Max Altman
Infâmias não podem ficar sem resposta
O que leva os jornalistas Salomão Schvartzman e Zevi Ghivelder, lídimos representantes do ‘establishment’ judaico no Brasil e irrestritos defensores da política do governo israelense comandado por Benjamin Netanyhau a escrever o infamante artigo publicado na Folha de S. Paulo de 12 de agosto, sob o título “O antissemitismo de Chávez?” Um dos motivos é insistir em criar uma matriz de opinião de que ser contra a política belicista e expansionista do governo de Israel ou divergir do sionismo não passa de manifestação de antissemitismo. Ora, judeus pelo mundo afora, que se definem convictos como membros do povo judeu, muitos deles eminentes e provados defensores de soluções pacíficas e justas para os conflitos internacionais e lutadores contra o racismo, o antissemitismo e a discriminação, não compactuam com o sionismo e são acérrimos críticos das posições dos sucessivos governos israelenses face ao conflito Israel/palestinos.
Infâmias não podem ficar sem resposta
O que leva os jornalistas Salomão Schvartzman e Zevi Ghivelder, lídimos representantes do ‘establishment’ judaico no Brasil e irrestritos defensores da política do governo israelense comandado por Benjamin Netanyhau a escrever o infamante artigo publicado na Folha de S. Paulo de 12 de agosto, sob o título “O antissemitismo de Chávez?” Um dos motivos é insistir em criar uma matriz de opinião de que ser contra a política belicista e expansionista do governo de Israel ou divergir do sionismo não passa de manifestação de antissemitismo. Ora, judeus pelo mundo afora, que se definem convictos como membros do povo judeu, muitos deles eminentes e provados defensores de soluções pacíficas e justas para os conflitos internacionais e lutadores contra o racismo, o antissemitismo e a discriminação, não compactuam com o sionismo e são acérrimos críticos das posições dos sucessivos governos israelenses face ao conflito Israel/palestinos.
A outra é criar, por razões ideológicas, através de ininterrupta campanha internacional, uma imagem negativa do presidente venezuelano que lidera um processo revolucionário que se opõe aos interesses das oligarquias e aos desígnios do império.
Muito recentemente, o governo de Israel se aliou a essa campanha. O chanceler israelense Avigdor Lieberman, em visita a países da região, afirmou exatamente em Bogotá, na Colômbia de Uribe – e não em Brasília, Buenos Aires ou Lima, capitais de países onde esteve – que unidades do Hezbollah e do Hamas estavam estabelecidas na região de La Guajira, Venezuela, o que Caracas desmentiu duramente. Talvez fosse em represália porque Chávez condenou o ataque de Israel a Gaza e rompeu relações, ou porque Chávez chamou a Colômbia de “Israel da América Latina” ou ainda porque a Venezuela mantém relações comerciais estreitas com o Irã.
E aí os jornalistas Schvatzman e Ghivelder se puseram a listar as provas do antissemitismo de Chávez. Citou um artigo ‘inquietante’ publicado na “Boston Review" de autoria de dois professores norte-americanos. “Eles relatam que no dia 30 de janeiro, 15 homens fortemente armados arrombaram a sinagoga Tiferet Israel, bairro Mariperez, em Caracas, onde saquearam seus pertences, rasgaram os rolos da Torá e outros objetos litúrgicos. Em seguida, grafitaram as paredes do templo com inscrições como “Morte para o maldito Israel”, “Fora judeus” e outras, tudo isso ao lado de desenhos de suásticas”. Acontece que a polícia local – e isto foi fartamente divulgado, inclusive pela imprensa israelense – acabou prendendo 11 dos assaltantes envolvidos, entre os quais 7 policiais. E o que se descobriu? Um dos dois vigias do templo fazia parte do bando e facilitou a entrada no prédio e que o chefe e autor intelectual do assalto era um ex-policial que durante quatro anos foi escolta do rabino-chefe da sinagoga. O bandido confessou que o objetivo era roubo e que as inscrições se destinavam a despistar as investigações. Todos eles continuam presos à disposição da justiça. Outros três continuam evadidos.
