GIZ MOÍDO PARA BRINCAR – POLÍCIA PARA QUÊ?
Laerte Braga
Alunos de uma escola pública da cidade gaúcha de Sapacuia do Sul aproveitavam o recreio para moer o giz que encontravam nas salas de aula e brincar de “tráfico”. A “brincadeira” consistia em conseguir um maior número de usuários de drogas e bocas de fumo.
A Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul arquivou o pedido de impedimento da governadora tucana Yeda Crusius, notória corrupta, uma das figuras mais repugnantes da política brasileira, desde que surgiu no governo do ex-presidente Itamar Franco (apareceu levada por FHC).
Especialistas em educação e a própria Polícia da cidade entendem que a “brincadeira” deve servir de alerta sobre a influência do tráfico e pretendem promover palestras em todas as escolas públicas de Sapacuia do Sul para mostrar os riscos de usar e traficar drogas.
Sugiro convidar o presidente da Colômbia, o narcotraficante Álvaro Uribe. O tema? “Como substituir o giz moído por produto original da Colômbia, cem por cento de pureza e um monte de bases norte-americanas para garantir a paz”
Deveriam exibir, aí como abertura, as declarações de Fernando Henrique Cardoso sobre o assunto. “Perdemos a guerra contra o tráfico, é preciso começar a pensar em liberar o uso de drogas”. Foram feitas na França, quinze ou vinte dias atrás.
Dois policiais militares do Rio de Janeiro, um deles capitão, presenciaram o final de um assalto, um corpo agonizante numa agência bancária no centro da cidade, e tomaram a seguinte decisão. Pegaram o produto do roubo em poder dos assaltantes, deram uma olhada na vítima e foram embora. Os assaltantes também.
A vítima era o coordenador do Afroreggae Evandro João da Silva, e o fato aconteceu no domingo. Os policiais, capitão Denis Leonard Nogueira Bizarro e o cabo Marcos de Oliveira Sales estão presos num batalhão da PM, mas podem ser soltos no sábado e responder ao inquérito em liberdade. Para que isso não ocorra é necessário que o encarregado das investigações peça à Justiça a prisão da dupla, e a Justiça entenda que os dois devam ficar presos.
A julgar pela reação da opinião pública e a aposta da GLOBO no caráter espetáculo que norteia os noticiários da rede sobre crimes assim, correm, capitão e cabo, o risco de permanecerem presos por um breve período. Pelo menos até que algum Nardoni mate a filha, ou algo semelhante. O letreiro do espetáculo seja outro.
As imagens do crime não permitem fugir do clichê. São chocantes. Tanto as do assalto como as da ação dos PMS. Ou falta de ação, pelo menos a esperada, ou a desejada. Evandro João da Silva integrava um grupo que entre outras atividades de natureza cultural promovia a paz como símbolo de sua luta.
O deputado Ivan Valente do PSOL de São Paulo (condado vizinho que fala a mesma língua sob controle do grupo “socialista” FIESP/DASLU) foi à tribuna da Câmara para denunciar o poder do latifúndio, do agronegócio no Parlamento e a criminalização de movimentos populares, particularmente o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra). A total inversão da realidade, tal e qual a “ação” dos policiais no Rio e o reflexo da boçalidade vendida diariamente pela mídia na “brincadeira” dos alunos da escola gaúcha.
Bobagem? Uma coisa não tem nada a ver com a outra? Tudo bem. Quem quiser imaginar que além de Homer Simpson possamos ser avestruzes no estômago para engolir tudo e na mania de enfiar a cabeça em buracos para não ver a realidade, que coma giz moído, ou sopa de pedras, antes de mergulhar em buracos que na prática são como formigueiros de alienação.
O deputado denunciou a volta da monocultura, assim aquele negócio de sermos o maior produtor de café do mundo (tempos atrás) e não produzirmos mais nada. A falta de controle sobre as “isenções milionárias e incentivos à exportação, o adiamento e o cancelamento de dívidas do Banco do Brasil para um setor que já é ultraprivilegiado no País”.
E toca na ferida. “que atrás disso tem uma campanha midiática”.
No discurso do deputado ele usou como elemento de demonstração, digamos assim, da forma mentirosa como o latifúndio criminaliza o MST, um artigo de Luis Carlos Bresser Pereira, ex-ministro de FHC. E ex-diretor do grupo Pão de Açúcar. No artigo Bresser Pereira classifica o MST como único movimento conhecido na “defesa dos pobres deste País”. Bresser Pereira é filiado ao PSDB, braço do condado “socialista” FIESP/DASLU. Deve ter tido um ataque de bom caratismo, costuma acontecer.
Dá conta de que as imagens apresentadas pela televisão (A GLOBO é uma espécie de Kama Sutra da informação, as mais diversas posições, versões, desde que tremulem os interesses dos que pagam, no caso elites econômicas) das terras da CUTRALE, sem citar que são terras públicas griladas e objeto de busca do INCRA (INSTITUO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA) na Justiça de reintegração de posse das tais terras. Terras roubadas a União em linguagem direta por empresários (que diferença há entre tais e o tráfico?).
