domingo, 7 de fevereiro de 2010

DISSECANDO A ALGARAVIA DO LAERTE BRAGA (final)

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Celso Lungaretti

Um problema das polêmicas virtuais é que são intermináveis.

A imprensa, mesmo nos tempos em que não estava tão desvirtuada, sempre permitiu que seguissem apenas até os contendores não terem trunfos novos a apresentar, ou até a derrota de um deles se tornar inequívoca. Afinal, nela o espaço tem preço, que não é desperdiçado com meros exercícios do direito de espernear.

Já na Web, alguém pode ter sua argumentação destruída por completo e continuar nela insistindo, indefinidamente.

É como se um enxadrista, após levar xeque-mate, seguisse movimentando as peças no tabuleiro.
Então, só resta ao vencedor anotar as jogadas na papeleta e levantar-se da mesa, deixando o patético vencido a encenar a farsa de que o jogo continua.

É o que farei agora.

Na linha grosseira e falaciosa que adotou quando acabaram seus argumentos, Laerte escreveu DO A DE ALGARAVIA AO T DE TRAIDOR - OU O "O" DE OPORTUNISTA, assim mesmo, como um foquinha que ignora o bê-a-bá do jornalismo (se colocou o "o" entre aspas, deveria tê-lo feito também com o "a" e o "t").

Para quem atuou um dia na profissão, isto evidencia que está transtornado a ponto de esquecer o que há de mais elementar -- será que ainda se lembra de vestir as calças antes de sair na rua?

E o texto todo é um tijolaço caótico e errático, sem parágrafos nem nexo, pulando de assunto a assunto (Obama, o Mossad, o aquífero guarani, Ortega, a sucessão brasileira, o Jornal Nacional, a Amazônia, o Haiti, o MST, Mirian Leitão, José Serra -- panfletariamente comparado a Fernando Collor, quando poderia sê-lo, p. ex., com Carlos Lacerda, que começou na esquerda e depois endireitou -- etc., etc.), sem nada aprofundar nem nada provar.

Mais um motivo para lamentarmos a perda irreparável do grande Sérgio Porto, o Stasnislaw Ponte Preta: se estivesse vivo, encontraria nesse texto a matéria-prima para criar uma versão várias vezes aprimorada do seu "Samba do Crioulo Doido".

Tão irritado o Laerte Braga ficou quando constatei que seus textos não passam de algaravias que acaba de cometer sua pior algaravia dos últimos anos...

Ataca a Anistia Internacional como se não tivesse sido ela a exigir providências de Porfirio Lobo para a punição dos crimes praticados pela quadrilha de Roberto Micheletti, enquanto o presidente deposto Manuel Zelaya, com a boca dava declaração elogiosa à "reconciliação nacional"; e com a mão, apanhava o salvo-conduto que barganhou com Lobo.

Juntamente com um comitê hondurenho de vítimas, Laerte Braga profetiza que a Comissão da Verdade instituída por Lobo só servirá para salvar as aparências.

Não parece ocorrer ao Nostradamus de Juiz de Fora que isto significa apenas desperdiçar uma tribuna em que as mortes, torturas, estupros e intimidações do pós-golpe poderão ser veementemente denunciados, ganhando destaque na imprensa mundial.

Se, no final, a montanha parir um rato, aí sim caberão as denúncias contundentes de que Lobo, no fundo, é um continuador de Micheletti.

Fazê-las desde já só serve para desqualificar-se aos olhos dos neutros. É falar para os já convertidos (que foram insuficientes para conseguir que esta crise tivesse o desfecho correto) e esquecer a necessidade de ampliar fileiras, para obter a vitória no(s) confronto(s) seguintes(s).

Em suma, trata-se da miopia política habitual dos colecionadores de derrotas, que parecem importar-se mais com a manutenção de sua imagem junto ao próprio público do que com o resultado concreto das lutas que travam.

Quanto a depreciar o papel da Anistia Internacional com a afirmação de que ela só atua após a porta arrombada, é mais uma falácia dentre tantas. Em situações como os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, sua resposta foi imediata e dramática.

