Urda Alice Klueger
Neste mundo cinzento onde estou a navegar na direção do ocaso, de repente, apesar de tão raramente, acontecem, como lampejos inesperados, alguns instantes de alegria que faíscam no plúmbeo desta minha vida como setas de luz e de beleza, e que, apesar da rapidez de faíscas, me enchem de calor e me deixam trêmula de felicidade.
Hoje, no inesperado deste cinza que me envolve, de repente aquele momento aconteceu, tão rápido quanto um relâmpago e tão inesperado quanto um terremoto, e o abalo de alegria que senti foi equivalente a muitos graus na escala Richter, e até agora, horas depois, ainda sinto meu coração trêmulo como se fosse de gelatina recém desenformada, tamanha a bênção que recebi.
Conto: era meia hora antes do meio-dia, e o trânsito já começava a se congestionar quando, fulgurante dentro da minha névoa opaca, o barquinho colorida da felicidade por um momento resplandeceu à beira da rua apinhada, na calçada irregular e meio desprezada desta minha cidade que se acha perfeita, e a seta da alegria se fincou em mim num abalo, e o meu cinzento se encheu de luz e de felicidade – mas como se vogasse para alto mar a imagem do barquinho desvaneceu-se em instantes, e só ficou dentro de mim aquela fugidia visão de um Passarinho de azul, branco e prata, um pouco inclinado como se a vida lhe pesasse, o rosto cheio de seriedade e concentração, como se carregasse uma tristeza, quiçá uma preocupação, que sei eu?
Da mesa dos deuses só me cabem sobejos de felicidade, como sobejos recebem os cães pacientes – a vida não me permite nem o vislumbre do que acontece nos banquetes sagrados, sequer no papel de escrava que porta um abano refrescante, como a gente vê nas antigas pinturas egípcias. Há que aceitar e vestir minha fantasia de cão, e embarcar no ocaso cinzento, para sempre, para sempre... e tremer de alegria quando, lá uma vez ou outra, receber sobejos de felicidade, como hoje...
E preciso de tão pouco para ser feliz...
Urda Alice Klueger, escritora e historiadora, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
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PressAA
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Neste mundo cinzento onde estou a navegar na direção do ocaso, de repente, apesar de tão raramente, acontecem, como lampejos inesperados, alguns instantes de alegria que faíscam no plúmbeo desta minha vida como setas de luz e de beleza, e que, apesar da rapidez de faíscas, me enchem de calor e me deixam trêmula de felicidade.
Hoje, no inesperado deste cinza que me envolve, de repente aquele momento aconteceu, tão rápido quanto um relâmpago e tão inesperado quanto um terremoto, e o abalo de alegria que senti foi equivalente a muitos graus na escala Richter, e até agora, horas depois, ainda sinto meu coração trêmulo como se fosse de gelatina recém desenformada, tamanha a bênção que recebi.
Conto: era meia hora antes do meio-dia, e o trânsito já começava a se congestionar quando, fulgurante dentro da minha névoa opaca, o barquinho colorida da felicidade por um momento resplandeceu à beira da rua apinhada, na calçada irregular e meio desprezada desta minha cidade que se acha perfeita, e a seta da alegria se fincou em mim num abalo, e o meu cinzento se encheu de luz e de felicidade – mas como se vogasse para alto mar a imagem do barquinho desvaneceu-se em instantes, e só ficou dentro de mim aquela fugidia visão de um Passarinho de azul, branco e prata, um pouco inclinado como se a vida lhe pesasse, o rosto cheio de seriedade e concentração, como se carregasse uma tristeza, quiçá uma preocupação, que sei eu?
Da mesa dos deuses só me cabem sobejos de felicidade, como sobejos recebem os cães pacientes – a vida não me permite nem o vislumbre do que acontece nos banquetes sagrados, sequer no papel de escrava que porta um abano refrescante, como a gente vê nas antigas pinturas egípcias. Há que aceitar e vestir minha fantasia de cão, e embarcar no ocaso cinzento, para sempre, para sempre... e tremer de alegria quando, lá uma vez ou outra, receber sobejos de felicidade, como hoje...
E preciso de tão pouco para ser feliz...
Urda Alice Klueger, escritora e historiadora, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
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