Os caminhos da cucaracha - Edição Especial
A ÉTICA DO COWBOY E O CAPACHO
Raul Longo
Quem não assistiu ao Jornal da Globo ontem (5/8), perdeu um clássico do west-spaguetti estrelado pelo general James Jones, assessor de segurança nacional de Obama, com todos os ingredientes das macarrônicas produções do gênero.
O próprio general Jones não fica nada a dever pro John Wayne. Aquela mesma inexpressividade estática. Lembram-se de como beijando, atirando, dando porrada ou cavalgando, Wayne mantinha o mesmo olho cambado de quem já nasceu fazendo mira na ponta do cano de uma arma?
Mas Wayne não conseguia manter os braços inalterados. Todo o corpo e o rosto segura a postura de durão, mas os braços se moviam diferentemente em cada cena. Sempre meio afastados do coldre, como quem está pronto a sacar, é verdade, mas dobrava os cotovelos. Não conseguia ficar sem dobrar os cotovelos.
Já o general consegue. Fosse de outra geração, daria um excelente Robocop.
Agora adivinhem quem fez o papel de bandidão facinoroso de maus-bofes? Stálin? Não! Khruschov? Não! Fidel? Esse já caiu de moda. Mao Tse Tung? Hitler? Ben Laden?
Claro que todos sabem! Ele mesmo! Entrando pela ponta esquerda do ringue para suas vaias: o sujo, o golpe-baixo, o traiçoeeeiro Hugo Chávez!
Mas voltando ao farwest, no papel de heroína, de donzela amarrada aos trilhos do trem da história: Álvaro Uribe, cercado pelas FARC, comandadas por Cavalo Louco, Touro Sentado e Lobo Cinzento.
Emocionante! Tem até a Cavalaria pronta para sair das Bases Americanas (americanas lá deles, porque a nossa América sempre foi outra deste o tempo dos Sioux, Comanches, Crows, etc.) ou Forte Apache com aquela cornetinha tocando o tátá-ra-tá-tá que levava a molecada das matinês ao delírio!
Como em toda boa matinê, apesar do adiantado do horário do telejornal, teve até o momento edificante quando Jones Wayne recorre a clássica ética de bom mocinho de filme de cowboy que sempre oferece a própria arma ao pulha do bandido, antes de ser obrigado a mandar a alma do famigerado para dentro de um caixão de álamo.
Mocinho que se preze jamais atira em bandido desarmado! Por isso armaram o Sadam antes de massacrar o Iraque; armaram os Talibãs antes de massacrar os Afegãos. Seguindo o roteiro, Jones explicou ter vindo ao Brasil oferecer armas em troca de um boquinha no Pré-Sal da Petrobrás.
Aí é que entra em cena William Waack concorrendo ao Oscar de melhor ator coadjuvante no papel de El Capacho. Pensam que ele se limitou àquele sorrisinho sardônico que já o notabilizou quando quer sugerir que o Presidente Lula é uma bobagem? Naaada! Bill Waack se superou numa magnífica interpretação capaz de botar qualquer Lee Marvin e Clint Eastwood no papel de cocô de cavalo do bandido.
Além de dublar a última fala do galã Jones Wayne num raro momento de savoir-faire na seriedade própria da dureza da vida do Velho Oeste, admitindo em natural humor de general norte-americano que do mundo espera, no mínimo, pronta obediência, o que o Waack traduziu babando de gozo: "Fico muito satisfeito quando retornam meus telefonemas", disse o general.
Para bom entendedor ficou claro que alguém aqui no Brasil não anda atendendo telefone. Não fosse isso, por certo não receberíamos a visita do cowboy.
Waack não esclareceu se o general veio vender ou apontar mísseis em troca do pré-sal, mas seu olhar e satisfação, sem dúvida foi a melhor interpretação de El Capacho em toda a história da cinematografia internacional.
The End
Para quem não assistiu ao Jornal da Globo do dia 5/8, o Goober leva você até os estúdios da Rede Globo e manda reprisar tudo...
http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,MUL1256487-16021,00-ENTREVISTA+EXCLUSIVA+DO+GENERAL+JAMES+JONES+ASSESSOR+DE+SEGURANCA+NACIONAL+.html
Raul Longo
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Raul Longo é jornalista, escritor e colaborador da AAA - PressAA
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