O mesmo Bresser Pereira, como citou o deputado Ivan Valente, dá conta no seu artigo que é a agricultura familiar que usa três quartos da mão de obra no campo e em um quarto das áreas cultiváveis. O resto está em mãos do latifúndio.
Duzentos e oitenta e dois bilhões de reais no ano passado foram destinados, dinheiro público, para amortizar a divida dos latifundiários e “ninguém quer investigar”. Denuncia mais o parlamentar. Que querem revogar a legislação ambiental para plantar mais e mais de uma só cultura, mandando para o espaço qualquer vagido de respeito ao meio-ambiente, ou preocupação com o tal “patriotismo” que arrotam dia e noite.
A senadora do DEM Kátia de Abreu usou dinheiro público supostamente destinado a fomentar o plantio, a agricultura, em sua campanha eleitoral. O fato é público, notório e está todo provado em processo junto à Justiça Eleitoral, mas a senhora em questão continua senadora.
“O que se defende aqui é que a propriedade está acima da vida.” Foi a fala final do deputado.
Em qualquer manifestação contra a o governo podre de Yeda Crusius, ou de trabalhadores rurais sem terra contra roubos de terras públicas, em qualquer estado da suposta federação brasileira, a PM, qualquer PM, todas as PMs, estão sempre prontas ao “cumprimento do dever” de manter a ordem. Quando a mídia toca nesses assuntos se refere aos manifestantes como “baderneiros”, “terroristas”, etc.
Já sobre trapaças, fraudes, crimes contra o erário público como gostam de dizer, nada. Até que tocam, quando montam dossiês falsos e deixam de lado a principal notícia do dia, um acidente aéreo com mais de cem mortos, para tentar alcançar seus objetivos.
Via de regra reclamam de falta de ranhuras no aeroporto de Congonhas.
A Editora Globo edita uma revista chamada CRIATIVA. Numa delas pode-se achar matérias como confissões de “transas loucas”, assim tipo plantar bananeira e transar. É matéria de capa da edição de abril de 2009. Transformam o amor em ato de acrobacia.
Deve ser isso que William Bonner chama de ensinar sem conteúdo ideológico para evitar que os alunos das faculdades de comunicação tenham uma visão “esquerdista”. Só pode, a julgar pelo grau de cinismo do editor do JORNAL NACIONAL (NACIONAL deles, diga-se de passagem).
O capitão e o cabo que mataram Evandro João da Silva (Claro! Mataram também tanto quanto os assaltantes) são dois boçais dentre os produzidos em série pelo modelo. Na estupidez da ordem instituída devem ter se aproximado do corpo, depois de tomarem dos assaltantes o produto do assalto, constatado – a juízo deles – que a fatura estava liquidada e pronto.
Dever cumprido.
O comandante da PM pediu desculpas à família, à sociedade? E daí? Dona Kátia Abreu está lá em cima no Senado Federal deitando falação sobre progresso, democracia e contra o MST. Montada e eleita com dinheiro público, tanto quanto dona Yeda continua metendo a mão nos cofres do governo do Rio Grande do Sul, mas tudo direitinho, usando camisinha e segundo os padrões da mídia global.
Em breve, com certeza, jogo eletrônico disponível para crianças e adolescentes, com o nome “giz moído”. E o dantesco anúncio – “o desafio é você conseguir mais usuários e mais bocas de fumo”.
O prêmio? A democracia e a ordem. O primado da lei e o patriotismo.
Aí, dá um golpe militar em Honduras (boçalidade que ameaça retornar nesses nossos cantos). Comete toda a sorte de atrocidades contra palestinos. A culpa é do Irã e VEJA vai mostrar como o MST “ameaça” o complexo condado “socialista” FIESP/DASLU.
Polícia para quê? O cidadão que trate de compreender seu real papel nessa história toda, enclausure-se e arranje estômago de avestruz. O máximo que acontece é a garantia que desde o pantoprazol esse assunto estômago é para tirar de letra. Giz moído não mata ninguém.
Mas, cuidado, se perceber um PM por perto, corra! Esse mata e em nome da lei. Se encontrar por acaso a senadora Kátia Abreu, ou a governadora Yeda Crusius, mão na carteira. E, se o senador Suplicy estiver por perto de cueca vermelha, não ria. Ele acha que está protestando contra alguma coisa. Se você der atenção, vai ouvir uma didática explicação sobre nada em no mínimo trinta horas. Que nem aquele banco que não fecha. E não há quem agüente.
E não se esqueça de comprar CRIATIVA nas bancas.
Laerte Braga, jornalista, escritor, médico e cineasta, colabora com esta Agência Assaz Atroz
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PressAA
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