O que ela não faz é posicionar-se a partir de relatos não comprovados, como aquele em que o Laerte Braga acreditou, ao trombetear por aqui que, num único domingo, os capangas de Micheletti teriam assassinado "pelo menos" 50 manifestantes contrários ao golpe.

A AI não tem tropas para impor sua vontade a governos, seu único trunfo é a autoridade moral, INDISCUTÍVEL AOS OLHOS DOS CIVILIZADOS, que ela perderá se encampar versões exageradas de militantes.

Já o Laerte Braga não tem escrúpulo nenhum em repassar essas versões o tempo todo, como se fossem a tábua dos 10 mandamentos.

É um mero propagandista, que se norteia antes por Joseph Goebbels do que por Rosa Luxemburgo: para ele, a verdade não é revolucionária, longe disto, daí preferir martelar ad nauseam as versões convenientes, na esperança de que acabem passando por verdadeiras.

É o que continuará fazendo em relação a mim, com a equação "Celso Lungaretti = traidor". Escreverá isto a torto e a direito, doravante.

Prosseguirá citando o documentário Tempo de Resistência como "prova", indiferente ao fato de que nem mesmo o Darcy Rodrigues, que aparece no filmeco fazendo tal afirmação, ainda a sustenta. Hoje ele reconhece que eu nem sequer conhecia a localização da segunda área de treinamento guerrilheiro, onde estava Carlos Lamarca.

Fingirá ignorar que, mesmo antes de eu desmistificar as versões convenientes sobre a quase destruição da VPR em abril/1970, provando que responsabilidades alheias estavam sendo atiradas nas minhas costas para que outros posassem de heróis impolutos, nunca se cogitou traição da minha parte, mas sim que não houvesse resistido às torturas que me causaram uma lesão permanente.

Tanto isto é verdade que, já em 1974, a esquerda organizada se dispôs a me reabilitar, desde que eu me apresentasse apenas como massacrado pela repressão, omitindo que fora igualmente injustiçado e jogado às feras pela VPR. E não é afirmação sem comprovação, como os blefes ridículos do Laerte Braga; o companheiro Luiz Aparecido está aí, firme e forte, para confirmar.

E seguirá espalhando calúnias, como fez com o Raymundo Araujo, a quem acusou -- igualmente sem provas -- de ser um infiltrado, deixando depois o dito por não dito.

É como sempre reagem os stalinistas contra quem os contesta -- vide as falácias que utilizaram para justificar o massacre de trotskistas, anarquistas, mencheviques, sociais-revolucionários e até mesmo da Velha Guarda bolchevique.

Embora lhe caiba apenas o papel de repetir a História como farsa, já que não tem estatura para protagonizar tragédias, Laerte Braga mostra ser exatamente da mesma estirpe daqueles que obrigavam revolucionários de uma vida inteira a comparecerem balbuciantes aos julgamentos de Moscou, para confessarem que, a serviço dos EUA ou da Inglaterra, haviam tentado envenenar os reservatórios de água do estado socialista.

Para ele o que importa é satanizar o adversário, fazendo dele um espantalho, como se fosse o pior dos inimigos.

Mas, nem desta vez seguirei o conselho de amigos e companheiros, que me exortam a recorrer à Justiça burguesa. Sigo meus princípios, sempre.

Minha força para sobreviver a terríveis injustiças e vencer batalhas desiguais sempre adveio de manter-me coerente com minhas convicções. Sabendo que sustento a posição correta, não me importa ter o mundo circunstancialmente contra mim.

Não será o liliputiano Laerte Braga que vai me fazer mudar a postura. Mesmo porque o julgamento dele já ocorreu, tendo como jurados os internautas.

E as atas permanecerão disponíveis na Web, de forma que, ao colocar "Laerte Braga" na busca, toda e qualquer pessoa ficará sabendo quão baixo ele desceu um dia.

Para mim, é o que basta.


naufrago-da-utopia@uol.com.br

Texto indicado pelo autor para publicação em resposta ao artigo Do A de Algaravia ao T de Traidor - ou O de Oportunista, de Laerte Braga, publicado por esta Agência Assaz Atroz.

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PressAA

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