipos de danos causados aos usuários, inclusive danos psicológicos. A empresa não fala nada, só vai falar quando for intimada pela Justiça e na Justiça.

O secretário Júlio Lopes, do governo, acha que está tudo certo, mas são necessários investimentos enormes para solucionar o problema e que o governo do Estado mantém um programa de fiscalização e qualificação permanente do sistema de transporte ferroviário urbano e do Grande Rio.

É uma empresa privada que presta um serviço público através de concessão. Assumiu as responsabilidades de cumprir as demandas do setor, de investir, de modernizar, de atualizar e de garantir à população o direito fundamental de transporte de boa qualidade. Recebe financiamentos públicos, a bem dizer é sustentada pelo Estado (só é privada no item lucros).

Quando FHC privatizou o Brasil a conversa fiada era essa. A iniciativa privada iria investir, jogar os recursos que o Estado não dispunha, transformar o País num paraíso tipo primeiro mundo e os poucos recursos públicos seriam investidos em saúde e educação.

Mentira. Os poucos recursos públicos, oriundos dos bolsos do cidadão que usa trem (o que compra droga nos bairros das elites sonega) são para financiar empresas que no perverso modelo neoliberal, na lógica do capitalismo, se apropriaram do Estado, aparelharam o Estado e controlam o Estado, inclusive a Polícia. Deveria estar baixando a borduna nos empresários que deixam de cumprir suas obrigações. Baixa no trabalhador e um coronel cheio de empáfia vai às tevês dizer que todas as providências estão sendo tomadas para acabar com o tráfico. Só não é a maior afirmação humorística dos últimos tempos porque é trágica.

O presidente da VALE, patrimônio público que FHC entregou aos “gringos" bateu boca com o ministro da Fazenda por conta de impostos. A empresa se acha acima do bem e do mal e está em fase de transferência de sua matriz para a Suíça. D. Lina, a amiga dos tucanos, achou a agenda que fala do seu encontro com a ministra Dilma. Já ganhou o direito de ou posar para a PLAYBOY com aquele óculos modelo menininha recatada, ou pousar na casa do BBB.

Prostituir-se não é só vender o corpo, pode ser vender a alma também.

O site do UOL não fala um só instante de crise semelhante em dias passados acontecida na capital paulista. O modelo tucano. É que recebe polpudas verbas para esconder as verdades/mazelas do grupo FIESP/DASLU, donatário de São Paulo e proprietário de um louco José Jânio Serra que ameaça o Brasil no arremate do processo neoliberal, capitalista.

Um estado falido. Mas que paga fortuna à FOLHA, distribui revistas da ABRIL (VEJA) com retratos do grande líder, vai por aí afora.

Não é um problema de trem atrasar e minha mãe ficar preocupada porque sou filho único, ou perder esse trem. É o modelo, o capitalismo. Exploração do homem pelo homem. A Regina da história do UOL não é a pobre coitada nos termos que o site mostra, é a pobre vítima de uma realidade brutal do capitalismo.

O UOL não está preocupado com a sorte de Regina, mas com a falta de Regina ao trabalho que lhe proporciona um mísero salário, mesmo que aos quarenta anos (não sei quantos tem) vai parecer ter sessenta. É que o mísero salário ajuda na compra de produtos vendidos pela imagem da “deusa Xuxa”, que vende o espetáculo de eu existo e triunfo com bolsas onde está estampada a cara da moça robô, a apresentadora.

O trem não vai andar nunca na linha, a empresa não está nem aí para Regina, para o milhão de usuários de cada dia, mas ávida do dinheiro público para “investir” no lucro e na perversidade da acumulação capitalista, porque um cretino, sem nenhum caráter como William Bonner, ou William Haack (contratado das empresas petrolíferas para dizer que o pré-sal não é tão importante assim e deve ser entregue), qualquer um deles, vai dizer que a culpa é do governo, nem importa qual seja o governo, importa que o lucro seja deles.

A tal SUPERVIA, a concessionária, pode ser a VALE noutra dimensão, as empresas de Ermírio de Moraes, quadrilheiro FIESP/DASLU que atua em quase todo o Brasil com dinheiro público, estão todos escorados num congresso repleto de bandidos/bandidas como Tasso Jereissati (lucrou milhões na privatização do setor de telefonia), Artur Virgílio, José Sarney, Kátia Abreu, ou numa justiça onde pontifica Gilmar Mendes.

Já o cidadão comum tranque as janelas, as portas, cerre tudo, apague as luzes, a Polícia está nas ruas procurando e não achando os traficantes. É que eles estão lá na Lagoa, por exemplo, onde a Regina tem que chegar para trabalhar de acompanhante.

É esse o tambor que ecoa em todo o País. A indignação da GLOBO e suas preocupações com o trabalhador tem outro viés. Do governo do Rio, tem outra lógica (cessam as contribuições num ano pré-eleitoral) e vai por aí afora.

Um espetáculo e tanto, cheio de coadjuvantes sem cara, sem sombra e sustentando o memorial de um faraó podre. E sua corte de ávidos devassos a soldo do capitalismo em sua versão neoliberal. Aquela que dá o dinheiro do trabalhador para a GENERAL MOTORS e um monte de bancos/banqueiros em vias de falir, tudo para salvar o mundo.

A culpa é do Irã. Ou de Zelaya


Laerte Braga, jornalista, escritor, médico e cineasta, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz

(*)
O Embaixador Arnaldo Carrilho teve sua carreira iniciada em 1962. Recentemente entregou credenciais ao governo de Kim Jong, passando a exercer as funções inerentes ao cargo de embaixador do Brasil na Coreia do Norte, depois de ter representado nosso país, entre 2006 e 2007, na Cisjordânia controlada pela Autoridade Nacional Palestina. Já serviu em 14 países, passou 10 anos em postos na Europa e outros 12 em países árabes, China e Tailândia. Arnaldo Carrilho já inaugurou embaixadas brasileiras na Arábia Saudita e Alemanha Oriental e foi designado como Embaixador Extraordinário junto à Cúpula América do Sul-Países Árabes, que aconteceu em 2008.

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PressAA


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