Noutra passagem, os articulistas atribuem a Chávez uma declaração já de quatro anos atrás, concluindo que “Hitler não teria concebido um texto mais abjeto.” Eis o que, segundo Salomão e Zevi, declarou Chávez: “O mundo tem bastante para todos, mas algumas minorias, tais como as descendentes do mesmo povo que crucificou Cristo e as que expulsaram Bolívar e, portanto, de algum modo o crucificaram, se apoderaram das riquezas do mundo”. (g/n) Foi difícil encontrar o texto original mas ao localizá-lo percebi não só a descontextualização – veteranos jornalistas, sabem como distorcer, descontextualizando – como também uma sutil falsificação. Foi um discurso pronunciado na véspera do Natal, no dia 24 de dezembro de 2005, numa entidade chamada “Manancial dos Sonhos”
Transcrevo em espanhol para não restar dúvidas: “Acabo de leer esta madrugada el último informe de la ONU sobre la situación del mundo y es alarmante ... que nunca antes ... en 2005 años nos hace falta Jesús el Cristo, porque ... Dios, la naturaleza es sabia, el mundo tiene agua suficiente para que todos tuviéramos agua, el mundo tiene riquezas suficientes, tierras suficientes para producir alimentos para toda la población mundial ... El mundo tiene para todos, pues, pero resulta que unas minorías, los descendientes de los mismos que crucificaron a Cristo, los descendientes de los mismos que echaron a Bolívar de aquí y también lo crucificaron a su manera en Santa Marta, allá en Colombia. Una minoría se adueñó de las riquezas del mundo, una minoría se adueñó del oro del planeta, de la plata, de los minerales, de las aguas, de las tierras buenas, del petróleo, de las riquezas, pues, y han concentrado las riquezas en pocas manos.”
Dias depois, questionado por jornalistas, explicou que evidentemente se referia ao imperador romano e seus agentes, como se referiu ao império colonial espanhol e seus agentes, e que como católico concordava com a decisão do Concílio Vaticano II que reviu a milenar acusação contra os judeus de terem crucificado Cristo.
Mais adiante referem-se ao “principal site chavista na internet, Aporrea que divulgou 136 textos de natureza antissemita.” O site Aporrea – Aliança Popular Revolucionária – é um jornal virtual trotsquista, e não chavista, que geralmente apóia o governo Chávez mas é também crítico. Recebe e publica uma grande quantidade de colaborações de seus leitores. Não li os 136 artigos mas aquele assinado por Emílio Silva, com tons antissemitas, foi retirado de publicação, com pedidos de desculpas, assim que o site foi alertado de seu conteúdo.
O artigo da Folha empenha-se em mencionar ações e publicações de “seguidores’, ‘grupos afinados’, ‘mídia chavista’, ‘agentes do governo’ tentando vinculá-los a Chávez, como se atos semelhantes não ocorressem em tantas partes do mundo, na França, Alemanha, Estados Unidos e mesmo no Brasil, sem que jornalistas de mesma orientação ideológica se apressurem em ligá-los aos respectivos governos. Citam textualmente declaração de Chávez em visita à China em agosto de 2006: “Israel critica muito Hitler. Nós também. Mas Israel tem feito coisas semelhantes àquelas que Hitler fez contra a metade do mundo e talvez ainda pior.”
A pontuação é diferente da apresentada pelos jornalistas, mas me vali do que à época foi publicado. Mas não é isto que partidos, organizações, personalidades, dirigentes políticos os mais diversos vem afirmando em suas condenações às ações militares do governo de Israel contra o povo palestino?
Finalmente, o artigo cita também o jornal “El Diário de Caracas” por ter publicado há 3 anos um editorial “um papel carbono da imprensa nazista”. Percorro há anos a imprensa venezuelana. Jamais me deparei com esse jornal. Para saber de sua orientação política pesquisei o Worldpress.org., neste classificado como liberal. O que tem Chávez a ver com a orientação editorial desse periódico?
Faço menção agora a um fato muito recente que põe por terra toda a argumentação caluniosa de Schvartzman e Ghivelder.
Há cerca de um mês Jack Terpins, presidente do Congresso Judaico Latino-Americano, acompanhado de Miguel Angel Moratinos, chanceler da Espanha, e de Nicolas Maduro, chanceler da Venezuela, visitaram exatamente a sinagoga Tiferet Israel, onde foram recebidos pelo seu diretor Abraham Levy Benchimol. Na oportunidade, o ministro Maduro transmitiu saudações do presidente Hugo Chávez a toda a comunidade judaica da Venezuela. O Sr. Jack Terpins, por sua vez, declarou textualmente: “Esta visita do chanceler Maduro à sinagoga fortalece o diálogo entre o governo venezuelano e a comunidade judaica.”
Essas informações não foram extraídas de algum site chavista, da televisão governamental chavista ou do Aporrea. Li-as num recente boletim oficial do ‘Congreso Judio Latinoamericano”. Que os senhores Schvartzman e Ghivelder o leiam com seus próprios olhos para terem idéia da enormidade que transmitiram ao leitor.
Max Altman
12 de agosto de 2009
Recebido através da Rede Castorphoto, colaboração da Dalva.
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PressAA
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